Camila havia captado a essência da técnica, e suas pinturas estavam quase à altura das obras originais de Theodor. Quando era pequena, seu avô costumava pegar camarões no pequeno lago em frente de casa e colocá-los em um tanque para que ela os observasse repetidamente, com o objetivo de que os desenhasse com vida.Lucas, por sua vez, trouxe uma caixa de ginseng coreano para Afonso. Era algo extremamente raro, difícil de encontrar, não importava o quanto se estivesse disposto a pagar.Ninguém sabia ao certo como ele tinha conseguido.Afonso ficou maravilhado com as cópias de Camila, elogiando sem parar. Já o ginseng caro que Lucas lhe deu, ele nem ao menos olhou.Quando recebia uma visita, Afonso logo puxava a pessoa e dizia:— Veja só, foi minha aluna quem pintou esses camarões. Olha como parecem vivos, não é?No início, os convidados olhavam apenas por educação. Mas, ao dar uma olhada, seus olhos ganhavam um brilho diferente. Não resistiam a um segundo olhar, e logo vinham os elogios:
Era o aniversário de Afonso, e a casa estava cheia de convidados. Camila, para evitar confusão com Chloe, disse:— Mestre, pode deixar que eu vou dar uma volta lá fora.Afonso sabia que as duas não se davam muito bem e não insistiu. Com um tom gentil, disse:— Tudo bem, vá dar uma volta pelo jardim, mas não se afaste muito. Daqui a pouco vamos começar o almoço, então volte para comer.Camila sentiu uma pontada de emoção. Embora não houvesse laços de sangue entre eles, Afonso a tratava com um carinho que a fazia lembrar de seu próprio avô.Com o nariz um pouco apertado pela emoção, Camila respondeu:— Certo, mestre.Camila procurou Lucas entre as pessoas e o viu sentado no canto sudoeste da sala com Carlos, conversando sobre negócios. Sem querer interrompê-los, ela decidiu sair sozinha.A casa onde Afonso morava era como um pequeno castelo de estilo europeu. O jardim tinha gramados, canteiros e um pequeno pavilhão de descanso, tudo decorado de forma simples, mas muito elegante. Ao lado
O jardim estava vazio. O desespero tomava conta do lugar, com as cabeças de Chloe e Camila quase submersas.Afonso, preocupado, correu o mais rápido que pôde. Pobrezinho, com mais de oitenta anos de idade, ainda tinha que lidar com as travessuras de Chloe e, agora, se via forçado a pular na água para salvar as duas.Nem teve tempo de tirar os sapatos antes de mergulhar no lago. Com uma mão, agarrou Chloe, e com a outra, Camila, tentando arrastá-las até a margem.No entanto, a idade pesava. Ele se esforçava muito e quase nem conseguia se salvar, engolindo várias bocadas de água suja.Camila, por sua vez, lutava para tentar ajudar Afonso, mas Chloe segurava seu braço com tanta força que ela não conseguia se soltar.Chloe, tomada por uma teimosia implacável, parecia determinada a vencer a qualquer custo.No momento mais crítico, duas figuras altas e esguias pularam na água, uma atrás da outra. A primeira era Pedro; a segunda, Lucas.Pedro, sem pensar duas vezes, nadou direto até Camila e
Um terrível pressentimento tomou conta de Chloe. Ela chorava ainda mais, desesperada:— Vô, sua mão está tão fria... Vô, por favor, você tem que acordar!Ela começou a dar tapinhas no rosto dele, na tentativa de fazê-lo despertar. Pedro, impaciente com tanto choro, franziu a testa e a repreendeu:— Se quer chorar, vá fazer isso em outro lugar. Não me atrapalhe enquanto tento salvá-lo!Com sua expressão naturalmente severa, Pedro parecia ainda mais assustador quando ficava irritado.Chloe, assustada, parou de chorar imediatamente. Limpou os olhos com as costas das mãos e, soluçando, levantou-se. Instintivamente, tentou pegar o celular no bolso para chamar uma ambulância.Revirou os bolsos, mas não encontrou o celular. Por um momento, pensou que havia perdido o celular na água, mas logo lembrou que ele estava descarregado e deixado no quarto carregando. Ela saiu com tanta pressa atrás de Camila que esqueceu de pegá-lo. Sem outra opção, correu em direção à casa para buscar o celular.Assi
Chloe estava completamente desorientada. Nem se deu ao trabalho de trocar de roupa antes de correr para a sala, onde agarrou a mão de Ana e a puxou para fora sem dizer uma palavra. Levou-a para o jardim de uma vez só.— O que você está fazendo? Por que essa correria? — Ana perguntou, irritada, enquanto Chloe chorava copiosamente.— Mãe, o vovô... o vovô está em apuros! — Chloe soluçava, lágrimas caindo sem parar.Ana franziu a testa, claramente incomodada:— O que aconteceu? Fala direito! Hoje é o aniversário do seu avô, e você choramingando desse jeito? Que vergonha!Chloe, entre soluços, explicou:— Foi lá no lago. Eu queria testar o vovô, ver quem ele gosta mais, eu ou a Camila. Aí empurrei a Camila na água e chamei o vovô para ver quem ele salvaria. Só que ele tentou salvar as duas ao mesmo tempo e... não conseguiu. Ele se afogou. Eu estava sem celular, então vim correndo procurar um para chamar a ambulância. Mas aí o Pedro me ligou e disse que não precisava mais chamar...— O quê?
Lucas havia mandado as roupas para Pedro como uma forma de retribuir por ele ter salvado Camila da última vez, no Bairro Alto. Lucas não gostava de ficar devendo favores.De volta ao quarto, Lucas se sentou ao lado de Camila e a puxou para um abraço silencioso.Camila percebeu que havia algo o incomodando. Ele sempre ficava assim quando tinha alguma coisa na cabeça. Mas, como de costume, não dizia nada, o que a deixava intrigada.Camila, com delicadeza, passou os dedos pela nuca de Lucas, subindo até seus cabelos. O cheiro suave do xampu ainda estava presente em seus fios espessos, que, de certa forma, pareciam combinar com sua personalidade forte e rígida.No entanto, aquele homem, que sempre fora tão duro, parecia ter se tornado uma pessoa mais suave na presença dela. Desde que a avó dele havia falecido, Lucas estava mais caloroso, mais próximo.Eles ficaram abraçados por vários minutos antes que Camila, incapaz de conter a curiosidade, perguntasse:— O que aconteceu?— Nada, só sent
Pedro deu apenas uma olhada rápida e logo desviou o olhar, levando a taça de vinho aos lábios para disfarçar seus pensamentos.Essa cena não passou despercebida por Lucas, que, atento, sentiu um desconforto crescente. Ele levantou a mão e, com um toque carinhoso, bagunçou os cabelos de Camila, perguntando suavemente:— Quer se sentar na mesa das mulheres ou prefere ficar comigo?Camila olhou para a mesa das mulheres. Além de Ana e Chloe, não conhecia mais ninguém. Não estava com a menor disposição de se sentar com aquela dupla, então respondeu:— Prefiro ficar com você.Mal terminou de falar quando Afonso acenou para eles:— Camila, Lucas, venham cá! Sentem-se aqui do meu lado.Havia dois lugares vagos ao lado de Afonso, reservados especialmente para o casal. Após um breve gesto de cortesia, ambos se sentaram.Afonso deu um leve tapinha no ombro de Camila e, sorrindo, disse aos convidados da mesa:— Deixem-me apresentá-los à minha discípula, Camila, neta do José. Se um dia essa jovem p
Afonso, ao perceber que o casal se preparava para sair, tentou convencê-los a ficar:— Camila ainda nem comeu direito. Fiquem mais um pouco, não precisam beber se não quiserem.Lucas, contudo, continuou de pé. Para ele, o maior incômodo não era a comida ou a bebida, mas o fato de Pedro estar sentado bem em frente a Camila. A cada poucos minutos, Pedro lançava olhares rápidos e furtivos para ela, o que incomodava Lucas profundamente.Afonso, percebendo a resistência de Lucas, se levantou também e, com uma mão firme no ombro do genro, o empurrou de volta para a cadeira.— Camila passou o dia todo agitada. Não vou deixá-la sair daqui com fome. Se você não cuida dela, eu cuido, afinal, ela é minha discípula. — Disse Afonso, com um leve tom de reprovação.Diante disso, Lucas não insistiu mais. No entanto, o restante do jantar lhe passou atravessado, como se cada pedaço não descesse direito.Na mesa das mulheres, Kira observava tudo atentamente, sem demonstrar nada. Inclinando-se levemente,