O galo cantou mais cedo hoje, o sol ainda nem tinha nascido. O vento frio da manhã arrepiou os pelos dos meus braços, assim que abri a janela do meu quarto na esperança de ver o sol raiar. Hoje, não é um dia comum. As nuvens cobriam todo o céu, alguns raios de sol passavam por entre as nuvens, querendo iluminar o dia, mas parecia que hoje não seria um dia muito alegre.
Fui para o banheiro, descarreguei a minha bexiga, lavei minhas mãos e escovei os dentes. Passei água na cara para acordar e desci para o café da manhã. Marta já pôs a mesa, os peões já estavam tomando seu café, Cidinha ajudava a Marta colocando as frutas a disposição do pessoal, porém, mamãe e papai ainda não descerem. Sentei com todos à mesa, cumprimentei todo mundo e me servi.
— Bom dia, Romão! — Cidinha me cumprimentou toda sorridente.
— Bom dia, Cidinha! Você não deveria está estudando na cidade?
— É feriado municipal na cidade, a faculdade não funciona. Tenho quatro dias em casa.
— Ah, pois, aqui não tem desculpa para não trabalhar, você vai ajudar a Marta na horta e pensar num jeito de fazer aqueles coelhos pararem de comer nossa plantação. — Mordi o meu pão com mortadela.
— Faz um cozido deles.
— Para isso, precisa pegá-los primeiro, aqueles danados são espertos demais.
— Por que você não faz armadilhas para pegar aqueles danadinhos.
— Hoje vou precisar sair, papai quer que eu o ajude administrar a quitanda, preciso de alguém de confiança para cuidar da fazenda. — Tomei um gole do meu café.
— Finalmente você vai sair desse fim de mundo, tenho certeza que você vai gostar da cidade. Aí, quem sabe, você se mude para lá, aí podemos nos casar. — Engasguei com o meu café com leite.
Os peões ficaram me olhando com um sorriso no rosto.
— Eu já falei para você, que para mim, você é como uma irmã e não como uma esposa.
— Eu sei, mas sei que você pode mudar de ideia — ela disse se levantando da mesa, indo para a cozinha levando seu prato.
Eu olhei para os peões e eles davam risadas.
— O que foi? Se já terminaram o café, “arriba!” Trabalhar. — Eles saíram um por um, para começarem o dia de trabalho.
Papai e mamãe apareceram no refeitório da fazenda, eles me cumprimentaram com um beijo no rosto, mamãe sentou ao meu lado e papai sentou à ponta da mesa.
— Então, filho, já pensou em quem vai chamar para administrar a fazenda? — perguntou papai.
— Pensei no Jorge, ele é bom com os bichos.
— Concordo, ele também é uma boa pessoa, além de ser de confiança.
— Tem certeza que você precisa viajar hoje? Parece que o dia não vai ser dos melhores — mamãe falou “aperreada.”
— Eu concordo com ela, acordei com uma sensação ruim — falei me preocupando também com o papai.
— Só vai ser uma viagem de algumas horas, a noite estarei em casa. Eu prometo.
— Se você não voltar para casa, para mim, eu juro que eu te espanco com chicote de cavalo. — Já apanhei muito com esse chicote.
— Você sabe que adoro quando você dá uma de selvagem. — Ok! Isso é informação demais.
— Acho que já é hora de eu sair. — Fui até o meu pai e beijei sua testa. — Até a noite papai, cuidado no caminho.
— Até a noite!
Eu bati em retirada e busquei minha charrete que deixei no estábulo. Fui até a casa do Jorge, para chamá-lo para trabalhar comigo. Jorge tem vinte e oito anos, moreno, cabelos e olhos castanhos, um metro e oitenta e cinco centímetros de altura, ele gostava de fazer o cavanhaque para chamar atenção das meninas, ou melhor da Cidinha. Enquanto eu gostava de deixar a barba ficar bem grande, raramente eu me barbeio.
Jorge é apaixonado pela Cidinha, só que ela não dava nem trela para ele. Acho que ele vai aceitar a trabalhar para mim, só para ficar perto da Cidinha.
— Romão! A que devo e honra? — ele falou empolgado.
— Eu vim saber se você quer trabalhar na fazenda?
— Depende... Vou poder ver a Cidinha todos os dias?
— Você sabe que ela faz faculdade na cidade, mas ela está todos os fins de semana lá na fazenda. Esses dias é feriado municipal e ela vai ficar quatro dias em casa, a partir de hoje.
— Sério? E vocês não estão...?
— Não! Você sabe que a vejo como irmã.
— Mas vocês já namoraram.
Ele ficou mal na época em que Cidinha e eu estávamos juntos.
— Aquilo nunca deveria ter acontecido, mas agora ela está solteira, é a sua chance.
— Quando eu começo? — perguntou esfregando as mãos.
— Se puder, hoje mesmo.
— Fechou! Vou me arrumar e te encontro na fazenda.
— Ok, até mais!
Saí da casa do Jorge e voltei para a fazenda, guardei minha charrete, paguei o Ferrari, fui para o curral cuidar do meu gado e levá-lo para o pasto.
Acordei cedo, o que não era o meu costume, mas se eu for assumir a empresa, terei que me acostumar em fazer isso. Abri a janela e vi que hoje o dia está nublado. Que droga! Parece que vai chover, odeio dias chuvosos. Fui para o banheiro, tomei banho e fiz minhas higienes pessoais. Arrumei o meu cabelo, prendendo em um coque. Fiz uma maquiagem leve, algo não muito chamativo, vesti uma roupa social e sapatos que combine com a roupa. Coloquei algumas joias, mas principalmente, o meu pingente porta retrato, da qual nunca tiro, a não ser, para tomar banho. Fui para a sala de jantar, vi a Sara e meu pai tomando café.— Bom dia! — falei estranhando a Sara logo cedo em nossa casa. — Caiu da cama, Sara? Chegou cedo. — Eu me sentei à me
Passei o dia inteiro mostrando para o Jorge como funcionava a fazenda. Ele é um cara esperto e inteligente, aprendeu tudo direitinho. No final da tarde voltamos para casa, ele esperava muito ver a Cidinha, ele é apaixonado por ela desde quando ela tinha quinze anos, mas nessa idade ela ainda brincava de boneca.O tempo foi passando, ela se transformou em uma mulher linda e mamãe insistiu para que nós namorássemos. Namoramos quando ela tinha dezoito anos, mas o namoro durou menos um ano, porque ela mudou desde que começou a estudar na cidade. O dia passou voando e eu nem percebi. Resolvi bastante coisas pendentes que meu pai tinha deixado para quando voltasse de viagem. Agora ele não vai precisar se preocupar tanto quando chegar, só vai precisar se preocupar com a parte financeira da empresa. Não entendo muita coisa sobre finanças, mas pelo o que eu pude perceber, tem um pequeno desfalque no departamento de produção. Parece que tem notas superfaturadas, tem gente ganhando em cima da compra de matéria prima. Bom, isso podemos resolver quando ele voltar, só espero que ele deixe-me trabalhar ao seu lado.Na hora do café, eu fui para o refeitório dos diretores, percebi que passou o dia inteiro, o Antony e o6. Alexia
Acordei antes do galo cantar, ninguém tinha levantado ainda. Fui até o estábulo, peguei o Ferrari e cavalguei até o moinho de vento, que ficava em uma montanha um pouco distante da fazenda. Precisava ficar sozinho com os meus botões e admirar a paisagem. O pôr do sol daqui de cima era espetacular! Gostava de vir aqui para pensar, ou tomar alguma decisão. Essa história de ser herdeiro de sei lá o quê, me fez ficar acordado a noite inteira. Nem conversei com a mamãe sobre isso, ela nunca me falou desse cara, talvez ela tenha seus motivos e eu não queria pressioná-la para me dizer.O sol começou a aparecer no azul do céu, nem parecia que chovia ontem à noite. Se não fosse pela terra que ainda estava molhada, isso passaria desperc
O enterro foi rápido, impressionante como depois que uma pessoa morre, ela sempre vira boazinha. Não ouve nenhuma reclamação de nenhum diretor presente, o caixão estava lacrado, já que o carro pegou fogo, quando caiu na serra, pelo menos, meu pai teve o seu desejo realizado de ser cremado, pena que foi em vida. Que pensamento infame! As pessoas vinham até mim, dizendo como meu pai era um excelente chefe. Eu tenho minhas dúvidas, quando assumi a empresa, devido a sua viagem, que resultou nessa tragédia. Eu pude ver como são incompetentes aqueles diretores que o cercava. Ou meu pai era bonzinho mesmo, ou era cego.O enterro do tio da Patrícia, foi ao mesmo tempo que a do nosso pai, porém, as únicas presenças eram da minha irmã e
Eu preparei minha charrete logo cedinho, coloquei minha mala com os meus panos de bunda, dentro da charrete. Genésio ainda não cantou, acho que minha mãe tem razão, preciso arrumar um galo mais jovem, també
Isso só podia ser uma piada de muito mal gosto, acho que o universo está conspirando contra mim. Além do meu pai não ter deixado nada para mim, eu tenho que trabalhar com uma pessoa, que parecia ter saído de um filme de faroeste, muito mal encenado, que passava na sessão da tarde. A criatura ainda tem o mesmo nome do meu toy. Isso é um pesadelo!Ele vestia uma camisa xadrez preta, ensacada numa calça jeans apertada que dava para ver, nitidamente, o conteúdo volumoso entre suas pernas. Segurado por um cinto com uma grande fivela que parecia ser o cinturão do Maguila, o lutador de boxe. Uma bota de bico duro e com esporas atrás e um chapéu de cowboy. Pele clara, barba volumosa e dava para perceber qu
Fiquei parado no lado de fora da sala daquele engomadinho, como se fosse um burro empacado. As pessoas passavam e ficavam me olhando. Elas cochichavam alguma coisa, uma com as outras, olhando para mim. Parece que a minha aparência as intimida, mas eu não estou nem aí, nunca dei trela para esse tipo de gente, que se achava melhor que os outros e não vai ser agora que vou dar.Um comercial que estava passando em uma televisão, me chamou a atenção, a tela da televisão era bem fininha, como vi na sala da Alexia. É a primeira vez que vejo esse tipo de televisão, parecia um pedaço de papel bem grande. Ah, sim,