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Capítulo 4 – Chegada à Alcateia Nox

Mason

Acordei com o choro de Isabella. Por um momento, estava desorientado, mas logo percebi um homem idoso tentando acalmá-la. Quando me levantei bruscamente, ele disse:

— Tenha cuidado. A correnteza está forte, você pode nos derrubar.

Tudo voltou como um borrão — nossa discussão, o beijo dela e eu apagando. Achei que havia sonhado com Ravena deitando-se ao meu lado e dizendo que me amava.

— Ela me enganou — murmurei, sem direcionar a ninguém.

Mesmo assim, o velho respondeu:

— Ela fez o que era melhor para você e a menina.

Meu peito se apertou, e tudo dentro de mim ficou vermelho.

— Volte — Max ordenou, em um tom homicida.

— Ela não tem o direito de me afastar de minha companheira. Essa decisão não é só dela.

Max, meu lobo, estava certo. Ravena foi egoísta, pensando apenas no que ela acreditava ser melhor. E eu? E Max? E nossa filhote? Como ficamos? Não consegui controlar Max, e ele emergiu. Esse foi meu erro.

— Senhor Mason, pense em sua filha. A correnteza não está a nosso favor. Se não controlar seu lobo, todos cairemos no rio. Há rochas alguns quilômetros à frente. Se a bebê cair ou o barco virar, ninguém sobreviverá!

As palavras do velho pareciam distantes. Max tentou saltar do barco quando um som nos atingiu: o choro de Isabella.

— Acalme-se, princesinha. Vai ficar tudo bem. O vovô vai levar você em segurança, não se preocupe — disse o homem com ternura.

O choro de Isabella fez Max recuar. Ravena nos abandonou. Eu não queria aceitar, mas essa era a verdade — ela preferiu nos deixar em vez de enfrentar o pai. Isabella, minha pequena loba, precisava de mim.

— Me deixe voltar, Max — implorei. — Não há mais nada que possamos fazer. Ravena e Lina se foram.

— Eu nunca vou aceitar isso! Lina é minha companheira; ela precisa de mim — Max retrucou. Eu o entendia. Sentia o mesmo.

— Mas Isabella é nossa filhote e precisa de nós. Lina e Ravena podem se cuidar, Bella não.

Essas palavras finalmente atingiram Max, e eu consegui reassumir o controle.

— Senhor, pode me passar minha filha? Está tudo bem agora. Por favor, cuide da direção do barco. Preciso alimentar Isabella e garantir sua segurança.

O homem assentiu e entregou Isabella em meus braços.

— Na bolsa tem o que precisa para a criança. Também tem um bilhete da Princesa para você, Senhor Mason.

Eu não estava pronto para ouvir suas desculpas. Deixei a carta de lado e cuidei de Isabella — troquei suas fraldas e preparei a mamadeira. Aqueles treinos com Dandara finalmente foram úteis. Enquanto fazia isso, percebi algo doloroso: Ravena nunca teve intenção de nos acompanhar. Tudo estava planejado.

— Parece que tudo fazia parte dos planos de sua mãe, não é, minha pequena?

Droga, Isabella tinha os olhos da mãe. Ia ser difícil esquecê-la olhando para essa cópia dela.

— A mágoa pode nos cegar às vezes. — o velho comentou, tirando-me dos pensamentos.

— Mas logo você perceberá que os sacrifícios foram feitos por todos os lados.

Talvez ele tivesse razão, mas eu não estava preparado para essa conversa. Ainda me sentia um tolo por ter sido enganado e um fraco por não ter lutado por ela.

— Qual é o seu nome? — perguntei.

— Hélio. Meu nome é Hélio — respondeu com um sorriso.

Hélio... Por que esse nome me parecia familiar?

— O que foi aquilo antes? Você acalmando minha filha e se chamando de vovô?

Hélio sorriu novamente.

— Eu tinha uma netinha linda, assim como ela. Mas alguns rogues a tiraram de mim, junto com toda a minha família. Quando vi sua filha, lembrei-me dela e pensei que palavras como essas poderiam acalmá-la.

— Obrigado por nos salvar, por acalmá-la e por me trazer de volta à razão.

A correnteza finalmente se acalmou. Seguimos em silêncio, mas minhas perguntas ainda pesavam. Decidi guardá-las para mais tarde.

— Chegamos, Mason. Infelizmente, não posso seguir com vocês, mas meu sobrinho vai ajudá-los. Ele foi proclamado Alfa da Alcateia Midnight há poucos meses. Já sabe de sua situação e está disposto a aceitá-los.

— E Ravena? Ele sabe quem ela é? — perguntei.

— Não. Disse que sua companheira os abandonou e que, como ômega, você não seria aceito em qualquer alcateia.

— Parece que Ravena realmente deixou tudo preparado — murmurei, mas ele balançou a cabeça.

— Filho, essa parte fui eu. A Princesa não sabe onde vocês estão, e é melhor assim. Quanto menos ela souber, mais seguros vocês estarão. Apolo é um bom homem e os ajudará de bom grado. Siga pela trilha até o vilarejo simples da Alcateia Nox. Tome isso.

Ele me entregou um medalhão.

— É um medalhão real? — perguntei, intrigado.

Ele sorriu.

— Meu sobrinho o reconhecerá por esse medalhão.

— Quem é você, afinal, Hélio?

Antes que pudesse responder, ele desembarcou nossas coisas e foi embora sem olhar para trás.

Segui a trilha conforme Hélio havia indicado, mas algo me incomodava profundamente. A forma abrupta como ele partiu me deixou inquieto. Carregava Isabella nos braços e, para maior segurança, decidi esconder o medalhão. Era um artefato antigo, valioso demais para ser exibido; poderia atrair olhares indesejados.

Logo avistei a pousada. A luz suave da manhã revelava um cenário frio e úmido; o inverno estava em pleno vigor. As ruas estavam praticamente desertas, com algumas poucas pessoas apressadas envoltas em casacos pesados. O silêncio era quase reconfortante, mas também parecia carregar uma ameaça latente. Ajeitei Isabella em meu colo e entrei rapidamente.

— Bom dia, poderia me arrumar um quarto, por gentileza? — perguntei à recepcionista, uma mulher de idade avançada, com cabelos grisalhos presos em um coque desajeitado.

Ela olhou para nós, avaliando minha aparência e a criança em meus braços.

— Claro, senhor. Preciso de um documento. — Depois de verificar minha identidade, ela pegou uma chave de um armário de madeira escura. — Quarto 22, subindo as escadas à direita. Precisa de mais alguma coisa? Talvez leite para a pequena?

Dei um sorriso cansado e assenti.

— Sim, seria ótimo. Obrigado. Mas como sabia que era menina?

— Fêmeas têm um cheiro diferente, e o seu exala ele. Minha filha vai levar suas coisas em poucos minutos.

— Perfeito. Estarei aguardando.

Subi as escadas rangentes até o quarto indicado. Ao entrar, acomodei Isabella cuidadosamente na cama e fui até o banheiro. O reflexo no espelho me encarava como um estranho; havia olheiras profundas, uma sombra de barba por fazer e um olhar vazio que não reconhecia. Tentando afastar a melancolia, concentrei-me em nossa prioridade: segurança.

Tentei estabelecer um vínculo mental com Ravena, mas foi inútil. Max, meu lobo interior, permaneceu em silêncio. Apertei a borda da pia, deixando a frustração transbordar.

— Esquece ela, Mason. Isabella é sua prioridade agora. — A voz de Max soou firme em minha mente.

Batidas suaves na porta interromperam meus pensamentos.

— Senhor, sou Angel. Trouxe o leite da criança e algo para o senhor também.

Abri a porta e encontrei uma jovem alta, com olhos vivos e cabelos dourados presos em uma trança simples, mas elegante. A leveza de sua presença contrastava com o peso da situação. Fiz sinal para que entrasse.

— Pode deixar aí em cima. Obrigado.

Ao invés de seguir minha instrução, Angel se aproximou de Isabella com um sorriso sincero, acariciando o rostinho da pequena com uma ternura quase maternal, mas sem o exagero de uma afeição que poderia parecer forçada. Algo mais profundo parecia se refletir naquele gesto, uma ligação que transcende simples cortesia.

— Que lobinha mais linda! — ela disse, com um tom suave e admirador.

— Obrigado. — Respondi, de forma deliberadamente seca, tentando manter a conversa breve, mas sem ser ríspido. Ela parecia perceber o quanto eu estava imerso em meus próprios pensamentos, e isso a tornava ainda mais cuidadosa em suas palavras.

Ela olhou para mim por um instante, como se quisesse dizer mais, mas, ao invés disso, se afastou com graça, ainda mantendo o mesmo tom amistoso, mas agora mais objetivo.

— Se precisar de algo mais, ou se quiser que eu cuide da bebê enquanto descansa, é só chamar.

— Agradeço, mas estamos bem. — Fiz uma pausa antes de continuar sentindo o peso da necessidade de buscar respostas. — Pode me ajudar com uma informação? Sabe o quão longe estamos de Midnight?

— Algumas horas de viagem, dependendo do meio de locomoção.

— Entendido. Outra coisa: estou esperando um amigo. Se alguém chamado Apolo me procurar, por favor, direcione-o ao meu quarto.

— Claro, senhor Mason. Qualquer coisa, estou à disposição.

Depois que ela saiu, alimentei Isabella, que logo voltou a dormir profundamente. Sentei-me na cadeira perto da janela, contemplando a carta que Ravena havia deixado. Havia evitado lê-la, temendo o que poderia conter, mas a curiosidade e o ressentimento finalmente venceram.

Abri o envelope, sentindo o perfume dela. Max reagiu imediatamente, ronronando em minha mente.

— Controle-se, Max. — murmurei para mim mesmo, com a voz carregada de tensão. Comecei a ler:

“Meu querido, meu companheiro e eterno amor, Mason. Sei que agora você deve sentir apenas raiva de mim. Tanto você quanto Max devem estar pensando que os abandonei.”

Max rosnou novamente, e precisei de toda minha força para mantê-lo sob controle.

— Se eu tivesse te contado meus planos, você nunca teria aceitado. Lutaria por mim, e isso acabaria destruindo a nós três. Fiz um acordo com meu pai: ele permitiu que eu tivesse Bella, mas com a condição de que, assim que ela nascesse, eu a entregasse a você e vocês partissem das terras do Reino para sempre. Ele prometeu nunca os perseguir. Vocês poderão ter uma vida normal, longe de mim.

Senti minhas mãos apertarem a carta com força. Aquele velho desgraçado... Minha mente fervilhava com lembranças do rei, suas manipulações e sua crueldade.

“Mas meus planos não terminam aqui. Assim que eu ascender como Rainha, mandarei buscá-los. Peço apenas que cuide de nossa filha, a mantenha segura e não permita que ela esqueça de mim. Voltarei para vocês, meu amor. Com todo o meu coração, sua eterna Rav.”

Bufei, incrédulo.

— É isso? Simples assim? Depois de tudo, ela deixa uma carta como se fosse suficiente!

Novas batidas à porta interromperam minha explosão de frustração. Quando abri, Angel estava acompanhada de um jovem alto e robusto. Sua presença emanava uma aura de poder que não deixava dúvidas: era o Alfa Apolo.

— Apolo? — perguntei.

Ele acenou em confirmação. Angel recuou, deixando-nos sozinhos.

— Tem algo para mim? — Apolo perguntou, sua voz grave e imponente. Apesar de sua juventude aparente, ele demonstrava uma autoridade inquestionável. Peguei o medalhão da bolsa e o entreguei a ele. Seus olhos brilharam com um misto de saudade e reverência ao tocá-lo.

— O que posso fazer por você, Mason?

— Hélio disse que você poderia abrigar a mim e Isabella em sua Alcateia.

— Posso, mas preciso saber exatamente o que está acontecendo. Não gosto de surpresas. Quero estar sempre um passo à frente.

— Entendo. Estou disposto a compartilhar o que puder, mas há coisas que preciso manter em segredo, tanto pela sua segurança quanto pela nossa.

Apolo ponderou por um momento antes de assentir.

— Justo. Comece.

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