— Fala! Quem te mandou? Pedro Souza segurava o pescoço de João, sua voz transbordava fúria.João, com o rosto todo coberto de sangue, mal conseguia disfarçar a dor, tremendo:— N-não... não tem ninguém... Se tivesse, eu já teria falado. Pode me matar, mas... não vou conseguir dizer nada porque... não tem ninguém.Pedro Souza, percebendo que João não cederia de jeito nenhum, achou melhor parar antes que o matasse. Ele então ordenou ao policial:— Verifique o histórico de chamadas dele e com quem ele tem se encontrado ultimamente.O policial respondeu prontamente:— Sim, claro, vamos começar a investigar isso agora mesmo.Ao terminar de falar, o policial se deu conta: “por que estava acatando as ordens de Pedro Souza?” Mesmo ele sendo ex-membro da Equipa Leão, isso era lá fora, não no Brasil. Não tinha ligação alguma. Mas ele preferiu não questionar muito. Aqueles homens tinham uma presença intimidadora, pareciam vir de uma grande cidade, com um passado poderoso. Não era alguém que ele,
Ao ouvir ser chamada de forma tão formal, Camila ainda não conseguia se acostumar e respondeu educadamente:— Obrigada, vá descansar agora, você merece.— Não foi nada. A senhora também descanse bem. — Respondeu ele antes de se afastar.Camila pegou a chave na bolsa, pronta para abrir a porta, mas percebeu que a porta, que deveria estar trancada, agora estava aberta.Alguém tinha entrado. Seu coração gelou, e instintivamente ficou preocupada com o pergaminho que tinha deixado lá dentro. Rapidamente empurrou a porta.Ao ver a cena, ficou paralisada.Dentro do quarto, estavam três homens grandes. Sentado no sofá simples, encostado na parede, estava um homem incrivelmente bonito e imponente, com dois seguranças ao seu lado.Lucas estava ali!Camila mal podia acreditar no que via. Mais cedo, depois do jantar, ela tinha ligado para ele. Na ocasião, ele não mencionou nada sobre vir, apenas recomendou que ela não ficasse acordada até tarde e fosse descansar cedo.Quem diria que ele pegaria um
O segurança levou mais um tapa pesado. Ele cambaleou alguns passos para trás, quase caindo. O lado do rosto imediatamente inchou, deixando marcas claras de cinco dedos, agora simétricas com o outro lado.O olhar de Lucas estava sombrio, e ele gritou com raiva:— Eu mandei vocês protegerem a Camila, e é assim que vocês protegem? Algo acontece, e vocês não me avisam na hora! Ainda têm a ousadia de mentir pra mim! Bando de inúteis!Já fazia muito tempo que ele não perdia a calma dessa maneira. Seu rosto bonito estava tão carregado que parecia mais sombrio. A pressão ao seu redor era sufocante.O silêncio tomou conta da sala. Ninguém ousava respirar mais fundo.O segurança, finalmente recuperado do choque, começou a bater em si mesmo, alternando os tapas entre as bochechas, sem se importar com a dor. O som dos tapas ecoava pelo ambiente.— Sr. Lucas, eu errei. — Disse ele, entre os tapas. — Não deveria ter descido pra comprar cigarro. Foram só alguns minutos, e a senhora quase foi atacada.
Camila apressou-se:— Vai dormir logo, amanhã você precisa acordar cedo.Lucas segurou o queixo dela, encarando seus olhos, e perguntou-se:— Ainda está brava comigo?Camila resmungou distraidamente. Como ela poderia não estar zangada?Lucas a havia tratado daquela maneira na frente de tantas pessoas, foi praticamente uma humilhação.Não só a humilhou, como também deixou Pedro Souza em uma situação constrangedora.Qualquer pessoa podia desrespeitá-la, exceto ele. Porque Lucas era a pessoa mais importante e querida para ela, diferente dos outros.Camila virou-se para sair, mas Lucas puxou-a pela cintura. Ele apertou levemente sua cintura macia e murmurou:— Você ainda não me perdoou.Camila, querendo ir para cama, percebeu o olhar insistente dele. Então, subiu na ponta dos pés e, de forma um tanto desajeitada, deu um beijo no queixo dele:— Eu te perdoei.Só então Lucas a soltou. Camila foi lavar as mãos, voltou, tirou as roupas e se deitou.Lucas, por sua vez, foi ao banheiro para se p
Camila sentiu como se algo dentro dela tivesse desmoronado.Lucas tinha vindo de tão longe, enfrentando montanhas e trilhas só porque estava preocupado com ela, porque queria vê-la.Aquele sentimento de mágoa, de ter sido suspeitada por ele, diminuiu pela metade.Ela se aconchegou mais em seus braços e disse, baixinho:— Quando aquele homem entrou e rasgou minha roupa, eu quase morri de nojo. Só conseguia pensar que, se ele tentasse me desonrar, eu o mataria e depois me mataria.O coração de Lucas deu um salto. Logo em seguida, uma dor aguda tomou conta dele.Era como se uma fera o tivesse mordido, rasgando-o com presas afiadas, deixando-o sem ar por um bom tempo.Ele apertou a cintura dela com força, puxando-a para seu peito, segurando-a firme, enquanto ralhava:— Boba, não fale essas besteiras.Eles estavam juntos há três anos, dependiam um do outro, e Lucas não suportava ouvir esse tipo de coisa.Camila ficou em silêncio por um instante e disse:— Ainda bem...Ela parou no meio da f
Camila, ao acompanhar Lucas até o carro, encontrou Vanessa no andar de baixo. Ela havia passado a noite em claro e, depois de tomar dois comprimidos para dormir, havia dormido profundamente. Não sabia de nada do que tinha acontecido com Camila.Ao ver Lucas, Vanessa se aproximou com entusiasmo, cumprimentando-o:— Oi, gatão! Tudo bem? O que você está fazendo aqui?Lucas lançou-lhe um olhar gélido, com o rosto sério e sombrio, como uma tempestade de inverno. Sem dizer uma palavra, passou por ela, irradiando uma pressão tão intensa que Vanessa ficou desconcertada.Ele estava irritado. Achava que Camila só havia ido até ali por influência de Vanessa, e que, além de ter chamado sua amiga, não havia se preocupado em cuidar dela. Camila passara por uma situação difícil na noite anterior, e Vanessa sequer apareceu.Vanessa, com o entusiasmo esmorecido, ficou sem entender a atitude de Lucas. Confusa, puxou Camila pelo braço e perguntou:— O que deu nele? O olhar que ele me deu foi assustador.
Camila percebeu a tristeza nos olhos dele e, com uma voz suave, perguntou:— Senhor, a quem você acha que eu pareço?O velho, parecendo finalmente voltar a si, deu uma pausa e balançou a cabeça levemente.Ao perceber que ele não queria responder, Camila decidiu não insistir. Ela sabia que tinha alguma semelhança com Chloe. Parecer-se com alguém que ele conhecia não era nada de extraordinário.Damio, que havia cumprimentado Camila momentos antes, notou a cena e se aproximou:— Camila, este é o mestre da restauração de cerâmica do nosso país, Afonso Rodrigues.Camila já tinha ouvido falar da fama de Afonso. No mundo da restauração de artefatos, ele era tão conhecido quanto seu avô. Ela o cumprimentou respeitosamente:— Sr. Afonso, é um prazer conhecê-lo.— O prazer é meu. — Afonso respondeu com um leve aceno, seus olhos ainda um pouco vermelhos.Damio prosseguiu com as apresentações:— Sr. Afonso, esta é Camila, neta do José, um prodígio na restauração de pinturas.Os olhos de Afonso bri
Afonso queria aceitar Camila como discípula, pois ela tinha talento, paciência e uma dedicação rara à profissão. Imaginava que, com o tempo, ela se tornaria um nome respeitado na restauração de cerâmica. E, ao mencionar seu nome, todos saberiam que ela foi aprendiz dele, Afonso. Mas esses pensamentos eram secundários. O que realmente importava para ele era o fato de Camila se parecer muito com sua filha quando jovem, tanto na aparência quanto no jeito suave e sereno.Camila voltou para o quarto.A pintura já estava limpa, e o próximo passo seria reparar os rasgos na tela.Como o material que Vanessa havia pedido ainda não chegara, Camila tinha uma noite tranquila.Depois de jantar, ligou para Lucas e foi dormir cedo.Por volta das nove, foi acordada novamente por aquele pesadelo de treze anos atrás.Uma vez desperta, não conseguia mais dormir.Ela se revirava na cama, a ponto de quase cavar um buraco no colchão.De repente, um som de acordeão, suave como água, começou a invadir seu qua