Agarrei a minha filha nos braços, enquanto observava Daren ser retirado algemado. Eu nunca pensei que veria algo assim na vida. Ele havia tocado nos meus tornozelos enquanto foi puxado, e a sensação ruim daquelas mãos ainda não haviam passado. Maila me encarou com crueldade e frieza. Eu sabia que aquilo era uma forma de me ameaçar. Mesmo sem me tocar, aquilo me afetou. Eu ainda podia me lembrar de como todas haviam rido de mim pelas costas, e como havia sido doloroso descobrir que sempre fui motivo para piadas. – Vamos... – Juan sequer parecia estar vendo toda aquela cena caótica. Ele apenas agarrou a minha mão e me levou para fora do predio enorme. – Nós temos que comemorar. Você agora é herdeira. – Juan... Eu não tenho animo. Ele se virou para mim. Seu semblante estava serio e desafiador. Eu podia jurar que ele queria me seduzir, pela maneira sorrateira como andou na minha direção, erguendo lentamente seu dedo indicador. – Olha aqui, eu sei que está sendo bem difícil. Mas você a
Hardin Holloway...Eu sentia um vazio imenso me preenchendo. Por dois segundos, era como se eu estivesse ali, com a Livy Clarke. Eu simplesmente me distrai, em meio aos beijos frios, que nada me diziam. Não significou nada. Eu agarrei os braços daquela mulher e a afastei de mim. Ela ainda estava com os olhos fechados quando eu a tirei de mim. Foi quando finalmente podia ver claramente. Obvio que eu sabia que ela era Maila, mas estar embriagado não ajudava com a minha sanidade. – O que você pensa que está fazendo? – Por favor... Hardin, vamos esquecer tudo que aconteceu... Eu ainda te amo. Eu ri, baixinho, inaudível. Mordi a parte inferior da minha boca com força, e eu quase podia sentir alguma dor. Então eu sorri e me virei. Estava prestes a ir embora, quando senti as mãos dela segurarem meu antebraço. – Já chega! Eu não vou ficar aqui escutando isso! – Não! Por favor, fique! Eu não sei o que aconteceu comigo. Prometo que não farei mais... Eu olhei para ela, entre os meus ombros.
Eu andei por todos os lugares. Eu corri. Estava sumida a quase dois meses agora. Longe de tudo que eu conhecia, tomei folego, empurrando o carrinho de bebê, junto ao meu cansaço. Olhei para o lado, e em um banco de praça, de pernas cruzadas, Juan me observava. – Posso parar agora? Ele me encarou, sorriu, e então olhou para o relógio. – Mais cinco minutos.Eu exibi minha melhor versão de careta, enquanto me entregava ao suor e a falta de ar. – Já chega! Maldita hora em que deixei você me transformar em uma nova mulher. – Maldita hora, não é? Mas agora, você precisa de um bumbum durinho. Vamos lá? Eu o amaldiçoei, mas não era serio. Estava praguejando mentalmente, enquanto sentia as minhas pernas derretendo lentamente. – Me diz que essa tortura já acabou. Eu preciso ir para casa. Maive ainda tem que comer... – Vamos. – Juan anunciou. Eu senti o meu corpo tocar fogos de alegria. – Graças a deus. – Ainda estava tão ofegante, que sequer havia restado alguma vontade de pular de alegria
Hardin Holloway. Escutei o bater de portas. Tudo parecia agitado desde que Livy Clarke deixou a minha empresa. A mesa em que ela costumava estar, ainda continuava vazia. Eu me sentei e analisei toda a papelada empoeirada. Ninguém podia tocar naqueles objetos. Tudo ainda pertencia a ela. Divaguei por ali, observando tudo que ela havia esquecido ao ir embora. A foto estranha abraçada com o amigo, guardada dentro da gaveta, os doces que ela escondia para aplacar os desejos de grávida... Eu ainda não entendia como havia sido tão insensível. Me perguntava sempre que a minha cabeça encostava no travesseiro, se tudo seria muito diferente se eu a tivesse amado quando decidi odiar. Quanto tempo eu perdi a tirando do meu prédio? Da minha vida? Quanto ela me odiou quando eu a demiti? Eu a assustei naquele hospital, ou Livy Clarke sempre fugir de mim por que sua intenção sempre foi recuperar a herança que de fato pertencia a ela? Todas as perguntas não me deixavam dormir direito, e já se podia n
Eu estava sentindo tudo novo quando deixei a clinica. Meus olhos estavam embaçados por um tempo razoável de vinte e quatro horas, até que finalmente eu pude ver como nunca antes. Mas agora, não estava mais tão feliz. Sentada em uma cadeira, alguém jogava agua gelada no meu cabelo, e eu precisava que Juan segurasse os meus ombros para não fugir daquele salão. Duas mulheres cuidavam dos meus pés e mãos, enquanto alguém mexia no meu cabelo muito longo, mas que sempre estava preso. Eu só queria ir para casa, cuidar da minha filha. Eu não conhecia aquelas pessoas, e não sabia se podia confiar nelas. O que eu estava fazendo? Se eu ficar mais feia? Se eu não conseguir alcançar as expectativas do Juan? Se as pessoas naquela festa rirem da minha aparência? – Por favor, me distrai! Eu preciso parar de pensar no que estão fazendo comigo, por que se não, vou ficar louca. – O que você colocou naquele convite que enviou para os seus antigos atormentadores? – Você não pode falar de outra coisa?
Provei uma porção de vestidos na semana passada. Roupas de executiva, e para jantares elegantes que eu provavelmente não iria. Ainda me encarava no espelho logo pela manhã, e não podia me reconhecer. Meus lábios pequenos como cerejas continham um tom avermelhado e arredondado. Meu rosto se delineava em traços finos, e sem todos aqueles pelos, eu mal conseguia reconhecer como a minha pele havia sido substituída. Era como se eu fosse outra pessoa. Eu me sentia bonita. Eu me sentia linda e sexy pela primeira vez em muito tempo. Estava tão cansada. O bebê não chorava tanto desde quando nasceu. Talvez ela esteja sentindo que vai voltar para aquele lugar caótico. Toquei no berço, olhando aquela coisinha pequena dormir. Ela era tão linda, e tão parecida comigo agora. Meu coração se enchia de dor sempre que pensava no que diria quando ela perguntasse sobre o pai. Quem era o pai da Maive? Eu sabia, mas não queria aceitar que um homem tão ruim quanto Daren Holloway assumisse a minha filha. E
Demorei algum tempo para decidir se viria a esse jantar ridículo. Tudo isso parecia uma espécie de fantasia, e eu queria muito sair dela. Olhar o riso das pessoas me causava uma sensação estranha. Era quase como ver o mundo em câmera lenta. Eu odiava aquelas mulheres que me olhavam como um pedaço de carne, e odiava o terno de cinco mil dólares que vestia. Eu odiava ter pensado em usar gravata borboleta, então a arranquei e enfiei no meu bolso esquerdo. Eu odiava ter adquirido o habito de fumar agora, mas era a única forma que encontrei para me acalmar, sem acabar com o meu fígado também. Daren chegou alguns minutos depois, e eu podia ver a forma como ele tentava disfarçar a tensão no olhar. Nem mesmo ele sabia o que estava prestes a acontecer, mas eu devia admitir. Ele tinha alguma coragem em ainda se atrever a aparecer. – Querido irmão... Você veio? – Daren disse. Eu sentia o desprezo na voz dele. Voltei a olhar para o rosto dele. Nunca fui intimidado por alguém, e não aconteceri
Aquela luz levemente azul se apagou. Tudo que restou no ambiente foram as luzes de um palanque, e eu colei os meus olhos ali, como se esperasse que Livy Clarke caminhasse na minha direção. Estávamos próximos do palco. Daren Holloway continuava caído no chão, tocando em sua boca sangrando, enquanto Maila fingia que nem o tinha notado daquela maneira. – Me ajuda aqui, sua inútil! – Daren ordenou. Maila se abaixou para ajuda-lo, e foi quando as luzes das portas também se acenderam. Eu podia ver o momento em que o meu rosto se desviou, devagar, e sem qualquer ritmo em direção aqueles dois homens escancaravam as portas. Meus olhos ainda acompanhavam os movimentos dos sapatos, aqueles pés, aqueles saltos, não eram da Livy Clarke. Eu esperei que ela surgisse no ambiente, mas tudo que vi foi uma linda asiática usando seu vestido azul marinho, em um veludo tão perfeito que eu podia vê-lo brilhar. Aquele corte na perna, eu devia admitir que era sensual, mas não conseguia entender tanto al