A situação estava tensa. Lucian sentia o peso do olhar intenso de seu esposo, que, há alguns minutos, permanecia sentado na poltrona, pernas cruzadas, bebendo um gole de whisky. O silêncio era sufocante, quase palpável, e o fazia se sentir como uma criança travessa que cometera um erro e agora aguardava um sermão iminente.Remexendo-se sob os pesados cobertores que cobriam seu colo, Lucian quebrou o silêncio.— Por favor, diga alguma coisa — pediu ele, a voz suave, mas inquieta.Magnus manteve o olhar fixo em Lucian, colocando o copo de whisky sobre a mesa circular ao lado.— O que deseja ouvir de mim? — perguntou ele, o tom enigmático.— Ora essa, qualquer coisa! — exclamou Lucian, sentindo a frustração crescer. — Você está em silêncio desde que chegou, e eu sei que já está ciente do que aconteceu.Um sorriso ladino se formou nos lábios de Magnus enquanto ele se levantava lentamente da poltrona. Seus passos eram suaves, quase silenciosos, enquanto caminhava em direção à cama onde Luc
A luta pelo trono deveria, em tese, ocorrer sem o derramamento de sangue. O jogo político abria espaço para quem soubesse ser um governante sábio, protegendo o povo e mantendo os nobres sob controle, evitando que sua soberba ultrapassasse os limites.O Império de Roveaven parecia dividido. Muitos nobres tradicionalistas se opunham ao Primeiro Príncipe simplesmente por ele ser um alfa, após gerações de ômegas no trono. Ninguém questionava sua capacidade de governar, mas, para seus opositores, o sangue que corria em suas veias era motivo suficiente.Contudo, para os apoiadores de Cadec, isso não bastava.— Até o Oitavo Príncipe já se casou! — pressionava um dos nobres. — Está na hora de encontrar um ômega para governar ao seu lado, Vossa Alteza.— Se tiver um ômega, muitos deixarão de resistir. Mostre-se um esposo devoto e ganhará o afeto do povo.Enquanto caminhava pelos corredores silenciosos do Palácio do Sol, Cadec não conseguia evitar que os conselhos de seus aliados ecoassem em su
Alguns meses havia se passado desde o ataque na capitaL Desde que Eugene vira Cadec.Imaginava que o príncipe estivesse ocupado com seus deveres, afinal, a atividade de mercenários aumentara nos últimos meses. Magnus, por sua vez, ordenou que Eugene permanecesse na academia até sua formatura e evitasse sair desnecessariamente, sempre acompanhado por sua guarda.Ele não era tolo a ponto de fazer birra, considerando aquilo uma injustiça. Eugene tinha plena consciência da delicadeza do cenário atual, especialmente após ter sido alvo de um ataque surpresa. Contudo, era frustrante ficar confinado, protegido, sem poder fazer nada.E, para piorar, a confissão mal resolvida pairava em sua mente.— Ah... se arrependimento matasse... — suspirou Eugene, esfregando a testa.Mas, de fato, mal tinha tempo para pensar adequadamente.Independentemente do caos que assolava o Império, Eugene estava prestes a se formar na academia. Precisava finalizar seus deveres como presidente do conselho estudantil,
Um ômega dentro da sociedade era a maior bênção que uma família poderia ter. No Império Roveaven, os ômegas detinham o poder de gerenciar suas famílias e garantir o futuro ao gerar novos herdeiros. Ômegas detinham uma qualidade natural de conseguir gerenciar cada esfera de suas vidas com cuidado e atenção, garantindo que tudo flua de acordo com os seus planos.A família Grimwood já estava sob os holofotes por causa do seu primogênito, Magnus, um ômega e herdeiro do título de único Grão-duque do Império. A surpresa foi ainda maior quando, dez anos depois, a Grã-duquesa anunciou o nascimento do terceiro filho, Eugene, também um ômega.O futuro daquela criança já estava selado.Por ter um irmão mais velho ômega, Eugene só herdaria o título caso algo ocorresse a Magnus e ele não tivesse herdeiros. Isso dava liberdade ao filho caçula de se casar com um alfa que pudesse tirar proveito de sua posição social.Eugene sabia muito bem o quanto valia no mercado casamenteiro. Sabia também que muit
Ao longo daqueles cinco meses no Templo, Lucian se acostumou com a nova rotina. No início, foi difícil. A mordida em seu pescoço incomodava, e o instinto alfa o impelia a ver Magnus. No entanto, as visitas regulares de seu esposo silenciaram esse tormento, pelo menos temporariamente.Principalmente quando Magnus resolveu aparecer no meio de uma noite para passar o seu ciclo de calor com Lucian. No templo. Aquilo foi… uma aventura tão perigosa quanto ter relações em lugares públicos. Apesar do alfa ter o seu próprio quarto e raramente ser incomodado pelos sacerdotes… aquele lugar continuava a ser um templo.Bem, Skyler acabou descobrindo e isso resultou no aumento de guardas. Não que o sacerdote quisesse impedir as visitas de Magnus, mas aqueles dois viviam brigando. Lucian já tinha desistido de tentar persuadi-los de agirem de acordo com suas idades.Agora, as manhãs eram preenchidas com a revisão de relatórios do território Grimwood, e as tardes com Skyler, estudando textos antigos e
O instinto de um alfa é conhecido por ser forte, selvagem e dominador. No Império Roveaven, alfas preferiam lutar em campos de batalha ou servir na cavalaria, pois era uma forma de dar vazão à sua força natural. Ômegas, por outro lado, eram proibidos de se tornarem cavaleiros, para evitar problemas com alfas. Afinal, não se queria "colocar uma bela presa na toca do monstro".Uma vez que o instinto de um alfa capta o feromônio de um ômega, ele se sente atraído, quase compulsivamente. Muitas vezes, eles perseguem os ômegas de interesse, numa caça que dá a falsa sensação de poder ao alfa, fazendo-o acreditar estar no controle. Contudo, na realidade, é o ômega quem escolhe seu parceiro, marcando-o com uma mordida. Toda essa perseguição, nada mais é que uma armadilha criada por ômegas que sentem a mesma atração.Esses jogos de sedução ocorriam com frequência entre alfas solteiros, que dominavam poder e respeito. Cadec já havia passado por tudo isso. Feromônios, bebidas drogadas, tentativas
— Vossa Alteza! — Eugene sorriu docemente, curvando-se respeitosamente para Cadec. — Fico feliz em vê-lo aqui.— Eu disse que viria.Eugene retribuiu com um sorriso agradável, suas bochechas corando levemente, o que o tornava ainda mais adorável aos olhos de Cadec. O príncipe pôde sentir o aroma floral dos feromônios de Eugene, preenchendo seus pulmões e inflamando a febre latente que lutava para controlar.— Oh, e obrigado pelo presente. Gostei muito do conjunto de abotoaduras e do broche.Surpreso pela mudança repentina de assunto, Cadec se agarrou à conversa, esperando que isso o ajudasse a se distrair do caos interno que estava travando. Ele manteve o tom de voz calmo e baixo, ocultando o esforço que fazia para não perder o controle.— Fico feliz que tenha gostado.— Pretendo usá-los na minha festa de maioridade. As safiras combinam perfeitamente com os olhos de Vossa Alteza.O tom suave de Eugene parecia tentar suavizar o clima entre eles, mas Cadec lutava contra o seu instinto a
A chuva torrencial ensopava os dois, intensificando a tempestade emocional que fervilhava dentro de cada um. No entanto, nenhuma gota daquela chuva era capaz de esfriar o calor abrasador que tomava conta do corpo do alfa. E os feromônios florais de Eugene, misturados ao cheiro da chuva, faziam tudo parecer um sonho febril do qual Cadec não conseguia escapar.Ele estava à beira do descontrole.Eugene, parado diante dele, com os olhos cheios de esperança, era ao mesmo tempo o objeto de seu tormento e a única coisa que poderia trazer alívio. Cadec sentia o instinto primitivo rugindo dentro de si, clamando que tomasse Eugene para si, para que acabasse com aquela luta inútil e se deixasse levar. Mas Cadec lutava — por ele, por Eugene, por tudo mais que estava em jogo.Cada palavra que Eugene dizia parecia trazer Cadec para o fundo de um abismo. O jovem ômega não tinha noção do quão irresistível era a sua presença.— Por favor, não fuja de mim, Vossa Alteza — disse Eugene, sua voz baixa, qu