— Como Donatel consegue ser tão horrível e asqueroso? — Pergunta com desdém.
— Ele não queria filhos Ivi, queria soldados e fez de tudo para conseguir isso.
— Parte do objetivo aquele velho asqueroso concluiu, pois ele realmente criou soldados fortes e blindados, mas se esqueceu que bem no fundo de cada um de vocês ainda bate um coração. — Ela apoia a mão no peito sorrindo.
— Talvez você tenha razão, mas nem sempre consigo proteger a todos como gostaria. — Falo com pesar.
— Por que diz isso?
— Jack passou a me odiar depois do acordo assinado por Donatel e Edgar, mas não há nada que eu possa fazer, já tentei de tudo e foi em vão.
— Você mesmo disse para dar um crédito a Royal, então dê um a Jack. Sei que é normal esse tipo de acordo entre máfias, mas ele só está perdido e assustado, tenha calma. — Eva tenta me confortar, mas não surtiu muito efeito.
— Normal quando somos pequenos Ivi, assim crescemos sabendo que aquela pessoa é nossa prometida, mas no caso de Jack ele já passou dessa idade, achei que somente eu teria que lidar com uma situação como essas, agora vejo Jack se desfazendo por culpa das atitudes daquele velho desgraçado e juro que queria matá-lo com minhas próprias mãos… — Eva apoia os dedos em meus lábios e sorri.
— Tenho um pouco de fé que tudo se resolverá, Jack é cabeça dura eu sei, mas pelo pouco que conheço dele vai entender toda a situação. — Desliza seus dedos do meu peito para meu rosto e me permito sentir a suavidade de sua pele em contato com a minha.
— Espero que esteja certa. — Falo com sinceridade, pois realmente esperava que Jack saísse do limbo de seu desespero e enxergasse a verdade diante dos seus olhos, pois ao meu ver o objetivo de Donatel é tentar nos separar, fragmentar nossa lealdade para ter a vantagem de controlar cada um de nós separadamente, mas não permitirei isso.
— Vamos, precisamos esclarecer tudo para eles. — Gira a maçaneta da porta e concordo entrando no quarto.
Max que está sentado sobre a cama volta seu olhar curioso para nós enquanto Royal continua sentado na poltrona mexendo em seu celular.
— Max, como você está? — Eva se aproxima da cama.
— Bem na medida do possível, mas essa coisa incômoda. – Indica a tipoia no braço.
— Em breve você estará melhor — fala e ele concorda com sorrindo como sempre.
— Jack ainda não chegou? — Questiono observando Royal que me observa com indiferença, mas era tão natural dele aquela expressão que para mim já não é mais uma novidade.
— Acredito que estará aqui em breve — Guarda o celular no bolso da calça para estudar Eva que conversava com Max.
— E aqui estamos nós. — Ouço a voz de Jack e volto minha atenção para a porta.
E confesso que não esperava ver meu irmão caçula se desfazendo em álcool e cigarros, pois o cheiro que ele exala é exatamente esse e sua aparência deplorável me preocupa. Queria iniciar uma discussão sobre suas atitudes, enfiar na sua cabeça o que Donatel estava fazendo, mas não adiantaria nada fazer isso agora, pois só o deixará ainda pior, então procuro focar no que era realmente relevante para agora.
— Com todos presentes vou contar como Eva e eu chegamos até aqui — Volto meu olhar para ela que continuava sentada ao lado de Max na cama.
— Eu gostaria de começar por favor. — Pede educadamente e concordo com um aceno de cabeça sentando na poltrona livre próximo a ela.
***
Eva parecia um pouco incomodada com a situação, suas mãos cruzadas sobre as pernas estavam inquietas, seu corpo apesar de demonstrar uma postura ereta e centrada era tensa, e consigo compreender suas ressalvas dada as circunstâncias, afinal meus irmãos a observavam fixamente esperando respostas para as últimas semanas e apesar de Jack saber parte de tudo ele não sabe de todos os detalhes, por isso exige sua presença assim como os demais.
— Acredito que antes de começarmos devo desculpas a cada um de vocês. — Eva fixa seu olhar no meu e logo em seguida volta sua atenção para sua mãos apoiadas sobre seu colo. — Meu verdadeiro nome não é Dana Trion como vocês já perceberam, mas sim Eva Becker, além disso, não sou irmã de Robert Trion, ele na verdade foi incumbido pelos meus pais de me proteger e me criar caso algo acontecesse com eles e desde então ele é a pessoa que mais se aproxima de uma família para mim, já todos foram mortos a onze anos atrás — fala com sinceridade e aquilo não me agrada nem um pouco, pois eu odeio Trion e mesmo que Eva afirme que ele é só um irmão nada me tira da mente que ele queria ser muito mais do que isso.
— Por que mentiu ser outra pessoa? — Royal volta sua atenção para Eva que contrai os lábios encolhendo os ombros e resolvo tomar a frente.
— Porque Eva Becker foi morta há onze anos atrás por mim. — Vejo surpresa na expressão de Max, mas Royal continuava impassível tentando compreender toda a situação desastrosa, já Jack se mostrava entediado, mas mantinha o respeito em ouvir tudo em silêncio.
— Você a matou? — Max franze as sobrancelhas confuso. — Não estou entendendo nada.
— Exatamente... — Explico com calma tudo que envolve nosso passado e, nesse momento, todos fazem silêncio prestando atenção em cada palavra que digo.
— Vindo de Donatel isso não me surpreende. — Royal diz e Max concorda.
— A única finalidade dele era criar máquinas sem sentimentos, por isso ele tomou de nós tudo aquilo que considerávamos mais importante do que a máfia. — Max se ajeita na cama e logo em seguida apoia a mão no ombro fazendo uma careta.
— E ainda somos obrigados a deixá-lo vivo para evitar maiores conflitos. Eu juro que quero matar aquele velho com minhas próprias mãos. — Jack se manifesta e compreendo seu ódio, pois o sentimento é mútuo.
— Assim como vocês desejam a morte de Donatel, esse também era meu objetivo, mas como não sabia de exatamente nada sobre meu passado, queria entender o porquê de tudo. Sempre achei que Dante fosse filho único e confesso que chegar aqui e descobrir mais três Voyaller de brinde foi um choque e tanto, entretanto em nenhum momento vocês fizeram parte do meu desejo de vingança. Meu ódio era destinado apenas a Dante e Donatel, e custou para eu entender que os únicos culpados eram nossos pais.
— Você estava no seu direito Eva, veio em busca da verdade e de vingança, em seu lugar acredito que faria a mesma coisa, porém erraria em um sentido, não esperaria a verdade, apenas mataria sem olhar para trás. — Royal diz observando Eva com seriedade.
— Vocês não conheceram Eva quando pequenos, pois era o desejo de Donatel e Frank que somente eu tivesse contato com ela, assim evitávamos conflitos internos. Nenhum de vocês podia se apaixonar e se aproximar já que ela estava destinada a mim — Explico e retiro o papel dobrado em formato de carta de dentro do bolso interno do terno entregando para Eva. Seus olhos receosos observam o envelope com atenção e com a mão trêmula ela segura o envelope. — Esse é o nosso verdadeiro contrato de casamento. Quando você completou dezesseis anos se tornou oficialmente minha esposa já que seus pais assinaram para isso.
Vejo Eva abrir o papel correndo os olhos rapidamente pela escritura, seus dedos trêmulos tocam a assinatura dos pais no fim da folha e a emoção toma seu semblante fazendo meu peito se apertar.
— Ivi... —Sussurro e ela volta seus olhos para os meus enxugando rapidamente algumas lágrimas que escapam.
— Desculpa. — Sorri envergonhada passando as mãos pelas bochechas.
— Quem lhe deve desculpas sou eu Ivi, pois mesmo recusando matar sua família, Donatel não me deu muitas opções ou seguia suas ordens ou meus irmãos pagaria no lugar. Não me importava em pagar com meu próprio corpo, mas desta vez ele usou meus irmãos e se eu não concordasse com seus planos, ele mataria cada uma deles na minha frente e logo em seguida torturaria você. Não quis acreditar, recusei achando que ele não seria capaz de matar os próprios filhos sendo que era benéfico para ele quatro homens no poder, mas estava enganado. Ele nunca se importou conosco de verdade, só se importou com o poder e com o nome que tinha a zelar. Para provar que não estava brincando torturou os meus irmãos na minha frente sem que eu nada pudesse fazer e quando percebi que ele realmente mataria os três, aceitei a proposta com uma única condição, que ele não encostasse em você e a deixasse livre, mas meu erro foi acreditar no diabo de olhos fechados.
— Não posso acreditar. — Max arregala os olhos surpreso. — Naquele dia você não moveu um único músculo em nosso favor. — Max nega com a cabeça decepcionado. — Eu te culpei por anos irmão, me perguntei por que você não nos defendeu, por que não interferiu por Jack que ainda era tão pequeno e não tinha idade para passar por aquilo, mas agora compreendo tudo.
— Naquele momento estava sendo forçado e usado, não queria ceder às vontades de Donatel, mas se eu continuasse em silêncio ele mataria vocês e naquela época a morte de familiares não era uma regra a ser seguida.
— Essa regra só favorece quem está no poder, nos forçando a abaixar a cabeça para nossos superiores e segui-los em silêncio. Somos forçados a não matar um superior e esperar a vontade dele em entregar o trono. — A expressão sombria de Royal faz jus a cada sentimento obscuro dentro de nós.
O sentimento de raiva, incompreensão, vazio e solidão, de ódio, rancor, ira e fúria que só crescia ainda mais em nosso interior.
— Royal tem razão Dante, mesmo você estando no poder não pode ir contra as ordens de Donatel por ele ainda ser nosso superior e mesmo suas palavras tendo o mesmo peso que a dele, se ele discordar de algo que você faz ou fez, a decisão dele se sobrepõe a sua por ser mais velho e ainda estar vivo. Essa regras feitas pelos nossos avôs são patéticas. — Max não esconde o ódio e ressentimento dos nossos familiares.
— Não adianta discutirmos sobre isso, foi votado e assinado, não seremos nós a ir contra algo tão grande, além do mais não ganharíamos essa batalha, pois é cômodo e conveniente para os velhotes. — Apoio as mãos no encosto da poltrona expondo a verdade. —Não é conveniente nos envolvermos com algo tão grande com Donzel esperando um deslize de nossa parte, afinal, isso geraria polêmica e pode abalar alianças fiéis que discordem com nossos atos. Seria imprudência da nossa parte deixar que isso aconteça debaixo dos nossos narizes dando a possibilidade de Donzel atacar sem medo já que nossas alianças estariam enfraquecidas.— Dante tem razão. — Jack resolve dar um parecer em meio a sua passividade sobre a situação. — Não adianta tentarmos mudar as regras principais, temos
Entro e trancando a porta atrás de nós, pois não queria ser interrompido, não antes de sentir Eva por completo, de vê-la gemer e tremer em meus braços ao chegar no ápice de seu prazer.Sedento avanço em sua direção, mas ela apoia as mãos em meu peito me fazendo parar. Ergo a sobrancelha e ela sorri deslizando as mãos por meus ombros, descendo pelos meus braços até finalmente ter meu paletó caído ao chão. Seus olhos desejosos só me deixava ainda mais louco, mas era maravilhoso demais vê-la me despindo para impedir seus atos, então deixa que suas mãos delicadas passeiem por cada botão da minha camisa abrindo-os com uma calma que faz cada célula do meu corpo ansiar por ela até finalmente deixar o pano cair ao chão.— Ivi… — Sussurro apoiando as mãos em
EvaAcordei na sala da biblioteca um pouco antes do horário de almoço, com o corpo coberto por meu sobretudo estava encolhida no móvel sem o calor do corpo de Dante sobre o meu. Ele provavelmente tinha coisas para fazer, mas confesso que esperei tê-lo ao meu lado quando abrisse os olhos vã expectativa sabendo a correria que é sua vida.Ao me trocar segui para nosso quarto, tomei um banho, vesti uma calça confortável, uma cashmere cinza e uma botinha cano curto já que o clima começava a mudar para um vento mais fresco.Ao sair do quarto e passar pelos corredores vejo Jack sentado no jardim com os cotovelos apoiados no joelho e as mãos sobre o rosto em uma postura de desgosto e derrota.O homem que conheci no subsolo desta casa não é nada comparado ao que vejo prostrado sem esperanças do lado de fora. Jack é um verdadeir
— Nunca me enganei com esses pensamentos, ainda mais sabendo de como Donatel manipulou cada um, mas acredito que no fundo do seu coração ainda existe esperança, uma pequena chama que acredita que tudo pode ser diferente, de que você e seus irmãos ainda podem ser felizes. — Confesso e surpresa atinge a máscara impenetrável que ele luta tanto para manter.Royal fica pensativo, silencioso e parecia refletir em cada uma das minhas palavras com cuidado, mas obviamente ele não admitiria se eu estivesse certa ou não.— Sobre o final de semana, você não me respondeu — Muda de assunto e prefiro não pressioná-lo, afinal, hoje ele estava muito receptivo diferente de Jack.— Não tenho nada para daqui duas semanas. Por quê? — questiono inclinando a cabeça.— Acontecerá a nossa festa de ani
— Não deveria ter tocado nesse assunto. — Tomo meia taça de champanhe querendo que fosse um copo de Whisky, mas a mão de Eva desliza por minha coxa acariciando suavemente minha perna.— Não é como se eu realmente fosse voltar Dan, minha vida é aqui, sempre foi e isso não vai mudar.— Acho que não saberia viver em outro lugar — confesso — Fui criado para conhecer cada cantinho deste país e sinceramente amo cada pedacinho da Itália.Eva encosta a cabeça em meu braço e deslizo minha mão pela parte interna da sua coxa em direção ao seu joelho.— Pensei em preparar um jantar aqui enquanto navegávamos pelo grande canal, mas achei injusto quando podemos passear pela praça de “San Marco”.— Quero ir no “Florian”.— Eu imaginei
Dante— O que de tão urgente você tinha para falar comigo Rocco? — Questiono ao descer do Jaguar e caminhar em sua direção não tão animado quanto gostaria, já que precisei deixar Eva no meio da madrugada para vir ao porto.— Encontramos três rapazes rondando as docas, pareciam ter interesse na carga do “Solar”, mas tudo já foi transferido para os galpões de distribuição.— As cargas das Filipinas já estão prontas? Quero o navio em alto mar o mais rápido possível.— Estamos terminando de fazer o carregamento da carga principal senhor, faltam apenas alguns containers para a partida do navio.— Ótimo, quanto mais rápido sair, menos chances de sermos interceptados. — Afirmo e o vento frio da madrugada faz meus cabelos balançarem.— Est&atild
Duas semanas depois.DanteOdeio sair da cama antes de Eva, mas tinha assuntos pendentes em Verona, além disso Edgar Squared estava começando a me irritar com sua insistência em organizar um casamento no meio do caos que minha vida se encontra por culpa do imbecil de Donzel.Termino de arrumar as abotoaduras da manga do terno quando vejo minha Ivi se espreguiçar e passar as mãos pelos olhos. Seus cabelos esvoaçantes e encaracolados caiam em cachos soltos por seus ombros e seu delicioso cheiro ainda estava presente em meu nariz. Por mim ignoraria os meus deveres e deitaria ao seu lado apenas para fazê-la gemer meu nome e implorar que eu lhe desse múltiplos orgasmos.— Esse terno deveria ser proibido por lei. — Ela esfrega as mãos nos olhos me observando com desejo.— É porque você não sabe o que estou
Ele abaixa o vidro sorrindo.— Vamos donzela. — Pisca para mim.— Super discreto — alfineto e ele gargalha.— E desde quando você viu um Voyaller ser discreto? — pergunta divertido.— Royal com certeza é. — Entro no carro balançando a cabeça em negativo.— Ele realmente pode ser o mais antissocial dos quatro, mas isso não faz dele menos ostensivo. Muito pelo contrário, Royal é apaixonado pelo Zenvo ST1 que ele ostenta nas ruas da Itália.— Vocês homens são complicados. — Suspiro maneando a cabeça em negação.— Apenas gostamos de dirigir belíssimas máquinas — defende.— Então dirija logo até a loja de antiguidades do senhor Peterson em Pádua.— As suas ordens. — Acelera fazendo o motor roncar alto.