Rússia, Moscou. Dias atuais.
__ Por favor, Elisa, nunca te pedi nada.Que Mentirosa! Eu não sei como fui arranjar uma amiga tão pidona assim meu Deus. Penso revirando meus olhos, divertida.__ Kátia, pare de mentir mulher, você vive me pedindo coisas... Deusa faça isso, deusa faça aquilo. Digo com a cara feia fazendo gestos com minhas mãos enquanto terminava de lavar a louça e Kátia enxugava.__ Assim você me ofendi amiga. __ Ela declarou enxugando a última panela e guardando-a no armário. __ Enfim acabamos, agora podemos conversar direito.__ Amiga você sabe que não me importo em te fazer favores. __ Digo enxugando minhas mãos na toalha de prato que estava em suas mãos e caminho em direção a sala. __ Mas isso é demais para mim. __ Completei me jogando no sofá e tocando o colar em meu pescoço. Das poucas lembranças que sobraram de mamãe. A cinco anos eu e Kátia viemos para viver uma nova vida.No avião Kátia recomendou que eu não fosse dizendo que os russos têm preconceito com negros.Para constar, eu nem sabia disso.Ela comentou que mesmo tendo sangue russo, branca e sabe a língua local, se sente acuada.Imaginar eu que não era nada disso. Isso me preocupou.Como eu sendo negra ia conseguir entrar em uma escola de balé conceituada como a escola de Balé Bolshoi?Infelizmente meu medo se concretizou.Não consegui entrar na escola de balé. Descobri na pele que a Rússia é um país lindo, racista e homofóbico.Kátia pensa que Vladimir, o seu chefe, é "gay" e não se assumi. Eu mesma demorei para me sentir à vontade no país.Imagine um homem "gay" ou uma mulher lésbica que nasceu aqui?Hoje trabalho como garçonete em um restaurante no centro de Moscou e meu sonho de ser uma grande bailarina como minha mãe, foi posto de lado.Pela manhã, Kátia trabalha na área administrativa, em uma empresa que seu pai é sócio, na noite de sexta e sábado, ela trabalha como dançarina em uma "boate" de "stripper". Como Kátia gosta de se chamar:Dançarina exótica.Para ela, "stripper" a faz parecer vulgar e será uma boa desculpa para quando meus tios descobrirem.Hoje é sábado e ela me pediu para cobri-la porque ela precisa viajar ao Brasil.É aniversário de casamento dos pais dela, a peste nem sabe quando volta e eu vou ficar aqui morrendo de saudades.Eu queria ir também, mas prometi a mim que não voltaria lá outra vez. E mesmo que eu mudasse de ideia, não me sinto preparada para isso.Kátia nem precisa trabalhar na boate, seus pais são ricos, são naturais da Rússia, mas moram no Brasil desde quando nos conhecemos como gente.Todo mês mandam um bom dinheiro para ela, queriam mandar pra mim também, só que eu não deixei. A quatro anos Kátia me confessou que eles abriram uma conta de emergência pra mim, caso eu precise usar, ela me passou os dados.Eu disse não, mas me senti mal, liguei para eles e agradeci.Talvez eu use esse dinheiro pra ir para outro país, um país que me permita realizar meus sonhos. Penso.__ Para quê você quer esse emprego Kátia? Você nem precisa mulher.__ Eu já disse a você. __ Ela diz sentando ao meu lado. __ Gosto da adrenalina que ele me passa. Gosto do jeito que os homens me olham e Vladimir me protege quando querem fazer sexo comigo. _ Coro envergonhada ao ouvir as suas últimas palavras ditas de forma tão natural.__ Se seus pais descobrir vai arrancar seu coro. __ Avisei. __ Eu sei disso. __ Ela afirmou frustrada. __ Prometo que esse é meu último ano... promessa é divida, amiga. __ Sorriu sabendo que realmente ela vai parar.__ Eu não consigo fazer isso Kátia.__ Como não? Você me ensinou a dançar minha deusa do Ébano.Ela sabe que gosto quando ela me chama assim.Conheço as artimanhas dela.Aprendi a dançar com minha mãe, ela era bailarina iniciante, me ensinou um pouco de tudo, principalmente Balé, tango, kizomba, pagode e claro, não posso me esquecer do samba, a final somos carioca da gema e o samba está em nossas veias.O funk e Pole Dance aprendi praticamente sozinha, observando e assistindo a muitos vídeos online.Eu só assistir os vídeos ensinando polidence porque Kátia me pediu pra ensiná-la, sou muito boa em ensinar, assim como minha mãe foi um dia.Minha mãe era uma mulher branca de família rica.Ela não me falava muito sobre meus avós, só sei os nomes. Cristiano Maim e Elane Maim.Eles nunca me procuraram e confesso que me sinto magoada por nenhum familiar meu me querer de verdade.Só mamãe me quis, mas infelizmente a vida não quis o mesmo que ela.Seus lindos olhos verde sempre me acalmavam a noite quando tinha pesadelos, ela sempre me deixava trançar seu lindo cabelo.Seu cabelo loiro acastanhado era tão intenso, sua postura tão elegante que ela chamava atenção por onde passava, mesmo a gente sendo pobre.Aos vinte anos ela ganhou uma bolsa em uma companhia de dança muito famosa, mas nessa mesma época ela conheceu meu pai, um negro lindo, apaixonante e dez anos mais velho que ela.Por um deslize minha mãe acabou engravidando de mim, viu seu sonho arruinado e seus pais a abandonaram com a mão na frente e outra atrás.Que tipo de pais faz isso com a filha? São tão monstros quanto o meu próprio. Penso.Grávida e sozinha, minha mãe foi pedi abrigo a meu pai, ele logo aceitou, achando ela que era por amor.Aquele homem nunca amou ninguém, a não ser ele mesmo. Volto a pensar.Logo ele mostrou suas garras. Humilhava e agredia minha mãe em todo tempo, mesmo ela grávida de mim e até depois de me dar a luz.Ela aguentou as agressões por quatro anos, não aguentando mais, ela fugiu comigo no meio da noite.Foi quando conheceu os meus tios, os pais de Kátia.Eles ajudaram minha mãe dando um emprego em sua casa.Ela trabalhou para eles por cinco anos antes de falecer devido uma infecção respiratório.A justiça decretou que eu ficaria com meu pai, foi a pior decisão que eles tomaram.Quando a assistente social foi me buscar em minha casa, após eu ter enterrado minha mãe, ela verificou apenas onde eu colocaria minhas roupas, mas não verificou qual o estado de minha alma, acho que nem se preocupou se eu tivesse se quer uma alma. Passei nove anos sendo humilhada e agredida.Se não fosse Kátia e seus pais eu poderia estar morta agora. Penso sentindo um arrepio em meu corpo.Eu nunca entendi o porque de tanto ódio de meu pai.Mas agradeço a Deus porque tenho a minha Kátia por perto.Não sei o que seria de mim sem ela.Para uns, a família é só o pai,para outros, só a mãe,muitos só têm o avô, ou a
Tem momentos que eu queria esganar alguém, como agora, conversando com o chefe da Kátia.Homem irritante. Penso contrariada.Na verdade, suponho ser uma característica de todo russo, ser mandão e troglodita.__ Eu já disse que não vou usar essa roupa Vladimir.A roupa que Katia me deixou é bem mais a minha cara. Era um collant branco revestido em pedras de strass que brilhavam como se fossem diamantes, fazendo conjunto, havia uma saia também branca feita em cetim. A saia era presa em minha cintura e tinha uma grande fenda na frente. Assim que vi a roupa imaginei que minha amiga quer que eu realmente faça um "show".__ Porra mulher, eu já disse que você vai usar isso. __ Ele joga a calcinha e sutiã vermelhos em cima de mim. Os deixo cair no chão com cara de nojo.Troglodita de merda. Rumino irritada.O sutiã até que eu poderia passar, tenho alguns parecidos, mas a calcinha fio dental, estilo de calcinha "tô para o crime", que provável ficara enfiado até o talo? Prefiro dispensar.Não s
__ Chegou o momento que vocês tanto tem esperado... __ Ouço Vladimir falar.Eu me encontrava atrás da cortina esperando a minha vez de entrar. Mas, antes eu entregara às cinco músicas que eu dançaria.__ O momento que vocês anseiam vê nossa rainha do polidence dá, o seu lindo "show". __ Ouço muitas vozes de homens gritar animados.Meu Deus! A casa está muito cheia.__ Mas eu consigo. __ Digo trêmula.Por mais que a dança seja como o ar que eu respiro, assim como todas as apresentações de um público só, chamada Kátia, eu fico nervosa, muito nervosa. No entanto, dessa vez eu estou tremendo na base, nunca tive um público tão grande, para piorar a situação, apenas de homens.__ Infelizmente a nossa rainha não estar. __ Dessa vez ouço várias vaias.__ Calma, calma rapazes, a nossa rainha não está, mas temos sua melhor amiga, a rainha do rebolado.O quê? Onde foi que ele tirou isso? Apelido ridículo.__ Vocês querem observar o que ela tem para nos oferecer?__ SIM. __ Os homens gritaram.__
Não, esse é o tal Ministro? Não acredito. Errei feio em pensar que ele era um velho barrigudo.__ Não tenho medo de nada. Rosnou irritado.__ O que te impedi de aceitar meu presente.__ Apenas não quero nada de uma qualquer.Ui! Me sentir ofendida agora, mas do que eu queria demostrar.__ Volkova, não fale assim com a mulher, você nem a conhece...__ Eu me dirijo a ela como eu bem entender Medvedev. __ O Ministro declarou grosseiro. __ Todos observava o pequeno "show" dos dois.Tento me afastar, mas seu amigo me impedi tocando em meu braço. Encaro sua mão em meu braço em seguida encaro o ministro.O ministro olhou a mão do amigo em meu braço e por um instante pude ver um olhar medonho em seu rosto, que logo foi substituído por um olhar irônico.__ Você ofendeu a garota... __ O tal do Medvedev começou a dizer, mas logo o corto me afastando de seu toque dando um passo para trás.Não preciso de homem nenhum me defendendo.__ Tudo bem... Tento dizer-lhe.__ Tudo bem coisa nenhuma, você va
Ah! Andrei, você é um grande idiota às vezes, não sabe escutar um não como resposta.Se você soubesse o quanto estou sentindo uma vontade imensa agora de te encher de socos. Penso usando de toda a minha calma, algo que nunca precisei fazer, nem mesmo nas guerras que já lutei.Como ele me coloca nessa situação? Ele tem sorte que eu honre a nossa amizade e goste do fato dele ser meu braço direito. Eu disse, fui categórico: Eu não quero festejar meu aniversário! Tenho trabalho a fazer, tenho um país para proteger.Além disso, não tenho motivos para festejar, esse dia para mim, é o pior de todos porque foi nesse mesmo dia que perdi a minha filha Vânia e a minha ex-esposa, Lara, que veio a óbito em um acidente de carro a três anos. 15 de julho de 2018, o pior dia da minha vida.Tenho um padrasto preso por tráfico de drogas e pessoas que buscam minha derrota a todo tempo. Que motivos eu tenho para festejar?Minha vida não é um mar de rosas, faz tempo que não tenho uma boa noite de sono de
__ Todo caidinho por uma mulher que acabou de conhecer... Sabia que eu nunca te vi assim? Nem mesmo com a...__ A Lara não vem ao caso, Andrei! __ O interrompi zangado. __ Já chega dessa conversa irritante, Vladimir está vindo em nossa direção, quero saber tudo sobre a mulher.__ Senhor Volkova, é sempre uma honra tê-lo na minha casa. __ Vladimir exclamou sorridente aproximando-se de nós. Volto a me levantar para cumprimentá-lo e Andrei faz o mesmo.__ Obrigado senhor Ekomov.__ É uma honra revê-lo também senhor Medvedev.__ Posso dizer o mesmo. __ Andrei respondeu estendendo a mão e o cumprimentando calorosamente.__ O que mais podemos fazer pelo senhor?__ Vladimir perguntou com um largo sorriso. __ Aniversariantes tem regalias aqui. Opa, ótimo saber disso. Penso olhando vitorioso para Andrei que me fitava de cara feia. Como se eu tivesse medo de cara feira.__ Comece me dizendo: quanto por uma noite com aquela mulher? __ Ele me olhou surpreso e sorriu sem graça. Isso não é um bom
Chegamos ao Grande Palácio do Kremlin em tempo recorde. Fico observando o palácio e toda a sua beleza. A verdade é, que nunca me canso em olhar os muitos detalhes característicos das arquiteturas bizantina e medieval russa em sua fachada.Faço isso, enquanto o FSO (Serviço Federal de Proteção) permite a minha entrada. Uma das responsabilidades do FSO é garantir a segurança dos funcionários do Grande Palácio e do presidente. Admito que eles fazem isso muito bem, mas é raro eu confiar cegamente em alguém, ainda mais quando esse alguém é responsável pela segurança de uma pessoa que gosto.Há sempre um protocolo, antes de qualquer pessoa conseguir entrar no Palácio. Apenas quem pode permiti é o Igor Korobov, o chefe do Serviço de Proteção, mas, para ter contato diretamente com o Presidente, somente o atual chefe de segurança presidencial, Nikolai Kotchnev tem o direito de autorizar.Vejo um dos muitos seguranças disposto na entrada do palácio se aproximar de meu carro, um utilitário na co
__ Elisa, pare aí mesmo, preciso falar com você. __ Vladimir ordenou. Eu já estava próximo à saída. Virei esforçando-me para não revirar os olhos.Vontade é que não faltava.__ Vladimir, você não manda em mim, além disso, já chamei o meu Uber.Quero ir embora logo antes que eu encontre o tal Ministro.__ Será rápido, é importante. __ Fiquei preocupada agora. Seu olhar parecia preocupado também, pareceu até paternal.__ Tudo bem, pode falar. __ Digo vencida pela mistura de curiosidade e preocupação.__ Eu não sei o que aconteceu entre você e o Ministro...__ Não aconteceu nada entre nós, Vladimir. __ O cortei dizendo. __ Foi somente uma dança. __ Não vem ao caso Elisa, eu percebi a forma que vocês se olharam, só faltou pegar fogo no palco.Porra.__ Vá direto ao assunto, por favor. __ Peço impaciente.__ Ele não é um homem de desistir fácil, ele quer você, ele praticamente me disse.__ Como assim Vladimir?__ Ele queria me pagar para passar uma noite com você.__ O que esse ser idiota