O ar girava ao meu redor, e eu batia as asas com mais pressa. Estava no meio da manhã, e eu queria chegar o mais depressa possível no Céu. Pois, quanto mais cedo eu chegasse mais cedo eu partiria. Não queria criar suspeitas sobre mim e não queria demorar muito.
Não queria nem pensar na bronca que eu tomaria por não ter conseguido a relíquia número um, mas eu tinha que aguentar, afinal eu era um soldado, e além de tudo amava Handora e nosso bebê. Tinha que fazer isso por eles. Sorri ao pensar que eu seria pai. Pai? Eu? Quem imaginaria... Um anjo que já tinha vivido mais de dois mil anos visto de tudo e de todas as coisas mais estranhas que poderia se imaginar, e agora isso. Eu me tornaHandora- Por que vamos pegar uma conexão direta para o Brasil? – perguntei.Olhei para as passagens em minha mão. Nosso destino era o Brasil ao invés dos Estados Unidos. Eu só não entendia por que não íamos ver Lucian, entregar a relíquia, e só depois ir para o Rio. Eu estava começando a desconfiar de algo. Heron sempre dizia cada passo que íamos dar. Agora estava tomando decisões por mim?Olhei para ele. Estávamos na sala de embarque, esperando a chegada de nosso avião. Tínhamos apenas duas mochilas, uma minha e uma dele como bagagem.Heron olhou para mim com os olhos frios que me encaravam desde ontem. Desde que tínhamos saído do parque das pirâmides. Algo estava acontecendo e ele estava se escon
Senti o cansaço pesar meu corpo. Eu estava indo rápido demais. Mas, eu precisava saber que Handora estava bem. Que nosso bebê estava bem. Só que algo me dizia cada vez mais que eu voava, que nada estava bem.Ela estava tão mal, que seu corpo e o meu refletia com o seu aperto no peito. Eu só sei que eu iria matar Heron assim que eu o encontrasse. Por que se houvesse tocado que fosse num fio de cabelo de minha protegida, as coisas ficariam pesadas para ele.Eu já havia chegado ao Brasil, e atravessava o estado vizinho do Rio de Janeiro. Chegaria a menos de meia hora, e eu sei que de verdade eu não via combinado um lugar com Handora para nos encontrarmos, mas eu sabia que a sentiria assim que chegasse lá. Eu só esperava que isso realmente acontecesse.Todos estavam comentando, tamanha a minha pressa em chegar ao Rio. Eu não me importava, continuava a voar como um desesperado.- Você precisa ir com mais calma, Melahel. – Alba batia suas asas rapidamente par
Escuridão.Era onde eu estava agora.Entorpecido de sentimentos nenhum. Sem nada que pesasse minha consciência ou que se quer poderia fazer com que eu sentisse sofrimento, dor ou algum vazio.Eu estava livre de sentimentos. Que pessoa que no mundo não poderia querer isso?Ficar sem sofrer. Não sentir dor nenhuma nem por dentro nem por fora. Não poder sentir falta de alguém que nunca se amou. Não se magoar jamais. E nunca amar nenhuma pessoa. Não sentir saudades, não sentir nada. Mas, também não sentir amor, não sentir felicidade. Não sentir o dom do melhor sentimento do mundo.Ser vazio. Oco.Teria coisa pior que isso?Mas, era assim que eu me sentia. Exatamente como um nada. Um ser completamente desprovido de sentimentos e sensações. Não conseguia enxergar nada a minha frente, nem meu corpo, não conseguia imaginar que horas eram, nem quantos dias se passaram desde a tragédia que pôs fim a minha vida.Minha ment
Seis meses atrás...Era mais um dia tranquilo de pesca.O mar estava calmo e isso era bom para que os peixes circulassem com mais tranquilidade e a pesca fosse farta. Até porque o Sol brilhava num dia lindo e não parecia que poderia haver coisa melhor.O capitão Rodrigues parou o barco e jogou a âncora. Os pescadores jogaram as redes e ficaram atentos para qualquer problema que houvesse.O dia se passou e tudo ainda continuava tranquilo. Os pescadores pararam para tomar um lanche e todos faziam piadas um dos outros como sempre. Amigos desde a infância sempre contavam um com o outro quando precisavam.Rodrigues saiu para dar uma volta no convés do simples barco e foi quando avistou algo ao longe. Parecia uma boneca flutuando no mar. Seus longos cabelos loiros espalhados na água era o que tinha chamado atenção dele.Ele retirou do bolso um binóculo e espiou para ver o que era.Quase acreditou que talvez fosse uma sereia. Mas,
- Quem é Melahel? – Marcos perguntou com a voz ainda preocupada.Voltei na minha mente seu rosto. Lindo rosto de anjo, que mesmo eu não sabendo quem ele era ou da onde ele tinha saído, minha respiração ia e vinha mais rápido. E com certeza eu o amava perdidamente. Pelo pouco tempo que eu me conhecia, sabia que não sentiria isso por ninguém.Ele representava muita coisa e eu tinha noção que ele poderia ser o pai de minha filha.- Acho que é meu namorado. – respondi hesitante.Marcos ficou durante alguns minutos pensativos, e então correu para a porta.- Marcos! – chamei.- Espere um pouco. Eu já volto. – ele disse e fechou a porta.Levantei da cama mais confiante e fui até a janela. Olhei pelo vidro e um lindo dia iluminava Fernando de Noronha. As árvores balançavam para lá e para cá num ritmo calmo e distante. As montanhas ao redor do hospital eram grandes e lindas.Eu adoraria ir para fora e aproveitar um dia t
Melahel- Em breve você poderá voar. Mas, veja pelo lado bom. Pelo menos você não tem mais gesso nenhum te incomodando. – Olavo disse enquanto me ajudava a sair da cama. Coloquei meus pés sobre o chão, mas a dor que subiu por minha perna foi grande.Me pendurei nele, e na beira da cama.- Mas, ainda estou preso aqui no Céu. Sinto que estou perdendo por ficar nessa cama, e que ela precisa muito da minha ajuda. – falei conseguindo endireitar meu corpo e ficando ereto.- Calma. Os anjos não cessaram as buscas. Aliás, eles vêm trabalhando dia e noite para encontrar Handora. Sabem que a gravidez dela é perigosa e requer cuidados. Por isso quanto mais rápido acharem-na, melhor é. – el
Handora- Quem está aí? – murmurei mais uma vez nervosa.Meus pelos do braço estavam arrepiados. Alguma coisa ruim estava acontecendo e eu sentia isso claramente. Olhei para a penumbra do meu quarto de hospital e pude ver entre as sombras, uma curva mais cinza do que preta e delineava uma pessoa.O grito saiu de meus lábios sem que eu quisesse. O medo e o susto foram maiores. O copo de vidro caiu de minhas mãos e foi então que a sombra se postou mais a frente, e era um homem que sorria estranhamente para mim, como se me conhecesse. Mas, eu não fazia ideia de quem ele era.Na pequena luz do quarto, consegui distingui-lo. Minha visão noturna era realmente maravilhosa
Corri desesperadamente pelas ruas sem que eu percebesse meu destino. Eu não conhecia nada naquele lugar e sinceramente, eu apenas queria fugir de Heron. Algo dentro de mim gritava para eu fugir e não olhar para trás, por que se eu hesitasse algo ruim aconteceria.Sem me importar, notei que as casas ao redor foram ficando cada vez mais distantes uma das outras, e em números pequenos. Árvores e mais árvores começaram a surgir, e o ar mudou, tornando- se tornando mais úmido. Sabia que estava saindo da cidade, e indo para a floresta.E continuei correndo, mesmo ao ver que ninguém me perseguia. Adentrei na floresta e a escuridão poderia ter me feito tremer de medo, ou talvez fizesse com que eu não enxergasse nada. Mas, com minha visão ampla e maravilhosa, consegui distinguir cada pequeno detalhe, e continuei disparando para o mais longe possível.E mais uma vez o ar mudou. Senti o cheiro salgado do mar e o leve toque de areia. Ia aumentar o ritmo quando uma dor