Capítulo 4

Peter

 Hoje foi incrível,

acabamos tendo nosso primeiro encontro, estou louco para o próximo que será amanhã. Talvez eu deva levar um presente para ela, ou a sobremesa do jantar. Meus pensamentos estão bem agitados na volta para casa. Pensar nela me deixa nas nuvens, ela realmente parece ser incrível.

Quando chego em casa vejo minha mãe na sala chorando e meu pai estava na cozinha bebendo, ele está muito mal. Virando de uma vez um copo cheio de Whisky, um atrás do outro. 

— Mãe o que houve? — Ela me abraça, soluçando de tanto chorar.

— Querido, eu… Eu perdi o bebê. — As lágrimas caem sem parar e eu a abraço com força. 

— Tudo ficará bem mãe, algum dia a senhora terá outro filho. — Ela me abraça mais forte e chora com intensidade. Sinto que ela está sufocando com toda aquela dor no peito.

— Mãe prometo que não te deixarei sozinha em nenhum momento, estarei aqui para o que precisar. 

— Obrigada, querido, eu te amo muito. Ela dá um sorriso forçado e me dá um beijo na testa. 

— Também te amo mãe. — Acaricio sua face. 

— Pai vai com calma! Posso fazer algo coisa? — Estou muito preocupado com ele, ele só ficou assim uma vez quando acreditou que poderia me perder. 

— Você não pode fazer nada filho. Nós não podemos fazer nada, só aceitar essa tragédia. O jantar está no micro-ondas, coma e descanse, ficarei com sua mãe. 

— Quero ficar com vocês.

— Filho, o que precisamos é que não se preocupe. Você estando bem nós também estaremos. 

— Tudo bem. Mas qualquer coisa me chame. — Eu o abraço e ele retribui. 

— Te amo pai. — Também te amo filho. Vá descansar, ficaremos bem. 

Sinto-me tão mal que não consigo jantar e vou para o meu quarto, tomo meu banho e deito-me. Tento dormir, mas não consigo, só consigo pensar em Yuki, mas não posso pensar nela agora, preciso esquecê-la por enquanto. Minha mãe precisa de mim por inteiro, não posso me preocupar com esses sentimentos agora.

...                                     

Já faz uma semana que não vejo Yuki, não sei se ela sente minha falta ou será que ela me odeia por não ter dado nenhuma explicação? Essa semana que passou fiquei cuidando da minha mãe, ela precisava muito de mim. Todo dia faço seu café da manhã, fico ao seu lado assistindo e fazendo tricô, aprendi para que não se sinta sozinha, dei toda atenção e amor que ela precisa. Ela ainda está abatida com a perda, meu pai está um pouco melhor, ou está apenas fingindo estar bem para me manter tranquilo, mas não estou. Tenho certeza que em algum momento, eles terão outro filho, são os melhores pais que alguém poderia ter, não merecem esse sofrimento.

Às aulas estão chegando e eu estou me preparando, é uma nova escola, uma nova vida, com novas pessoas, a não ser Carlos e Ayumi, os únicos que conheço.

— Peter, onde você está? — É a primeira vez na semana que ouço a voz da minha mãe. Geralmente ela só chora e me abraça.

— Estou na cozinha mãe.

— Filho, me faz um favor? — Os seus olhos estavam inchados e vermelhos, e sua voz rouca.

— Claro mãe! O que a senhora precisa? Está tudo bem?

— Sim, querido, está. Vá à farmácia para mim e traz alguns frascos de comprimidos que estão nesta receita, aqui está o dinheiro. E vá rápido. — Dei lhe um beijo na face e me despedi.

Olho para casa de Yuki e vejo seu irmão olhando para mim com olhar fixo, então pego minha bicicleta e pedalo o mais rápido que posso. Não quero que venha falar comigo, preciso evitar o máximo que eu posso. Eu sei que eu devo explicações a ela, furei nosso encontro e não lhe disse nada, fui insensível, mais não podia deixar minha mãe só, ela precisava de mim 100%, espero que Yuki entenda quando eu lhe explicar, ou melhor, quando eu tiver coragem para lhe explicar. 

— Bom dia Tony! Você tem esses remédios? São para minha mãe. 

— Bom dia, Peter! Tenho sim, aqui estão. Os seus também chegaram, vai levar?

— Não. Eu ainda tenho os comprimidos. Muito obrigado — Paguei e voltei para casa.

— Filho que bom que você chegou. Seu médico ligou e pediu novos exames. — Nesse momento eu gelei. Sei que algo está errado comigo, mas não gosto de falar disso com um estranho. 

— Pai preciso sair, mais tarde eu volto. — Estou assustado, mas não quero dizer-lhe. 

— Para onde você vai, Peter? Precisamos conversar. 

— Preciso de um tempo sozinho, conversamos depois. 

Saí correndo com a bicicleta o mais rápido que eu pude até chegar à floresta. Me ajoelhei no chão e comecei a tremer e chorar muito. Tenho medo que tudo possa piorar. Meu psicológico está muito abalado, e eu estou apaixonado por aquela garota ruiva o que deixa tudo ainda mais complicado. Já estava me odiando por tudo, eu só queria que tudo acabasse logo, eu sei que só vai piorar. Não sei se me preocupo mais comigo ou com meus pais. Andando pela floresta me deparo uma árvore alta e robusta, escalo seus galhos, deito-me em um dos troncos e adormeço. Quando acordo, já está tudo escuro.

Quando chego em casa meus pais estão na sala, me olhando assustados e preocupados. Meu pai se aproxima e dá um forte tapa em meu rosto e depois me abraça. Ele me segurou pelos ombros e me olhando nos olhos. 

— Peter, onde você estava? Estávamos preocupados. 

— Eu acabei dormindo na floresta, mas estou bem. — Tento acalma-lo mais é em vão

— Na floresta? Você ficou louco? Sua mãe e eu não precisamos perder mais um filho. — Ele estava quase chorando. Ele me solta e começa a caminhar pela sala.

— Me desculpe! Nunca mais farei isso, prometo. Eu não queria magoar vocês, muito menos deixá-los preocupados. 

— Peter querido, o que você foi fazer na floresta? 

— Nada. Mãe eu só precisava de um tempo sozinho, fiquei assustado. Me desculpe.

 — Não precisa se desculpar querido, sei ser difícil encarar essa situação, mas fugir não resolve nada. Vá descansar e depois conversamos. 

Dou boa noite e vou para o meu quarto, não quis comer nada, simplesmente quero deitar e relaxar. Ela tem razão, fugir não adianta nada, todo o problema sempre estará aqui comigo me acompanhando para todo lado.

... 

Hoje é meu primeiro dia de aula na nova escola. Visto meu uniforme, tomo café da manhã reforçado, dou um beijo em meus pais e saio. Estou ansioso para meu primeiro dia. Na entrada da escola encontro Ayumi e Carlos. Ayumi agarrou meu braço e beijou meu rosto. Gosto muito dela, é como se fosse minha irmãzinha mais nova, meiga e fofa. 

— Bom dia, pessoal!

— Bom dia, Peterzinho!

— Bom dia, maninho!

— Uau Carlos! O que falta de animação em você, tem de sobra na Ayumi.

— Eu não dormi muito por causa dela. Passou a noite inteira no celular falando com as amigas gritando e eufórica pelo primeiro dia. Para piorar ela colocou em viva voz e elas ficaram falando com aquelas vozinhas finas, pareciam gralhas. — Não aguentei e comecei a rir. Ayumi não gostou nada do que ouviu, cruzou os braços e mudou de assunto. 

— Peter, você precisa conhecer nossos amigos. Venha que irei lhe apresentar.

Foi uma tortura conhecer toda aquela gente, comecei a suar e mexer as mãos no bolso do casaco. Em minha garganta se formava um nó e uma vontade de chora. Em fim o sino tocou, fui ao banheiro e joguei água em meu rosto, respirei fundo, tomei um comprimido e fui para sala. Chegando lá vejo Yuki, foi um choque para mim ela estar na mesma escola e na mesma sala que eu, senti precisar me explicar para ela. Quando percebo Ayumi me arrasta para perto dela, para me apresentar. Yuki não parecia muito feliz em me ver, saiu andando sem querer conversar, então sai correndo atrás dela, queria pedir desculpas, ela me diz que não precisa, que não devo nada a ela, não somos nada então eu não preciso me desculpar, muito menos me explicar.

Quando ela me disse que não somos nada, meu coração se partiu, sinto uma dor invadindo meu peito. Voltei para sala e fui conversar com Carlos. 

— Carlos, preciso de sua ajuda.

— Pode falar. O que precisa? 

— Preciso que você prenda a Yuki na sala ao lado comigo, só nós dois okay? 

— Fico louco Peter? Ela vai surtar, e não quer ver-lhe surtada, no ensino fundamental ela me batia sem motivo algum, não quero apanhar dela novamente.

— Sem motivos, Carlos? — Disse Ayumi cruzando os braços. 

— Que eu me lembre desde o dia em que você a conheceu não parava de provoca-la, sempre fazendo bullying. — Eu sei, errei muito com ela no passado. 

— Relaxa cara, errar é humano. Eu preciso conversar com ela, tenho assuntos pendentes.

— Está certo eu ajudo, mas… o que aconteceu entre vocês, e como se conhecem? 

— Vocês se viram e ficaram estranhos. 

— Nós saímos uma vez, e no segundo encontro não pude ir por que fiquei cuidando da minha mãe, aí eu fiquei evitando-a por vários dias. 

— Não acredito. Ela é minha melhor amiga e não me disse nada. Você ao menos devia ter dito algo já que mora tão perto. — Disse Ayumi, ela aparentava estar sentindo-se traída por Yuki não lhe contado nada. 

— Eu Não podia, precisei cuidar da minha mãe, aconteceu muita coisa. Por isso quero me explicar a ela.

 — Eu vou te ajudar amigo. — Então esperei ansioso, Carlos fez como o combinado, chamou-a na sala ao lado e a enrolou até eu chegar e nos deixou sozinhos.

— Oi, Yuki!

 Oi! O que está fazendo aqui?

 Eu preciso explicar o que aconteceu semana retrasada.

 Eu disse que não precisa explicar nada. Está tudo bem.

 Yuki eu preciso, eu não quero te magoar nem te deixar com raiva.

 Eu não estou magoada. Muito menos com raiva.

 Está sim. Sua voz denúncia a raiva que está de mim e sua vontade de chorar.

Chego perto dela e acaricio seu rosto, tento falar, mas sinto uma enorme vontade de beija-la. Ilho em seus olhos e me aproximo, o calor de nossos corpos juntos me arrepia, tomo ela em meus braços e toco seus lábios, mais não nos beijamos. Sou interrompido, o irmão dela aparece, puxa dá um soco em meu rosto.

 Sai de perto da minha irmã, seu idiota.

 Calma eu só estava conversando com ela.  Aquele soco doeu na alma.

 Ah! Conversando? Com a boca colada na dela? Você não tem vergonha do que fez?  Ele me pega pela camisa e me puxa.

 Eu não fiz por maldade, minha mãe perdeu o bebê naquela mesma noite em que eu saí com ela. Minha mãe precisava muito de mim, ela foi piorando e eu nunca a deixaria quando mais precisa de mim.  Fico chateado e irritado, não consigo parar de me tremer. Mesmo que eu não tenha ido ao encontro eu não merecia ser tratado assim por ele, eu tive meus motivos.

 Você poderia ao menos ter avisado-lhe e...

 Willian chega, eu já disse que ele não me deve explicação nenhuma, solte-o.

Ele me solta e sai andando e chama Yuki para acompanhá-lo. Ela me olha com tristeza e de compreensão, vejo haver muitas pessoas atrás de nós, sussurrando e nos julgando, mas ignoro. Sento-me para tentar digerir o que havia acontecido.

A aula ia começar, e eu só consigo pensar na Yuki. Como ela estava? Por que ela saiu correndo deixando Willian sozinho? Será que ela me odeia? Passaram-se mil e uma coisas na minha cabeça. 

A aula está quase acabando, e ela não apareceu, deve ter ido embora. De repente ela surge na porta da sala, seus olhos estão muito vermelhos, como se estivesse chorado por dias, me sinto culpado, eu a magoei. Ela entra e age naturalmente, mas é só olhar que dá para sentir sua tristeza. No refeitório vou em direção a ela para tentar conversarmos a sós.

 Yuki espera! Preciso falar com você.

 Peter, não é um bom momento. — Seus olhos estão cheios de lágrimas.

 Pode falar comigo, por favor, confie em mim, sei que te magoei, me perdoa. Eu posso explicar tudo.  Ela me abraça forte e começa a chorar.

 Calma, estou aqui para você.

 Por favor, não me solta.

 Vamos para um lugar mais calmo para conversarmos.

Entramos na ala de teatro da escola, nos sentamos no palco onde tinha algumas fantasias e instrumentos musicais.

 Yuki o que aconteceu? Por que você está assim?  Ela não parava de chorar e soluçar. Tentou falar mais as lágrimas não paravam de cair, eu a abraço forte para tentar acalma-la.

 Peter eles estão voltando. Eles não podem voltar. Eu não quero estar lá quando eles chegarem, eu não posso, não quero vê-los, ouvi-los nem sentir seus cheiros. Isso é muito para mim

 Calma, eles quem? O que está acontecendo? Não estou entendo nada.

 Meus pais voltaram. Eu não quero vê-los, não posso.

 Pensei que seus pais estavam mortos já que você mora com seu irmão.  Ela retorna a chorar.

 Se me permite perguntar, por que eles foram embora?

 Eles não foram apenas embora. Eles me abandonaram quando eu era apenas uma criança de cinco anos e eles levaram o Will, eu fiquei sozinha no orfanato.

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