Elisa estava com o pulso ensanguentado, o sangue escorrendo sem parar. Sendo a caçula da família, sempre fora mimada por todos. Cresceu cercada de mimos, nunca tinha passado por uma situação dessas. E se realmente tivesse contraído AIDS? Seria o fim dela. Nem namorado ela tinha tido ainda, morrer assim seria uma injustiça terrível.Elisa estava desolada, quase sem esperança. Tentando ignorar a dor, pediu:— Carlos, por favor, não conte nada disso para a Camila. Prometi a ela que não faria nenhuma loucura, e se ela souber, vai se culpar. Ela já está machucada, acabou de perder o bebê, não quero que ela se preocupe mais por minha causa.Carlos assentiu, sério:— Pode deixar, eu não vou contar.— E também não fale para o meu irmão, nem para a minha mãe. Nem para os meus avós. Eles não aguentariam um susto desses.— Fique tranquila, eu não vou falar. Mas seu pai estava lá na hora, pode ser que ele acabe contando.Elisa revirou os olhos:— Ele não tem coragem de abrir a boca. Se a minha avó
Camila levantou a mão e a colocou sobre a de Lucas. A mão dele estava fria como gelo. Camila apertou a mão dele por um momento, mas logo a retirou, temendo que, se continuasse a segurar, sua suavidade a fizesse fraquejar.Ouviu Lucas sussurrar:— A Chloe também sofreu um acidente. Está na sala de cirurgia, em coma. Já mandei investigarem o Nelson, estão reunindo provas. Logo, muito em breve, ele vai pagar pelo que fez.Camila soltou uma risada amarga:— Quando é que essa troca de vinganças vai acabar?Ela levantou a mão e tocou sua barriga gelada:— Não importa o quanto nos vingamos, meu filho não vai voltar.Raquel também não sobreviveria. Aquela união já estava além do ponto de retorno, e a cada dia, parecia que mais vidas se perderiam.Chloe havia sofrido um acidente, e Daulo não ficaria de braços cruzados. A vingança nunca tinha fim. Sempre alguém se machucava. Sempre havia uma morte.Lucas olhou para ela com os olhos profundos, fixos:— E você, seria capaz de me deixar?Camila des
— Alguma coisa? — Perguntou Camila.Enzo lançou um olhar frio para Camila e respondeu:— Sim.Enzo abriu a pasta que trazia consigo e tirou um talão de cheques. Com um ar de superioridade, pegou a caneta, assinou rapidamente uma folha e jogou o cheque sobre a colcha de Camila:— Aqui estão cinquenta milhões. Pegue e vá embora de uma vez por todas, deixe o Lucas em paz. Somando com o que ele já te deu, isso passa de duzentos milhões. Muita gente não ganha isso nem em dez vidas. Espero que você seja esperta e saiba aceitar a realidade. Pare de ser teimosa.Camila abaixou os olhos e olhou para o cheque, soltando uma risada amarga. Se não fosse ele manipulando as coisas e dando falsas esperanças para a Chloe, elas jamais teriam chegado a esse ponto, até ao extremo de tentar tirar sua vida. Camila passou a mão sobre o ventre que ainda latejava de dor. Enzo era o responsável indireto pela morte de seu filho e pela morte de Raquel. E agora, ele tinha a audácia de tentar comprá-la com dinhei
Enzo deu uma risada sarcástica:— Aquela garota é assim porque você mimou demais. Se não fosse por isso, ela jamais teria a ousadia de me pedir um bilhão.Enzo se arrependia mais a cada segundo que passava. Como é que ele pôde concordar tão facilmente? Um bilhão não eram trocados. Ele deveria ter negociado o valor.Lucas respondeu com um tom tranquilo:— Meu avô, minha avó, minha mãe, Elisa, até o avô da Chloe... Todos adoram a Camila. Você é o único que não. Talvez, Sr. Enzo, fosse bom refletir um pouco antes de questionar os outros.Enzo, conhecido por ser teimoso e inflexível, não deu ouvidos àquelas palavras. Com raiva, ele encerrou a ligação. O orgulho de ter entregado um bilhão já o deixava amargurado, e agora ainda tinha que lidar com as críticas do próprio filho.Molhado dos pés à cabeça, Enzo estava desconfortável. Ele passou a mão pelos cabelos úmidos e sentiu um cheiro estranho nos dedos. Aproximou a mão do nariz e percebeu um aroma azedo e rançoso.A água que Maria jogou ne
Camila respirou fundo e disse:— Somos todos adultos aqui, Lucas. Vamos terminar isso de uma vez, sem dramas. Prolongar essa história não faz o seu estilo.Lucas manteve o rosto impassível:— Eu não estou te pressionando, só quero te compensar da melhor forma possível.Para Camila, porém, isso só trazia um peso enorme. Quando Enzo lhe entregou dez bilhões, o olhar dele já transparecia ameaças veladas. Se ela aceitasse as propriedades, contas bancárias e ações que Lucas estava oferecendo, tudo isso só atrairia mais perigo. Teria dinheiro, mas perderia a paz — e talvez a própria vida.Camila estendeu a mão e, com um gesto suave, acariciou o queixo bem definido dele:— Ouça, meu querido, não faça isso. Eu não vou aceitar seu patrimônio. Um bilhão que seu pai me deu já são mais que suficientes.Lucas segurou a mão dela, levou-a até os lábios e beijou-a, não apenas uma, mas duas vezes, como se quisesse prolongar aquele momento.Naquela noite, Lucas não foi embora. Ficou ao lado de Camila en
Lucas empurrava a cadeira de rodas até o carro. Ao chegar, ele se abaixou para pegá-la no colo, mas Camila simplesmente se levantou da cadeira, deu um passo à frente e entrou sozinha no veículo. Tirou o chapéu e o cachecol. Estava calor demais, a ponto de suar.Quando Lucas entrou e se acomodou ao lado dela, Camila disse sem rodeios:— Vamos direto para o cartório, assim não precisamos agendar outro dia. Evita complicações.— Você acabou de sair do hospital, melhor esperar um pouco. — Respondeu Lucas, com um tom de voz evasivo.Camila insistiu, encarando a situação com firmeza:— Separar hoje ou amanhã, dá no mesmo. Quanto mais cedo, melhor.— Se nos divorciarmos, vovô e vovó vão ficar muito tristes.Ela manteve a serenidade:— Eles já viveram quase setenta anos, enfrentaram tempestades bem piores que essa. Vão entender.Lucas hesitou por um momento:— Minha mãe e a Elisa também ficarão magoadas.— Sua mãe também está pensando em se divorciar, ela vai me entender. E, quanto à Elisa, co
Camila deu um leve empurrão no braço dele:— Fala alguma coisa.Lucas soltou um "hum" quase inaudível, com uma clara falta de interesse. Camila pegou o acordo de divórcio, que estava em três vias. Sem hesitar, ela tomou a caneta e assinou rapidamente nos espaços indicados. No final da página, havia uma linha onde precisava copiar uma frase padrão: [Eu, de livre e espontânea vontade, aceito o divórcio.]Camila escreveu a frase com a mesma rapidez. Quando terminou, notou que Lucas ainda estava parado, como se estivesse congelado. Com um tom suave, estendeu a caneta para ele:— Assina logo.Lucas olhou para a caneta, mas não a pegou. A facilidade com que ela assinara o documento o incomodou.— Vou fazer uma ligação. — Disse Lucas, desviando o olhar.Pegou o celular e caminhou até a janela, discando um número. Dois minutos depois, ele desligou. Em seguida, procurou por uma notícia no celular e mostrou para Camila:— O Nelson acabou de ser preso por corrupção.Camila deu uma olhada rápida
— Fica com a Mansão Floresta. Pode se mudar para lá com sua mãe quando quiser. — Disse Lucas, num tom que tentava soar despreocupado.Camila balançou a cabeça:— Não, obrigada. Quero cortar todos os laços com o passado e começar do zero.Os dedos de Lucas se apertaram em torno da xícara:— Esse passado inclui a mim também?Camila assentiu:— Inclui.Lucas sentiu como se o ar lhe faltasse. Uma sensação de sufocamento tomou conta dele. Inspirou fundo antes de falar:— Lembra-se de quando nos conhecemos aqui, há três anos?Camila fez que sim com a cabeça:— Lembro, sim.Lucas fixou o olhar nas mãos pálidas dela:— Naquele dia estava um frio de rachar. Você veio me ver e suas mãos estavam tão geladas que ficaram vermelhas. Fiquei com o coração apertado de te ver assim.Camila abaixou os cílios, escondendo os pensamentos que dançavam em sua mente: “Naquela época, você estava numa cadeira de rodas. Tão bonito, mas com um olhar tão triste... Meu coração também doeu por você.” Mas ela não diss