IV

             As eleições para cargos do executivo e legislativo em nível de estado e nacional estavam chegando. Ambicioso sempre por querer ir além, Mário, apesar de estar muito desgastado enquanto prefeito da capital teresinense queria se candidatar a governador do estado. E para isso, não ia medir esforços, tampouco dinheiro. Estava investindo pesado em marketing, pagando caro para veicular propaganda na televisão mentindo sobre sua gestão, que, na verdade, ia de mal a pior. Salário dos servidores atrasados propositalmente, desvio e notas frias na contratação de empreitaras para construção de obras, funcionários fantasmas... Os desmontes feitos na gestão de Mário chegavam a números astronômicos. Estava muito rico. Comprara helicóptero, iate de última geração, carros de luxo e o prédio que morava com sua família, agora pertenciam totalmente a ele, com 50 grandes apartamentos. Mário também enriqueceu Levy. Deu a ele um aumento de 50 mil por mês, comprou carro importado e um duplex no Jockey, perto de onde moravam.

             – Você deu tudo isso a ele? – indagou Rita sem acreditar. – Você é louco! Se for cassado, vai ser preso sozinho.

             – Você vai junto, e vai limpar o banheiro do presídio. – debochou Mário de Rita.

            – Coitado! – desdenhou Rita. – E outra, duvido você se eleger governador. Está queimadíssimo com o povão. Só os ricos te veneram, mas eles são minoria.

            – Vou me eleger sim senhora, e se duvidar ainda me elejo presidente dessa porra! Quer apostar? – provocou Mário.

           – Meu amorzinho, você só ganhou para prefeito porque as pessoas pensam que você é o seu falecido irmãozinho amado.

          – Até que ser ele não é tão chato quanto pensei que fosse. – disse Mário.

         – Não, claro que não! Você agora enrabando o viado, né? Se duvidar, deve estar dando também. Essa não é modinha das gays? Ser versátil. – ironizou Rita, dando uma gaitada alta e estridente.

            Mário ficou profundamente irritado com a forma que Rita falou, debochando dele. Pegou no braço dela, com força e a jogou violentamente na poltrona.

            – Olha, primeiramente, não sou gay. Cuidado com o que fala. Pode terminar igual meu irmão! – sussurrou num tom sinistro contra Rita.

           – Está me ameaçando? Não tenho medo, tenho provas que te deixariam preso por 100 anos.

          – Manda a ver! – e saiu deixando Rita irada no gabinete.

***

             O relacionamento entre Rita e Mário estava se tornando cada vez mais frio e fake. Em tão pouco tempo ele foi capaz de perceber que nunca a amou. Era só sexo e nem isso ela o satisfazia mais. Ele estava preferindo transar apenas com Levy, e deixou bem claro para Rita esse detalhe. Naquela noite tenebrosa de julho Mário assumiu para Rita que estava apaixonado por Levy. Ela, obviamente, surtou. Jamais aceitaria ser trocada por outro homem.

            – Até pouco tempo você disse que era parte do plano ficar com esse viadinho de meia tigela, não foi? – disse Rita chorando ao telefone. – Que era apenas para seguir o plano... Mas eu sabia, eu sabia que você ia gostar. Deu no que deu! Você virou viado!

            – Rita, se acalme, não virei nada. Aconteceu. – respondeu Mário calmamente. – Essa é minha primeira experiência com homem. E está sendo ótimo!

               Rita não esperou Mário continuar e desligou na cara dele.

              Ficou pensativa, sentada e chorando na sua poltrona de couro de pantera, no apartamento que comprara na zona sul, levantou-se silenciosamente, ligou para seu vizinho assassino de aluguel e transaram a noite toda.

           – Quero que você faça um servicinho básico. – pediu Rita ao vizinho que matara Enzo, após terem transado no seu apartamento. – Mate os dois. – e mostrou uma foto de Mário com Levy no seu celular.

           – Pode considera-los mortos. – garantiu o homem.

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