Quando acordei, ainda estava escuro. Voltei para a árvore e por lá fiquei até o nascer do sol, o que não demorou. Os irmãos me chamaram para voltar à aldeia, mas neguei. Eles insistiram dizendo que era perigoso ficarmos expostos, mas mesmo assim não fui. Queria estudar a cidade na tentativa de encontrar uma luz no fim do túnel, que nos conduzisse de volta para casa. Além do mais, eu não faria nada além do meu trabalho: explorar. O que, modéstia à parte, faço bem.
O movimento na cidade era grande. Vagões de madeira puxados por bois e por cavalos, passavam a toda hora para lá e para cá, levando e trazendo gente e cargas. Uns chegavam outros saiam e muitos circulavam lá dentro. Vi o nome da cidade rusticamente entalhado em um arco de pedra na entrada sul: “Nova Esparta”. Ti
Era o que eu tinha até o momento: lugar com alto nível de Mana? Merlin e Gandalf eram magos e magos faziam “magias”! Dois senhores cujos modos e vestes assemelhavam-se aos deles em uma era medieval? Ainda mais dando instruções dentro de um castelo? Depois do que a gata relatou sobre “manipulação de mana” aliado a tudo de impossível que eu presenciara, imaginei:“Magos!” — seria possível alguma outra conclusão? Com seus conhecimentos poderiam nos ajudar! Uma possibilidade absurda, admito, entretanto o que não era absurdo aqui? Concluí que eu precisava fazer contato com aqueles senhores.Contar toda a verdade seria imprudente, uma vez que essa gente antiga costumava ter crenças fundamentalistas e eram capazes de atrocidades terrívei
Desci a colina em direção à cidade encoberto pela vegetação. Não entraria por um dos portões por serem bem guardados. Identificara um ponto do muro perto de uma torre vazia e, portanto, pouco vigiado, por onde poderia escalar. Algumas pedras soltas e com falhas no paredão ajudaram, além das vantagens do meu traje. Concluída a escalada, corri para a torre vazia. Creio que eram tempos de paz, porque a vigilância era frouxa. Da torre, percebi uma faixa de terra de cinquenta metros da muralha até o início da zona urbana para acomodação de tropas, supus. Corri rampa abaixo e cheguei à borda da urbanização nos fundos de casebres. Em um deles, uma senhora estendia roupas em um varal. Esquadrinhei as roupas camponesas com as lentes que transmitiram a informação para o computador de bordo e para o traje.
Depois de muito divagar, percebi que chegara o que chamavam de comida: um gorducho sujo, suado e peludo empurrava uma rudimentar carroça com rodas de madeira que rangiam sobre a qual se via um caldeirão de ferro em que borbulhava um engodo repugnante que o obeso servia em pequenas gamelas de argila. Os servos correram para formar uma fila à frente da carrocinha. Fiquei por último e ao pegar minha tigela fui me sentar ao lado de Yole.Experimentei para constatar que, como desconfiei, o gosto era terrível e rançoso! Cuspi! Os outros comiam tão vorazmente que nem perceberam. Entreguei o meu a Michael, que apenas devorou. Recorri a uma pastilha de nutrição, que me mantém alimentado por vinte e quatro horas, bebi água e dormi.Ao acordar, lavei o rosto sendo notado com curiosidade pel
“Oh, céus! Como fui me meter nisso” — eu ruminava, deitado de costas observando as estrelas quando o guarda da escolta pessoal do necromante cutucou de leve minhas costelas com a ponta da bota e disse:— Taurus quer falar contigo, agora — sussurrou e deu-me as costas voltando à sua posição.Afora o crepitar da fogueira e os sons selvagens da mata, no acampamento reinava o silêncio, mas duvido que todos estivessem dormindo depois do pavoroso ataque. Dirigi-me à tenda de Taurus e entrei encontrando-o sentado a uma pequena mesa rústica sobre a qual havia um embrulho encurvado que desconfiei ser o braço do morto. Não me deu atenção enquanto não terminou de redigir uma carta, a qual lacrou usando cera vermelha e o brasão de Nova Roma.
O rei Victorio leu a mensagem que eu trouxera e recebeu com pesar a notícia da morte do irmão, embora se esforçasse para disfarçar, pois julgava que eu desconhecia a informação, que era quase um segredo. De fato, o rei tinha vergonha daquele irmão caçula, um homem dos mais desprezíveis, mau caráter, trapaceiro, estuprador, bêbado e arruaceiro.É difícil imaginar que um homem bem-nascido consiga reunir tantos defeitos e que tenha conseguido fazer tanta maldade a ponto do irmão, o próprio rei, tê-lo deserdado. Mas Titus conseguiu, e, conta-se, a gota d'água foi quando tentou estuprar a então princesa, noiva de Victorio.Ninguém sabe ao certo onde terminam os boatos e começam as verdades, mas parece que o primogênito conseguiu impedir o ato e deu uma surra no irmão com a parte chata da lâmina da espada, e depois esmurrou-
E assim eu fiz sem maiores problemas, a não ser ter que conviver por alguns dias com a intragável e medonha mulher de Titus, Zéphyra, o que me levou a entender porque ele era um notório estuprador. Se eu fosse casado com aquela bruxa, certamente enfiaria o pau em qualquer outro buraco, menos nos dela. Não sei como conseguiu fazer seis filhos nela. Talvez tenha tido algum resquício de beleza quando jovem. Sem contar o humor amargo, sempre reclamando, brigando com um filho ou outro. O único filho com quem se dava bem era o mais velho, Nero, então com quinze anos. E os dois foram os que menos lamentaram a morte de Titus. Pelo menos eu não os vi derramarem uma lágrima sequer durante toda a viagem, inclusive no funeral, ao contrário dos menores que choraram aos prantos.Na ida para Nova Roma, notei que Nero e Zéphyra começ
Quando chegamos a Nova Roma, fomos recebidos pelo escravo particular de Victorio, Caius que era conhecido por ser educado, mas sucinto. Não gostava de perder tempo.— Sejam bem-vindos a Nova Roma. Eu os guiarei daqui para frente. Obrigado por teus serviços, Yole, eu assumo.— Perdão, Caius, mas Victorio ordenou que eu liderasse a comitiva desde a saída de Sicilianos até a volta para lá, e assim o farei, a não ser que Victorio em pessoa diga o contrário.Ele me fulminou com o olhar, mas sabia ser verdade, pois estava presente quando o rei me dera as ordens. Depois de um momento respondeu:— Que seja. Sigam-me.— Esperem um pouco aí! —
Na sala do trono, Victorio se sentava sozinho, aguardava sem tentar esconder a cara de poucos amigos. Ajoelhamo-nos e fizemos uma mesura para cumprir as formalidades.— Sê breve, Zéphyra — ordenou ele.— Muito grata por receber a mim e teus sobrinhos, majestade. Me honra tua gloriosa presença, mas se não for abusar da tua paciência, poderíamos ter uma audiência privada?— “Se não for abusar da minha paciência”? Receber-te aqui já é um enorme abuso da minha paciência e do meu tempo, mulher, sem contar que teus filhos não são mais meus sobrinhos desde que o pai deles foi justamente deserdado. Portanto fala logo ou retira-te! — trovejou o soberano.Último capítulo