Quando viu claramente quem era, Mariana percebeu que havia se enganado. Aquela mulher tinha alguns traços parecidos com Joana. Não, na verdade, ela era mais parecida com Gisela.— Quem é você? — Perguntou Mariana, intrigada.Lúcia se aproximou, lançando um olhar carregado de inveja e rancor. Seus olhos analisaram cada detalhe do rosto de Mariana antes de soltar, com um tom de desdém:— Não é grande coisa!Mariana percebeu a maldade oculta naquele olhar. A hostilidade era evidente, mas o mais estranho era que ela sequer conhecia aquela mulher.— Foi você que mandou me trazer até aqui? Qual é a sua intenção? Não temos nenhum problema uma com a outra. Você tem ideia de que isso é crime? — Disse Mariana.Lúcia riu baixinho. Havia algo na sua postura que, à primeira vista, parecia inofensivo. Ela era ainda mais convincente que Joana em fingir gentileza. No entanto, aos olhos de Mariana, Lúcia não passava de uma planta carnívora disfarçada de flor delicada.Mesmo com um sorriso no rosto, a m
Mariana já tinha ouvido falar de muitas pessoas que a odiavam, e a maioria delas era até conhecida. Mas essa mulher à sua frente? Nunca tinha ouvido nem sequer o nome.— Paulo? Quem é esse? Não conheço! — Respondeu Lúcia, com desdém.O tom de negação da Lúcia só deixou Mariana ainda mais intrigada:— Então por que você me trouxe aqui? Deve ter me confundido com outra pessoa, não acha?— Além de uma cara bonita, você não passa de uma idiota! — Rosnou Lúcia, os olhos brilhando de raiva. — Casada com o Lucas por três anos, não conseguiu fazer ele se apaixonar por você. Só causou confusão e, no final, saiu humilhada com o divórcio. Que talento é esse que você acha que tem?Mariana deu de ombros, sem se abalar:— Confusão? Eu admito, engoli muito sapo. Mas, quando me divorciei, foi com estilo.Ela se lembrava muito bem do dia em que, diante de todos os acionistas, deu um golpe certeiro no ego de Lucas. Isso estava longe de ser uma saída humilhante. A impressão que tinha era que Lúcia estava
Lúcia acabara de descrever um homem de beleza incomparável, corajoso, alto, incrivelmente habilidoso... e ainda disse que ele era atencioso, carinhoso, que cuidava dela com dedicação, como se o tempo não tivesse passado.— Pedro? — Mariana pensou consigo mesma, sem acreditar. — É o Pedro que eu conheço? Esse mundo só pode estar louco!Assim como Lucas e Paulo, Mariana conhecia Pedro desde pequena. Durante toda a infância e adolescência, Pedro não perdia uma oportunidade de atormentá-la. Ele fazia questão de humilhá-la e zombar dela sempre que podia, encontrando formas de rebaixá-la a qualquer custo.Às vezes, Mariana se perguntava o que tinha feito de tão grave em outra vida para merecer ser alvo de tanto desprezo por parte de Pedro nesta.E agora, alguém ousava dizer que tudo isso era porque Pedro, na verdade, a amava e que o ódio dele era apenas um reflexo desse amor?Mariana não sabia se ria ou se ficava ainda mais irritada.— É isso mesmo! — Lúcia continuou, enfática. — O Pedro que
Mariana não conseguiu segurar a pergunta:— O que você ama nele?— Eu já não disse? — Lúcia respondeu, com o olhar suavizado ao mencionar Pedro. — Mas é claro, você nem sabe quais são as qualidades dele!Era isso. O amor realmente deixava as pessoas cegas. Não dá para acordar quem finge que está dormindo, nem trazer luz para quem insiste em viver na escuridão.Mariana desistiu de discutir. Apenas perguntou:— Então... você quer me dar uma lição para defender ele?— Defender? — Lúcia soltou uma risada fria. — Ele só deve estar morrendo de pena de você agora que eu te peguei. Mas quem sabe, se você virar uma qualquer, usada por todo mundo, ele ainda vai te tratar como um tesouro?Tesouro, o caramba!Mariana ficou tão irritada que quase xingou em voz alta. Se houvesse alguém que a amasse de verdade, que ignorasse todas as outras pessoas ao redor por causa dela, até poderia ser algo aceitável.Mas Pedro? Quem ele pensava que era? Mariana preferia morrer a ser o objeto de afeto de um lixo c
Lúcia, até então, vinha mantendo uma distância segura de Mariana. Mesmo com dois homens ao lado de Mariana, Lúcia ainda acreditava que sua segurança não estava em risco, mas preferiu ser cautelosa.O que ela não esperava era que Mariana fosse rápida o suficiente para virar o jogo. Num instante, um pequeno estilete estava pressionado contra seu pescoço. Lúcia ficou paralisada, sem ousar se mover.— Sou médica. Sei exatamente onde cortar para atingir uma artéria principal. E, nesse caso, nem adianta chamar o hospital. — Sussurrou Mariana ao ouvido de Lúcia.Lúcia sentiu o sangue gelar. Sua voz saiu trêmula:— Você... você não teria coragem! Matar alguém... matar é crime!— Eu sei — Mariana respondeu, com um sorriso frio. — Mas você me sequestrou. No máximo, isso seria legítima defesa, não acha?Não importava o que fosse, agora a situação estava completamente sob o controle de Mariana.— Diga para os seus homens me levar de volta. E que seja sem truques, sem confusões. Caso contrário, min
Gisela era a mulher que havia salvado a vida de Lucas. Se não fosse por ela, ele já estaria morto há muito tempo. Ele mesmo admitia que uma grande parte do motivo pelo qual sempre a considerou seu primeiro amor era justamente porque ela tinha sido sua salvadora.Mesmo agora, sabendo que seus sentimentos mais profundos estavam voltados para Mariana, isso não impedia que ele ainda carregasse uma preocupação especial por Gisela. Para ele, essas eram duas emoções completamente diferentes.Mas, independentemente disso, como Mariana podia usar algo tão perigoso para ameaçar outra pessoa? Ela estava colocando uma vida em risco.Lucas não conseguia tirar da cabeça a imagem da lâmina pressionada contra a artéria de Lúcia. Bastava um pequeno movimento...Ele sequer queria imaginar o que poderia acontecer.Mariana sorriu, com aquele ar desafiador:— Eu não machuco ela, ela me machuca. Me diz, o que você quer que eu faça?— Com certeza há algum mal-entendido. — Lucas respondeu, tentando manter a c
Pedro colocou o telefone no viva-voz e respondeu:— O Lucas está aqui comigo. Fala logo, o que realmente aconteceu?Do outro lado da linha, Lúcia ficou em silêncio por alguns segundos.— Fala! — Lucas ordenou, sua voz carregada de raiva.Lúcia soltou um soluço antes de começar:— Eu... eu fiquei com raiva, sabe? Achei injusto... o Lucas sendo tão bom para ela, e ela nem ligando! Então... eu só queria trazê-la para conversar, sabe? Mas quem imaginaria que ela...— Conversar? — A voz de Lucas ficou ainda mais fria, seu tom sombrio. — Como exatamente você “trouxe” ela? Quem te deu coragem para fazer isso?— Foi só uma brincadeira! — Lúcia tentou se justificar, nervosa. — Eu só queria que vocês se entendessem logo...Pedro, ouvindo aquilo, balançou a cabeça e interveio:— Lúcia, mesmo que você não tenha tido má intenção, o que você fez foi errado. Onde você está agora? E onde está a Mariana?— Estou no hotel. — Lúcia choramingava ao telefone. — Já mandei ela de volta para o laboratório. El
Lucas não disse mais nada durante o caminho e, em poucos minutos, chegou ao Instituto de estudo. Quando pararam o carro, Pedro olhou para ele e aconselhou:— Fala com calma com ela.Lucas respondeu com firmeza:— Quando eu e a Mariana voltarmos, você trate de mudar sua atitude com ela. Se não, não me culpe por deixar de te considerar meu irmão.Pedro franziu o cenho:— Eu ainda acho que vocês dois não têm nada a ver um com o outro, mas, se você gosta tanto dela assim, eu vou engolir meus próprios sentimentos e evitar qualquer conflito.— Não tem nada de “não têm nada a ver”. Para com isso. Não quero ouvir você falar isso de novo.Depois de dizer isso, Lucas saiu do carro e bateu a porta, indo direto para o prédio.Enquanto isso, Pedro pegou o celular e ligou para Lúcia. Ela atendeu rapidamente, ainda fingindo chorar:— Primo, você precisa me ajudar...— Cala a boca. — Disse Pedro, interrompendo-a. — O Lucas já saiu. Agora somos só nós dois.Lúcia, como se tivesse apertado um botão, par