Camila ficou ligeiramente surpresa:— O que foi?Afonso apertou a ponta da camisa com os dedos, visivelmente perturbado:— No dia do meu aniversário, a Chloe, num daqueles seus ataques de birra, te empurrou na água. Naquela época, você já devia estar grávida. Graças a Deus que o Pedro e o Lucas chegaram a tempo. Se não fossem eles... Nem quero imaginar o que poderia ter acontecido.Afonso soltou um suspiro pesado, o medo visível em seu rosto.As palavras de Afonso fizeram Lucas começar a se sentir culpado também. Ele se lembrou do dia em que insistiu para que ela fosse com ele ao hotel aprender a nadar, achando que era apenas um susto passageiro.Camila, que deveria ser a frágil futura mãe, acabou tendo que consolar aqueles dois homens, um velho e um jovem, para tranquilizá-los. Levou algum tempo, mas ela conseguiu.Lucas saiu para o trabalho.Afonso se virou para Camila e disse:— Já que você está grávida, é melhor evitar mexer com cerâmicas antigas. Deixe isso pra lá e pegue algum tr
Uma semana depois, na casa da família Rodrigues.O sol dourado da manhã entrava pela janela.Afonso estava sentado na espaçosa e elegante sala de jantar, tomando café da manhã com Kira. Seu gosto para o café era, digamos, peculiar. Ele adorava um bom cuscuz nordestino, cheio de manteiga, queijo e linguiça. Comia com tanto prazer que o aroma enchia o ambiente.Afonso já tinha devorado dois cuscuz nordestinos, mas, de repente, o sabor parecia mais gorduroso do que de costume. Ele resmungou, irritado:— O café da manhã ainda é daquela padaria? Parece com um gosto estranho hoje.— Sim, da mesma. — Respondeu Kira, empurrando uma xícara de chá avermelhado na direção dele. — Já te falei quantas vezes? Você já passou da idade pra tanta gordura. Aqui, toma um chá de frutas pra tirar esse gosto.Afonso pegou a xícara e deu um gole. Era um sabor azedinho e doce, com um aroma delicioso, e ele até gostou.— Que chá é esse? Muito gostoso! — Perguntou Afonso curioso.Kira sorriu e, bebendo seu própri
Uma dor aguda se espalhava das costas até a cintura. Camila se esforçou para ignorar o desconforto, levantou-se e foi ao banheiro. Ao abaixar a calça, viu manchas vermelhas escuras, finas e dispersas como fios de cabelo. Sentiu o coração disparar e seu rosto empalideceu no mesmo instante. Aquilo era um sinal de aborto! Com o corpo trêmulo, ela puxou a calça de volta, saiu do banheiro e correu até a cama, onde sacudiu o braço de Lucas:— Acorda, Lucas, por favor, acorda!Sua voz tremia, refletindo o medo crescente que dominava sua mente. O pavor de perder seu bebê, como já havia perdido Pedro, seus avós... uma angústia profunda. Com dez anos, a morte de Pedro havia deixado uma marca irreparável em seu coração. Até hoje, as memórias dolorosas assombravam seus sonhos, incapazes de cicatrizar. A partida dos avós só agravou a ferida. Enfrentar mais uma perda era algo que ela não sabia se poderia suportar.— Lucas, eu estou sangrando! — Disse Camila, apertando o braço dele com força.Seus de
Lucas ligou no meio da noite. Afonso já estava em sono profundo. Kira, por outro lado, ainda não tinha conseguido dormir; virava de um lado para o outro, inquieta. Quando ouviu o zumbido do celular no silêncio, tomou um susto.O celular de Afonso estava carregando em cima do móvel da sala. Ela levantou-se rapidamente, vestiu um casaco e foi até o telefone. No visor, apareceu o nome: Lucas.Ao ver aquilo, foi como se tivesse tocado em ferro quente; deixou o celular cair no chão. O aparelho bateu no assoalho de madeira, sem danos, e continuou a tocar.Kira rapidamente o pegou do chão, indecisa se deveria desligar ou ignorar a chamada. Desligá-lo parecia atitude suspeita, e deixá-lo tocando, irresponsável. Após hesitar por alguns segundos, decidiu atender.A voz fria de Lucas atravessou o telefone:— Mestre Afonso, o que aconteceu com Camila hoje no Pavilhão Antiga?Kira fez uma pausa, organizando as palavras com cuidado. Respondeu suavemente:— Ah, Lucas! Afonso já está dormindo há horas
A coincidência era um pouco demais. Parecia cronometrado, como se alguém quisesse destruir provas.O assistente sentiu uma desconfiança crescer. Ele perguntou ao funcionário da loja:— Os monitores de vocês costumam quebrar?O rapaz balançou a cabeça:— Raramente. Teve um problema na primavera do ano retrasado, mas depois que consertaram, nunca mais deu defeito.O assistente ligou para Lucas e relatou o que estava acontecendo.Lucas soltou uma risada fria. A princípio, ele suspeitava que alguém estivesse tentando prejudicar Camila. Agora, essa certeza se consolidava: alguém queria fazer mal a ela. Quebrar os monitores provavelmente era para apagar as provas. Lucas disse com uma voz fria:— Chame a polícia agora mesmo. Exijo que tudo seja investigado a fundo e o mais rápido possível.— Certo, vou ligar já.Lucas murmurou uma resposta e desligou o telefone.O assistente olhou para Afonso e disse:— Mestre Afonso, o Sr. Lucas pediu para chamar a polícia. Tudo bem para o senhor?Afonso, v
— Está bem, eu prometo a você. — Respondeu Lucas e seus olhos profundos de Lucas fixaram-se em Camila com uma calma intensa.Com firmeza e um toque de ternura, Lucas disse:— Seja forte, você precisa aguentar.Camila segurou firme na lateral da mesa de exames, mordendo o lábio enquanto assentia levemente. Sua fragilidade contrastava com a coragem que tentava demonstrar, deixando Lucas ainda mais comovido. Ele a encarou por um longo instante, como se depositasse todas as esperanças nela. Logo depois, respirou fundo e saiu, receoso de que, se ficasse mais um minuto ali, não teria coragem de deixá-la.Do lado de fora, após remover a vestimenta de isolamento, Lucas ligou para o assistente:— A polícia já tem previsão de quando terá resultados?O assistente olhou o relógio, depois lançou um olhar rápido aos policiais trabalhando no local:— Ainda precisamos que os funcionários da loja compareçam para verificar as impressões digitais e as pegadas. Além disso, o copo usado pela senhora precis
A monitoria estava destruída. O lixo, despejado. Aqueles restos de chá de frutas eram a única pista importante para resolver o caso.Edgar colocou uma máscara e luvas e começou a vasculhar o lixo. Os outros, segurando o fedor do lixo, procuravam apressadamente. Por fim, antes de o caminhão de lixo passar, encontraram o saco com os restos de chá.Para sorte deles, havia poucas coisas dentro. Além de papéis velhos, só uma pilha de resíduos vermelhos e roxos do chá.Edgar separou o papel e entregou o chá ao colega:— Leve para o laboratório e garanta que o resultado esteja pronto antes do meio-dia.— Certo. — Respondeu o colega.No caminho de volta à loja, Afonso contou todos os detalhes sobre o chá de frutas, sem omitir nada. Edgar anotou tudo e esperaria os resultados dos exames para organizar os próximos passos da investigação. Como a situação era grave, o Pavilhão Antiga ficaria interditado por alguns dias, até que o caso fosse esclarecido, para só então reabrir normalmente.Depois qu
No hospital, com o amanhecer, Camila já havia saído do perigo. Estava deitada no quarto, recebendo medicamentos para segurar a gravidez por via intravenosa.Devido ao efeito da medicação, seu coração batia acelerado, e a respiração estava mais rápida, quase lhe faltando o ar. Para não preocupar Lucas, ela se esforçava para manter-se calma, deitada em silêncio.Precisaria permanecer no hospital, recebendo o medicamento até que os exames mostrassem resultados favoráveis e pudesse ter alta. Mas, pelo menos, o maior perigo já tinha passado. Ambos soltaram um suspiro de alívio, especialmente Lucas. O bebê estava salvo. E sua Camila também.Sentindo fome, Camila pediu canja. Lucas logo enviou alguém para buscar. Quando a canja chegou, ele provou primeiro, certificando-se de que não havia veneno, antes de pegar a colher e alimentá-la.— Eu mesma posso. — Disse Camila, tentando se erguer e pegar a tigela.Ela nunca foi do tipo que esperava ser servida. Desde pequena, estava acostumada a enfren