Observei os créditos finais do filme de Charles Chaplin e ainda estava sorrindo, como no filme inteiro. Olhei para meu lado esquerdo e meu irmão ainda ria segurando a minha mão e nada conseguia me emocionar tanto como o sorriso naquele rosto angelical. Do lado direito ainda me olhando, Loren parecia só ter olhos para mim o filme inteiro. Mesmo que tivesse rido em alguns momentos.
O filme por fim chegou ao final e as luzes do velho cinema se acenderam e nós nos levantamos. Loren segurou minha mão firme como se ansiasse por um toque meu, o que de fato, era o primeiro desde que tínhamos chegado no cinema antigo ao qual ele havia trazido eu e Edward. Eu tinha amado sua atitude de me trazer aqui e eu havia amado o filme. Por várias vezes ele havia brincado com meu irmão por mais que ele só assentisse ou negasse, mas o sorriso que estava estampado no seu rosto ainda era indício da boa índole de Loren. Paramos na calçada da frente e caminhamos para o carro.Naquela velha lembrança tudo me voltou, estilhaçando minha mente e focando meu coração para aquela tarde de minha morte. Aquela tarde que marcou minha alma para sempre.Lembro-me de estar deitada, abraçada com o corpo dele em meus braços, a dor rasgando meu peito de dentro para fora como se tivessem arrancado meu pulmão com as mãos. Loren era parte de mim, tão vital como qualquer órgão de meu corpo, como eu viveria sem ele?Simples. Eu não viveria.Ouvi o roçar de algo pesado sob a madeira do chão da biblioteca e abri os olhos instantaneamente. Ali apontando uma arma para mim, estava Harrison. Fazia muito tempo que eu não lembrava de seu rosto, mas ele estava me olhando, me encarando, acusando-me com os olhos.Sua dor era clara na face distorcida. Não sei se pelo tiro de Loren ou por saber que eu não o amava e nunca amaria.A pele de oliva estava pálida e suada, parecia de papel torcido. Os olhos cor de terra molhada, esses transpareciam
- Observei certa melhora em Edward hoje. – Vanessa Potter olhou para mim com seus olhos azuis claros observadores.Olhei para ela e sorri.- Ele está muito encantado com meu novo namorado. Nós saímos ontem para um cinema mudo e Edward ficou impressionado e muito feliz. Riu tanto que até perdi a conta. – abri ainda mais meu sorriso e olhei para Edward ao meu lado.Ele assentiu junto comigo.- É bom que ele saía e tenha contato com outras pessoas. Que faça algo diferente e que o distraía durante um tempo. Fico feliz que isso esteja sendo feito sem que eu precisasse mencionar. – ela disse.Passei o braço ao redor de Edward.- Hoje ele vai me ver cantar. No teatro quero dizer. – sorri e apertei as bochechas de meu irmão.Ele sorriu e riu.Parecia que desde de ontem seu sorriso vinha mais fácil e alegre. Isso parecia música para minha alma.Vanessa se levantou olhando o relógio antigo no fundo de sua sala moderna de consulta.
A porta da limusine foi aberta e respirei fundo. Meu coração batia descompassado.Você está fazendo tudo certo. A voz de Loren ressoou em minha mente e sorri. Mesmo nos conhecendo em pouco tempo, ele era tudo que mais me importava, tirando Edward que era minha única família. E mesmo no único momento que hesitei em seguir com tudo, em um de nossos ensaios, ele segurou meus ombros e disse tudo que eu precisava ouvir.- Sua mãe iria querer que você seguisse com sua vida. Seu pai teria orgulho pela filha dele ter cuidado tão bem de seu irmão pequeno e lidado tanto com seus problemas e cobranças de forma responsável e incrível. Olhe, o que está fazendo por Edward! – ele exclamou. – Você tem que ir em frente e só assim seu irmão verá que ele também pode. Assim com ambos caminhando lado a lado.Senti algumas lágrimas nos cantos de meus olhos, mas não deixei que elas escapassem. Respirei fundo mais uma vez e coloquei a ponta do pé na calçada do teatro. Eu ainda nã
Pisquei meus olhos pesadamente para Loren e respirei fundo antes de dizer alguma coisa.- Como assim veio atrás de mim?Loren suspirou e pegou uma de minhas mãos, levando-me para me sentar no sofá, que por acaso estava cheio de pétalas. Lá fora a chuva caia forte e os raios misturados com as luzes das velas deixavam um ar totalmente surreal para nós dois. Era difícil acreditar que tudo que estava acontecendo era de verdade.- Eu preciso te contar a história toda.Ele se sentou na minha frente ainda com as mãos unidas as minhas.- Desde quando eu me entendi por gente eu sempre tive sonhos no qual eu via um rosto feminino sorrir para mim. Eram diversos sonhos e em todas as vezes você sempre abria um sorriso apaixonado e dizia que me amava. – ele se perdeu nas memórias e olhou para a chuva lá fora. – Eu cresci idealizando você, como você seria e principalmente como seria ser amado por você. Nesses meus vinte e oito anos eu nunca me apaixonei por ninguém a ser
- Se eu pudesse sonhar toda vez seria com você.Loren riu e colocou uma mecha de cabelo meu atrás da orelha, olhando para meu rosto e seus olhos brilharam sob a luz do Sol do fim da tarde. Eles estavam claros como nuvens levemente antes de uma chuva de verão. E nunca estivera mais lindo com uma camisa clara e um colete preto por cima, assim como a calça e os sapatos sociais. Ele parecia de outra época e me senti bem por isso.Nosso mundo atual estava tão ruim que voltar no passado com ele, era esplendoroso.- Todas as noites meus sonhos são com você. E assim fico feliz por isso. Sabe quanto tempo esperei para poder tocá-la novamente? – ele me perguntou e o sorriso em seu rosto ficou mais suave e seus olhos tensos.Olhei seu rosto se transformando em traços de dor, ele me feria com aquele olhar. Por que sua dor me machucava, como a minha própria.- Eu sei, amor. E não imagina como estou por você estar de volta.Ele voltou a ficar mais t
Fechei os olhos por alguns segundos sem querer encarar a cena diante de mim.Meu queixo estava encostado na beira da cama dele e a cada poucos segundos, uma lágrima caia por meu rosto. Meu coração batia pesado e devagar com minha respiração trancada na garganta. Eu já tinha chorado tudo que poderia e não conseguia mais fazer nada. Apenas ficar ali, segurando a mão de Loren enquanto ele estava completamente desacordado e preso a milhões de tubos e fios.O médico tinha garantido que ele estava fora de perigo e que apesar das fraturas expostas, ele ficaria bem. Ah claro! A não ser pelo fato que ele ficaria cego por meses. Só de lembrar meu peito doía. Eu queria matar Harrison pessoalmente. Eu faria aquele desgraçado pagar cada sofrimento pelo qual eu passei, pelos meus pais, por Edward, por Loren nessa vida e na outra.Abri meus olhos novamente e olhei para a minha vida personificada.Loren estava com as duas pernas engessadas e tirando alguns machuc
Parei com os braços envolvidos nos de Loren e peguei as chaves na bolsa de lado. Eu estava tão feliz em tê-lo em casa, que meu coração estava disparado. Embora, se fosse ver, nós estavam no apartamento dele e não meu. Mas, depois da terceira cirurgia ser bem sucedida, Roger achou que seria melhor Loren ficar em um ambiente onde ele já estava familiarizado e que ficasse mais fácil para ele se locomover.Eu havia pedido a uma pequena empresa que cuidava de arrumações e decoração em casa de pessoas que tinham algum tipo de deficiência, adaptar o apartamento o melhor possível para Loren. Havia outro pequeno detalhe que eu tinha providenciado, mas só viria mais tarde e eu estava ansiosa. Queria que Loren ficasse o mais confortável possível até que ele melhorasse. E mesmo que para isso eu tivesse ficado um pouquinho paranoica.Girei a chave no trinco e abri a porta. Caminhei calmamente com Loren para dentro da sala e ele me acompanhou em silêncio. Por alguns segundos olh
Observei Loren sentado na primeira fila e minhas pernas tremeram.Eu não queria fazer isso sem ele. Mas, ele insistira tanto e deixou claro que se eu não fizesse isso sem ele, ele ficaria muito chateado e se consideraria um peso para mim. E é claro que eu estava aqui para provar que ele jamais seria isso. Ele era o homem que eu amava e daria minha vida. Eu sabia que ele não duvidava disso, mas sabia que eu também sempre pensava mais nos outros do que em mim. Por isso, ele não deixou que eu recusasse o convite para me apresentar na véspera de Natal no teatro, onde todo o dinheiro arrecado iria para ajudar crianças carentes.No entanto, fazia meses que eu não me apresentava.O medo de errar ou desafinar por mais que fosse muito difícil isso acontecer, era enorme. Escondida nos bastidores esperando minha vez no palco, continuei olhando Loren. Ele falava baixinho com Debussy, que no escuro era difícil de enxergar. Dean tinha feito questão de dar uma poltrona a