Povoado de Águas Claras, 16h.No inverno anoitecia muito cedo, as ruas sempre ficavam escuras, mas por ser Ano Novo, elas estavam cheias de luzes e fogos.Tiago e Amélia caminhavam de mãos dadas pela rua principal da cidadezinha. Ela usava o cachecol preto de lã dele, e mesmo com algumas rajadas geladas em seu corpo, não sentia frio.Não havia muita diversão em Povoado de Águas Claras, então depois de almoçarem em uma pensão, passaram a tarde toda no hotel.Amélia pensava se deveria ir para casa agora.Quando o celular tocou, ela viu que era sua mãe ligando.- Oi, mãe.- Filha, seu encontro com as amigas já acabou? Seu tio ainda está aqui esperando você para jantar, volte logo. Onde está rolando esse encontro? Quer que seu pai vá te buscar?Amélia apressou-se em dizer: - Não precisa não, já estou indo.Tiago, é claro, ouvira a conversa e disse friamente: - Está tão envergonhada de estar comigo que precisa mentir pra sua mãe dizendo que é um encontro com amigas?- Mas minha mãe acha q
Rita recebeu o fax do George às oito da noite em Mountain.Desde as oito da manhã quando atendeu a ligação do pai, ficara sentada à janela, sem comer ou beber por mais de dez horas seguidas.O fax apitou duas vezes e imprimiu duas cópias do acordo de divórcio.Ela acariciou suavemente o local da assinatura de Lucas, as lágrimas que pingavam rápido e frequentes, borraram a caneta sobre o papel.Amélia deixou os documento no colo, por quanto tempo, não sabia, ela estava sem nenhuma intenção de assinar aquilo.Quando descobriu o parentesco com Lucas, já havia se preparado mentalmente para o divórcio, então por que agora que ele assinara sem pestanejar, ela não conseguia acreditar?Eram poucos meses de casamento, mas parecia que tinham vivido juntos da adolescência até da aos cabelos brancos.Lá fora nevava em Mountain.Observando a neve, lembrou-se das guerras com bolas de neve em Cidade S.Uma cena tão bonita, parecia ter acontecido ontem, como de repente estavam se divorciando?Cidad
Mountain, duas da manhã.Rita segurava a caneta, tentando várias vezes assinar no papel.O acordo listava até mesmo valores de indenização, Lucas decidira mesmo se divorciar.Mesmo sendo sempre a parte passiva nesse relacionamento, quando Lucas tomou a iniciativa do divórcio, ela não conseguiu aceitar facilmente.Divórcio significava que nos tediosos dias seguintes, não teria mais a companhia de seu marido. E que de agora em diante, não importava que mulher estivesse com ele, não seria mais ela.Rita enxugou as lágrimas, reuniu coragem e discou um número no celular.Enquanto era duas da manhã em Mountain, na Cidade S era nove da manhã.Quando atendeu aquela ligação de Florença, um lampejo gélido passou nos olhos de Caio.Sem hesitar, ele recusou a chamada.Segurando o aparelho, as lágrimas de Rita voltaram a molhar seu rosto assim que ouviu a recusa, Lucas recusara sua ligação...Estava bravo com sua partida repentina?Se não fosse isso o real motivo dele não atender, então o verdadeir
Depois de desligar do celular dentro do quarto do hospital, Noemia entrou com seus capangas trazendo uma sopa nutritiva.- Finalmente apareceu! Sabe há quanto tempo estou esperando? Aquele Lucas não me deixava chegar perto, mesmo depois de procurar vários hipnotizadores e terapeutas. Mas agora está tudo bem, você emergiu de novo, e... Agora com Rita longe em Florença, não temos mais ameaças!Caio segurava o celular, encostado na cama do hospital, com uma expressão gélida e vazia. - Quero ficar sozinho um pouco.Noemia sempre fora mimada, jamais toleraria alguém tratá-la com desdém. Franziu a testa: - Ei! Foi você quem me chamou aqui! Até mandei preparar essa sopa especialmente pra você! O que deu em, Caio? Não me diga que mudou de ideia quanto ao divórcio da Rita?Caio levantou o olhar, encarando-a com pupilas cortantes. Disse secamente: - Saia.- Você! Não se esqueça, fui eu quem te salvei! Sem mim você jamais teria emergido novamente! Estaria aprisionado pelo Lucas para sempre!-
A Rita estava dormindo profundamente em um hospital particular de Mountain, sem qualquer noção do ambiente ao seu redor.- Quando os resultados da comparação de DNA estarão prontos?- No máximo até amanhã à tarde, Sr.Jerónimo. Assim que saírem, informarei o senhor imediatamente.No caminho de volta, Cerqueira olhou pela janela traseira a moça deitada no ombro do Sr.Jerónimo e brincou: - Patrão, essa mocinha é bem corajosa. Está bêbada desse jeito, levada por dois homens estranhos no carro, e não exprimiu nenhuma reação. Ainda bem que somos pessoas de bem. Mas patrão, as reações dela bêbada são bem parecidas com as da Srta. Fernanda.Jerónimo escureceu seu olhar e observou a garota adormecida em seu ombro sem qualquer precaução. Sua voz soou baixa ao perguntar: - Alguma pista sobre o paradeiro da Barbosa?- Que coincidência, a Srta. Fernanda também está em Florença. Já mandei muitos homens procurá-la. Sr.Jerónimo, pode ficar tranquilo, no máximo até amanhã à noite o senhor poderá vê-l
Quando Jerónimo entregou o relatório do exame de DNA para Rita, que desconfiada, hesitou em aceitá-lo.- Senhor, o senhor...Cerqueira, parado atrás de Jerónimo, coçou o nariz sorrindo e brincou: - Srta. Rita, nosso patrão não tem más intenções. Não somos pessoas más, pode ficar tranquila que esse relatório não está envenenado.Ritasem jeito, aceitou o relatório e franziu a testa. - O que é isso?- Deixe-me me apresentar novamente. Me chamo Jerónimo, quando a encontrei no avião, tive a impressão de que a senhorita se parecia muito com minha mãe quando jovem. Por isso, tomei a liberdade de colocar um rastreador em sua bolsa. Depois de conseguir rastreá-la, te encontrar, conseguir materiais seus para o exame, toda esse minha intuição se mostrou verdadeira. A senhorita é a minha irmã biológica.Com poucas palavras, ele conseguiu revelar uma notícia chocante.Rita congelou, achava que ele estava brincando com ela. - Sr.Jerónimo, o senhor está me pregando uma peça?Com tudo que acontece
Cidade S, hospital.No quarto do hospital, Noemia trouxe uma refeição nutritiva para Caio.- Você já se divorciou da Rita? Deixe-me dizer-lhe uma coisa, eu não quero ser a terceira pessoa de um relacionamento. - Disse ela.Caio, com olhos frios e penetrantes, deu-lhe uma olhada e respondeu:- Eu também não quero ser pego pela mídia em alguma notícia negativa sobre um caso extraconjugal.- Que bom, é melhor assim.Fora do quarto, soou uma batida na porta.- Quem é?Marta, segurando uma marmita térmica, acabara de entrar no quarto quando viu outra mulher sentada ao lado da cama de Lucas.- Lucas, quem é ela?Noemia se levantou graciosamente:- Olá, eu sou Noemia, a noiva de Lucas.Caio, com seus olhos negros brilhantes, permaneceu em silêncio.Marta franzindo a testa, riu e disse:- Srta. Noemia, que tipo de piada é essa?Noemia arqueou uma sobrancelha de forma indiferente:- Se você não acredita, pergunte a ele.Marta perguntou, com os lábios apertados:- Lucas, o que está acontecendo?
- Fernanda, venha por aqui, este é o lugar para os curativos, não? Como você pode ser tão descuidada?Fernanda estava mancando, apoiada por um colega de trabalho, indo em direção à sala de curativos. No centro de exposições de arte, na parte das amostras de pinturas, um agrave acidente acorreu: a maior pintura da exposição caiu. Fernanda, tentando salvar um visitante, foi atingida no pé pela quando a obra estava caindo ao chão.Felizmente, o osso não quebrou, mas o pé estava inchado e contundido.O colega que a acompanhou viu que a porta da sala de curativos estava fechada. Mesmo assim ele abriu a porta, e ao entrar no quarto, Fernanda viu Jerónimo ajoelhado diante de uma jovem.O coração de Fernanda esfriou de repente. "Por que Jerónimo está aqui?"O colega, segurando Fernanda, disse:- Vamos, entre.Fernanda, pulando em um pé só, virou-se para ir embora. O colega, ao ajudá-la, perguntou a Jerónimo e Rita, que estavam na sala:- Vocês são pacientes? Onde está o médico de curativos?F