Encaro seus olhos marejados fazendo os meus pulsos pulsarem com a dor infernal que preenche cada um dos meus pensamentos assassinos desejando arrancar cada um dos fios falsos que compõem aquela cabeça de vento da minha prima. Sempre considerei as insinuações de Mayra sem nenhuma segunda intenção pelo fato de sermos primos, por essa merda ser impensável apenas por si só. O destino daqueles que cometem tal pecado é apenas uma vala, fora que mesmo se tornando uma mulher estonteante como uma modelo de cinema, sempre a vi como aquela garota de bochechas vermelhas tentando nos acompanhar pelo gramado do quintal das casas destinadas aos soldados e suas famílias. Agora a fúria contorce as minhas entranhas, se Mayra fez algo assim e duvido muito que Kalifa esteja mentindo diante do pânico estampado em seus olhos castanhos, minha prima pode ter muitas respostas para as nossas perguntas dos últimos dias. Aceno para Roman que entende e logo caminha em direção a porta atraindo a atenção da minha
RomanKyro estaciona na frente do prédio ao qual alguns anos atrás deu um apartamento de presente a Mayra, ele sempre foi um homem comprometido com a família e quando seus tios que o criaram morreram fez questão de tomar a frente dos cuidados da prima . Desço do carro ainda com as palavras da mulher gravadas na minha mente e o questionamento do que motivaria Mayra a fazer algo assim…. Andrei abre as portas de vidro com um olhar interrogativo, há um bom tempo atrás dei uma missão pessoal ao soldado. —Quer perguntar algo Andrei? — Questiono curioso. —O novo conselho ainda não foi formado .. — Sua voz sai dividida entre uma preocupação e afirmação.—E você se acha digno de uma vaga? —Kyro o corta ao passo que atravessamos o salão. —Não. — Paro no lugar para encarar o rosto do homem, muitos desejam subir e fazer parte da mesa que formará o novo conselho. Mas depois de tudo o que aconteceu e dessa derrubada que promovi contra as famílias fundadoras, preciso ter o dobro de cuidado para
Roman— Ela é amiga da minha noiva Mayra, devo acreditar que está envolvida no que aconteceu com ela também? Solto a voz deixando toda frieza transparecer em meio a fúria que sobe atiçando a besta e tento controlar para ter mais da víbora na minha frente. —Não senhor, jamais faria algo contra a sua noiva. — Responde com as mãos tremendo.— Então, nega que as ameaçou durante o baile? — Apoio os cotovelos sobre os joelhos apontando para que ela se sente novamente. — Com todo respeito Parkhan, não sei o que aquela negra asquerosa pode ter dito a vocês mas jamais faria algo assim, até entendo que uma pessoa como ela deseje destruir minha reputação por se interessar em Kyro mas um homem como ele jamais poderia se casar com uma ralé como ela.Ela termina de falar essas merdas e permanece com um sorriso no rosto, enquanto mantenho a máscara sobre o rosto mas nada consegue justificar a forma como ela é tão racista e doente.— Então espero que entenda o preço que deve ser pago ao se atentar
RomanPisco atônito saindo do estado de catatonia a qual já nem sei mais a quanto tempo estou perdido, a fúria surge de uma forma estarrecedora dentro do meu peito em meio a tantas dúvidas e questionamentos não respondidos. Os homens à minha frente tremem pelo que veem na minha face. — Nenhuma palavra sobre essa ligação saí daqui. —Ordeno.— O que pretende fazer em relação a isso Roman? — Kyro questiona. — Tem certeza que era ela? Avanço na sua direção agarrando sua camisa e o erguendo do chão deixando seu rosto avermelhado em meio aos olhos verdes assombrados. — Eu não estou louco porra. — Berro com cólera. — Não é isso que estamos dizendo senhor. — Sinto a mão de Andrei sob meu ombro encontro seu olhar e ele logo retira aflito. — É que eram como um exemplo de ‘amor’ para todos nós dentro da organização e porra…Balanço a cabeça revoltado soltando Kyro que alisa o pescoço instantaneamente. — Pelo visto só um de nós dois amava e não era Eva — Declaro dando as costas para eles. S
LunaO gosto ácido na boca traz de volta a minha memória junto da consciência, sinto as batidas do coração completamente alteradas reverberando por todo o corpo a sensação do sono constante ainda pesa nas minhas pálpebras. A dor queima nas minhas costas o cheiro fétido da carne queimando sob a invasão das balas e o sangue se esvaindo com toda a consciência. Suspiro, pois a imagem nítida do olhar de Roman se mistura na minha cabeça é um rodopio irritante que causa um giro. Quando finalmente consigo abrir os olhos encontro o olhar surpreso da minha irmã de alma, as lágrimas se formam no mesmo instante em que corre para chamar os médicos as palavras saem voando pelos seus lábios arrancando um sorriso dolorido. Suspiro, segurando firme sua mão. — Desculpa.. — Consigo murmurar com a voz rouca. Kalifa aproxima a testa da minha chorando e rindo como tantas vezes fizemos nos momentos mais loucos da nossa vida. — Nunca mais faça isso comigo sua vaca. — Resmunga em tom de briga e riso. O m
LunaPrendo a respiração esperando pela sua resposta que parece demorar anos para chegar quando, na verdade se passam apenas alguns segundos até a voz grave cortar o silêncio— Não. Ergo a sobrancelha prestes a responder quando coloca o seu indicador sobre meus lábios em um pedido de silêncio.—Um dia pequena, amei e pensei ser amor. — Meu peito automaticamente se enche com o sabor amargo do ciúme. — Mas o hoje e você me fez entender que o amor não força mudanças em ninguém, esse sentimento apenas ressalta nossas qualidades e defeitos, cabe ao outro amar ou não. Pisco atônita, suspiro sem saber o que falar, pois sou culpada, por amá-lo sem ver nenhuma qualidade, sou culpada por cair em uma paixão aterrorizante sem medir as consequências dos meus atos. Não peço perdão por pecar, peço perdão por não ter nenhum arrependimento em cometer tais atos, recebendo agora todos os resultados em uma longa conta, sendo a mais sacrificante delas, amar a cela em que estou presa, amar o meu quarto n
LunaA risada grave reverbera pelo quarto enquanto a minha cara deve estar estampada como otária se ele imagina que com uma conversa louca dessas vai desmanchar nosso acordo de exclusividade. — Confesso que senti saudade dessa sua mania irritante em pressupor minhas palavras. — Ele afaga os meus cabelos e reviro os olhos.— Não faço isso. — Minto emburrecida.— Nesse seu rostinho tinha escrito “não aceito ser a outra”. — Diz e ri.Ele simplesmente ri como se isso fosse algum tipo de piada, ergo a mão para bater nele mas sou tomada por uma dor profunda apertando os músculos do meu braço esquerdo arrancam um grito dolorido da minha garganta. A falha do musculo diante do estímulo nervoso caí como uma pedra dentro do meu coração, fazendo as lágrimas brotarem no mesmo instante enquanto a visão dos olhos azuis embaça diante da minha tristeza. Dessa desolação que consome a minha alma, quantas vezes precisei dar esse tipo de diagnóstico a um paciente e sempre fui arrogante demais para acredi
Luna Existe uma maneira única como nos comunicamos com o mundo, é intrínseco a forma como cada um se adapta porém não menos doloroso a maneira pela qual somos forçados a aprender que nem todas as pessoas são boas ou o fato de a sociedade ter seus preferidos. Por vezes questionamos os nossos pais qual o motivo de tantas reprimendas, conselhos repetitivos, mas eles já sabem que o mundo não é bom, por esse motivo ainda que de maneira débil tentam nos guiar para um caminho menos doloroso. Quão tola devo soar agora deitada em uma cama de hospital entre os braços do diabo e lembrando da voz que dizia ‘Minha filha tudo que vem fácil vai embora fácil’. Será que minha mãe imaginava um dia isso ou sequer cogitou o tipo de pessoa que me tornaria longe dos seus olhos e coração, por mais que o caminho fácil pareça errado aos olhos dos outros, apenas nós mesmos somos capazes de sentir a dor do percurso. É apenas sobre as nossas costas que as dores se acumulam e em nossas memórias que a culpa resp