As eleições para cargos do executivo e legislativo em nível de estado e nacional estavam chegando. Ambicioso sempre por querer ir além, Mário, apesar de estar muito desgastado enquanto prefeito da capital teresinense queria se candidatar a governador do estado. E para isso, não ia medir esforços, tampouco dinheiro. Estava investindo pesado em marketing, pagando caro para veicular propaganda na televisão mentindo sobre sua gestão, que, na verdade, ia de mal a pior. Salário dos servidores atrasados propositalmente, desvio e notas frias na contratação de empreitaras para construção de obras, funcionários fantasmas... Os desmontes feitos na gestão de Mário chegavam a números astronômicos. Estava muito rico. Comprara helicóptero, iate de última geração, carros de luxo e o prédio que morava com sua família, agora pertenciam totalmente a ele, com 50 grandes apartamentos. Mário também enriqueceu Levy. Deu a ele um aumento de 50 mil por mês, comprou carro importado e um duplex no Jockey, perto de onde moravam.
– Você deu tudo isso a ele? – indagou Rita sem acreditar. – Você é louco! Se for cassado, vai ser preso sozinho.
– Você vai junto, e vai limpar o banheiro do presídio. – debochou Mário de Rita.
– Coitado! – desdenhou Rita. – E outra, duvido você se eleger governador. Está queimadíssimo com o povão. Só os ricos te veneram, mas eles são minoria.
– Vou me eleger sim senhora, e se duvidar ainda me elejo presidente dessa porra! Quer apostar? – provocou Mário.
– Meu amorzinho, você só ganhou para prefeito porque as pessoas pensam que você é o seu falecido irmãozinho amado.
– Até que ser ele não é tão chato quanto pensei que fosse. – disse Mário.
– Não, claro que não! Você agora enrabando o viado, né? Se duvidar, deve estar dando também. Essa não é modinha das gays? Ser versátil. – ironizou Rita, dando uma gaitada alta e estridente.
Mário ficou profundamente irritado com a forma que Rita falou, debochando dele. Pegou no braço dela, com força e a jogou violentamente na poltrona.
– Olha, primeiramente, não sou gay. Cuidado com o que fala. Pode terminar igual meu irmão! – sussurrou num tom sinistro contra Rita.
– Está me ameaçando? Não tenho medo, tenho provas que te deixariam preso por 100 anos.
– Manda a ver! – e saiu deixando Rita irada no gabinete.
***
O relacionamento entre Rita e Mário estava se tornando cada vez mais frio e fake. Em tão pouco tempo ele foi capaz de perceber que nunca a amou. Era só sexo e nem isso ela o satisfazia mais. Ele estava preferindo transar apenas com Levy, e deixou bem claro para Rita esse detalhe. Naquela noite tenebrosa de julho Mário assumiu para Rita que estava apaixonado por Levy. Ela, obviamente, surtou. Jamais aceitaria ser trocada por outro homem.
– Até pouco tempo você disse que era parte do plano ficar com esse viadinho de meia tigela, não foi? – disse Rita chorando ao telefone. – Que era apenas para seguir o plano... Mas eu sabia, eu sabia que você ia gostar. Deu no que deu! Você virou viado!
– Rita, se acalme, não virei nada. Aconteceu. – respondeu Mário calmamente. – Essa é minha primeira experiência com homem. E está sendo ótimo!
Rita não esperou Mário continuar e desligou na cara dele.
Ficou pensativa, sentada e chorando na sua poltrona de couro de pantera, no apartamento que comprara na zona sul, levantou-se silenciosamente, ligou para seu vizinho assassino de aluguel e transaram a noite toda.
– Quero que você faça um servicinho básico. – pediu Rita ao vizinho que matara Enzo, após terem transado no seu apartamento. – Mate os dois. – e mostrou uma foto de Mário com Levy no seu celular.
– Pode considera-los mortos. – garantiu o homem.
Na noite do dia seguinte, Mário estava acompanhado de Levy num evento sobre o lançamento de sua campanha para governador. Ia discursar publicamente para a sociedade teresinense no salão de festas do Metropolitan Hotel, quando deu de cara com sua ex namorada e vice prefeita. – Olá, prefeito. – falou Rita secamente sem cumprimentar Levy. – Feliz ao lado do namoradinho? A vontade de Mário foi de dá um tapa na cara de Rita, porém, não o fez. O estrago já estava feito. – A brincadeira da senhora é de muito mau gosto. – disse Levy furiosamente. – E se fôssemos namorados, qual o problema? – Ent&
Mesmo indo a todos os meios de comunicação possível desmentir o que Rita havia falado na noite anterior, o estrago estrava feito e, aos olhos de Levy e do próprio Mário, era irreversível. – Já era. Aquela desgraçada acabou com minha candidatura e com minha carreira política. Maldita! – Mário esbravejou no seu gabinete, na presença de todos os secretários, de seus pais e de Levy. – O que eu fizer agora só vai me queimar ainda mais. – Verdade. Mas veja pelo lado bom, use sua homossexualidade para se promover! – disse em tom calmo a secretária de políticas LGBT da cidade. – Hoje em dia está em alta comoçã
Mário e Levy saíram do rio cambaleando e fracos. Andaram alguns quilômetros dentro de uma roça, até cruzarem uma cerca de arame farpado, no qual ficaram bem arranhados, e, posteriormente, encontraram a rodovia depois de algum tempo de exaustiva caminhada. Vários carros e caminhões passavam e os ignoravam. Estavam sujos, sangrando, farrapilhas e com fome. Levy deu com a mão para uma Scania que passava no sentido oposto e, inesperadamente, o caminhoneiro parou. Ia para Picos, a terra natal dele. – Com licença, o senhor pode nos dar uma carona? – perguntou Levy gentilmente. – Estamos perdidos. – Claro, entrem ai. – respondeu o senhor que dirigia aquele enorme caminhã
Desde 2010, venho tentando, sem muito sucesso, passar num concurso público na minha área. Sou graduado em matemática pela UFPI, especialista em análises de dados e, agora, fui aprovado no mestrado em matemática aplicada. E então, o sonho do concurso não demorou muito para ser realizado. Passar 14 horas a fio, estudando dia e noite, foi compensador. Meu nome é Alexandre Ferreira, mas podem me chamar de Alex. Hoje estou com 35 anos, parte deles pouco vividos. A vida só ganha sentido depois dos 30, já dizia minha saudosa avó. Quando soube que fui aprovado em terceiro lugar para professor efetivo do Estado do Piauí, fiquei tão feliz, que nem me toquei que a posse seria dali a uma semana, então fui logo providenciar toda a documenta&cc
A viagem dos dois estava ótima. Levy e Enzo nunca imaginaram que poderia ser possível desfrutar de um romance no mundo moderno. Conheceram-se através de um app de pegação gay, o Grindr. Depois de dois dias de conversas intensas, foram para o WhatsApp até que, uma semana depois, se encontraram pessoalmente na praça da Bandeira, centro de Teresina, Piauí, onde moravam, por volta das 10h da manhã de sábado acinzentado. Claro que encontros exigem omitir quem realmente somos, ou nada dá certo. Levy era um rapaz de classe média baixa, que estava iniciando mestrado em Direito Trabalhista. Além de muito inteligente, era lindo fisicamente, tinha corpo atlético resultante de muita malhação na adolescência, pele moreno claro e cabelos curtos estilo undercut. Usava um cavan
– Isso parece um sonho! – riu timidamente Levy dirigindo o Corolla. – Há duas semanas estávamos nos conhecendo pelo Grindr e hoje estamos curtindo nossa primeira viagem juntos, como namorados. – Pegou na coxa de Enzo e apertou-a levemente. – Você é maravilhoso, cara. Não sei se mereço tanto. – Ah, cara, menos. – sorriu Enzo, dando umas tapinhas no peitoral de Levy. – Você demonstrou ser diferente dos outros, eu gostei e hoje estamos aqui... Quero que você esteja comigo sempre. – Hum... Então está me pedindo em casamento? – olhou desconfiado na direção de Enzo. – E se for?
Mário chegou a casa quase amanhecendo. Estava exausto. Não estava com um mínimo de remorso por ter se livrado do corpo do irmão e participado do assassinato dele. O celular de Enzo tocava insistentemente dentro da bolsa. Ele pegou e atendeu. Era Levy. – Bom dia, senhor prefeito. Dormiu bem? – falou Levy carregado de carinho na voz. Mário entrou em choque ao confirmar suas suspeitas. Mas não podia jogar por água abaixo seus planos. Entrou no clima. – Bom dia. Dormi sim, e você? – respondeu ele. – Também. Precisamos comemorar a vitória com mais tempo que ontem, não acha? – perguntou Levy.