Camila, ao acompanhar Lucas até o carro, encontrou Vanessa no andar de baixo. Ela havia passado a noite em claro e, depois de tomar dois comprimidos para dormir, havia dormido profundamente. Não sabia de nada do que tinha acontecido com Camila.Ao ver Lucas, Vanessa se aproximou com entusiasmo, cumprimentando-o:— Oi, gatão! Tudo bem? O que você está fazendo aqui?Lucas lançou-lhe um olhar gélido, com o rosto sério e sombrio, como uma tempestade de inverno. Sem dizer uma palavra, passou por ela, irradiando uma pressão tão intensa que Vanessa ficou desconcertada.Ele estava irritado. Achava que Camila só havia ido até ali por influência de Vanessa, e que, além de ter chamado sua amiga, não havia se preocupado em cuidar dela. Camila passara por uma situação difícil na noite anterior, e Vanessa sequer apareceu.Vanessa, com o entusiasmo esmorecido, ficou sem entender a atitude de Lucas. Confusa, puxou Camila pelo braço e perguntou:— O que deu nele? O olhar que ele me deu foi assustador.
Camila percebeu a tristeza nos olhos dele e, com uma voz suave, perguntou:— Senhor, a quem você acha que eu pareço?O velho, parecendo finalmente voltar a si, deu uma pausa e balançou a cabeça levemente.Ao perceber que ele não queria responder, Camila decidiu não insistir. Ela sabia que tinha alguma semelhança com Chloe. Parecer-se com alguém que ele conhecia não era nada de extraordinário.Damio, que havia cumprimentado Camila momentos antes, notou a cena e se aproximou:— Camila, este é o mestre da restauração de cerâmica do nosso país, Afonso Rodrigues.Camila já tinha ouvido falar da fama de Afonso. No mundo da restauração de artefatos, ele era tão conhecido quanto seu avô. Ela o cumprimentou respeitosamente:— Sr. Afonso, é um prazer conhecê-lo.— O prazer é meu. — Afonso respondeu com um leve aceno, seus olhos ainda um pouco vermelhos.Damio prosseguiu com as apresentações:— Sr. Afonso, esta é Camila, neta do José, um prodígio na restauração de pinturas.Os olhos de Afonso bri
Afonso queria aceitar Camila como discípula, pois ela tinha talento, paciência e uma dedicação rara à profissão. Imaginava que, com o tempo, ela se tornaria um nome respeitado na restauração de cerâmica. E, ao mencionar seu nome, todos saberiam que ela foi aprendiz dele, Afonso. Mas esses pensamentos eram secundários. O que realmente importava para ele era o fato de Camila se parecer muito com sua filha quando jovem, tanto na aparência quanto no jeito suave e sereno.Camila voltou para o quarto.A pintura já estava limpa, e o próximo passo seria reparar os rasgos na tela.Como o material que Vanessa havia pedido ainda não chegara, Camila tinha uma noite tranquila.Depois de jantar, ligou para Lucas e foi dormir cedo.Por volta das nove, foi acordada novamente por aquele pesadelo de treze anos atrás.Uma vez desperta, não conseguia mais dormir.Ela se revirava na cama, a ponto de quase cavar um buraco no colchão.De repente, um som de acordeão, suave como água, começou a invadir seu qua
Ao ouvir "Sr. Lucas", Camila quase pensou que estava sonhando. Lucas havia saído de lá naquela manhã, não era possível que ele tivesse voltado à noite. Ela virou a cabeça para olhar para trás. Ao longe, na escuridão, a silhueta de um homem começou a tomar forma. Aos poucos, uma figura alta e imponente se destacou. A luz suave da lua caía sobre ele, envolvendo-o em um brilho solitário e melancólico. O homem tinha um rosto incrivelmente bonito, com a pele pálida e fria, e traços profundos que emanavam um ar gélido. Camila ficou surpresa. Era mesmo Lucas. Ele se aproximava cada vez mais. Naquela manhã, ele havia saído cheio de energia, mas agora parecia exausto, como se carregasse o peso do mundo. Camila mal podia acreditar no que via. Ela o encarou, imóvel. Até que um dos seguranças gritou: — Senhora, é realmente o Sr. Lucas, ele veio te ver! Camila, como se tivesse sido despertada de um sonho, sentiu o coração bater forte e, instintivamente, perguntou: —
O som melancólico do acordeão transformava-se em palavras:A lua estava ofuscada, a noite ainda não terminara, e ao redor reinava uma solidão tranquila. A luz fria e fraca na mesa iluminava minha companhia solitária. Só quando Pedro Costa ficou completamente fora de vista, Lucas diminuiu o passo, respirando um pouco mais pesado, e perguntou: — A perna ainda dói? Camila, com os braços ao redor de seu pescoço, respondeu suavemente: — Não dói mais, pode me colocar no chão agora. — Já estamos quase lá, não vai fazer diferença esperar mais um pouco. Camila, sem conseguir contrariá-lo, simplesmente desistiu da ideia.Ela organizou seus pensamentos e explicou: — Os documentos que a Vanessa pediu ainda não chegaram. Como eu não tinha o que fazer esta noite, dormi cedo. Acordei no meio da noite e não consegui mais dormir. Aí ouvi alguém tocando acordeão, e achei a música bonita. Então, resolvi dar uma olhada. Eu nem sabia que era o Pedro Costa, se soubesse, não teria saído. Lu
Camila ouviu Lucas falar daquele jeito pela primeira vez e achou interessante. Por um breve momento, o jeito meio ressentido dele parecia um pouco... fofo. Era tão diferente da imagem fria e controlada que ele costumava passar. Aquela leve fragilidade fazia com que ela gostasse ainda mais dele.Ela envolveu o pescoço dele com os braços e, ao notar os olhos avermelhados pela falta de sono, tocou suavemente o canto dos seus olhos com a ponta dos dedos e disse:— Olha só, seus olhos estão todos vermelhos de cansaço. Amanhã você não vem, entendeu?Lucas roçou o nariz no dela, sem dizer nada. Na verdade, ele também não queria vir, mas como Pedro Costa ainda estava por ali, vigiando Camila de perto, ele não tinha paz. Ontem, Pedro tinha salvado a vida dela, e hoje já estava tocando acordeão de novo, o que deixava Lucas ainda mais inseguro.Camila esperou um pouco por uma resposta, mas, como ele não falou nada, ela suspirou levemente:— Quando os materiais chegarem, eu vou falar com o Domingo
O mais importante era que Afonso já tinha mais de oitenta anos. Não representava qualquer ameaça para Lucas. Após dizer isso, Lucas deixou sua mão escorregar suavemente pelo braço dela, até envolver sua cintura. Apertou levemente seu quadril macio, em um gesto cheio de insinuação. Próximo ao seu ouvido, sussurrou com um tom provocador: — Você não está ocupada hoje e eu também estou livre. Que tal fazermos algo mais interessante?Camila, com o corpo já mole pelo toque dele, respondeu de forma proposital: — E quem foi que disse ontem à noite que veio de longe e não era para isso?Lucas se virou sobre ela, mordeu carinhosamente a ponta do seu nariz e, enquanto beijava seus lábios, murmurou distraidamente: — Ontem não era, mas hoje é diferente.Camila não disse mais nada. Nesses momentos, discutir não adiantava. Sua mente estava ficando cada vez mais nublada pelos beijos dele, e era como se seu corpo flutuasse, caminhando sobre as nuvens.Lucas continuou a descer seus beijos ao long
Daulo ficava cada vez mais irritado ao pensar na situação. As duas famílias faziam negócios juntas havia décadas, mas essa era a primeira vez que Lucas o tratava com tamanha falta de respeito. Até Enzo o respeitava, e Lucas, um jovem impertinente, tinha a ousadia de ir até sua casa e falar daquele jeito com ele.A raiva subiu tanto que ele sentiu o peito doer. Pegou o celular e ligou para Ana, questionando:— Bairro Alto, motel, João, você sabe o que aconteceu, né?Ana ficou em pânico por um instante. Demorou alguns segundos para se recompor e, tentando soar calma, respondeu:— Do que você está falando? Não estou entendendo.Impaciente, Daulo retrucou:— Não precisa me enrolar!Ana fingiu desentendimento:— Eu não estou enrolando nada.Daulo foi direto:— A mão da Chloe foi esmagada, o rosto machucado, e agora ela está presa. Todos esses ataques são por causa daquela Camila. Eu sei que você quer proteger a Chloe e se vingar, mas não dá pra fazer isso de forma mais inteligente, sem deix