Capítulo 4:
O Erro que Mudaria Tudo Cassian girou o copo de uísque na mão, observando o líquido âmbar deslizar pela borda. O gelo já havia derretido, mas ele não se importava. Seu estômago queimava tanto quanto sua mente. Diego ainda não tinha chegado, e a sensação de estar sozinho era insuportável. Ele pegou o celular e discou novamente. — Você quer me ver ferrar com tudo, Diego? Quer ver seu amigo afundar? Porque se eu sair sozinho hoje, eu juro que vou fazer uma merda grande. Silêncio do outro lado da linha. — Você sabe como eu fico quando estou assim. Mais um silêncio tenso, depois um suspiro longo e pesado. — Porra, Cassian… — Diego murmurou. — Então me encontra. — Onde? Cassian sorriu com amargura. — Você já sabe. O bar de sempre. Onde ele podia afundar tudo sem olhar para trás. Diego hesitou, mas finalmente cedeu. — Nos vemos lá. A linha ficou muda. Cassian jogou o celular sobre a mesa e soltou o ar. Sua cabeça pulsava. Sua vida sempre girou em torno do controle. Mas agora, tudo escapava pelos dedos. --- Horizon Medical Group – O Hospital Duas horas antes. A clínica onde Cassian marcara sua consulta não era um hospital comum. Horizon Medical Group era a joia da coroa da Délano Industries – um império farmacêutico que, oficialmente, não carregava o nome dos Délano. Administrada por uma rede de fundações filantrópicas, a Horizon mascarava sua ligação com a família para manter a neutralidade e o prestígio internacional. Mas Cassian sabia a verdade. Sabia que aquele hospital pertencia a ele. E agora, parado diante da entrada imponente de vidro e aço, ele não era o CEO poderoso que governava impérios. Ele era apenas um homem prestes a ouvir uma sentença que mudaria sua vida para sempre. --- O Passado que Ele Ignorou Cassian sempre foi forte. Sempre foi saudável. Mas, ao longo dos anos, começou a notar sinais sutis, quase invisíveis, que se recusava a admitir. ✔ Fadiga constante, mesmo dormindo bem. ✔ Dificuldade para ganhar massa muscular, mesmo treinando pesado. ✔ Oscilações hormonais, que o deixavam irritadiço, insones e, às vezes, inexplicavelmente apático. Ele ignorou tudo isso. Para um homem como ele, fraqueza não era uma opção. Mas então veio o golpe final. --- Cinco Anos Antes: O Começo da Desconfiança Cassian tentou ter um filho. Foi um período intenso, regado a tentativas fracassadas e desculpas silenciosas. A cada mês que se passava sem sucesso, a tensão aumentava. No começo, Cassian culpou a parceira. Achar falhas nos outros era mais fácil do que encarar a verdade. Mas quando os exames foram feitos, o choque foi inevitável. Ele estava sentado no consultório da Horizon, cinco anos atrás, quando um especialista entregou um relatório sobre sua fertilidade. — Sua contagem de espermatozoides está abaixo do normal. Pode ser uma questão temporária, causada por estresse ou hábitos de vida. Cassian riu. Estresse? Ele nunca esteve tão no controle. — E o que eu faço para reverter isso? — Podemos tentar ajustes hormonais e monitorar nos próximos meses. Meses. Cassian esperou. Ajustou alimentação, intensificou treinos, fez exames, seguiu todas as recomendações. Nada mudou. A verdade estava ali, mas ele se recusava a enxergar. Agora, anos depois, sentado no mesmo hospital, diante de Dr. Marcel Lefèvre, a resposta que ele tanto evitara finalmente o atingiu em cheio. --- A Sentença — Cassian… temos os resultados. O ar ao redor dele pareceu pesar. — Diga logo, Marcel. O médico suspirou. Ele já havia tratado gerações da família Délano. Conhecia Cassian desde a infância. — Você tem Síndrome XYY. Cassian franziu o cenho. — Explique. — Você nasceu com um cromossomo Y extra. Isso significa que sua genética o torna mais propenso a ser mais alto, musculoso e, em alguns casos, mais agressivo. No entanto, há uma consequência… O silêncio se instalou. — Isso é grave? — Sim. A Síndrome XYY pode afetar a produção de espermatozoides. E, no seu caso, comprometeu severamente sua fertilidade. A palavra fertilidade ricocheteou na mente de Cassian como um tiro. Ele não falhava. Ele não era inferior a ninguém. Ele era um Délano. Mas ali estava ele. Quebrado em sua essência. Depois do choque inicial, Cassian fechou a expressão. — E o que pode ser feito? Marcel puxou os papéis sobre a mesa, organizando as opções. — Existem três possibilidades. Nenhuma delas garante resultados perfeitos, mas há caminhos. Ele listou: 1. Tratamento com testosterona ✔ Aumentaria sua energia, mas não reverteria a infertilidade. 2. Cirurgia para extração de espermatozoides ✔ Procedimento invasivo e de baixíssima taxa de sucesso. 3. Fertilização in vitro com barriga de aluguel ✔ A opção mais segura para garantir um herdeiro biológico. Cassian apertou os olhos ao ouvir a terceira alternativa. — Barriga de aluguel? — Sim. Podemos fazer a coleta dos seus espermatozoides, fertilizar um óvulo saudável e implantá-lo em uma mãe de aluguel. Cassian ficou em silêncio. Nunca tinha se imaginado recorrendo a isso. Seu pai o concebeu naturalmente. Seu avô também. Mas ele não podia. Não havia opção. Se quisesse cumprir o desejo do pai, teria que fazer isso. Ele olhou fixamente para Marcel. — Prepare tudo. O médico assentiu. — Vamos agendar os exames para extração. Assim que tivermos o material coletado, encontraremos uma candidata compatível. Cassian se levantou. — Eu quero isso feito imediatamente. O tempo está contra mim. Marcel concordou, mas antes que Cassian saísse, disse: — Cassian, essa decisão não é apenas sobre negócios. É sobre sua vida. Cassian se virou, com olhar gélido. — Eu sei. E é por isso que eu não vou falhar. --- O Erro Irreversível No carro, dirigindo para a sede da Délano Industries, Cassian sentia o peso da decisão nas costas. Seu pai exigira um herdeiro. Ele daria um herdeiro. Pegou o celular e discou novamente. — Dr. Marcel Lefèvre, por favor. A secretária transferiu a chamada. Em segundos, a voz do médico atendeu. — Cassian. O que posso fazer por você? — Quero o processo iniciado hoje. Sem demora. — Claro. Podemos começar os exames ainda esta tarde. — E a candidata? — Já temos perfis selecionados. O critério é alto, mas garantimos compatibilidade genética e saúde perfeita. Cassian respirou fundo. — Não quero erros, Marcel. O médico hesitou. — Na Horizon, nunca há erros, Cassian. Você sabe disso. Será? Mas Marcel Lefèvre estava errado. Muito errado. Em algum lugar dentro daquela clínica perfeita, um pequeno deslize burocrático aconteceria. Um erro hospitalar tão insignificante… mas devastador. Um erro que mudaria para sempre o destino de Cassian Délano.Capítulo 5Eu a vi. Eu a perdi.O ronco do motor soava baixo enquanto Cassian dirigia pelas ruas movimentadas de Paris. O céu acinzentado refletia o humor sombrio que o consumia.Ele deveria estar indo para a sede da Délano Industries, mergulhando em reuniões, contratos e expansões estratégicas, como fazia todos os dias. Mas hoje era diferente.A descoberta de sua infertilidade não era apenas um revés médico. Era um ataque direto à sua essência.Ser um Délano significava domínio, continuidade, poder. Agora, esse legado estava ameaçado.Ele precisava trabalhar. Precisava enterrar essa sensação.Mas, assim que atravessou as portas de vidro da empresa e entrou no elevador privativo, percebeu o impossível:Não conseguia pensar em mais nada além dela.O hospital. O choque. A voz dela repleta de fúria.O ódio que transbordava.E a pior parte? Ele havia causado tudo aquilo.Quando entrou no escritório no último andar, a irritação já estava estampada em seu rosto.— Bom dia, senhor Délano. Aq
Capítulo 6: De volta ao Passado que quero esquecer.Naia Beaumont. Estou aqui no aeroporto da Flórida, e devido ao mau tempo, nosso voo atrazou.Estou aqui já stressado, está chegando aquele maldito dia que acredito que como eu, mulher nenhuma gosta. A TPM bateu na minha porta. Eu suspiro e me levanto da poltrona para ir ao banheiro do avião. Enquanto me arrumo, pego o celular e enviou uma mensagem para sua mãe:"Mãe, o voo atrasou. Chego por volta das 2h da manhã na França. Por volta das 8h vou a sua casa. Te amo!"Eu volto ao meu assento e olho para Rafael, que agora é meu noivo, que dormia tranquilamente na poltrona ao lado. Sorriu, lembrando da proposta de casamento dele na praia da Flórida.Após algumas horas, o avião finalmente pousou no aeroporto de Paris. Naia e Rafael pegaram suas malas e saíram do aeroporto, o motorista do Rafael, ja os aguardava indo direto para o apartamento dela.O apartamento de Naia era bonito e sofisticado, mas sem luxo. Ela sempre preferiu uma
Capítulo 7 O Reflexo do Caos InternoEu precisava de uma pausa antes de encarar o mundo dos meus pais. Estaciono o carro em frente ao café, a fragrância do café fresco invade o ar, e algo em mim responde a isso. Talvez eu precise disso mais do que de qualquer outra coisa agora. O ambiente é pequeno, acolhedor, e isso, de alguma forma, me faz sentir um pouco de alívio, um refúgio do caos ao qual sou constantemente exposta.Entro no café, que parece simples demais para alguém como eu, mas talvez seja exatamente o que preciso. O som das conversas baixas, o tilintar das xícaras, o burburinho suave… Tudo isso me traz um pouco de tranquilidade. Mas a minha mente não consegue se desligar.— Um capuccino duplo, bem forte, com bastante chocolate, por favor. — Falo rápido, quase impaciente. O garçom me olha com simpatia e assente, anota o pedido, e eu me sento à mesa, mais uma vez tentada a fugir daquilo que está me incomodando.Enquanto o café está sendo preparado, começo a bater os pés no ch
Capítulo 8: A Escolha de NaiaNaia Beaumont Quando atravessei as portas de vidro que davam para o jardim, lá estavam eles: Augustus e Isabelle, à mesa de chá, como sempre. Meu pai, impecável em seu terno escuro, lia um relatório financeiro com a mesma seriedade de sempre. Minha mãe, sentada ao seu lado, segurava uma xícara de porcelana com a delicadeza característica, seus cabelos loiros perfeitamente presos, como se o mundo não fosse nada além de um palco onde ela interpretava seu papel.— Naia. — A voz suave de minha mãe me fez parar por um momento. Ela sorriu para mim, aquele sorriso caloroso, mas com uma leve sombra de preocupação. — Bem-vinda de volta, filha!— Mamãe. Papai. — Cumprimentei, com um abraço rápido e um sorriso que não refletia o turbilhão que eu sentia por dentro. Sentei-me à mesa e peguei uma xícara de chá para mim.Minha mãe tocou minha mão, um gesto quase protetor, como se tentasse me acalmar de uma maneira que sabia ser a única que ela poderia oferecer.— Você
Capítulo 9O Poder do Dinheiro Nunca a Seduziu— Eu aprendi com o senhor, pai. A nunca aceitar menos do que eu mereço. E, finalmente, estou fazendo isso.Eles a amavam, mas nunca aceitariam que ela não queria ser como eles.E isso nunca mudaria.— Eu preciso ir agora. — Ajustou a bolsa no ombro.Isabelle olhou para a filha com um olhar curioso.— Já? Você mal passou tempo conosco.Naia sorriu suavemente.— Eu tenho uma consulta marcada.A expressão da mãe mudou sutilmente, de interesse para preocupação.— Consulta? Você está bem, querida?— Sim, mamãe. É apenas um exame de rotina.Augustus voltou a ler o relatório como se o assunto não lhe interessasse. Para ele, Naia era saudável e jovem, então qualquer preocupação médica não passava de um detalhe irrelevante.Mas Isabelle conhecia a filha bem demais.— Você nunca gostou de médicos. Por que essa consulta agora?Naia desviou o olhar, mantendo o sorriso calmo.— É só um acompanhamento. Coisas que toda mulher precisa fazer.A mãe observ
Capítulo 10Uma decisão sem volta5 dias depois.Naia Beaumont caminhava pelos corredores impecáveis do Horizon Medical Group, sem saber que aquele lugar é mais do que apenas um hospital de ponta. Para ela, é um centro de pesquisa inovador, um projeto que poderia mudar a vida de mulheres que, assim como muitas vítimas que ela já defendeu, tiveram sua capacidade de gerar filhos tirada injustamente.O ambiente era sofisticado, com paredes de vidro e tecnologia de última geração por todos os lados. Tudo parecia clínico, asséptico, mas havia um clima de exclusividade ali dentro, como se apenas pessoas selecionadas tivessem acesso a esse nível de medicina.A recepcionista, uma mulher elegante e bem treinada para manter discrição, a guiou até uma sala privada.— O doutor Marcel Lefèvre a receberá em instantes, senhorita Beaumont.Naia agradeceu com um aceno discreto e sentou-se na poltrona macia, tentando acalmar a ansiedade. Ela havia estudado os artigos sobre os avanços reprodutivos da cl
Capítulo 11Quando o ciúme e a vingança se encontram, nascem as maiores tragédias.Rafael estava sentado em sua cadeira de couro, na ampla sala envidraçada de sua empresa em Paris. O horizonte da cidade parecia um quadro em tons de cinza, uma pintura sem vida. Seus olhos, no entanto, estavam fixos em um ponto distante, como se pudessem perfurar a neblina e enxergar o futuro.Eu voltei, Cassian. E desta vez, não vou perder.Rafael sabia que o primeiro passo para a vingança era afastar Naia de Cassian. Ele precisaria ser meticuloso, cada movimento planejado como em um jogo de xadrez. Naia estava ao seu lado agora, sua noiva, seu troféu, seu escudo e, ironicamente, sua arma mais poderosa. Mas, no fundo, ele sabia que ela ainda não era completamente sua. Havia um pedaço dela que ainda pertencia ao passado, um pedaço que ele precisava destruir.Se ela não puder me amar por completo, então vou usá-la para o que realmente importa: acabar com você, Cassian.Flashback - Ensino Médio, Intervalo
Capítulo 12 – Uma noite onde inimigos se encontram e destinos se cruzam Rafael VilleneuveNaia se olhava no espelho, ajustando os brincos de esmeralda. A luz quente do quarto refletia no veludo verde do vestido, moldando cada curva do seu corpo de uma maneira quase indecente. Ela estava impecável. Minha.Apoiei-me na porta, observando-a em silêncio. Cada detalhe, cada traço, me hipnotizava. O modo como seu cabelo estava preso, deixando seu pescoço exposto, a forma como seu peito subia e descia lentamente…Eu sabia que essa noite seria um teste para minha paciência.Aproximei-me por trás, deslizando as mãos pela sua cintura, sentindo seu calor sob o tecido luxuoso.— Sabe que te ver assim me deixa louco de ciúmes — murmurei contra sua pele, inalando seu perfume.Naia sorriu pelo reflexo, uma provocação silenciosa.— Estou indecente? Quer que eu troque?Segurei-a firme, puxando-a contra mim.— Exatamente porque está perfeita que estou louco de ciúmes. Quantos homens vão te desejar ess