Miguel não teve tempo de processar a informação de que a cúmplice de que Lukan se referia era sua escrava, sua mente e corpo haviam sido dominados pela dor compartilhada com Sasha. Tudo o que ele conseguiu focar foi em chegar o mais rápido possível e vingar a sua fêmea.Mas agora, outra verdade se impunha diante dele, uma ainda mais avassaladora.Sua escrava humana, não é humana, não completamente.Ele sente seu peito aperta, a compressão de tudo parece ser demais até para ele.Miguel relembra do cheiro que sentiu na noite passada, o feitiço, que agora ele compreende, começou a se desmanchar após ter recebido seu nó, após a vida do filhote ter sido concebida...Aquele feitiço, com certeza foi um feitiço duplo, ele prendeu a parte lycan de Sasha e mascarou o cheiro do feitiço com outro. Somente uma das princesas bruxas poderia fazer algo assim.Miguel rosna.Pedro mentiu.Pedro sabia da existência dos lycans, do acordo entre os deuses, mas sempre se recusou a responder as perguntas, mes
Miguel afasta a cabeça da de Sasha gentilmente, seus dedos tremem levemente, já antecipando a dor que está por vim. Ele se inclina e deposita um beijo na testa peluda de Sasha, um gesto quase instintivo de carinho e arrependimento. Sasha lambe o próprio focinho, suas orelhas em pé, encarando-o.— Eu estou com você, minha pequena lux lunaris — Miguel diz, e então transforma seu dedo indicador em garra.Ele afunda sua garra na testa de Sasha, a sangue instantaneamente começa a emergir da ferida, Sasha solta um grunhindo, seu corpo lupino tensiona e ela tenta afastar sua cabeça do toque que lhe causa dor.— Não se mexa, querida — Miguel pede, sua voz um sussurro doloroso. — Farei isso rápido — ele promete e começa a desenhar o circulo na testa dela, uma representação da lua cheia. Sasha se tenta se afastar com mais força, Miguel a prende com as pernas e a outra mão ele força a cabeça dela a ficar no lugar.Cada linha traçada pela garra é uma dor que ele sente junto dela, ecoando pela lig
A realidade de ver sua companheira morta, mesmo que temporariamente, é um fardo maior do que Miguel poderia imaginar.O vínculo que os unia ainda pulsa dentro dele, como uma corda invisível amarrada ao coração de Miguel, fazendo-o sentir a ausência de vida no corpo de Sasha de forma quase física. Ele precisa acreditar que ela retornará. A deusa da lua lhe prometeu isso ao fazê-lo destinado a ela, então ela irá voltar. E, no entanto, o medo se infiltra, insinuando-se em cada recanto da sua mente.— Sasha... — ele chama por ela, sua voz treme com a rouquidão de seu tom, apertando-a com mais força em seu abraço, sentindo o corpo dela, agora gelado, pressionado contra o seu. Um calafrio corre pela espinha de Miguel, o peso da incerteza e da dor quase o paralisando.Ele morde o lábio, sua mandíbula tensa, e seus olhos permanecem fechados com força, como se a dor de abri-los fosse insuportável. Dentro dele, seu lobo se agita, tão angustiado quanto ele. Ambos estão à beira do desespero, mas
O vento gélido bate contra o rosto lupino de Sasha, balançando seus pelos, mas ela não sente frio —pelo contrário, a sensação é de pura liberdade. Suas patas batem com força na neve, empurrando-a para trás enquanto ele corre, cada músculo de seu corpo grande e pesado trabalha com precisão, levando-a cada vez mais longe.A cada trote, o vento gélido envolve o corpo de Sasha, fazendo seus pelos alvos dançarem e brilharem sob os filetes de luz que se infiltram pelas árvores ao seu redor. Cada raio que a toca a faz parecer ainda mais etérea, como se estivesse se fundindo à própria paisagem. A sensação de liberdade percorre cada fibra de seu ser, e a loba dentro dela, antes aprisionada por tanto tempo, se sente finalmente viva.A loba sente seu corpo lupino ganhando força a cada passo, a cada salto na neve macia. O peso da forma h
Por longos minutos, Sasha continua a rosnar, recusando-se a ceder. Seu instinto grita para lutar, para não ser controlada, mas a energia de Miguel é constante, sem pressa, sem violência. Ele mantém seu corpo sobre o dela, os músculos tensos, mas seu olhar é firme e paciente. Ele não a pressiona, mas também não recua.Finalmente, os rosnados de Sasha começa a diminuir, até que tudo o que resta é o som de suas respirações pesadas e ofegantes, a tensão vibrando entre os dois. Ela o encara, seus olhos ainda brilhando de fúria e algo a mais.Miguel se abaixa lentamente, aproximando-se de seu focinho, e sem dizer uma palavra, lambe-a com uma delicadeza que a surpreende. Não era isso que ela esperava dele. Uma quebra total do que ela achava que viria de alguém que tantas vezes a feriu. Por um breve instante, ela se permite abaixar a guarda, e é nesse momento que seu corpo começa a mudar, sua loba cedendo o momento a parte humana.Sob ele, sua forma lupina se contorce e, em poucos segundos, s
— Desde então eu carreguei essa sensação, achando que estava louca, como poderia sentir essas coisa por um cara que eu nunca havia visto antes?Miguel não desvia o olhar, ele lembra exatamente quais foram as emoções que ela sentiu, pois cada uma transbordou diretamente nele, duas vezes mais.Mas, ele não esperava que ela tocasse nesse assunto.— Sasha, eu... — Miguel tenta falar, mas sua voz falha. Se ele pudesse voltar no tempo, não teria aceitado o convite da fêmea, mas ele não pode mudar o que aconteceu.— E apenas algumas horas depois, a fez passar pelo inferno — ela diz, sua voz carregada de dor. — Enquanto eu estava inconsciente, quase morta pela sua amante, você não teve nem um pingo de compaixão. Sabia que eu era, sabia o que poderia ter acontecido, e mesmo assim, escolheu nos ferir ainda mais.— Eu não...— Eu vi a dona Luciana cuidar das minhas feridas, rezar a deusa da lua por mim, e então eu vi você. Minha loba, mesmo presa, ficou feliz em te ver, mas então, você nos fez p
Miguel avança pela floresta coberta de neve, as suas patas cravando-se no solo branco e gelado a cada passo. O som do farfalhar das folhas secas e da neve comprimida sob suas patas é o único que preenche o silêncio daquela manhã fria. Acima, o céu está cinzento, e o vento gelado sopra impiedosamente, cortando o ar ao seu redor. Mas ele não se deixa afetar. Seu foco está em uma única coisa: encontrar uma presa.O vento gélido corta o ar, carregando consigo o cheiro da presa que ele está caçando. Ele está focado, sua mente dividida entre o instinto de caçar e o peso da situação com Sasha. Miguel precisa se provar digno para a fêmea adormecida na sua gruta, precisa ser mais que apenas o macho idiota que a feriu. Ele precisa ser o companheiro dela — e isso exige mais do que apenas força física.O rosnado dela ecoa em sua cabeça, uma lembrança viva da dor que ele causou e que agora precisa curar. Ele respira fundo, o ar frio preenchendo seus pulmões, forçando-se a focar na tarefa à sua fre
Sasha é simplesmente magnifica. Sua pelagem branca reflete a luz fraca do sol que se infiltra pelas árvores cobertas de neve. Miguel sente que poderia ficar horas e horas apenas admirando-a que nunca se cansaria.Apesar dos seus instintos de que ela deveria permanecer fora de vista até que o filhote tenha os seis meses, ele não consegue evitar admirar a forma com que ela explora o mundo, tão curiosa.Sasha corre a uma velocidade que chama o predador em Miguel, despertando a vontade de faze-lo captura-la e leva-la de volta a gruta.Mas, ele permanece apenas a seguindo, com um sorriso lupino, amando a maneira como as patas de Sasha tocam de leve a neve a cada galope. Ela mal deixa marcas na neve, com passos rápidos e eficientes.Qualquer vestiu de fraqueza que a acometeu no dia anterior desaparecem completamente. A deusa a curou completamente pelo renascimento. Miguel faz uma nota mental de que precisa uiva para a próxima lua cheia, se desculpando e agradecendo a deusa por sua companhei