O sol estava prestes a se pôr, tingindo o quarto da torre com tons alaranjados e sombras alongadas. Dáhlia observava o reflexo de seu rosto na superfície do chá quente, refletindo em silêncio sobre seus próprios planos. Em poucas horas, teria que partir, mas uma dúvida incômoda ainda a acompanhava.— Tem certeza de que não deseja enviar uma carta à sua mãe? — A voz suave de Raven interrompeu seus pensamentos. — Ela está muito preocupada, acredita que você foi tratada com severidade demais.Raven, a Primeira Princesa, continuava a demonstrar seu comportamento impecável e sereno. Dáhlia ergueu o olhar, encontrando-se com os olhos cor-de-pêssego da irmã, e esboçou um sorriso leve.— De que adiantaria enviar uma carta? Mamãe insistiria na questão do meu casamento, e isso só irritaria o nosso pai.— Sim, papai tem se irritado com facilidade ultimamente — Raven respondeu em tom compreensivo. — Alguns nobres o desgastaram, mas a situação está… sob controle.Aquela notícia a pegou de surpresa
O frio do inverno era um belo contraste para a xícara de chá que aquela pessoa segurava. Observando o próprio reflexo na bebida de cor clara, podia sentir o calor da água morna aquecer os seus dedos. Enquanto se deleitava no chá, aquela pessoa ouvia o relatório dos seus últimos planos.— Tivemos baixas consideráveis com o ataque à Sombra Profunda. O medo se espalhou e agora o pessoal do Submundo está hesitante em provocar mais problemas que possam chamar a atenção do Palácio Imperial — relatou o subordinado.Aquela pessoa ergueu um olhar complacente para o rebelde. Um sorriso quase imperceptível despontou em seus lábios enquanto os dedos se apertaram ao redor da porcelana.— Isso é... irritante — murmurou com suavidade, retomando o gole de chá. — Com a Segunda Princesa desaparecida e agora a perda dos armazéns, sofremos um prejuízo significativo.— Deveríamos reforçar a segurança nos armazéns principais? — perguntou o rebelde.— Claro, seria prudente — respondeu, os olhos voltados nova
Templo da Deusa KronosisA madrugada pairava silenciosa sobre o Templo. Os corredores frios e solenes pareciam guardar segredos inconfessáveis, mergulhados na penumbra que as velas solitárias mal conseguiam romper. Ali, onde o som era tão escasso que até a respiração soava como uma confissão, um homem coberto por um capuz pesado esgueirava-se nas sombras. Ele evitava qualquer contato, movendo-se com a destreza de um predador, ainda que fosse apenas um lacaio de planos maiores.Alguns cavaleiros do templo faziam suas rondas mantendo a segurança. O sujeito encapuzado se escondia atrás de pilares e paredes, evitando entrar no campo de visão dos cavaleiros que usavam armaduras prateadas. Ele esperou pacientemente que os homens armados passassem em passos firmes, garantindo um caminho livre pelas sombras.O caminho já estava traçado em sua mente: contornou cuidadosamente o átrio central e, de maneira habilidosa, dirigiu-se ao poço do Templo, que fornecia a água sagrada usada em rituais e q
Magnus Grimwood era um homem atento. Possuía a habilidade de observar discretamente as pessoas ao seu redor, notando pequenos detalhes que revelavam fraquezas, ou sinais de alerta, mesmo à distância. E quando se tratava de seu esposo, sua atenção era ainda mais afiada.No começo do seu relacionamento, ele viu com facilidade que o Oitavo Príncipe passava longe de ser como diziam os rumores. Negligenciado no próprio Palácio Imperial, sem nunca sair por não ter apoio nem da própria família, esperava por alguém patético e covarde. Mas a imagem que detinha era o completo oposto. Lucian se provou alguém astuto como uma raposa. Desde então, Magnus era incapaz de deixar de acompanhar o seu esposo, já que parecia alguém manipulador com sua falsa inocência.Por isso, Magnus conhecia muito bem a pessoa com quem tinha se casado. E seria fácil para ele descobrir quando algo estaria estranho.Nas últimas semanas, Magnus notou que algo não estava certo. Lucian mantinha sua rotina, dividindo-se entre
O fato de haver uma epidemia já deixou a capital de Roveaven em polvorosa. Os plebeus, que foram os mais infectados pela misteriosa doença, encontravam-se desesperados procurando pela cura. Os nobres, tomados pelo medo de serem contagiados, fecharam os seus portões para os plebeus e monopolizavam os médicos com preços absurdos que um plebeu jamais seria capaz de pagar.O Palácio Imperial ficou dividido entre os nobres que pressionavam o Imperador para resolver a questão e aqueles que insistiam em construir um muro para isolar os plebeus enfermos. Cadec participou das assembléias sentindo o seu coração bater acelerado de raiva e frustração por ver tantas pessoas cegas pelo poder. Todos ergueram suas vozes e cobriam seus ouvidos recusando abandonar os seus ideais.— Silêncio — Ordenou Rehael com autoridade máxima, calando os nobres de imediato — O que sabemos a respeito dessa doença?— Os plebeus que foram consultados disseram que começaram a apresentar os sintomas logo depois de terem
Os cavaleiros imperiais cavalgavam apressadamente atravessando as ruas da capital. Os grupos separados se espalharam ordenadamente, seguindo o plano do seu comandante que liderava o primeiro grupo. Cada um deles seguiria para diferentes regiões, para enormes armazéns que se encontravam nas periferias, longe dos olhos dos nobres e dos cavaleiros. Alguns deles estariam sob um disfarce de distribuidora de bebidas ou de suprimentos, ou alguma fábrica antiga.Mas não restaria nenhum disfarce naquela noite.Cadec escolheu a madrugada para realizar a sua operação, para evitar que inocentes fossem feridos. Quanto menos caótico fosse, melhor.O armazém que Cadec cuidaria pessoalmente era o maior. Segundo as investigações, era o que tinha mais mercenários cuidando, podendo haver algo além de armas contrabandeadas de Geledel. A mente por trás de todo aquele plano foi esperto em escolher armazéns antigos para sua operação, pois tinham sido construídos em espaços estratégicos ao mesmo tempo que ma
Ao abrir os olhos, Lucian demorou alguns segundos para compreender o que exatamente estava acontecendo. As suas memórias estavam um pouco bagunçadas, mas não demorou muito tempo para poder sentir um pouco de vergonha de ter adoecido repentinamente. Dificilmente ficava doente, apesar dele ser fraco. Gostaria de evitar colapsar novamente, principalmente na frente de uma certa pessoa.— Vejo que acordou.A voz grossa de Magnus lhe causou arrepios. No canto do quarto, sentado na cadeira e de pernas cruzadas, Lucian sentiu que poderia passar mal novamente. Com trajes casuais, uma camisa de linho com uma gola V expondo boa parte do seu busto, cabelos pretos bagunçados e óculos de grau, Lucian tinha a certeza de que havia morrido e ido parar no quinto dos infernos ao ter uma visão tão deliciosa.— Ah papai — Sussurrou Lucian rouco, logo tossindo — Cough, cough…. ah, minha garganta…— Pare de falar — Magnus se levantou da cadeira, largando os documentos para trás enquanto caminhava até a cama
A situação na capital de Roveaven parecia um caos de rumores. As palavras sussurradas de boca em boca espalharam-se tão ligeiramente quanto a própria doença. A repercussão dos boatos transformou o templo em um lugar completamente caótico.Os plebeus que foram acometidos pela desconhecida doença estavam sobre uma linha de descrença e desespero. Ao mesmo tempo que culpavam o templo pela disseminação da doença, eles se ajoelharam aos pés dos sacerdotes implorando para serem tratados. Com a ajuda do Imperador, os plebeus estavam sendo tratados, mas a hostilidade para com os sacerdotes apenas crescia.— Recomendo que permaneça aqui e não saia, sacerdote Skyler — Comentou um vigário com o rosto preocupado — Os nossos acólitos estão auxiliando os médicos da corte a cuidarem dos enfermos, mas essas pobres almas estão sendo alvos de críticas.Skyler permanecia imóvel encarando o Sumo Sacerdote acamado à sua frente. O velho homem que sempre cuidou dele agora parecia pálido e doente, podendo mor