Família Por Contrato
Família Por Contrato
Por: Clara Borges
Prólogo

Leia juntava as coisas que os agiotas tinham jogado no chão e vendo o que estava quebrado,. Aquilo tinha se tornado rotina desde a morte de seu marido. Ao lado dela Julia, sua irmã mais nova de 15 anos, colocava as gavetas de volta na cômoda. Quando Leia pegou a guarda de sua irmã, 4 anos atrás, depois da morte de seu pai, ela tinha esperança de dar a irmã uma vida mais tranquila do que ela teve na idade da garota. Leia se perguntava se a vida não deveria ter ficado mais fácil agora que tinha 30 anos, ao invés de mais difícil.

― Leia, já está na hora de ir busca-la ― disse Julia em seu tom fleumático de sempre. Leia ficava de coração partido ao ver a irmã falar com tanta calma após momentos como aquele, era como se Julia estivesse anestesiada para conseguir suportar aquela situação.

― Não quero que ela veja a casa desse jeito ― respondeu Leia olhando o relógio.

― Eu posso terminar aqui ― disse Julia pegando as coisas da mão da irmã ― Ela vai ficar triste se você demorar.

***

Leia estava na frente da escola quando Bel saiu. Leia olhou para filha correndo em sua direção e isso preencheu seu coração. Leia se abaixou para receber o abraço da filha e a segurou com todo o carinho, recebendo de alguma forma consolo naquele abraço.

― Tudo bem, mamãe? ― perguntou Bel assim a mãe a soltou do abraço.

― Claro ― respondeu Leia forçando um sorriso.

― Mamãe...

― O que você acha de fazermos uma surpresa para tia Ju e compramos a comida favorito dela para o jantar? ― perguntou Leia interrompendo a filha.

― A tia Ju come no trabalho ― respondeu Bel.

Julia trabalhava em uma mercearia 24 horas durante a noite e jantava os produtos vencidos, também os levava para casa.

― É que hoje eu estou com vontade de jantar com vocês duas ― disse Leia.

Bel olhou para mãe com olhar desconfiado. Mesmo tendo só 5 anos Bel parecia sempre saber quando algo estava errado e quando sua mãe estava tentando engana-la. Era como se Bel conseguisse ler a mente dos adultos, e saber quando eles estavam mentindo. Mas em defesa de Leia, ela realmente queria que elas jantassem juntas naquela noite. E foi o que aconteceu. Incluindo a comida favorito de Julia, frango frito com o molho mais apimentado que elas conseguiram encontrar. Bel achou engraçado ver o rosto da tia, que era branco como neve, ficar vermelho como um pimentão, mas Leia sabia que essa era a forma da irmã de extravasar o estresse.

Julia consegui arrumar bem o bastante para Bel não conseguir perceber que o apartamento tinha sido revirado, mesmo que ela tenha percebido algo estranho nas duas. Mas no fim das contas não era um lugar difícil de arrumar. Além de pequeno, quase não tinha nada.

Elas moravam em um pequeno quartinho no último andar de um péssimo prédio. Além de ser só um cômodo com banheiro, também dava para ouvir todos os barulhos de fora, tinha goteiras e fazia muito frio no inverno. Mas foi o único lugar que elas conseguiram sem ter que dar um deposito, além de ser muito barato. Além do mas, depois de um ano já estavam acostumadas.

Quando o marido de Leia ainda era vivo elas moravam uma casa bem melhor. Mas com a morte dele, elas saíram de lá e usaram o dinheiro do deposito para dar aos agiotas. Infelizmente o depósito não deu para quitar toda a dívida e Leia ainda ficou com uma dívida de 100 mil dolares. Leia fazia horas extras quase todos os dias e Julia pegava todos os empregos de meio período que podia, mas ainda assim não estavam nem perto de pagar a dívida. Mas vezes a vida pode ter outros planos para nós.

***

Liam não conseguia dormir naquela noite. Quanto tempo tinha passado com sua mãe desde que era criança? 1 hora por semana? Não, menos. 2 horas por mês? Talvez. Esse pensamento não saia de sua cabeça desde que encontrará os papeis com os exames dela. 2 anos? Isso não podia ser verdade! Mas era. Liam foi pessoalmente ao médico da família para confirmar. O Dr. Choi explicou que ela tinha uma doença rara no coração, a doença não tinha cura mas com uma cirurgia e tratamento ela poderia levar uma vida normal e até, possivelmente, chegar dos 90 anos. Mas a sua mãe recusou fazer a cirurgia. O Dr. Choi explicou que por conta da idade dela e de ela ser hipertensa tinha um risco de 62% de morte durante a cirurgia. Ela decidiu que preferia aproveitar o tempo que lhe restava ao invés de arriscar morrer na cirurgia, além do mais ela não queria que todos a olhassem com pena. Liam ficou furioso, como ela poderia tomar essa decisão sozinha, isso deveria ser uma decisão tomada em família mas além de seus pai ninguém mais foi avisado.

Fazia 3 messes desde o diagnóstico, mas a mãe de Liam decidiu não informar a família para que não a tentassem convencê-la a fazer a cirurgia. O Dr. Choi concordou em não informar a Madame Fisher que Liam sabia sobre o diagnóstico, Liam iria falar com a mãe assim que conseguisse processar a informação.

Liam precisava de uma maneira de convencê-la a fazer a cirurgia. Mas como? Agnes Fisher era como uma força da natureza, quando decidia algo era quase impossível fazê-la desistir. O que poderia fazê-la mudar de ideia? De repente uma lembrança passou pela cabeça de Liam. Quando Liam era criança sua mãe disse que seu maior desejo era ver ele ter sua própria família. E se ele fizesse isso?

― Esse é o plano mais idiota do mundo ― respondeu o Secretário Dawson no dia seguinte quando Liam lhe contou a ideia.

― Você esqueceu que eu sou seu chefe? ― questionou Liam.

― Só estou dizendo que mesmo que você consiga arranjar uma mulher para se casar com você, não tem garantia nenhuma que isso fará a Madame Fisher mudar de ideia em relação a cirurgia ― disse o secretário Dawson, se sentando na cadeira de frente para mesa de Liam.

― Nada é mais importante para minha mãe do que a família ― explicou Liam ― Se ela souber que eu pretendo me casar ela vai querer ver meu casamento, vai sonhar em ter netos e ver esses netos crescerem.

― E se ela encarar isso como um último presente da vida antes de morrer? ― questionou o secretario Dawson.

― De um jeito ou de outro ela vai ficar feliz ― respondeu Lian com tristeza.

Hugo Dawson ficou em silencio. Liam raramente expressava emoções. Nos mais de 7 anos em que eles se conheciam, Hugo poderia contar nos dedos de uma mão as vezes em que viu Liam expressar emoções de verdade.

― Então, o que vamos fazer? ― disse Hugo, se rendendo ao plano.

― Primeiro precisamos encontrar uma mulher que seja louca o bastante para aceitar se casar nesses termos ― respondeu Liam.

― Já seria difícil o suficiente encontrar uma mulher louca o bastante para querer se casar com você sem isso ― comentou Hugo.

― HUGO!

― O senhor sabe que seu apelido aqui na empresa é “Medusa”, né? ― perguntou Hugo.

― “Medusa?”

― Se olhar para alguém, ele vira pedra ― explicou Hugo.

― É um absurdo. Eu sou um homem ― disse Liam sem parecer se incomodar com o que seus funcionaram pensavam dele.

― Eu deveria ficar preocupado com o fato de você ter acabado de descobrir que seus funcionários o verem como um monstro mitológico medonho que transforma pessoas em pedra, e só se incomodar com desse monstro ser mulher?

― Não importa o que os outros pensam de mim, o lucro que eu trouxe para essa empresa fala por si mesmo ― disse Liam em justificativa.

Hugo abriu a boca para falar alguma coisa mais foi interrompido por uma dor no abdômen que estava sentindo desde a noite anterior e estava se intensificando.

― Eu não mandei você ir no médico ver essa dor ontem? ― questionou Liam.

― Não é nada, o senhor não precisa se preocupar ― respondeu Hugo.

― Não estou preocupado ― disse Liam ― Mas você não me serve de nada se não estiver trabalhando a 100%, agora vai. E não volte aqui sem ter falado com um médico.

― O problema, senhor, é que não tem ninguém para ficar no meu lugar; ninguém mais aguenta o senhor ― explicou Hugo.

― Isso é problema do RH ― essa foi a resposta de Liam sem desviar o olhar de seu computador.

― Fala a verdade, está morrendo de preocupação comigo ― brincou Hugo ― O senhor me ama.

Liam levantou a cabeça com o olhar que o fez ganhar o apelido Medusa. Hugo saiu correndo antes que Liam j**a-se uma cadeira na cabeça dele.

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