Cinco meses depois desde que Khadija desapareceu...O trabalho tem sido meu refúgio nesses últimos meses. Tenho trabalhado como um condenado tentando tirar esse vazio dentro do meu peito.Agora estou indo para um almoço de negócios importante com meu staff e dois franceses. Meu objetivo? Paris, onde pretendo fazer a construção de um novo hotel... estou negociando o preço do terreno com eles. O valor que eles querem está nas alturas. Entendo que a procura é muito maior que a oferta. Ainda mais num local tão privilegiado como aquele, quase em frente à Torre Eiffel.Quando chego ao restaurante do meu hotel, sentamos e pedimos bebidas. Tiro meu paletó e fico bem à vontade. A conversa começa a fluir entre nós, mas nada deles baixarem o preço. Então tiro minhas cartas da manga, e faço a seguinte proposta: Eles terão cinco por cento de participação nos lucros do hotel. Mas os caras são jogo duro e querem cinquenta por cento.Allah!Eu nego com um forte não de cabeça. Irredutível.—Lã! (Não!)
Minutos depois um doutor de cabelos grisalhos entra.—Boa tarde. —Ele me cumprimenta.—Boa tarde.Ele me olha sério, as sobrancelhas erguidas.—Senhor Barak, o senhor chegou aqui com um caso grave de hipertensão. É um milagre que esteja bem. Você poderia ter tido um AVC ou um enfarto. Isso pode ser hereditário, ou alimentação ou provocado por estresses.Eu respiro fundo.—Eu ando meio estressado ultimamente.—O senhor foi medicado, mas sugiro que passe por alguns exames. Não precisa ser agora. Mas faça um checkup. Estou te passando um remédio que o senhor tomará todos os dias pela manhã. É um controlador de pressão. O senhor não deve esquecer de tomá-los, pois não sabemos se é um caso isolado ou se voltará a acontecer.—Está certo. Não vou esquecer. Eu posso ir agora?—Sim, vou te dar alta. Só espere findar o soro com a medicação e poderá ir. Estou deixando a receita.Minutos depois ele me entregou.—Obrigado.Ele me encara sério.—Faça refeições leves e pouco sal. Evite refrigerantes
Sim, há um abismo entre nós. Muita coisa tinha acontecido. E eu não consigo aceitar isso. A dor e a decepção dentro de mim são absurdas. Embora sei que foi tudo culpa minha, sou assolado por revolta e dor.—Agora é da minha conta, você carrega um filho meu. —Digo.—Rashid, não pode entrar assim. Quero que me esqueça. Eu quero refazer minha vida longe de você.Não gosto da maneira que ela fala comigo. Naquele momento é como tomar um balde de água fria na cabeça Fecho os olhos por um momento. A dor dentro de mim é atroz. Abro meus olhos e a encaro com um olhar miserável.Respiro fundo e me aproximo, ela dá um passo para trás e fica encurralada entre eu e o sofá. Minhas mãos sobem até seus ombros e eu a puxo para mim, apoiando sua cabeça em meu peito, beijando suavemente seu cabelo. Sou embriagado por seu cheiro, pelo amor e saudade, com uma paixão que lateja dentro de mim e quer extravasar.Ela fica sem ação no princípio, mas depois começa a se debater, eu a afasto e a encaro:—Khadija.
KhadijaQuando Rashid sai, eu desmorono no sofá. Cansei de me sentir um hamster numa roda correndo sem ir a lugar algum. Eu estou com raiva dele.Quem é ele para entrar aqui e achar que me terá assim, fácil, com seus jogos de palavras? Estou com raiva por ele aparecer e tirar a serenidade que eu consegui com tanta dificuldade. Eu a construí aos poucos, como um construtor, fui me erguendo. Tijolinho por tijolinho, com pensamentos positivos. Agora estou com raiva também de mim, por reagir com aquela violência de desejo, sentimentos. Aquilo tinha tudo para dar errado. Se eu for adiante, entrarei num caminho sem volta.Rashid é tão imprevisível, bipolar, ele não é um homem qualquer. Não consigo acreditar em seus sentimentos.Acabou. Por mais que eu sangre por dentro e saiba que passarei o inferno longe dele. Esses pensamentos me assolam e eu choro por isso, choro por desistir, choro por agora não saber se é a coisa certa a fazer.Quando Helena chegou eu já estava melhor. Ela perguntou do
Rashid Dois dias depois que vi Khadija... meu amor, habibi... Emocionado atravesso o quarto e vou até a varanda. Há uma boa visão do jardim e do canteiro. O sol está bem quente em meus ombros enquanto eu me inclino sobre o parapeito e respiro fundo. — Vossa majestade não disse nada se gostou do quarto. Eu enxugo as lágrimas, e entro no quarto novamente. Encaro a decoradora que espera minha resposta. —Gostei muito. —O fizemos em tempo recorde. Se tivéssemos um pouco mais de tempo... —Não! Assim está ótimo. Contratei Elaine por ser muito discreta. O quarto de bebê é uma surpresa para Khadija, juntamente com a minha proposta de casamento. Na biblioteca fiz um cheque gordo e a conduzi para a saída. Fechei a porta. Zilá surge na sala. Suas mãos apertam uma na outra, mostrando seu nervosismo. —Khadija está grávida. É isso que quer saber? Seus olhos se enchem de lágrimas. Ela ergue as mãos para o céu. —Allah! Mas isso é uma notícia maravilhosa. Eu me sento no sofá e a encaro co
Dia seguinte, oito horas da manhã, casa de Helena...KhadijaEu envolvo a xícara de porcelana com os dedos para sentir seu calor. Helena e eu estamos na cozinha tomando chocolate quente.—Essa casa agora tem perfume de rosas.Eu fungo.—Ele está tentando amolecer meu coração.Os cartões agora estão cheios de declarações de carinho e amor. “Rosas para uma mulher especial, com amor Rashid”. “Te amo, Rashid” E não com alguma palavra que me agradasse e depois as falas: “preciso de seu serviço, esteja pronta essa noite. ”—E tem conseguido?—Não sei. Ele ainda me assusta, e muito. Tenho medo de me machucar. Desculpe-me por ontem. As flores tumultuaram as coisas para você.—Imagina, deu tudo certo. Ele de certa forma entendeu. —Ela riu. —Roger precisa confiar em mim. Mas sabe que gostei do ciúme dele? Isso prova que ele me ama. Ele só não gostou de saber que Rashid te descobriu.—Homem conhece outro homem. Sabe que tenho medo que ele esteja certo?—Nada disso! Não pensa assim. Dê uma chance
RashidSou engolfado pela dor, meu pesadelo se torna realidade, o desespero está a ponto de me envolver com o medo de perdê-la e isso está a ponto de me derrubar, mas uma força parece ganhar terreno em meu interior, a força do amor.Eu avanço em sua direção e a envolvo em meus braços. Ela grita, depois luta. Mas eu a seguro firme enquanto ela se mexe, tentando sair do meu abraço. Fico assim, até ela parar de lutar.Quando ela para, cheiro seus cabelos e começo a arder de desejo, saudade e paixão. Beijo seus cabelos. —Eu não vou desistir de você, Khadija. —Digo emocionado.—Me solta ...eu estava tão bem até você aparecer. —Ela diz erguendo a cabeça e olhando no fundo dos meus olhos.—Eu quero você. Sou louco por você.... —Aproximo o rosto, esfrego meus lábios nos dela, emocionado. —Você não sabe o que é o amor. Se soubesse....Enfio os meus dedos em seus cabelos e a beijo na boca. Ela se assusta e empurra meu peito. Mas eu a mantenho firme e enfio a língua em sua boca, gemendo rouco,
Dez dias depois do meu último encontro com Rashid...Sábado, hora do almoço...KhadijaEstamos todos acomodados em torno da mesa na sala de jantar comendo macarronada que Helena fez. Eu, Roger, Helena e Anna de cinco anos, sobrinha dela e que veio visitá-la.O molho à bolonhesa dela é divino. Tento fazer igual, mas não consigo. Comemos todos num clima gostoso. Anna é uma gracinha. Estou feliz que terei menino, mas vejo que se tivesse uma menina, estaria muito feliz também.Quando finalizamos o almoço eu ajudo Helena com a louça. Depois nos juntamos a Anna e Roger na sala. Anna está sentada no tapete desenhando e Roger assistindo o noticiário. Helena se acomoda ao lado dele. Ele a abraça.—Barak não te procurou mais, mesmo? —Roger questiona.Eu encaro Roger.—Não. Ele está me dando um tempo para me decidir por nós. E o que você resolveu?Eu sinto meu coração se agitar no peito.—A verdade é que eu não entendi esse tempo que ele me deu, embora ele tenha me ligado e perguntado como eu es