Parte 132EmmaEu pisco os olhos para ajustar minha visão que ainda está um pouco turva, depois de despertar do ataque no banheiro. Tenho um gosto ruim na boca e meu nariz arde um pouco. Engulo em seco e ao tentar me mexer, não consigo. Meus pulsos estão amarrados e meus tornozelos também.Estou sentada em uma cadeira de madeira, no meio de um quarto, eu acho. A luz é fraca no ambiente, meio amarelada e a lâmpada acima de mim faz um zumbido constante que é irritante.O lugar é um pouco claustrofóbico. O ar aqui dentro é denso e sinto um cheiro de mofo desagradável. As paredes em volta são revestidas de concreto áspero e manchado. Isso me dá medo.Meu coração bate mais acelerado, minha visão vai melhorando e eu começo a perceber onde estou. É algum esconderijo, sabe Deus aonde. As cordas em meus pulsos são ásperas e está muito apertado.— Ora, já acordou? Você parecia ter morrido em meus braços - ele diz, sua voz distorcida.Era o homem que me tirou do banheiro. Sequestro é a palavra c
Parte 133Alessandro— É claro que eu vou também, Enzo - abri as mãos e ri de forma cínica — O que você acha que vou fazer? Ficar em casa enquanto vocês saem por aí em busca da minha mulher? - ele olha para Victor — É isso mesmo... É minha mulher. Estamos juntos, ok?— Certo... Você está certo - Victor ergue as mãos — Eu acho bom mesmo que finalmente tenha se decidido e já temos uma localização de Antoanie. Já temos homens no local esperando por nós.— Até mesmo um grupo de policiais - Manollo diz — Eles foram avisados sobre o caso e participaram das buscas. — Claro que sim - Enzo dá risada — Eles sabem que isso vai render muito para eles, em dinheiro e em prestígio - faz um gesto com a mão — Tudo bem, que participem. Quanto mais gente, melhor. Vai impedir que Antoanie escape como das outras vezes.— Ah, mas dessa vez ele não vai mesmo - eu disse entre dentes, com raiva reprimida — Eu vou tirar o couro desse bosta. Literalmente.E quando eu digo isso, é verdade. Depois que acabar com
Parte 134AlessandroO confronto era caótico, como era de se esperar. Os soldados que ainda seguem Antoanie não têm uma organização como a nossa. Eles agem sem pensar, por impulso, apenas como se fossem gado, tocando de um curral para outro. Gritam e atiram sem raciocinar e seu interesse maior é fazer algazarra, como se isso fosse nos assustar e nos fazer desistir de continuar a busca.Eu avancei em direção à porta quando do nada um dos homens se lançou contra mim de modo furtivo, saindo da escuridão lateral e me jogou ao chão em um impacto seco.O ar foi expelido de meus pulmões quando caí, batendo forte no chão, mas minha determinação continuava inabalada. Foquei minha atenção no que me atacava e deixei que os outros continuassem sua batalha.Com muita força de vontade e reflexos, eu girei o corpo saindo de lado e evitando mais um golpe dele. O homem parecia um louco desesperado e continuou a me atacar com fúria.Ele continuava vindo atrás de mim com os punhos cerrados, mas eu conse
Parte 135AlessandroEmma está apavorada e não é para menos. O lugar é horrível, o odor desagradável em cada canto e o canalha do Antoanie a assustou e machucou. Tenho que tirá-la daqui logo.A ergui nos braços e segurei forte contra meu peito. Ela deitou a cabeça e segurou em mim. Saí para o corredor e logo alguns de meus homens se aproximaram com as armas em punho e fizeram nossa escolta para fora. Não creio que haja mais algum dos homens de Antoanie, mas todo cuidado agora é pouco. Eles podem surgir como baratas, dos buracos.Andamos pelo corredor sinuoso e escuro, agora sem iluminação nenhuma depois do tiroteio. A adrenalina corre solta por meu corpo, eu posso sentir, ainda estou elétrico para uma nova batalha, mas sinto também o meu braço doer para um inferno. Mesmo Emma sendo pequena e leve, parece que seguro um peso enorme. Meus músculos devem ter sido afetados de novo. E queima como se tivesse brasa em cima.Ao emergirmos pela porta da frente, vejo um grupo maior. Enzo e Victo
Parte 136Alessandro— Tales, primeiro cuide dela - eu entrei com Emma nos braços.— Coloque-a aqui - ele empurra a maca para o meu lado — Você entre nessa salinha - ele faz um gesto com a cabeça para os dois médicos que o acompanham — Eles vão cuidar bem dela - ele aperta o braço dela — Pode ficar tranquila, querida, são ótimos profissionais. É só a cara que é feia.Emma eu uma risadinha e me olhou. Fiz um gesto para ela entender que estava tudo bem e ela deitou.— Agora vamos ver esse seu braço. Desse jeito você vai acabar perdendo os movimentos, rapaz - ele reclamou.— Eu não me importo, se for para defender quem eu amo - respondi apertando os lábios — Aquele lixo nunca mais vai importunar minha família.— Eu entendo, mas como médico e amigo, não acho que vá curar esse braço totalmente, se não der um tempo, Alessandro.— Tales, não me enche agora, por favor - sentei na maca e ele me ajudou a tirar a camisa — Você não acha que eu ficaria parado, enquanto aquele porco pegava minha mu
Parte 137Victor— Posso saber se tudo foi resolvido de vez? - minha mãe abre a porta da sala de tevê quando passamos pelo corredor — E onde está Emma?— Que susto, mama - eu coloco a mão no peito — Estamos cansados, cheios de estresse e adrenalina e a senhora abre a porta desse jeito? Quer me causar um ataque cardíaco?— Não seja tonto - ela sai pelo corredor — Eu estou esperando esse tempo todo por vocês. Onde ela está?— Alessandro vem aí atrás com ela.— Graças a Deus! - ela ergue as mãos para cima e faz o sinal da cruz.Enzo entra e fala com ela rapidamente e vai em direção à escada. Eu fico ainda para esperar Alessandro. Emma vem atrás, nos braços de Stênio.— Ai, meu Deus... O que foi agora? Por que ela não pode andar?— Eu posso andar, dona Yelena - ela responde — Seu filho que não me deixa. E eu vou ficar bem melhor depois que dormir. O remédio que o amigo do Tales me deu já está começando a fazer efeito.— Amigo do Tales? E o que houve com seu braço, meu filho? - ela pergunt
Parte 138Emma Eu senti um toque leve em meu rosto. Abri os olhos devagar e fiquei aliviada e feliz de ver que estou em casa, com Alessandro. Fiquei pensando nos momentos de pressão e medo que passei ao lado daquele homem.E pensar que Alessandro convive com esse tipo de gente diariamente, é até estranho para mim, pensar nisso e entender. Mas, eu acho que deve ser quase que o mesmo que acontece nos morros e periferias lá do Brasil.Também temos máfia por lá, mas pouco se fala nesse termo. Mas as gangues e os grupos que têm por lá, podem ser considerados como uma máfia. E isso é assustador. São pessoas capazes de tudo. Alessandro disse que essa é a natureza dele, que nasceu nesse meio e que gosta do que faz.Isabela e Lívia são casadas com os irmãos dele. Também são mafiosos. E as duas me parecem felizes com seus maridos. Eu posso ser feliz com Alessandro também. Mas preciso de alguns conselhos antes.— Eu te acordei - ele está pertinho de mim — Mas é que eu acordei com um barulho lá
Parte 139AlessandroTrês dias depois...É muito bom poder tirar um descanso depois de todo o estresse e agitação pela qual nós passamos. Meus irmãos e eu já estamos acostumados a lidar com isso, mas para Emma, essa foi a primeira vez que ela sentiu mesmo na pele o que a insanidade de uma pessoa é capaz de fazer.No dia seguinte ao ocorrido, nós acordamos tarde, era quase meio - dia. Minha mãe proibiu qualquer funcionário de fazer o menor barulho que fosse, para deixar que nós tivéssemos nosso tempo de descanso. Cada um foi acordando dentro do que seu organismo queria. O primeiro foi Victor, que logo foi saber como estava a repercussão do que fizemos no bairro e como sempre, os jornais e matérias sobre isso jogavam a culpa em brigas comuns de gangues, sem nem falar sobre máfia ou vingança.Os políticos em nossa ficha de pagamento apenas comentaram por alto, para não dar a entender que eles não se preocupavam com a segurança do povo, mas tudo armação, apenas para manter a fachada de q