Na manhã de segunda-feira, a feição de Pedro não era uma das melhores, mas a vida continuava. Assim que chegamos na empresa, o diretor mandou chamar meu primo. Ele tinha noção do que se tratava, porém não queria acreditar que aquele seria o dia. Havia milhares de detalhes rondando a mente dele. Então ele fez o percurso para chegar na sala do diretor, não havia nada a se fazer a não ser cumprir as ordens:
— Bom dia, senhor diretor! Gostaria de falar comigo?
— Bom dia, Pedro! Sente–se.
— Obrigado!
— Presumo que já esteja ciente da situação, seremos obrigados a reduzir os custos e uma parte dos funcionários fazem parte desse corte.
— Senhor, e se reduzíssemos os salários dessas pessoas até que as coisas voltem ao normal?
— Você verificou o relatório?
&md
Durante o coma, muitos dos nossos parentes foram visitá-lo. No terceiro dia, estávamos eu, minha tia e Lis orando no quarto, quando Tânia comentou:— Ele parece tão fraco que não consegue se mexer. Se pudesse passar toda minha energia para ele, passaria com maior prazer.— Sua presença manda forças para ele. Por mais que possa existir um muro entre vocês, sei que sempre estará ao lado dele. Assim como você, ele jamais te deixaria sozinha — disse eu.— Quando crescemos, somos ensinados a acreditar que o mundo é o que é, que a nossa vida é apenas viver dentro desse mundo, mas ele nunca pensou dessa forma. Ele sempre dizia que há mais no mundo do que ele oferece — respondeu Tânia.— O que me impressiona é que vocês se amam desde crianças, e o jeito que ele vinha falando de você nesses último
No dia 8 de novembro, a Bienal chegou ao fim e, no dia 9, Pedro voltou para casa. Chegou durante a madrugada e observou que o lugar estava cheio. Ao amanhecer, alguns dos nossos primos e primas acordaram Pedro, levando para sua cama um saboroso café da manhã.— Bom dia, priminho! Parabéns pra você, nessa data querida, muitas felicidades, muitos anos de vida — felicitou Mariana, ao abraçar o primo.Consecutivamente, os demais primos o abraçaram com solicitações de felicidade, paz, sorte no amor e muitos anos de vida.— Que saudades de vocês — falou Pedro aos primos.— Duvido que esteja com mais saudades de mim do que estou de você — falou Mariana que, desde pequena, era grudadíssima a Pedro.— Chatinha, aposto contigo. Como vocês estão? Conte-me as novidades.— Se você perder, o que gan
Sabíamos que os dias para ele ficariam mais sombrios e penosos, e isso abalou toda a estrutura de nossa família. O corpo de Mariana ainda não havia sido liberado, seria velado em Madureira. Os familiares aguardavam que Pedro acordasse, pois todos estavam cientes que ele se culparia, e a culpa tem a capacidade de enterrar qualquer pessoa, independentemente da sua força. Por esse motivo, e pelo corpo ainda não ter sido liberado, todos decidiram fazer o velório depois de uma longa conversa com o rapaz. As três horas da tarde, Pedro acordou, olhou para os lados, conferindo onde estava, ao se localizar, retirou, do bolso da calça, o bilhete dado por Mariana. Desdobrou com os olhos cheios de lágrimas e notou que era o poema que havia dado a ela para que terminasse.Ser feliz é abrir os olhos e perceber mais um dia.É observar o céu azul, mas também o céu nublado.
Na manhã seguinte, depois do café, ele agradeceu meus pais e me falou que teria que resolver uma situação, mas não queria que eu fosse junto, temia pelo que poderia acontecer. Eu não poderia deixá-lo sozinho e insisti tanto que ele acabou cedendo. Ao entrarmos no carro, ele olhou dentro dos meus olhos e me perguntou:— Sabe por que os bons morrem cedo?— Sempre quis achar a resposta para essa pergunta, entretanto, não tive sucesso.— Pessoas como você, no mundo, é algo raro, pessoas que abraçam as causas dos amigos como se fossem suas. Pessoas que tiram de si para dar ao próximo, pessoas que sonham para si e para os outros, sempre especificando que o sol brilha para todos, assim como a sombra também é para o conforto de geral. Nesse momento, estou indo para um lugar muito perigoso. Noventa e nove por cento dos meus amigos não entrariam no car
Às vezes queremos nos afastar das pessoas achando que será melhor para elas, mas na maioria das vezes, estamos enganando a nós mesmo. Os duelos da vida são cansativos, e aqueles que pensam que vencerão esses duelos sem a ajuda de alguém estão completamente fora de si; e Pedro estava. Ele não conseguia entender que, assim como ele nos amava, nós também o amávamos e queríamos estar ao seu lado. Ele desapareceu sem dar notícias, ligávamos para o celular dele que só caía na caixa postal, o rapaz havia se tornando um fantasma.No terceiro dia de seu desaparecimento, minha tia passou mal, de pressão alta, Tânia e Lis choravam pensando no pior. Ele havia desestruturado toda a família que já sofria com a morte de Mariana. O bem que ele pensava estar fazendo gerava uma tensa e dolorida tristeza em sua própria família. Na noite do quar
Pedro permaneceu no hotel em que estava e, quatro dias depois, o corpo de Marcos foi encontrado. O que Pedro havia mencionado, de fato aconteceu: seu nome foi o primeiro a ser cogitado como suspeito, mas o rapaz já havia planejado tudo, e logo foi chamado pelo delegado:— Bom dia, Senhor Gerson.— Bom dia, Pedro. Te chamei aqui para esclarecer algumas coisas.— Não vejo problema nisto.— Marcos foi encontrado em um antigo abatedouro na estrada da Serrinha, torturado, amarrado em uma cadeira sem o fundo, com o seu membro cortado e seu ânus destruído. Suas mãos e seus pés foram arrancados. Estava sem alguns dentes, sem a língua e sem as orelhas. Por acaso tem algo a ver com isso?— Nossa, que horror!— Pedro, onde estava sábado à tarde? Tem um álibi?— No sábado à tarde fui para o bar dos flamenguistas, fiquei l&a
Pedro, uma luz se apaga para que outra seja acesa.— Essa história é de qual livro do escritor? — perguntou o irônico Baltazar.— Muitos de vocês talvez estejam se perguntando, o que tem de mais nesse conto. A história é simples, porém não é uma narrativa fácil de ser narrada. Essa aventura que Ricardo está contando não é um simples relato de amor, é a minha história de amor e, quando a fábula é com a gente, ela se torna diferente — respondeu Pedro, com certa dificuldade na voz. Dona Luciana e a enfermeira Samantha se levantaram de suas cadeiras e foram abraçar o homem que deixava muitas dúvidas nos moradores da casa de repouso. — O senhor se lembrou... — falou a enfermeira, com tanta felicidade, que não conseguiu c
A manhã não foi tão animada como os demais dias, o pesadelo me tirou completamente a alegria, e Lis não estava com a animação de costume. Mas em momento algum deixamos que isso abalasse os que estavam felizes em conhecer a região serrana. O tempo estava agradabilíssimo e, para tirar da mente aquela sensação ruim que o pesadelo havia deixado, fomos para a praia nos divertir um pouco.Às duas horas, retornamos para o hotel, tomamos banho, almoçamos e, às quatro horas, pegamos a estrada para Teresópolis. Se a estrada estivesse boa, em aproximadamente uma hora e quarenta minutos estaríamos no litoral serrano. Tânia foi no carro com Ricardo e Vanessa e, comigo, foram Lis e as irmãs Paula e Pâmela. Em certa parte do percurso, avistamos que as nuvens na região serrana estavam escuras e o Sol aparecia entre elas. Liguei o rádio do carro para ver se