Parte 42 -BiancaVoltamos para a companhia de nossas famílias. Pela cara do meu pai, se ele pudesse, arrancaria minha pele aqui mesmo, na frente de todos, sem se importar.Respirei fundo e apertei a mão de Adriano. É engraçado, mas acho que posso contar com ele nesse ponto. Acho que ele não gostou do modo como meu pai falou comigo e com minha mãe.Pelo menos isso é um ponto positivo pra ele. Só não sei o resto.— E então, vocês já conversaram? - o irmão dele me encarou.Ai que raiva. Leonardo tem um jeito muito mandão. Isso me incomoda.— Sim, irmão... Já conversamos - Adriano me puxa para o lado dele — Vocês não precisam se preocupar com nada. Bianca e eu vamos nos casar, como foi acertado antes.— Ainda bem - minha futura sogra fica aliviada — Espero que não voltemos a esse assunto. Temos que correr agora.— Eu posso ajudar - minha mãe levantou a mão, com seu jeito tímido — Se vocês quiserem, é claro.— É claro que eu quero, mãe - sorri para ela — Nós temos muito para conversar.—
Parte 43 -Bianca— Obrigada por me defender - entramos no quarto — Agora, tem outra coisa que eu queria também... - fiz um bico, torcendo de lado.— Mas já? - ele ergueu a sobrancelha com uma expressão de ironia — Diga o que é.Eu puxei o ar e soltei devagar. A questão de Luísa me pegou.— Sabe que sua mãe disse que eu ter fugido colocou todo mundo em perigo - ele cruzou os braços e sentou na cama.— E o que tem isso?— Eu quero ver a Luísa - me aproximei dele — Quero falar com ela e saber como está. Fiquei preocupada de verdade.Ele inclinou a cabeça, pensando. Os segundos de espera me deixaram ansiosa. Se ele disse que nós iríamos tentar criar nossa intimidade, ele fazer algo que eu ache importante é um bom primeiro passo.— Tudo bem... Eu vou ver se consigo um encontro com sua amiga.— Sério mesmo?— Sim, mas antes eu vou procurar saber como ela está. Não quero que corra perigo.— Luísa é de confiança, ela não faria nada contra mim.— Ainda, assim, tenho que ter cuidado - ele pega
Parte 44 -BiancaNão vi Adriano durante toda a manhã, mas tive que suportar o mau humor de meu pai, que sempre tinha algo desagradável a dizer, para mim ou para mamãe.Eu não me recordava que ele era assim, tão machista, tão egocêntrico e mandão. Tudo isso é insuportável.Realmente, se eu tivesse que voltar a morar com meus pais acabaria tendo um problema muito rápido.A coisa boa foi que minha mãe estava mais animada. Vitória lhe dava muita atenção e isso era bom, acho que minha mãe não tem amigas. Pelo menos eu não me lembro.Estava sentada na varanda do meu quarto, tentando me distrair com o livro que Vitória havia me emprestado, quando ouvi o som da porta se abrindo. Não precisei olhar para saber que era Adriano. Seu perfume amadeirado e sua presença sempre dominavam o ambiente.— Espero não estar interrompendo nada importante. - ele disse, com aquele tom casual que fazia parecer que nunca se importava com nada.— Não, só estava lendo. Se chegasse antes, talvez interrompesse. Su
Parte 45 - BiancaA SUV preta deslizava pelas ruas de Sevilha, silenciosa e imponente. O motor emitia um ronronar baixo, mas constante, que combinava com o clima tenso dentro do veículo. Adriano estava ao meu lado, calado como uma estátua, os olhos fixos na estrada. Ele parecia focado, mas a linha rígida de seu maxilar e a forma como suas mãos apertavam o volante revelavam algo mais. Ele estava tenso.Por um momento, considerei não dizer nada. O silêncio parecia ser a língua preferida dele, e eu ainda estava aprendendo a traduzir seus olhares e gestos. Mas minha ansiedade falou mais alto.— Onde ela está? - perguntei, tentando soar casual, mas meu tom saiu mais urgente do que pretendia por causa da ansiedade.Adriano não desviou o olhar da estrada.— Em um lugar seguro. - sua resposta foi curta, quase ríspida, e não ajudou em nada a aliviar minha inquietação.— Seguro como? - insisti. — Não gosto de respostas vagas, Adriano. Estou ansiosa.Ele finalmente virou o rosto para mim, por
Parte 46 - Bianca— Abaixe a cabeça, Bianca! - Adriano ordenou, puxando uma arma debaixo do casaco.Meu coração disparou, e obedeci, me jogando para baixo enquanto ele abaixava o vidro e disparava. O som dos tiros ecoou dentro do carro, ensurdecedor, enquanto os veículos inimigos tentavam nos cercar.Fiquei com medo porque ele tinha que manter a direção para não bater em outros carros na pista e ainda tinha que revidar os tiros.— Adriano! - gritei, o pânico tomando conta de mim. Me preocupei por ele também.— Eu disse para ficar abaixada! - ele gritou de volta, sem tirar os olhos da ameaça.Depois ele acelerou, tentando abrir distância, mas os carros continuavam atrás de nós. Um dos inimigos conseguiu emparelhar e bateu na lateral da SUV, me jogando contra a porta com força e gritei de novo.— Malditos! - Adriano rosnou, atirando mais uma vez. O carro inimigo perdeu o controle e bateu em um poste, mas os outros continuavam atrás de nós.— Adriano, onde estão seus seguranças? - pergu
Parte 1 -BiancaEu mal conseguia respirar. O silêncio da noite era tão denso que cada passo meu parecia um trovão dentro de minha cabeça. Quando meus pés tocaram o chão do lado de fora da janela, o barulho abafado pela grama úmida ainda me pareceu alto demais. Por um instante, parei.— Será que alguém ouviu? - pensei, com o coração martelando dentro do peito. O medo de sermos descobertas me queimava por dentro, mas eu não podia voltar atrás.— Rápido, Bianca!A voz de Luísa, que já estava mais à frente, me puxou de volta à realidade. Ela me agarrou pelo braço, e seus olhos brilhavam com a mesma mistura de medo e excitação que os meus. Não era a primeira vez que fugíamos do convento juntas, mas essa noite era diferente. Nas outras vezes, tínhamos sido cuidadosas, nos limitando a passeios curtos e discretos pela cidade silenciosa. Desta vez, íamos mais longe — muito mais.Todos esses anos enclausurada aqui dentro já eram demais. Não pedi por isso e nem fui consultada. Apenas acatei u
Parte 2 -Bianca Tudo era tão diferente do convento que, por um momento, senti como se tivesse sido transportada para outro universo. As luzes vibrantes piscavam ritmicamente, refletindo nas paredes espelhadas da boate. O som era tão alto que quase abafava o tumulto de vozes e risadas ao nosso redor. Senti o cheiro forte de perfume misturado com álcool e suor, algo tão distante do aroma suave de incenso e velas que preenchiam os corredores do convento. Mas até que eu gostei.Estávamos dentro. Na boate. Eu e Luísa havíamos conseguido fugir mais uma vez e estávamos no meio de um mar de gente, num lugar onde nunca imaginei pisar. No carro, antes de chegar aqui, havíamos nos trocado às pressas. Luísa, com sua ousadia habitual, me emprestara um de seus antigos vestidos, algo que ela mantinha escondido como um relicário de sua antiga vida fora do convento. O vestido que agora grudava ao meu corpo era um tecido preto, fino e ligeiramente brilhoso, com alças delicadas que caíam sobre meu
Parte 3 -BiancaAgora, ele estava de pé, parado a poucos passos de mim, com uma expressão que eu não sabia decifrar. De perto, ele era ainda mais impressionante. Os cabelos negros bem penteados, o rosto marcado com linhas de expressão, mas com um charme perigoso. Seu terno impecável só aumentava o contraste com o ambiente ao redor.— Eu... S-sim, estou - gaguejei, tentando parecer calma, mas sentindo minhas pernas tremerem. — Só... Só um pouco perdida.— Perdida? - ele inclinou a cabeça, os lábios curvando-se levemente. — Esse não é o tipo de lugar onde uma pessoa deveria estar perdida.Senti o calor subir pelo meu rosto, incapaz de evitar a vergonha que me consumia.— É a minha primeira vez aqui - confessei, sem conseguir manter o olhar.— Isso explica muita coisa - ele parecia divertir-se, mas de uma maneira contida, quase perigosa.— Você vem aqui sempre? - eu tentei puxar conversa, mas sabia que estava tropeçando nas palavras.— Não, mas hoje... Algo me disse que seria uma noite