Olhei para seus olhos negros e prestei atenção nas coisas que ele dizia.
- No meu tempo as coisas eram ainda mais complicadas. Eu estava sozinho e não entendi a essência de meus poderes. Não entendia minha ânsia de fome. E você terá isso assim como eu tive e nossas irmãs também tiveram. – ele disse. Seus olhos pousaram nos meus e ele continuou.- Agora é o momento de seu Demônio crescer. E ele irá ficar descontrolado se você não souber domá-lo. Sentirá vontade de matar e estripar as pessoas o tempo inteiro. Quando você atinge sua maioridade é ai que as coisas ficam mais legais. Você fica mais forte, e mais rápida. Seu corpo deixa de ter qualquer necessidade humana e então sua dieta muda. – ele sorriu de um jeito sombrio e um arrepio desceu por minha coluna. Me afastei ligeiramente dele. - O que quer dizer com "dieta’’? – perguntei.Ele sorriu ainda mais e meus pelos se arrepiaram. - Você passa a tomar sangue. – ele disse simplesmentAbri meus olhos e senti algo se agitar dentro de mim. Sorri, acho que era a felicidade depois de uma noite tão linda como eu tinha passado. Me envolvi nos lençóis e foi então que notei que estava sozinha no quarto.- Melahel? – chamei.O silêncio se prolongou. Alguma coisa estava errada. Por que Melahel havia me deixado sozinha? Por que ele não me avisara de que iria embora? Por que ele me deixou?Meus olhos vasculharam o quarto e foi ai que notei os lençóis da cama completamente manchados de sangue. E não era qualquer sangue. Era o sangue de Melahel espalhado pelos travesseiros e lençóis. As lembranças invadiram minha mente e minha boca ficou com gosto de sangue.Eu havia provado do sangue de Melahel e havia me alimentado dele.Corri para o banheiro e gritei quando me olhei no espelho. Minha boca estava toda machada já de sangue seco. Mas, não era só ao redor de minha boca, e sim no rosto, no pescoço e pelos meus seios. Ah meu Deus!E
MelahelEu não queria voltar a vê-la. Meu coração recusava-se a compreender quem ela era, minha protegida, que eu havia cuidado e protegido por tanto tempo era um Demônio da pior espécie e que necessitava beber sangue. E por descuido havia bebido o meu.Havia sentido repulsa quando vi seus dentes se cravarem em minha pele. Havia sentido nojo quando meu sangue transbordou em suas veias. Isso era algo completamente horrível.Por que ela tinha que ser isso? Por que ela tinha que ter se transformado desse jeito?A Olívia que havia conhecido era doce, simples e tão frágil que eu havia cuidado dela como se ela fosse um cristal do mais raro e mais caro do mundo. E para mim ela realmente era isso. E agora... No que ela
Olhei para Heron sentado ao meu lado. Ele sorriu e ainda estávamos em silêncio desde que ele havia chegado. Mais ou menos há dez minutos.Alba realmente havia ligado para ele e pedido que ele viesse para cá por que eu precisava dele. Ele não hesitou e veio vinte minutos depois. Claro que anjos e Demônios não se davam bem, por isso Alba me deixou sozinha com Heron em meu quarto enquanto ela e os anjos iam ‘’dar uma volta’’ por aí.Eu sabia que tinha que agradecer muito a ela. E eu esperava que realmente pudesse contar com ela como amiga, por que era o que eu mais estava precisando nesse momento. Em alguém para confiar e dividir minhas coisas. E Alba era tão diferente de Angélica... Tão mais prestativa e amiga do que Ang havia sido.Enquanto meus pensamentos estavam vagando, Heron se aproximou e voltei para o presente momento.- Então você e os anjinhos vão resgatar seu amado? – ele pela milésima vez tentou puxar assunto.Concordei com a ca
Após conversar mais um pouco com Alba, descemos para a sala onde os outros anjos estavam reunidos. Eles me olharam com algumas perguntas no olhar e eu sabia que era pelo maldito Heron. Ele teria que se ver comigo depois.Me sentei ao lado de Alba e os anjos ficaram quietos.- Estava falando com Olívia sobre o plano que estávamos formando para resgatar Melahel que será daqui dois dias. Ela concorda plenamente com tudo que dissermos e está disposta a fazer qualquer coisa por Melahel assim como nós. – Alba disse.Olavo me olhou e sorriu.- Eu sei que ela faria de tudo por ele. Há rumores nos Céus sobre o romance dos dois. É obvio que o ama. O romance de vocês se tornou lenda entre os anjos. – ele riu.Sorrindo retornei seu olhar.- Deveria encarar isso como elogio? – falei brincando.- Mas, é claro, Criança. Vocês mostraram que para amar não precisa nada além de realmente ter um coração que bate. É como Romeu e Julieta. Teve um f
A tarde se passou e minha mente não conseguia pensar em outra coisa a não ser nas mentiras de Heron.Por que achando que se falasse que era meu irmão eu confiaria mais rápido nele?Claro que de fato isso havia acontecido. Eu tinha confiado nele rápido demais e visto nele talvez um amigo de que eu precisava em um momento tenso. Deixei-me alimentar dele e apenas para ele mentir e me usar.Não sei o que ele queria chegar com aquela mentira. E se mentiu sobre isso o que mais mentiu? Ele realmente queria me proteger como havia dito? De verdade era amigo de irmãs que eu nem conhecia?Tudo era tão confuso que minha cabeça chegava a doer.Suspirei deitada no sofá. Ainda estava sozinha e os anjos não tinham retornado. Eu sabia que meus pensamentos deveriam estar concentrados em Melahel e que dali algumas horas o teria em casa, mas meu cérebro não obedecia ao que eu mandava.E o que mais me intrigava era que apesar dos seja lá qual for planos de
Os corredores passavam feitos borrões enquanto eu tentava alcançar Amim e Eloy que corriam feito fantasmas com suas asas brancas e fortes. E eu cada vez mais me enojava com aquele lugar.Durante alguns minutos a corrida foi intensa e então Amim e Eloy foram parando gradativamente. As portas das celas eram feitas de ferro e enquanto avançávamos mais elas foram dando lugares a apenas corredores vazios e sombrios.Amim parou primeiro na esquina de um corredor para outro e de repente pegou pela garganta um anjo que deveria ser guarda dali. Estava vestido com um manto preto e sua face estava escondida sobre o tecido escuro.- Olívia? – ele me olhou e entendi o que eu tinha que fazer.- Se afaste. – pedi.Ele jogou o guarda no chão e antes que a criatura gritasse, atirei fogo nela em uma carga grande para que ele se incinerasse rapidamente. Em segundos a criatura virou cinzas no chão. O cheiro de queimado horrível subiu.- Vamos. – Elo
Olhei mais uma vez para o rosto machucado de Melahel. Por que fizeram isso com ele? Meu Deus, que motivo tão grave era suficiente para alguém machucar outra pessoa assim? Só por ele amar demais?Meus pensamentos flutuavam cada vez mais para longe. O choro subia pela minha garganta, mas continuei engolindo. Doía tanto vê-lo nesse estado decadente que meu Demônio gritava por justiça. Querendo matar e esmagar o culpado por simplesmente meu anjo estar desse jeito.Depois que havíamos chegado do Céu, Eloy o colocou em uma cama e Melahel ainda estava desacordado. Alba o havia examinado e retirado todo o veneno que as facas que o torturavam tinham contaminado seu corpo. E assim que ajeitara quatro costelas no lugar e os pulsos e os pés, ela dissera que ele ficaria bem, mas isso levaria tempo. O pior de tudo isso era que, suas asas tinham sido retiradas e arrancadas.Duas cicatrizes marcavam suas costas e ali ficariam. Ele nunca mais voaria ou retornaria ao seu la
Melahel esperava minha resposta, e olhei para seus olhos azuis cor de mar mais uma vez. E então minha resposta veio em minha mente. Não era verdade, mas também não era mentira...- Hm, ele é um amigo. – falei tranquilamente para que ele não visse meu nervosismo.Melahel me olhou curioso.- Tudo bem. Vá lá atendê-lo. – ele me disse. – Dóris me faz companhia.Assenti e quando me levantei com cuidado e olhei para Dóris sem que Melahel visse, fiz um olhar feio para ela, e Dóris deu de ombros. Todo mundo ali sabia da minha situação complicada. Por que ela não poderia ter sido discreta?Mais tarde eu me entenderia com ela. Por enquanto me entenderia com Heron, que eu tinha belas palavras para dizer a ele. Como ele poderia voltar para minha casa depois de ter feito tudo aquilo?Desci as escadas, e os anjos me olharam curiosos e Alba estava tensa me olhando. E entendi sua preocupação.- Vou falar com ele lá fora. Não pode ser um