Este guia se propõe a abordar algumas das principais questões que envolvem o abuso sexual de crianças e adolescentes, buscando incentivar as pessoas a conversa abertamente sobre este assunto e pôr fim ao silêncio que protege aqueles que cometem este crime. Criar um clima propício em que crianças e adolescentes, vítimas de abuso sexual, se sintam mais seguros, a fim de que possam buscar ajuda sem serem considerados culpados ou sentirem que não são acreditados e fornecer informações para adultos que lidam com eles para que possam criar um ambiente favorável de conversa sobre o abuso sexual, objetivando também sua prevenção.
Os indivíduos que abusam sexualmente de crianças e adolescentes na sua maioria são familiares, amigos íntimos da família, ou pessoas conhecidas em que as crianças confiam. Esta posição de confiança na qual os agressores se encontram, assim como a posição indefesa da criança na família, torna mais fácil encobrir o crime e persuadir ou assustar a criança para que esta se mantenha calada.
O fato de a maioria das pessoas se mostrar relutante em falar sobre a vitimização sexual da criança e do adolescente, quando envolve familiares ou amigos de confiança, só contribui para o medo, para o isolamento e para a formação de indivíduos infelizes e desadaptados socialmente.
O abuso sexual é um assunto delicado e perturbador, pois implica na violação de "tabus" sociais como "incesto", passando a causar desconforto na família e entre os profissionais envolvidos.
Como a natureza do abuso sexual infantil é complexa, é necessário que médicos, psicólogos, outros profissionais de saúde, da área jurídica, assistentes sociais, professores e a sociedade em geral trabalhem para facilitar a descoberta e a revelação dessa pratica, para que soluções de fato possam ser viabilizadas.
Por outro lado, a pedofilia e a exploração sexual comercial de crianças e adolescentes são temas atualmente, de grande visibilidade e que mobilizam as sociedades de todos os povos do mundo. No entanto, no Brasil eles são ainda assuntos pouco estudados. Esta cartilha pretende informar, sensibilizar e mobilizar a sociedade brasileira para romper o silêncio, saindo de uma fase de negação da realidade para uma fase de ações afetivas.
A literatura sobre o método científico sobre abuso sexual, como também estatísticas e pesquisas a respeito, é reduzida no Brasil e tanto sua incidência quanto prevalência são desconhecidos no nosso meio. Porém, alguns números apresentados em estudos indicam que sua ocorrência é algo que não pode mais ser ignorado: dados do CRAMI – Centro Regional de Atenção aos Maus Tratos da Infância de Campinas, DP – estimam que em 1.251 crianças atendidas no Instituto Médico Legal de Campinas, foram vítimas de abuso sexual 67,3% entre 7 e 14 anos; 31,7% entre 2 e 7 anos e 1% abaixo de 2 anos de idade (1982 – 1985); 14,4% dos adolescentes atendidos no Serviço de Assistência Integral a Adolescência (SAIA) de São Paulo demonstraram ter sido algo de vitimização sexual, estudos no ABC Paulista registrou que 90% das gestações em jovens com até 14 anos foram fruto de incesto, sendo o autor na sua maioria, o pai, o tio ou o padrasto, ou seja, pessoas próximas ou conhecido da criança.
Em casa 100 denúncias de maus tratos contra a criança e o adolescente feitas a ABRAPIA, 9 são de abuso sexual, a vítima é do sexo feminino em 80% dos casos, sendo que 49% tem entre 2 e 5 anos e 33% entre 6 e 10 anos.
Pesquisa nos Estados Unidos indicam que:
Durante uma vida, um pedófilo ativo em média abusa de 260 crianças ou adolescentes. Apesar das diferenças sociais e econômicas, da maior ou menor sensibilização, informação e mobilização da sociedade para o tema (e para denunciar) da maior ou menor eficiência e eficácia das ações governamentais e não governamentais, visando a proteção das vítimas e a punição dos agressores, é possível afirmar que a situação no Brasil não difere das outras sociedades ocidentais.
Outras pesquisas feitas nos EUA demonstram que 1% da população infanto juvenil americana é vítima de violência doméstica todos os anos e cerca de 10% das denúncias correspondem ao abuso sexual, por analogia, podemos afirmar que:
No Brasil 165 crianças ou adolescentes sofrem abuso sexual por dia ou 7 a cada hora.
O abuso e a exploração sexual de crianças e adolescentes entraram como prioridade nas agendas políticas e nacional, demandando uma serie de reflexões teóricas e conceituais que transformou de forma paradigmática o seu enfrentamento nas últimas duas décadas.
Hoje há um consenso político e institucional sobre a multidimensionalidade do fenômeno e a necessidade de uma visão interdisciplinar e multiprofissional sobre a proteção da criança e dos adolescentes e a discussão sobre a sexualidade como direito sexual da criança e adolescentes.
É uma sistematização do debate e das pesquisas nacionais e internacionais sobre o tema das duas últimas décadas nos planos conceitual, metodológico, jurídico e pedagógico. A necessidade da sua atualização é um claro exemplo de que Direitos humanos não são categorias ou conceitos estáticos, mas que mudam com a transformação social e política e dependem diretamente do processo e do nível de mobilização social.
O abuso sexual é uma situação em que uma criança ou adolescente é usado para gratificação sexual de um adulto ou mesmo de um adolescente mais velho, baseado em uma relação de poder que pode incluir desde carícias, manipulação da genitália, mama ou ânus, exploração sexual “voyeurismo”, pornográfia e exibicionismo, até o ato sexual com ou sem penetração, com ou sem violência física. A etiologia e os fatores determinantes do abuso sexual contra a crianças e os adolescentes tem implicações diversas. Envolvem questões culturais (como é o caso do incesto) e de relacionamento (dependência social e afetiva entre os membros da família), o que dificulta a notificação e perpétua o “muro do silêncio”. Envolvem questões da sexualidade, seja da criança, do adolescente ou dos pais, e da complexa dinâmica familiar.Na maioria dos casos, o abusador é uma pessoa que a criança conhece, confia e, frequentemente ama. Pode ocorrer com uso de força e da violência, mas na maioria das vezes estas não
Abuso sexual sem contato físicoAbuso sexual verbal: conversas abertas sobre atividades sexuais destinadas a despertar o interesse da criança ou do adolescente ou a choca-los.Telefonemas obscenos: a maioria é feita por adultos, especialmente do sexo masculino, podendo gerar ansiedade na criança, no adolescente e na família.Exibicionismo: a intenção, neste caso, é chocar a vítima, o exibicionista é, em parte, motivado por está reação, a experiência pode ser assustadora para as vítimas.Voyeurismo: obtém sua gratificação através da observação de atos ou órgãos sexuais de outras pessoas, estando normalmente em local onde não seja percebido pelos demais. A experiência pode perturbar e assustar a criança ou adolescente. A internet é hoje a grande vitrine para o "voyeur".Outros: mostrar para crianças fot
O abuso sexual pode ser identificado por lesões físicas hematomas, ruptura do hímen, equimoses, m arcas de mordidas, lacerações anais e outras. A magnitude das lesões está associada a gravidade do ato sexual e, geralmente estão presentes em pequeno número, pois a maioria dos casos de abuso sexual não deixa vestígios físicos. Doenças sexualmente transmissíveis e AIDS, hepatite B, corrimento vaginal, relaxamento do esfíncter anal, dores abdominais, sangramento vaginal e gravidez podem ser consequência do abuso sexual. Em crianças menores, podem ocorrer enurese noturna, encoprese, distúrbios do sono e de alimentação. O uso de técnicas bem elaboradas e até sofisticadas, por parte de profissionais da ABRAPIA (capacitados para a utilização de bonecos anatomicamente corretos durante as entrevistas com crianças), associadas a muita sensibilidade e tato, faz parte da abordagem para a identificação do abuso sexual.
O abuso sexual de crianças não é um fenômeno do século XX, relatos bíblicos apontam que a exploração sexual e o incesto, praticados pelos próprios pais ou parentes, estavam presentes desde épocas remotas. Os príncipes Incas, por exemplo, mantiveram sua linhagem pura por 14 gerações com casamentos entre irmãos. O que é novo desde o início dos anos 60 é o fato de este fenômeno ter sido formalmente identificado e de suas formas patológicas mais complexas terem sido objeto de estudo. Por volta dos anos 70, por exemplo a pornografia infantil nos Estados Unidos aumentou em virtude do número crescente de pessoas que praticavam a pedofilia (perversão sexual onde crianças são objeto sexual preferido). Este grupo organizou-se a ponto de produzir farto material informativo com o intuito de alterar a legislação vigente dos Estados Unidos, com base na afirmação de que suas atividades calcavam-se em sentimentos naturais e inofensivos. Com o advento da internet, esses grupos internacionais de pedó
A pedofilia é uma psicopatologia, uma perversão sexual com caráter compulsivo e obsessivo, em que adultos apresentam uma atração sexual, exclusiva ou não, por crianças e adolescentes impúberes.Alguns consideram a pedofilia uma síndrome (conjunto de sinais e sintomas) que ocorre em diversas psicopatologias. O pedófilo é um individuo aparentemente normal, inserido na sociedade. Costumam ser “pessoas acima de qualquer suspeita” aos olhos da sociedade, o que facilita a sua atuação. Geralmente ele não prática atos de violência física contra a criança. Age de forma sedutora, conquistando a confiança da criança, mas pode se tornar violento e até chegar a matar as suas vítimas.Recentemente nos anos de 2001 e 2002. Algumas situações divulgadas na mídia nacional e internacional envolveram padres nos EUA, Reino Unido, França, Polônia, Alemanha, Áustria, Australia, educadores no Reino Unido e Franca e indivíduos de classe média de 10 países denunciados e punidos por pornografia in
Mitos• O abusador sexual é um psicopata um tarado que todos reconhecem na rua;• O estranho representa e perigo maior as crianças e adolescentes;• O abuso sexual está associado a lesões corporais;• A criança mente e inventa que é abusada sexualmente;• É fácil identificar o abuso sexual em razão das evidências físicas encontradas nas vítimas;• A maioria dos paus e professores estão informados sobre o abuso sexual de crianças sua frequência e como lidar;• A divulgação de textos sobre pedofilia e fotos de crianças e adolescentes em posições sedutoras ou praticando sexo com outras crianças, adultos e até animais não causam malefícios uma vez que não contato e tudo ocorre virtualmente na tela do computad
Do ponto de vista legalMuitas pessoas tem dificuldades em comunicar possíveis casos de abuso sexual as autoridades. No entanto as consequências de não notificar o abuso sexual podem ser fatais. Um outro fator que atrapalha a denúncia é a descrença nas possíveis soluções, pois na pratica nem todos os casos são legalmente compráveis em razão de não existir uma estrutura judicial e policial satisfatórias, sob o ponto de vista da investigação. O estatuto da criança e do adolescente (lei 8069 de 13/07/1990), a constituição Federal e o código penal dispõem sobre a proteção da criança e do adolescente contra qualquer forma de abuso sexual e determinam penalidade, não apenas para os que praticam o ato, mas também para aqueles que se omitem.Nas páginas seguintes est
Na emergência Anamnese detalhada do caso; Exame físico COMPLETO, com descrição detalhada das lesões, inclusive da genitália e ânus; Avaliação da necessidade de exames complementares; RX de crânio, tórax e ossos longos; Tomografia computadorizada do crânio (nos casos de comprometimento neurológicos); Ultrassonografia e ressonância magnética (se necessário); Exame de área especifica por especialista; Notificação obrigatória de todos os casos suspeitos ou confirmados ao policial de plantão, delegacias, conselhos tutelares ou ao juizado da infância e da juventude, de acordo com os artigos 12 e 245 do estatuto da criança e do adolescente. Acionamento do Comitê de defesa da criança e do adolescente do seu hospital, para dar continuidade ao caso; Internação obrigatória de todos os casos suspeitos ou confirmados de abuso sexual, este procedimento visa