Escuridão.
Era onde eu estava agora. Entorpecido de sentimentos nenhum. Sem nada que pesasse minha consciência ou que se quer poderia fazer com que eu sentisse sofrimento, dor ou algum vazio. Eu estava livre de sentimentos. Que pessoa que no mundo não poderia querer isso? Ficar sem sofrer. Não sentir dor nenhuma nem por dentro nem por fora. Não poder sentir falta de alguém que nunca se amou. Não se magoar jamais. E nunca amar nenhuma pessoa. Não sentir saudades, não sentir nada. Mas, também não sentir amor, não sentir felicidade. Não sentir o dom do melhor sentimento do mundo. Ser vazio. Oco. Teria coisa pior que isso? Mas, era assim que eu me sentia. Exatamente como um nada. Um ser completamente desprovido de sentimentos e sensações. Não conseguia enxergar nada a minha frente, nem meu corpo, não conseguia imaginar que horas eram, nem quantos dias se passaram desde a tragédia que pôs fim a minha vida. Minha mentSeis meses atrás...Era mais um dia tranquilo de pesca.O mar estava calmo e isso era bom para que os peixes circulassem com mais tranquilidade e a pesca fosse farta. Até porque o Sol brilhava num dia lindo e não parecia que poderia haver coisa melhor.O capitão Rodrigues parou o barco e jogou a âncora. Os pescadores jogaram as redes e ficaram atentos para qualquer problema que houvesse.O dia se passou e tudo ainda continuava tranquilo. Os pescadores pararam para tomar um lanche e todos faziam piadas um dos outros como sempre. Amigos desde a infância sempre contavam um com o outro quando precisavam.Rodrigues saiu para dar uma volta no convés do simples barco e foi quando avistou algo ao longe. Parecia uma boneca flutuando no mar. Seus longos cabelos loiros espalhados na água era o que tinha chamado atenção dele.Ele retirou do bolso um binóculo e espiou para ver o que era.Quase acreditou que talvez fosse uma sereia. Mas,
- Quem é Melahel? – Marcos perguntou com a voz ainda preocupada.Voltei na minha mente seu rosto. Lindo rosto de anjo, que mesmo eu não sabendo quem ele era ou da onde ele tinha saído, minha respiração ia e vinha mais rápido. E com certeza eu o amava perdidamente. Pelo pouco tempo que eu me conhecia, sabia que não sentiria isso por ninguém.Ele representava muita coisa e eu tinha noção que ele poderia ser o pai de minha filha.- Acho que é meu namorado. – respondi hesitante.Marcos ficou durante alguns minutos pensativos, e então correu para a porta.- Marcos! – chamei.- Espere um pouco. Eu já volto. – ele disse e fechou a porta.Levantei da cama mais confiante e fui até a janela. Olhei pelo vidro e um lindo dia iluminava Fernando de Noronha. As árvores balançavam para lá e para cá num ritmo calmo e distante. As montanhas ao redor do hospital eram grandes e lindas.Eu adoraria ir para fora e aproveitar um dia t
Melahel- Em breve você poderá voar. Mas, veja pelo lado bom. Pelo menos você não tem mais gesso nenhum te incomodando. – Olavo disse enquanto me ajudava a sair da cama. Coloquei meus pés sobre o chão, mas a dor que subiu por minha perna foi grande.Me pendurei nele, e na beira da cama.- Mas, ainda estou preso aqui no Céu. Sinto que estou perdendo por ficar nessa cama, e que ela precisa muito da minha ajuda. – falei conseguindo endireitar meu corpo e ficando ereto.- Calma. Os anjos não cessaram as buscas. Aliás, eles vêm trabalhando dia e noite para encontrar Handora. Sabem que a gravidez dela é perigosa e requer cuidados. Por isso quanto mais rápido acharem-na, melhor é. – el
Handora- Quem está aí? – murmurei mais uma vez nervosa.Meus pelos do braço estavam arrepiados. Alguma coisa ruim estava acontecendo e eu sentia isso claramente. Olhei para a penumbra do meu quarto de hospital e pude ver entre as sombras, uma curva mais cinza do que preta e delineava uma pessoa.O grito saiu de meus lábios sem que eu quisesse. O medo e o susto foram maiores. O copo de vidro caiu de minhas mãos e foi então que a sombra se postou mais a frente, e era um homem que sorria estranhamente para mim, como se me conhecesse. Mas, eu não fazia ideia de quem ele era.Na pequena luz do quarto, consegui distingui-lo. Minha visão noturna era realmente maravilhosa
Corri desesperadamente pelas ruas sem que eu percebesse meu destino. Eu não conhecia nada naquele lugar e sinceramente, eu apenas queria fugir de Heron. Algo dentro de mim gritava para eu fugir e não olhar para trás, por que se eu hesitasse algo ruim aconteceria.Sem me importar, notei que as casas ao redor foram ficando cada vez mais distantes uma das outras, e em números pequenos. Árvores e mais árvores começaram a surgir, e o ar mudou, tornando- se tornando mais úmido. Sabia que estava saindo da cidade, e indo para a floresta.E continuei correndo, mesmo ao ver que ninguém me perseguia. Adentrei na floresta e a escuridão poderia ter me feito tremer de medo, ou talvez fizesse com que eu não enxergasse nada. Mas, com minha visão ampla e maravilhosa, consegui distinguir cada pequeno detalhe, e continuei disparando para o mais longe possível.E mais uma vez o ar mudou. Senti o cheiro salgado do mar e o leve toque de areia. Ia aumentar o ritmo quando uma dor
Melahel- Ah, droga! – gritei quando vi a cabeça de Handora pender para o lado, inconsciente.Apertei Halldren ainda cheia de sangue e suja em meu peito. Por pequenos segundos admirei minha filha. E era tão lindo como isso soava que senti algumas lágrimas nos cantos de meus olhos.Ela tinha olhos tão azuis como os meus, mas as feições delicadas, a pele imaculada branca e translúcida, era de Handora. O mesmo formato dos olhos. O mesmo contorno da boca. E seus cabelos loiros eram da mesma cor. Ela não poderia ser mais linda.Enquanto a segurava com um braço, rasguei minha blusa com a outra mão, e enrolei Halldren na blusa. Olhei para o rapaz que ainda gritava o nome de Handora. Olhei para ela, e seu c
MelahelO mundo que eu conheci já não era mais o mesmo.Queria acreditar que as palavras que Castiel acabara de me falar não eram verdade. Não eram reais. Mas, era tolo eu pensar que fosse mentira. Lucian era mais forte que muitos que eu já havia lutado. Ele era um dos líderes, se é que não era o líder.Só que simplesmente o mundo entraria em conflito e caos agora.Não queria nem ver quando Handora acordasse. Ela ficaria furiosa. Até porque nosso plano era evitar que a terceira relíquia caísse nas mãos dos Demônios. E olha agora? Justamente tudo que a gente não queria aconteceu. E isso faria com que nos atrapalhasse ainda mais. Pois, Lucian não descansará enquanto não a e
- Melahel? – a pergunta veio de Olavo.- Não sei se conseguiremos enfrentar todos. São muitos e além do mais temos que proteger Halldren e Handora. Elas não podem ficar desprotegidas. – respirei fundo. Os Demônios avançavam cada vez mais rápidos e meu coração acelerou. Era agora. – Todos abram suas asas. Marcos você vai com Olavo. Castiel, acha que consegue voar? – me virei para olhá-lo.Castiel sorriu.- Sim.- Então ótimo. Agora! – gritei.Olavo, Amim, Eloy e Castiel abriram suas asas. Estendi minhas asas e Halldren nessa hora abriu seus olhos. Ela piscou algumas vezes e sorriu ao me ver. Retribui o sorriso de volta mais feliz.Todos os anjos bateram suas asas e voaram rumo ao Céu. Os Demônios ficaram nos olhando com raiva e observei que algum deles tinha armas no bolso. Para que um Demônio teria arma? Mas, bati mais depressa minhas asas e olhei em volta. Lógico que com a “bagagem’’ que alguns de nós levava, era impossível voar