Leia juntava as coisas que os agiotas tinham jogado no chão e vendo o que estava quebrado,. Aquilo tinha se tornado rotina desde a morte de seu marido. Ao lado dela Julia, sua irmã mais nova de 15 anos, colocava as gavetas de volta na cômoda. Quando Leia pegou a guarda de sua irmã, 4 anos atrás, depois da morte de seu pai, ela tinha esperança de dar a irmã uma vida mais tranquila do que ela teve na idade da garota. Leia se perguntava se a vida não deveria ter ficado mais fácil agora que tinha 30 anos, ao invés de mais difícil.
― Leia, já está na hora de ir busca-la ― disse Julia em seu tom fleumático de sempre. Leia ficava de coração partido ao ver a irmã falar com tanta calma após momentos como aquele, era como se Julia estivesse anestesiada para conseguir suportar aquela situação. ― Não quero que ela veja a casa desse jeito ― respondeu Leia olhando o relógio. ― Eu posso terminar aqui ― disse Julia pegando as coisas da mão da irmã ― Ela vai ficar triste se você demorar. *** Leia estava na frente da escola quando Bel saiu. Leia olhou para filha correndo em sua direção e isso preencheu seu coração. Leia se abaixou para receber o abraço da filha e a segurou com todo o carinho, recebendo de alguma forma consolo naquele abraço. ― Tudo bem, mamãe? ― perguntou Bel assim a mãe a soltou do abraço. ― Claro ― respondeu Leia forçando um sorriso. ― Mamãe... ― O que você acha de fazermos uma surpresa para tia Ju e compramos a comida favorito dela para o jantar? ― perguntou Leia interrompendo a filha. ― A tia Ju come no trabalho ― respondeu Bel. Julia trabalhava em uma mercearia 24 horas durante a noite e jantava os produtos vencidos, também os levava para casa. ― É que hoje eu estou com vontade de jantar com vocês duas ― disse Leia. Bel olhou para mãe com olhar desconfiado. Mesmo tendo só 5 anos Bel parecia sempre saber quando algo estava errado e quando sua mãe estava tentando engana-la. Era como se Bel conseguisse ler a mente dos adultos, e saber quando eles estavam mentindo. Mas em defesa de Leia, ela realmente queria que elas jantassem juntas naquela noite. E foi o que aconteceu. Incluindo a comida favorito de Julia, frango frito com o molho mais apimentado que elas conseguiram encontrar. Bel achou engraçado ver o rosto da tia, que era branco como neve, ficar vermelho como um pimentão, mas Leia sabia que essa era a forma da irmã de extravasar o estresse. Julia consegui arrumar bem o bastante para Bel não conseguir perceber que o apartamento tinha sido revirado, mesmo que ela tenha percebido algo estranho nas duas. Mas no fim das contas não era um lugar difícil de arrumar. Além de pequeno, quase não tinha nada. Elas moravam em um pequeno quartinho no último andar de um péssimo prédio. Além de ser só um cômodo com banheiro, também dava para ouvir todos os barulhos de fora, tinha goteiras e fazia muito frio no inverno. Mas foi o único lugar que elas conseguiram sem ter que dar um deposito, além de ser muito barato. Além do mas, depois de um ano já estavam acostumadas. Quando o marido de Leia ainda era vivo elas moravam uma casa bem melhor. Mas com a morte dele, elas saíram de lá e usaram o dinheiro do deposito para dar aos agiotas. Infelizmente o depósito não deu para quitar toda a dívida e Leia ainda ficou com uma dívida de 100 mil dolares. Leia fazia horas extras quase todos os dias e Julia pegava todos os empregos de meio período que podia, mas ainda assim não estavam nem perto de pagar a dívida. Mas vezes a vida pode ter outros planos para nós. *** Liam não conseguia dormir naquela noite. Quanto tempo tinha passado com sua mãe desde que era criança? 1 hora por semana? Não, menos. 2 horas por mês? Talvez. Esse pensamento não saia de sua cabeça desde que encontrará os papeis com os exames dela. 2 anos? Isso não podia ser verdade! Mas era. Liam foi pessoalmente ao médico da família para confirmar. O Dr. Choi explicou que ela tinha uma doença rara no coração, a doença não tinha cura mas com uma cirurgia e tratamento ela poderia levar uma vida normal e até, possivelmente, chegar dos 90 anos. Mas a sua mãe recusou fazer a cirurgia. O Dr. Choi explicou que por conta da idade dela e de ela ser hipertensa tinha um risco de 62% de morte durante a cirurgia. Ela decidiu que preferia aproveitar o tempo que lhe restava ao invés de arriscar morrer na cirurgia, além do mais ela não queria que todos a olhassem com pena. Liam ficou furioso, como ela poderia tomar essa decisão sozinha, isso deveria ser uma decisão tomada em família mas além de seus pai ninguém mais foi avisado. Fazia 3 messes desde o diagnóstico, mas a mãe de Liam decidiu não informar a família para que não a tentassem convencê-la a fazer a cirurgia. O Dr. Choi concordou em não informar a Madame Fisher que Liam sabia sobre o diagnóstico, Liam iria falar com a mãe assim que conseguisse processar a informação. Liam precisava de uma maneira de convencê-la a fazer a cirurgia. Mas como? Agnes Fisher era como uma força da natureza, quando decidia algo era quase impossível fazê-la desistir. O que poderia fazê-la mudar de ideia? De repente uma lembrança passou pela cabeça de Liam. Quando Liam era criança sua mãe disse que seu maior desejo era ver ele ter sua própria família. E se ele fizesse isso? ― Esse é o plano mais idiota do mundo ― respondeu o Secretário Dawson no dia seguinte quando Liam lhe contou a ideia. ― Você esqueceu que eu sou seu chefe? ― questionou Liam. ― Só estou dizendo que mesmo que você consiga arranjar uma mulher para se casar com você, não tem garantia nenhuma que isso fará a Madame Fisher mudar de ideia em relação a cirurgia ― disse o secretário Dawson, se sentando na cadeira de frente para mesa de Liam. ― Nada é mais importante para minha mãe do que a família ― explicou Liam ― Se ela souber que eu pretendo me casar ela vai querer ver meu casamento, vai sonhar em ter netos e ver esses netos crescerem. ― E se ela encarar isso como um último presente da vida antes de morrer? ― questionou o secretario Dawson. ― De um jeito ou de outro ela vai ficar feliz ― respondeu Lian com tristeza. Hugo Dawson ficou em silencio. Liam raramente expressava emoções. Nos mais de 7 anos em que eles se conheciam, Hugo poderia contar nos dedos de uma mão as vezes em que viu Liam expressar emoções de verdade. ― Então, o que vamos fazer? ― disse Hugo, se rendendo ao plano. ― Primeiro precisamos encontrar uma mulher que seja louca o bastante para aceitar se casar nesses termos ― respondeu Liam. ― Já seria difícil o suficiente encontrar uma mulher louca o bastante para querer se casar com você sem isso ― comentou Hugo. ― HUGO! ― O senhor sabe que seu apelido aqui na empresa é “Medusa”, né? ― perguntou Hugo. ― “Medusa?” ― Se olhar para alguém, ele vira pedra ― explicou Hugo. ― É um absurdo. Eu sou um homem ― disse Liam sem parecer se incomodar com o que seus funcionaram pensavam dele. ― Eu deveria ficar preocupado com o fato de você ter acabado de descobrir que seus funcionários o verem como um monstro mitológico medonho que transforma pessoas em pedra, e só se incomodar com desse monstro ser mulher? ― Não importa o que os outros pensam de mim, o lucro que eu trouxe para essa empresa fala por si mesmo ― disse Liam em justificativa. Hugo abriu a boca para falar alguma coisa mais foi interrompido por uma dor no abdômen que estava sentindo desde a noite anterior e estava se intensificando. ― Eu não mandei você ir no médico ver essa dor ontem? ― questionou Liam. ― Não é nada, o senhor não precisa se preocupar ― respondeu Hugo. ― Não estou preocupado ― disse Liam ― Mas você não me serve de nada se não estiver trabalhando a 100%, agora vai. E não volte aqui sem ter falado com um médico. ― O problema, senhor, é que não tem ninguém para ficar no meu lugar; ninguém mais aguenta o senhor ― explicou Hugo. ― Isso é problema do RH ― essa foi a resposta de Liam sem desviar o olhar de seu computador. ― Fala a verdade, está morrendo de preocupação comigo ― brincou Hugo ― O senhor me ama. Liam levantou a cabeça com o olhar que o fez ganhar o apelido Medusa. Hugo saiu correndo antes que Liam j**a-se uma cadeira na cabeça dele.Leia acordou quando Julia chegou do trabalho. Julia trabalhava até as 3 da manhã na loja de conveniência e quando chegava em casa era a vez de Leia ir trabalha. Leia trabalho como temporária em uma empresa relativamente longe de onde elas moravam. Então Leia acordava cedo, preparava o almoço de Bel e depois pegava dois ônibus para o trabalho. Julia por outro lado dormia um pouco, depois se arrumava e levava Bel para escola antes de ir também. Era assim todos os dias. *** Assim que Leia tomou seu lugar em sua mesa, ela começou a ouvir todos agitados conversando. Hugo Dawson, o secretário pessoal do Ceo Liam Fisher, ficaria ausente por 2 semanas devido a uma apendicite e precisariam de alguém para o substitui-lo, ninguém queria. ― Eu prefiro ser demitida do que ter que trabalhar com aquele maníaco ― disse a Sra. Smith. ― Não exagera ― disse o Gerente Clark ― Eles vão te pagar 5 vezes o seu salário do mês, por 2 semanas, não é tão ruim assim. ― Então vai você ― respondeu Sra. Smith
Julia foi buscar Bel na escolinha como sempre, excerto no dia em que Leia saía mais cedo do trabalho. A metade dos colegas de Julia ia para cursinhos ou aulas particulares depois da escola, e ainda outros iam para fliperamas ou shoppings, mas Julia não. Até pouco tempo atrás Julia tinha um trabalho logo depois da escola, mas foi mandada embora depois que o chefe descobriu que ela levava Bel para o trabalho e a deixava desenhando embaixo do balcão. Julia sabia que teria que arrumar outro emprego para substituir esse, apenas o trabalho noturno na mercearia não ajudava muito. ― Tia Ju ― disse Bel abraçando Julia. ― Oi, coelhinho ― respondeu Julia ― Como foi o seu dia? ― Foi muito legal. A Dora falou que a mãe dela comprou um vídeo game com karaokê ― contou Bel toda animada. ― Que legal ― respondeu Julia com um sorriso. Julia só sorria quando estava com Bel. ― Podemos fazer isso também? ― perguntou Bel muito animada. ― Ah? ― questionou Julia. ― Karaokê ― respondeu Bel. Jul
Julia aproveitou a loja vazia para estudar. Ela era a melhor aluna da sua classe, e uma das melhores da escola. No ranking da escola, Julia era a número 3, tinha chance de ser a primeira se tivesse um pouco mais de tempo para estudar, ou se pudesse fazer cursinho como seus colegas. O 1° e o 2° do ranking, faziam 2 cursinhos e tinham aulas particulares com professores renomados, Julia tinha apenas o seu esforço e os livros que conseguia encontrar na biblioteca. Se Julia tivesse os mesmos recursos com certeza seria a número 1 da escola, mas não adiantava pensar em nada disso. Independentemente de suas notas Julia não conseguiria cursar a Universidade depois que se formasse. Enquanto Julia virava a página do livro quando um grupo de estudantes de sua escola entrou. Julia as reconheceu imediatamente e já respirou fundo. Ashley Stuart e sua gangue. Esses era um dos momentos que faziam Julia acreditar com firmeza que o universo a odiava. Aquela era uma loja pequena em um bairro, o que ela
Quando Liam chegou ao escritório Leia já estava lá. Liam olhou ela dos pés a cabeça novamente. Dessa vez Leia estava usando calça e sapatos confortáveis, algo que Liam aprovou. A maioria das pessoas pensavam que estar com uma roupa cara ou bonita era o suficiente mas a verdade é que, claro usar uma roupa elegante era importante, mas o Secretário do CEO tinha muitas tarefas difíceis então usar uma roupa que desse para fazer todas com excelência era de extrema importância. — Bom dia, senhor — Leia o cumprimentou. — Bom dia — respondeu Liam friamente entrando na sala. — Eu enviei o seu cronograma de hoje por e-mail, se precisar de alguma alteração e só me avisar — disse Leia o seguindo para dentro da sala. — Vou dar uma olhada — foi a resposta fria de Liam. — Eu também tomei a liberdade de deixar um capuccino com leite de amêndoas na sua mesa ouvi dizer que o senhor gosta de tomar um toda manhã — contou Leia enquanto ele se sentava. — E... Sim — disse Liam escondendo sua leve
O restaurante que Liam escolheu tinha uma comida maravilhosa, mas não era nem de perto tão chique quanto o restaurante anterior, o que fez Leia se sentir menos desconfortável. Liam imaginava que um dos restaurantes favoritos do CEO de sua empresa seria um lugar muito mais caro que àquele. Mas sendo honesta mesmo aquele era não poderia pagar. — Pode pedir o que quiser — disse Liam — Não chegou a comer nada no restaurante, né? — Não, não comi — respondeu ela abrindo o cardápio. Liam não chegou a olhar o cardápio pois já sabia o que queria pedir. Leia por outro lado não fazia ideia do que pedir, não conhecia nem metade daqueles pratos. Quando o garçom chegou Liam fez o pedido e vendo a dificuldade de Leia, ele decidiu intervir. — Ela vai querer o mesmo — disse ele. O garçom foi embora e levou os cardápios. Leia se sentiu um tanto aliviada por Liam ter colocado um fim aquela situação, que já estava ficando constrangedora, mas um tanto incomodada também, afinal ela nem sabia o
Julia olhou para entrada da escola e se perguntou se um diploma era realmente tão importante em sua vida. Para ela aquele era o pior lugar do mundo. Julia respirou fundo e então entrou. Se ela faltasse aula Leia teria um troço e para abandonar a escola teria que explicar o motivo o que partiria o coração da irmã. Julia andou pelo corredor desviando das pessoas e fazendo o máximo para permanecer invisível. Infelizmente quando ela chegou ao armário Ashley e suas capangas já vieram recebê-la. — Olha só meninas, acho que a perdedora foi buscar a roupa no lixo de novo — disse Ashley. Julia apenas abriu o armário e pegou os livros fingindo que as garotas não estavam alí. — Eu acho que o lixo entupiu os ouvidos da nossa ratinha — continuou Ashley. Julia continuou sem responder nada. Ela ainda tinha um resquício de esperança de que elas poderiam ir embora se ela ignorasse. Ashley começou a ficar irritada com a falta de reação da garota. — HEY! Tá surda garota? — falou Ashley fec
A reunião depois do almoço foi longa e Leia ficou na sala, sentada em uma cadeira no canto, fazendo anotações. Leia ouviu todas as reclamações dos investidores. Aparentemente a empresa não estava tendo nenhum amento no número de vendas nos ultimos 6 meses. Liam estava tentando convencer os investidores a não encerrarem contrato com ele e irem para outra empresa. Até porque os lucros tinha subido muito nos ultimos 5 anos quando Liam assumiu, e apesar de não terem aumentado nos ultimos 6 meses ele também não tinham baixado. Mas sinceramente, Leia achou que a questão era que os investidores, que estavam por volta de seus 60 anos, consideravam Liam muito jovem para comandar a empresa. Leia achava isso uma loucura, eles tinham exatamente a mesma idade e ela já era considerada "velha", mas ele ainda era "muito novo". Isso era irritante. Por que mulheres de 30 anos eram velhas e homens de 30 anos estavam na flor da idade? Mas ela estava ali para trabalhar e não para começar um debate fem
Já hora do almoço e Adam ainda não tinha encontrado Julia de novo. Como ele teve a sorte de ir para mesma escola que a garota e o azar de ter tantas aulas diferentes dela; se ainda estivessem no fundamental eles teriam todas as aulas juntos. Adam torceu para encontrar a garota pelo menos na hora do almoço, não era certeza mas eles tinham uma boa chance de pegar o mesmo horário de almoço. Como Adam ainda não à tinha visto ele foi para fila pegar logo seu almoço. Enquanto Adam escolhia sua comida ele começou a pensar se talvez a garota estivesse comendo do lado de fora, assim que termina-se ali iria checar. Adam pegou praticamente de tudo que tinha na cantina. Adam sentia muita fome por conta da natação. O garoto quase foi para o lado de fora mas então viu Julia sentada com um caderno em uma mesa vazia em um canto do refeitório que batia muito sol, e além de uma banana não tinha nenhum outro sinal de comida alí. Adam foi até lá e se sentou de frente para a garota que olhou para e