Acordei com um raio de sol nos meus olhos e com os ferimentos completamente curados, mas ainda fraco. Fiz o último procedimento de cura que não tivera tempo de fazer antes de apagar: injetei, na veia, uma ampola compacta de sangue artificial concentrado. Era o que eu precisava para revigorar o corpo e sair daquele fosso, mas, para que fosse mais efetivo, teria que beber água.
Levantei, guardei o estojo de primeiros socorros e analisei as paredes buscando uma forma de subir. Existiam pontas de raízes que eu não vira antes, então escalei com relativa facilidade até a borda do buraco.
O difícil foi mexer o tronco que, mesmo carbonizado, além de bloquear o caminho devia ter uns dois metros de diâmetro. A abertura, embora não fosse grande o bastante para que eu passasse meu corpo completamen
Caminhei a passos largos e corri quando o terreno permitia, até que cheguei a uma clareira e me dei conta que era o local onde fui acordado pela tigresa. Olhei em volta e subitamente me questionei onde raios estaria minha nave? Com as confusões e descobertas absurdas dos últimos dias, esquecera-me completamente dela. Devia estar por perto, é claro, pois como eu teria chegado aqui? Decidi que pediria ajuda aos tigres para vasculhar a floresta em busca dela e continuei.Repentinamente, estaquei ao sentir que era observado! Mesmo com meus equipamentos ligados e sabendo que seria impossível, eu senti. Fiz uma rápida busca visual para constatar quem me fitava: os elfos, nas copas das árvores.Pensei em me revelar e iniciar um diálogo, afinal despertavam curiosidade. Foi quando ouvi um quebrar de galho seco vind
Guardei a lâmina que, desarmada, confundia-se com um pequeno bastão no cinto. Ninguém imaginaria o que era. Transparente quando energizada, causa leve refração da luz incidente, tornando difícil vê-la e impossível aparar seu golpe.Vibrolâmina de monofilamento. Por onde passa, desfaz as ligações químicas em escala molecular. Energiza-se por comando mental via computador de bordo, reconhecendo o DNA, e desliga-se ao abandonar a mão do usuário mesmo que por um instante.Tremi. Caí de joelhos, penalizando-me pela morte, senti a visão embaçar e o peito apertar; depois de alguns segundos, assimilei um fato: era eu ou ele e apenas isso permitiria que eu me perdoasse pela vida que acabara de ceifar. Devagar, levei a mão direita às costas do
Saquei um estojo e dele tirei seis minúsculos dispositivos do tamanho de cabeças de alfinetes.— Permita-me — pedi.Aproximei-me dela e colei um em cada lateral de sua cabeça no ponto acima dos ouvidos e a frente das orelhas. Ela sentiu uma picada naqueles pontos.— Os dispositivos penetraram na sua pele. São pontos eletrônicos subcutâneos que transformam seu crânio em uma caixa de ressonância permitindo que me ouça. Poderemos conversar a distância — expliquei.— Poderei ouvi-lo? Quem bom! — exclamou. — E poderei falar também?— Aqui, ponha no céu da boca e sentirá a mesma picada.
Ouvi uma melodia ao longe, mas permaneci com os olhos fechados, apreciando o canto cada vez mais alto dentro de minha cabeça, até que compreendi o que dizia:— Acorde, Laius — sussurrava Cassiene.Entoava uma voz tão delicada, suave e aveludada como eu jamais ouvira. Parecia não fazer esforço e seus extremos de selvageria e delicadeza me impressionavam em uma curva ascendente. Por mais alguns segundos, deliciei-me sem abrir os olhos, até ela me tocar. Um leve chacoalho em meu ombro nu, deixando-me sentir a maciez da mão quente, de forma que, mesmo sem ver, não consegui conter o sorriso satisfeito que emergiu em meu rosto.— Você já está acordado! — exclamou. — Por que não respondeu?
Aos poucos comecei a sentir um calor aconchegante e a ouvir um agradável estalar de madeira. Deitado, de barriga para cima, senti um peso sobre mim e acordei para constatar que Cassiene compartilhava o saco de dormir comigo, no escuro, e que ela acendera uma fogueira ali, ao lado.Deitada em cima de mim, com as mãos espalmadas sobre meu peito nu e apoiando o queixo nos dedos entrelaçados das mãos, me encarava, aparentemente, há algum tempo.— O que foi? — sussurrei.— Happy hour — respondeu com naturalidade ao aproximar, devagar, a boca quente e macia da minha, culminando no beijo ardente e molhado há muito desejado.Foi quando notei que estava nua e, tocando-a com suavidade, senti cada parte de seu corpo
A Floresta Pétrea não era mais a mesma. Nosso mundo, agora chamado de Ômnia pelos humanos, já não era mais o mesmo. O Caos viera e mudara tudo. Trouxera novos seres além dos humanos, seres de cá mudaram seus hábitos e nós, por esses e outros motivos, passamos a cuidar dos nossos territórios com mais afinco.Encontrar uma forma de reverter o Caos era uma obstinação do meu povo, afinal fomos os causadores dele e, embora o ardor dessa busca tenha amainado nas últimas décadas, ainda existiam uns poucos que acreditavam e persistiam na tarefa. Eu não. Desistira há anos e passei a me dedicar às boas relações com os humanos que se alojaram em uma das bordas da nossa floresta e fundaram uma vila que, mais tarde, se transformou na cidade a que chamaram Nova Esparta.
Fazíamos uma patrulha de rotina em nosso território, eu e minha escolta pessoal, quando nos deparamos com a seguinte cena: um vulto transparente passou por nós correndo em total silêncio. Tudo o que víamos, eram as folhas secas se mexendo por onde ele passava e o perseguimos até que se deparou com um caçador da tribo dos metamorfos que carregava um búfalo morto às costas. O vulto se revelou naquele humano chamado Laius, que dispunha de itens mágicos aos quais, mais tarde eu soube, denominava artefatos tecnológicos.Ao mesmo tempo, ouvimos um canto que qualquer um confundiria com o piar de uma ave, mas que nós sabíamos se tratar do chamado do rei Douglas Black. Tínhamos uma rede de sentinelas espalhadas por todo nosso território que reproduziam o chamado por toda a floresta a partir da borda que fazia div
Chegamos a Nova Esparta e entramos, pois, como já era de praxe, tínhamos passe livre em todo o reino. Na porta do palácio, fomos informados que o rei Douglas nos aguardava e que o assunto era urgente. Claro que era. Um ataque de dragões daquela magnitude não era registrado há muitos anos, desde antes de o rei nascer e por isso ele não sabia o que fazer ou esperar. Tudo o que poderia saber sobre dragões e história, estava registrado na biblioteca real, mas o rei era um homem de armas e não consultava livros a não ser como última opção. E eu era a primeira opção.— Majestade, conselheiro — cumprimentei-os, ao entrarmos na sala do trono, eu e Gwyliam.— Lorde