A mulher que estava na cama aparentava ter mais de cinquenta anos. Seus longos cabelos, já completamente prateados, estavam presos em um coque baixo. Ela era extremamente magra, e a ampla roupa de hospital pendia de seu corpo, revelando os ossos dos ombros que sobressaiam por baixo do tecido.Sua pele, muito clara, tinha uma palidez doentia, sem nenhum vestígio de cor. Seus olhos eram grandes, com pálpebras duplas e cílios espessos. Embora fossem belos, havia algo de vazio em seu olhar, como se uma fina névoa o encobrisse, tornando-o distante e sem vida.Era evidente que ela não estava em seu estado mental normal. Contudo, apesar de sua condição, ainda mantinha uma postura graciosa, quase como a de um cisne. Sob a aparência magra e desgastada, ainda havia traços de delicadeza e serenidade.Lara segurava em seus braços uma antiga boneca de porcelana. Com a cabeça levemente inclinada, ela balançava a boneca suavemente e, em voz baixa, cantarolava:— Dorme, dorme, meu querido bebê... As m
Ao ouvir isso, Carlos também olhou para Camila e a observou por alguns segundos. Ele disse:— Sua esposa realmente se parece um pouco com minha mãe quando ela era jovem, especialmente na postura.Lucas manteve uma expressão impassível, mas seus olhos demonstravam algo diferente. Ele colocou a mão no ombro de Camila e, discretamente, a puxou para mais perto de si, afastando-a do olhar de Carlos.Camila, surpresa com o fato de Lucas estar com ciúmes até de Carlos, deu uma risada leve, sem poder evitar.Para não deixar Carlos desconfortável, Camila explicou:— Desde pequena, eu aprendi a restaurar pinturas antigas com meu avô. Como passei muito tempo copiando obras clássicas, talvez tenha adquirido esse ar mais artístico ao longo dos anos.Carlos assentiu levemente:— Minha mãe também era assim. Na juventude, foi uma mulher de muitos talentos. Sabia cantar, dançar, era uma artista completa. É uma pena...A palavra “pena” parecia ser a mais usada por todos ao falar de Lara. Uma mulher dota
Lucas lançou um olhar de desprezo para Ana, com um sorriso ligeiramente sarcástico nos lábios:— A filha que você criou é realmente bem “ingênua”.Qualquer um podia perceber o tom de ironia. Ele não apenas zombava de Chloe, mas também de Ana como mãe.Ana abriu a boca, tentando dizer algo mais, mas Lucas, já impaciente, puxou Camila pela mão e saiu sem dar ouvidos. Carlos os seguiu, deixando Ana sozinha, atônita, no meio do caminho.Assim que eles se afastaram, Ana pegou o celular e ligou imediatamente para Chloe. Quando a filha atendeu, Ana começou a despejar sua frustração:— Sua idiota! Você foi atender o telefone do Lucas no quarto dele e não me contou? E ainda deixou que a Camila gravasse tudo? Como você pode ser tão burra?Chloe ficou em choque:— O quê? A Camila gravou?— Sim! Ela acabou de reproduzir a gravação na minha frente, na frente do Lucas e do Carlos! Você me fez passar a maior vergonha!Chloe xingou com raiva:— Essa Camila, desgraçada!— A desgraçada é você! Presta ma
Camila havia captado a essência da técnica, e suas pinturas estavam quase à altura das obras originais de Theodor. Quando era pequena, seu avô costumava pegar camarões no pequeno lago em frente de casa e colocá-los em um tanque para que ela os observasse repetidamente, com o objetivo de que os desenhasse com vida.Lucas, por sua vez, trouxe uma caixa de ginseng coreano para Afonso. Era algo extremamente raro, difícil de encontrar, não importava o quanto se estivesse disposto a pagar.Ninguém sabia ao certo como ele tinha conseguido.Afonso ficou maravilhado com as cópias de Camila, elogiando sem parar. Já o ginseng caro que Lucas lhe deu, ele nem ao menos olhou.Quando recebia uma visita, Afonso logo puxava a pessoa e dizia:— Veja só, foi minha aluna quem pintou esses camarões. Olha como parecem vivos, não é?No início, os convidados olhavam apenas por educação. Mas, ao dar uma olhada, seus olhos ganhavam um brilho diferente. Não resistiam a um segundo olhar, e logo vinham os elogios:
Era o aniversário de Afonso, e a casa estava cheia de convidados. Camila, para evitar confusão com Chloe, disse:— Mestre, pode deixar que eu vou dar uma volta lá fora.Afonso sabia que as duas não se davam muito bem e não insistiu. Com um tom gentil, disse:— Tudo bem, vá dar uma volta pelo jardim, mas não se afaste muito. Daqui a pouco vamos começar o almoço, então volte para comer.Camila sentiu uma pontada de emoção. Embora não houvesse laços de sangue entre eles, Afonso a tratava com um carinho que a fazia lembrar de seu próprio avô.Com o nariz um pouco apertado pela emoção, Camila respondeu:— Certo, mestre.Camila procurou Lucas entre as pessoas e o viu sentado no canto sudoeste da sala com Carlos, conversando sobre negócios. Sem querer interrompê-los, ela decidiu sair sozinha.A casa onde Afonso morava era como um pequeno castelo de estilo europeu. O jardim tinha gramados, canteiros e um pequeno pavilhão de descanso, tudo decorado de forma simples, mas muito elegante. Ao lado
O jardim estava vazio. O desespero tomava conta do lugar, com as cabeças de Chloe e Camila quase submersas.Afonso, preocupado, correu o mais rápido que pôde. Pobrezinho, com mais de oitenta anos de idade, ainda tinha que lidar com as travessuras de Chloe e, agora, se via forçado a pular na água para salvar as duas.Nem teve tempo de tirar os sapatos antes de mergulhar no lago. Com uma mão, agarrou Chloe, e com a outra, Camila, tentando arrastá-las até a margem.No entanto, a idade pesava. Ele se esforçava muito e quase nem conseguia se salvar, engolindo várias bocadas de água suja.Camila, por sua vez, lutava para tentar ajudar Afonso, mas Chloe segurava seu braço com tanta força que ela não conseguia se soltar.Chloe, tomada por uma teimosia implacável, parecia determinada a vencer a qualquer custo.No momento mais crítico, duas figuras altas e esguias pularam na água, uma atrás da outra. A primeira era Pedro; a segunda, Lucas.Pedro, sem pensar duas vezes, nadou direto até Camila e
Um terrível pressentimento tomou conta de Chloe. Ela chorava ainda mais, desesperada:— Vô, sua mão está tão fria... Vô, por favor, você tem que acordar!Ela começou a dar tapinhas no rosto dele, na tentativa de fazê-lo despertar. Pedro, impaciente com tanto choro, franziu a testa e a repreendeu:— Se quer chorar, vá fazer isso em outro lugar. Não me atrapalhe enquanto tento salvá-lo!Com sua expressão naturalmente severa, Pedro parecia ainda mais assustador quando ficava irritado.Chloe, assustada, parou de chorar imediatamente. Limpou os olhos com as costas das mãos e, soluçando, levantou-se. Instintivamente, tentou pegar o celular no bolso para chamar uma ambulância.Revirou os bolsos, mas não encontrou o celular. Por um momento, pensou que havia perdido o celular na água, mas logo lembrou que ele estava descarregado e deixado no quarto carregando. Ela saiu com tanta pressa atrás de Camila que esqueceu de pegá-lo. Sem outra opção, correu em direção à casa para buscar o celular.Assi
Chloe estava completamente desorientada. Nem se deu ao trabalho de trocar de roupa antes de correr para a sala, onde agarrou a mão de Ana e a puxou para fora sem dizer uma palavra. Levou-a para o jardim de uma vez só.— O que você está fazendo? Por que essa correria? — Ana perguntou, irritada, enquanto Chloe chorava copiosamente.— Mãe, o vovô... o vovô está em apuros! — Chloe soluçava, lágrimas caindo sem parar.Ana franziu a testa, claramente incomodada:— O que aconteceu? Fala direito! Hoje é o aniversário do seu avô, e você choramingando desse jeito? Que vergonha!Chloe, entre soluços, explicou:— Foi lá no lago. Eu queria testar o vovô, ver quem ele gosta mais, eu ou a Camila. Aí empurrei a Camila na água e chamei o vovô para ver quem ele salvaria. Só que ele tentou salvar as duas ao mesmo tempo e... não conseguiu. Ele se afogou. Eu estava sem celular, então vim correndo procurar um para chamar a ambulância. Mas aí o Pedro me ligou e disse que não precisava mais chamar...— O quê?