— Quer que eu lhe dê banho? — Chain sorriu, quando percebeu que eu o observava.
— Ainda sei tomar sozinha... Mas à noite posso querer... — Brinquei.
— Será um prazer... Desde que você retribua depois.
— Com todo prazer, marido.
Ele deu um passo na minha direção e beijou-me carinhosamente. Depois virou-se, pegando uma das toalhas que estavam disponíveis. Gelei ao ver outra cicatriz profunda na nádega direita. Embora menor, era mais feia do que a outra. Aquilo não o deixava menos atraente, de forma alguma. Mas... Teria ele sofrido algum acidente no passado?
Quando virou-se na minha direção, flagrou-me olhando para as marcas. Fiquei calada, sem saber o que dizer.
— Já tive vergonha delas... Hoje não mais. Também não significa que me orgulhe.
— São... Recentes?
— N&atild
Imaginei que iríamos de carro para algum lugar. Mas estava enganada. Me vi caminhando de mãos dadas com meu marido pelas ruas estreitas de Alpemburg, com o sol brilhante no céu e a temperatura extremamente agradável, entre 20 e 22 graus.Optei por uma calça jeans, camiseta estampada e minhas botas marrons, que eram extremamente confortáveis.— Me diga que você tem mais botas iguais a estas, guardadas. — Chain olhou para os meus pés.— Claro que não. É filha única. Por isso é tão especial.— E quando se forem? Porque você sabe que elas não vão durar para sempre, não é mesmo?— Neste dia acho que vou ter que fazer um velório e enterro decente para elas. E creio que eu possa chorar.Ele riu:— Você deixa meus dias mais leves...— E você os meus mais escuros... — Comecei a rir.— Obrigada pela sinceridade — debochou.— Confesso que o sol junto de você veio com Alpemburg. Antes era tudo meio turvo... E eu tinha medo.Alpemburg tinha um povo simpático, o comércio não era concentrado num úni
— Culpada por que?— Por não ter o dinheiro para pagar o Hotel...— Mas teoricamente não adianta o dinheiro, visto que não está à venda, não é mesmo?— Teríamos como fazer uma proposta.— Ou comprar outro lugar.— Também... Embora elas sejam todas bem resistentes quanto a isso.— E você? O que acha sobre um novo lugar para o Hotel Califórnia?— Eu gosto do Hotel Califórnia. É o meu lar... Desde que nasci. Mas acho que o que mais me prende lá não são as paredes, entende? E sim o que tudo aquilo significa para Candy e Rosela. Além do fato de meu pai estar a alguns passos de mim.— Mesmo que se mudem, poderá ir ao cemitério sempre que quiser. Até porque... Bem... Ele teoricamente não está ali.— Vivi praticamente 21 anos atravessando a rua para bater um papo com ele... E contar sobre tudo que me acontecia. Conforme o tempo foi passando, não ficou mais tão recorrente. Percebi que poderia me comunicar com ele até por pensamento.— Então ir para outro lugar não seria algo que destruiria seu
— Ah, ele também estava amarrado àquela situação. Meu pai não podia bater nele, então ameaçava destruir sua vida caso partisse. Dentre as atrocidades que fez, destruiu o relacionamento de Milano com a única mulher que ele amou na vida.— Isso... É triste, repugnante.— Milano só amou uma mulher a vida toda e... Nosso pai fez toda uma armação para que meu irmão a deixasse. Depois disso ele não mais viveu e sim sobreviveu. Nunca superou a perda... Tampouco a injustiça que cometeu.— Ele não a encontrou novamente?— Faz pouco tempo que ele soube o paradeiro dela, coincidentemente. Mas isso não significa que não a tenha procurado desesperadamente por muitos anos.— Isso... Bem, eu não tenho palavras.— A outra cicatriz foi aos 14 anos.— A da coxa?&mdas
— Ainda tenho dúvidas... E muitas perguntas.— E uma vida inteira para as respostas.Eu ri, me sentindo idiota:— Sim.— E eu ainda tenho algumas coisas para contar... Tão ou mais impactantes que estas.— Ah, Chain... Não me assuste.— Liah, minha proposta é Alpemburg toda nossa... Por dois dias. — Ele virou meu corpo, segurando-me com um braço enquanto encarava-me. — Eu fiquei tanto tempo perdido... Embora não soubesse. Mas me encontrei... Em você. Quero e preciso me livrar de tantas coisas, dentre elas algumas inverdades...— Inverdades? Não seriam mentiras?— Como um homem que acusou a mulher da sua vida de mentirosa a vida inteira poderia definir-se como um... Igual?Enruguei a testa:— Um mentiroso?— Um covarde. Mas quero ser uma pessoa melhor... Junto de você... Por voc
Senti o coração acelerar, ao vê-lo ali, ajoelhado no chão, pegando minha mão e pedindo-me em casamento novamente, como se fosse de verdade agora.— Isso... Seria um pedido real, sem segundas intenções? — Sorri.— Sim, um pedido real. Aceita ser minha esposa, Merliah Smith, sem um contrato, sem ser por uma obrigação? Simplesmente porque me ama e quer passar o restante da sua vida ao meu lado, como eu quero ficar ao seu.— Aceito — falei, sem pensar duas vezes.Chain levantou e retirou a aliança do meu dedo.— Por que... Fez isso? — Fiquei confusa.— Tem na mão esquerda o anel que lhe dei. Este é do casamento falso... Tão falso quanto a pedra que existe nele.Começamos a rir. Para mim nada mais importava, sequer os vestidos magníficos que estavam naquele lugar. Porque talvez aquele fosse o momento mais importante da minha vida. A hora que eu decidi aceitar meus sentimentos e tudo que envolvia as escolhas de vida que estava a fazer.— O novo casamento... É simbólico, não é mesmo? Não pod
— Eu tenho a impressão que não gosto tanto assim de modelos de roupas, como você. Sinceramente, só me importa ver seu vestido de noiva... E não esqueça de não fazer nada difícil para abrir depois. A noite de núpcias também merece algo especial. O que acha? Criação própria, da minha bela esposa, em minha homenagem. Algo com bem pouco tecido...— Posso pensar a respeito, se você se comportar bem até lá. Quanto ao vestido... Bem, por ter me feito assinar um contrato idiota no primeiro casamento, será castigado com tantos botões que ao terminar de abrir o último, estará completamente cansado e vai deitar e dormir.— Deitar e dormir, com uma mulher como você na minha cama? Nunca, meu amor.— Vamos ver quantas você aguenta, marido! Porque posso apostar que não canso nunca. Esperei 21 anos para encontrar alguém capaz de apagar o meu fogo.— E quem é ele? — Pegou-me entre seus braços, encarando-me enquanto inclinava-me levemente para trás.— Um forasteiro que apareceu do nada em Azah, num par
Terminei o banho e passei um hidratante por todo o corpo. Caprichei na maquiagem e pus o vestido caríssimo desenhado pela rainha Satini. Olhei-me no espelho e fiquei muito satisfeita com o resultado. Não lembro da última vez que usei algo tão glamouroso na vida. Me vi rindo sozinha: eu nunca usei algo glamouroso na vida.Ouvi uma batida na porta.— Estou saindo... Agora é verdade, juro! — garanti, enquanto borrifava algumas gotas de perfume no pescoço.Infelizmente teria que usar minhas velhas botas. Sim, pela primeira vez achei que elas não combinavam com a ocasião. E não era pelo fato de serem botas e sim por estarem bem gastas e o tom marrom destoar completamente do vestido.Quando abri a porta, Chain me olhou dos pés à cabeça:— Eu... Nunca vi nada tão belo na vida.— O vestido?— A mulher — disse seriamen
Chegamos cinco minutos atrasados no Restaurante que ficava dentro do Hotel. Era um lugar pequeno e aconchegante, com luz ambiente, decoração moderna, música ao vivo, em tom baixo e agradável e um cheiro divino de comida recém feita.Sentamos próximos, numa mesa quadrada, não ficando um de frente para o outro, o que já fugia do tradicional. Chain pediu um bom vinho e em seguida nos serviram a entrada.— Se a entrada está boa, imagino o prato principal — observei, empolgada.Não tinha muitas pessoas no restaurante, mas os olhares das mulheres eram perceptíveis na minha direção. Eu havia feito um rabo de cavalo no alto da cabeça, usando dos próprios fios para prender. Sempre achei aquele penteado ideal para usar com modelos tomara que caia, pois evidenciava ainda mais o pescoço e o colo.— As poucas mulheres que tem aqui parecem e