2160 luas atrás:— Cadê a porra do dinheiro, sua maga m*****a!? — Lukan ouviu a voz rouca de seu pai preencher todos os cantos.Logo em seguida, o som de vidro quebrando ecoou pela pequena casa, cortante e perturbador, acompanhado pelos gritos raivosos do pai de Lukan. As paredes pareciam tremer com a intensidade da voz, abafando os gritos de dor de sua frágil mãe. A tensão no ar era sufocante, como uma tempestade que se recusava a passar. No quartinho escuro, o pequeno Lukan, um híbrido com apenas dois anos de idade contados de forma humana, mas com a mentalidade de uma criança de quatro anos no mundo lycan, estava encolhido no canto entre sua cama e o criado-mudo. Ele cobriu os ouvidos com as pequenas mãos, pressionando-as contra a cabeça com força, tentando desesperadamente bloquear o som das agressões que vinham da sala enquanto fechava os olhos. — Para, papai, para... — ele murmurou baixinho, sua voz quase engasgada pelas lágrimas que escorriam sem controle por seu rosto. — Por
O pai de Lukan bufou alto, um som carregado de desprezo, achando completamente ridícula a tentativa de resistência de seu filhote. Ignorando o pequeno e a fêmea, caminhou até o pequeno armário suspenso na cozinha, movendo com facilidade o fundo falso que sua esposa tinha feito, na esperança vã de que ele não o descobrisse.Suas mãos ásperas pegaram uma bolsa de couro gasta que continha o pouco dinheiro que ela havia conseguido guardar. ele começou a contar as poucas notas, um sorriso cruel se formando em seus lábios.— Só isso? — O alfa rosnou, sua voz carregada de desprezo. — Isso não paga nem meia hora com aquelas putas das fêmeas humanas!Na sala, a mãe de Lukan continuava caída no chão, suas vistas turvas, e seu corpo chegou num torpor de dor tão grande e ela não consegue mais sentia-la. As palavras do marido eram como golpes adicionais, cada uma delas pesando mais que a anterior.Ele não está em casa seria um alívio, o problema era que para ele sair e se entreter com as outras fê
12 luas depois:O território do vilarejo humano estava silencioso, envolto em uma fina névoa da madrugada que se misturava com os primeiros raios de sol.Lukan, agora com três anos de nascido contados de forma humana, corria pelas árvores em sua forma de lobo. Suas patas criavam leves estalos sobre a neve enquanto ele ganhava mais velocidade, retornando de sua corrida matinal diária, seguindo o conselho de sua mãe para fortalecer sua ligação com seu lado lycan. O ar era frio, preenchendo os pulmões lupinos de Lukan, mas a tranquilidade era enganosa.O som de gritos ecoou da última casa, muito afastada das demais, para que os humanos não escutassem o que acontecia na pequena cabana e nem descobrissem que tipos de seres estavam morando entre eles.As palavras da mãe de Lukan, carregadas de dor e desespero, misturavam-se ao estilhaçar de objetos e ao rugido furioso de seu pai.— Seu maldito, covarde! — A voz dela soou, cortada por soluços e respirações curtas. — Eu estou grávida! Como po
— Filho, me escute com atenção. Eu preciso que você me ajude — a mãe de Lukan engoliu em seco, odiando ter que pedir aquilo a seu filho tão pequeno. — Preciso que você corte minha barriga. Bem aqui — ela apontou para o baixo ventre. — Como fizemos com aquela cadela do humano quando ela não conseguiu dar à luz. Você lembra?Os olhos de Lukan se arregalaram, e ele balançou a cabeça, recuando.— Não, mamãe! Não quero te machucar! — Lukan soluçou, os ombros pequenos tremendo enquanto não conseguia mais segurar as lágrimas.— Lukan, ouça-me. Se não fizer isso, seus irmãos irão morrer dentro de mim. Eu preciso que você seja forte por nós, Lukan. Eu vou sobreviver. Prometo. — Ela engoliu o medo, tentando ser forte por ele. — Eu confio em você, meu filho. Você consegue, Lukan.Lukan olhou para a faca em suas mãos trêmulas, fechou os olhos com força e, então, concordou. Ele se aproximou da mãe novamente e ajoelhou-se ao lado dela.— Lembre-se, filho, não fundo demais para não acertar os bebês,
24 Luas Depois:Lukan sentia os dedos pequenos dos gêmeos apertando sua mão com força. Um deles, segurando um brinquedo em forma de lobo que sua mãe havia costurado para ele. olhava para o chão, enquanto seus cabelos loiros caíam sobre os olhos, escondendo as lágrimas que ameaçavam escorrer.— O papai tá brigando de novo — ele sussurrou, olhando para baixo, desviando a visão da cena de seu pai, sua voz tremia, seus olhos assustados escondidos sob os cabelos loiros caídos sobre o rosto, enquanto o som de gritos e pancadas ecoavam ambiente. — Depois ele vai querer bater na gente — continuou, a frase mal saindo, carregada de medo.Lukan respirou fundo, seu maxilar travado enquanto olhava na direção do pai, o peso da responsabilidade pesando mais uma vez sobre seus ombros pequenos. O peito apertado pela raiva e exaustão.Nos últimos dois anos, após o pai descobrir que se usasse as drogas humanas em doses vinte vezes maiores conseguia sentir o mesmo efeito que surtia nos humanos, e desde en
— Não toque nele! — a mãe gritou, tentando se soltar do aperto do marido. — Ele é só uma criança!O pai ignorou a súplica dela e avançou. Mas, antes que pudesse alcançar Lukan, algo inesperado aconteceu. O menino, tomado pela fúria, rosnou tão alto que até o alfa hesitou por um instante. Os olhos de Lukan brilhavam com uma determinação feroz, e ele se lançou contra o pai com uma coragem que não condizia com seu tamanho.O impacto foi pequeno, mas surpreendente. Lukan agarrou o braço do pai, cravando as unhas pequenas na pele dele. O alfa reagiu com um tapa que mandou o menino ao chão, mas Lukan não desistiu. Ele se levantou novamente, o rosto cheio de determinação.— Não vou deixar você machucar mais ninguém! — Ele gritou, expondo todos os seus sentimentos.O alfa, irritado com a persistência do filho, ergueu o punho para desferir outro golpe. Mas, antes que pudesse atingir Lukan, a mãe dele se colocou no meio.— Pare! — ela gritou, o olhar fixo no marido. — Você já fez o suficiente.
— Não é mentira! — A mãe de Lukan gritou, seus olhos queimando com as lágrimas que ela segurava enquanto tentava salvar o pouco que restava. — Eu o enfeiticei! Sou a única culpada. Eu o cobicei e arquitetei o plano para conseguir que ele fosse exilado. Assim, ele não teria para onde ir além de ficar comigo.Lukan sentiu uma dor profunda no peito ao ouvir as palavras da mãe. Ele sabia que ela estava mentindo, pois ele e os irmãos mais do que ninguém sabiam o inferno que a mãe passava, ela tinha planos de fugir, Lukan sabia disso, então em sua mente, ela está mentindo por apenas uma razão: para protegê-los, mas isso não tornava as palavras menos dolorosas.O genuíno alfa olhou para ela com uma expressão fria, não se importando nem um pouco com as palavras da maga.— Genuíno, peço que me aceite de volta — o pai de Lukan insistiu, sentindo-se mais confiante agora que sua ‘esposa’ o apoiou em sua mentira. — Os filhotes que tive são um beta e dois ômegas. Com o tempo, sei que serão úteis e.
O ar dentro da caverna estava pesado, saturado com o cheiro de sangue e magia antiga. A voz de Lukan ainda ecoava na mente de Sasha, cada palavra dele um golpe cruel na sua alma. Ela sentia o peso da história dele como se fosse uma pedra amarrada ao peito.— E foi assim que os pais de Miguel tiraram tudo de — A voz de Lukan é amarga, mas sem emoção, como se estivesse contando algo distante, algo que ele já havia repetido para si mesmo tantas vezes que perdera o impacto. — Quando acordei dias depois, chorei enquanto enterrava a todos. O único que não enterrei foi o meu progenitor — ele conclui, a voz carregada de ressentimento.Sasha sente as lágrimas escorrerem por seus olhos antes que pudesse contê-las. Por mais que Lukan fosse desprezível aos seus olhos, ninguém merecia carregar lembranças tão sombrias, principalmente tendo vivenciadas quando ainda era apenas uma criança. Nenhum filhote deveria ter vivido aquilo.Se eles tivessem sido salvos, ninguém estaria nessa situação hoje. Se