O Herdeiro do Império

Capítulo 3

Herdeiro do Império Délano

O despertador disparou às 5h da manhã. Sem hesitação, Cassian Délano abriu os olhos. Não havia espaço para preguiça ou indulgência. Disciplina. Controle. Precisão. Era assim que sobrevivia.

Ele se levantou, os movimentos econômicos e calculados. O quarto impecável, cada objeto no lugar exato, como uma extensão de sua própria mente organizada e inflexível. O mundo exterior era um caos; ali, não.

Vestiu o uniforme preto, nada mais que uma regata e um short, o suficiente para o que precisava fazer. O preto absorvia a luz, refletindo o vazio dentro dele.

Na pista de corrida particular, cada passada era uma descarga de adrenalina. O frio da manhã raspava sua pele, mas não alcançava o gelo sob ela. Ele corria porque precisava. Porque, sem o esforço físico extenuante, a irritação latente que queimava sob sua pele poderia transbordar.

De volta à mansão, Cassian mergulhou na academia. Aço, vidro e silêncio. Cada movimento nos aparelhos de musculação era preciso, quase cirúrgico. O suor escorria, mas ele não sentia. O objetivo era claro: conter a fera dentro dele. O cromossomo XYY fazia seu sangue ferver, a agressividade se acumulava como um veneno. Treinar era a cura temporária, uma maneira de não explodir.

Ele se forçava até os limites, mas o corpo resistia. A dificuldade em ganhar massa muscular o frustrava. Não era uma questão de estética, mas de controle. Tudo tinha que estar sob seu domínio, até mesmo seu próprio corpo.

Naquele espaço de máquinas e esforço, Cassian era rei e prisioneiro. Cada peso levantado era uma luta vencida contra si mesmo.

O espaço era grandioso, luxuoso e moderno. Equipamentos de última geração preenchiam o ambiente, e a parede inteira de vidro proporcionava uma visão perfeita dos jardins impecáveis da propriedade.

O treinamento foi brutal. Pesos, resistência, velocidade. Ele não aceitava nada menos que o máximo. Seu corpo, moldado por anos de exercícios exaustivos, era mais um reflexo de sua personalidade fria e calculista.

O chuveiro quente lavou o cansaço e preparou sua mente para mais um dia.

Terno impecável. Armani. Preto.

Cassian Délano não era um homem comum. Ele era o herdeiro de um império farmacêutico bilionário.

Ao chegar, Cassian encontrou a mesa meticulosamente posta, repleta de alimentos ricos em calorias e carboidratos, cada item escolhido de acordo com sua nova e rigorosa rotina alimentar. Nos últimos tempos, ele se tornara implacável em relação à nutrição e à disciplina diária.

— Bom dia, senhor Délano. Precisa de algo?

Cassian assentiu. Madame Bernard o conhecia bem demais.

— Bom dia! Não, obrigado.

Pegou uma xícara de café preto. Forte. Sem açúcar. Exatamente como gostava.

Enquanto comia em silêncio, sua mente trabalhava. A reunião da manhã. Os contratos pendentes. A expansão da Délano Pharmaceuticals.

Tudo sob controle.

Ou pelo menos era o que ele achava.

Antes de seguir para a empresa, Cassian fez algo que não fazia com frequência: foi visitar seu pai.

Hector Délano estava internado há meses. O homem que construiu um império agora estava frágil, preso a uma cama de hospital lutando contra uma doença degenerativa cruel.

Cassian entrou no quarto luxuoso, o bip das máquinas monitorando os sinais vitais ecoando no silêncio.

Os olhos do pai se abriram lentamente.

— Você está atrasado.

Cassian arqueou a sobrancelha.

— Atrasado? Eu nem prometi horário.

Hector sorriu de canto, fraco, mas carregado de autoridade.

— Eu não criei um homem sem palavra.

Cassian ficou em silêncio. Ele nunca soube como responder ao pai. Entre eles, não havia carinho. Apenas respeito e cobranças.

— Como está se sentindo?

— Como alguém que está morrendo.

O silêncio pesou no ambiente.

Então, Hector foi direto ao ponto.

— Você está levando a empresa no caminho certo. Mas falta algo.

Cassian sabia o que viria. Sempre a mesma cobrança.

— Pai…

— Você já tem tudo. Poder, dinheiro, influência. Mas o poder sem legado é inútil.

Cassian segurou a respiração.

— O que senhor quer dizer?

Os olhos do pai o perfuraram.

— Me dê um neto antes de eu morrer.

Cassian travou a mandíbula.

A exigência era um soco.

Hector Délano não estava pedindo. Estava ordenando.

— Ainda não é o momento.

Hector sorriu, cínico.

— Não? Eu não tenho tempo para esperar, Cassian.

Você me ama?

Cassian franziu o cenho.

— O quê?

— Você me ama, filho?

Cassian hesitou.

Nunca foram uma família de demonstrações de afeto. Mas, de alguma forma, a resposta veio automática.

— Sim, pai. Eu te amo.

Hector Délano, com a voz enfraquecida e os olhos marejados, segurou a mão de Cassian e disse:

— Eu posso nunca ter te abraçado, filho. Nunca ter dito 'eu te amo' com palavras mansas. Mas cada ordem dura, cada cobrança, cada noite em que te deixei quebrado para levantar mais forte... Tudo isso foi o meu jeito de te amar. E agora, antes que o meu tempo acabe, me dá o presente de saber que o nome Délano vai continuar ecoando nesse mundo caótico. Me deixa partir sabendo que você terá um herdeiro... Que minha linhagem não vai morrer comigo.

Cassian, sempre inabalável, sentiu pela primeira vez o peso de um amor que nunca soube como receber.

— Eu sei, pai. Eu te amo.

Hector respirou fundo e cravou os olhos nele.

— Então realize meu último desejo.

Cassian saiu do hospital com a cabeça girando.

A palavra martelava em sua mente.

Ele sempre adiou esse assunto. Focar nos negócios sempre foi prioridade. Mas agora… o tempo de Hector estava acabando.

E um herdeiro era a única coisa que seu pai exigia.

A única coisa que ele nunca pensou em ter.

Mas Hector Délano não aceitava "não" como resposta.

Cassian pegou o celular. Discou rapidamente um número.

— Dr. Marcel Lefèvre, por favor.

A secretária o transferiu.

— Cassian. O que posso fazer por você?

A resposta veio fria e direta.

— Preciso marcar uma reunião. Hoje. Quero discutir o processo de fertilização assistida.

Houve uma pausa.

Então, a resposta do médico:

— Claro. Podemos nos encontrar na clínica em duas horas.

Cassian não hesitou.

— Ótimo. Estarei lá.

Desligou.

Guardou o celular.

Respirou fundo.

Um herdeiro.

Seu destino agora estava selado.

Ele não sabia como.

Não sabia que o erro estava prestes a acontecer.

Apenas sabia que precisava fazer isso.

E essa decisão mudaria sua vida para sempre.

Mas, antes disso, ele precisava de um escape.

Cassian pegou o telefone novamente e discou sem hesitação.

Diego.

O amigo atendeu no terceiro toque.

— Cassian. O que foi?

— Hoje à noite. Preciso beber. Encontre-me.

Houve uma pausa do outro lado da linha antes da resposta:

— Não posso. Vou encontrar minha namorada.

Cassian trincou a mandíbula.

— Foda-se a sua namorada.

— Não foda-se nada, Cassian. A mulher tem prioridade. Diferente de você, eu tenho um relacionamento.

Cassian fechou os olhos por um instante, tentando conter a irritação.

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