HELENADEPOIS QUE ME LEVANTEI DO CHÃO, segui para o banheiro. Estremeci toda quando olhei o meu reflexo no espelho, parecia até um animal, com a boca toda suja, sem contar as minhas mãos. Abri a torneira e depois de lavar as mãos foi a vez da minha boca. Mesmo sabendo que não ia adiantar muita coisa, mas pelo menos não acordaria com bafo de onça, peguei a tesoura e cortei o velho tubo de creme dental, em busca de encontrar ainda algo dentro da embalagem.Eu acho que pela arrumação do lugar e a máquina de costura, aquela senhora utilizava o porão com frequência. Levei o dedo indicador em direção ao resto de creme espesso no fundo, movimentando para que pudesse sujá-lo. Com o dedo todo branco, coberto pela substância, conduzi em direção a minha boca e comecei a esfregá-lo com força nos meus dentes. Instantes depois, deixei o cubículo e caminhei em direção a caixa em busca de pegar um dos cobertores que tinha visto horas atrás, que mesmo com alguns buracos, serviria para me proteger
Tirania – Albânia ENZZODESDE QUE SOUBE DA EXISTÊNCIA DA FILHA DAQUELE TRAÍDOR, que a cada dia e ano que se passavam, assim como o ódio que sentia pelo desgraçado se tornava descomunal, eu sentia uma pancada de fúria apoderar-se de todo o meu ser ao pensar que, ao contrário de mim, Helena Petrovci, se tornou para todos que fizeram parte do legado dos Demisovski, a única herdeira da máfia albanesa.Nunca em toda a minha vida havia levantado a mão contra uma mulher, já que as únicas com quem convivi, foi Yolanda, que tenho como uma avó e as mulheres do bordel, que sempre fizeram de tudo para ter o meu cacete dentro delas. Mas, quando eu cogitei que ia apreciar a cena de vê-la se saciando da comida, que era servida aos porcos, a atrevida saiu em disparada da cozinha. Levantei-me imediatamente e ao chegar à sala e ver a pessoa por quem daria a minha vida jogada no chão com uma expressão de dor, um vulto tenebroso passou por mim e um calafrio atingiu a minha espinha. Senti todos os órg
OMARUM TREMOR VIOLENTO ME ATINGIU POR DENTRO. Meus pulmões estavam aos espasmos, à raiva incendiando em minhas veias e por mais que eu quisesse desviar atenção da imagem a minha frente, fiquei completamente imóvel. Eu mais parecia uma verdadeira estátua humana. Diante daquela fotografia e apesar de tantos anos terem se passado, eu jamais esqueceria aqueles malditos olhos e a sensação que senti quando eles ficaram grudados nos meus. Não sei quanto tempo se passou, mas quando voltei ao meu estado de lucidez, de imediato minha voz ressoou no ambiente.— Quem deixou essa maldita caixa?— Ela foi encontrada na troca de turno do pessoal da guarita e presumindo que fosse alguma informação do paradeira da princesinha da máfia, após passar pelo rastreador e constatar que não tinha nenhuma substância explosiva, um dos nossos homens trouxe até a mim.— Quero todas as imagens da parte externa da mansão.— Agora mesmo, chefe.No momento que o homem sumiu do meu campo de visão, levei minhas mãos
Dias depois...HELENAOS DIAS SE PASSARAM e as lembranças daquela noite nunca saíram da minha mente. Depois que ele caminhou em direção a escada, no movimento que durou somente dois segundos, Enzzo pegou o sobretudo e ao subir os degraus o colocou em volta do seu corpo. Assim que chegou próximo à porta, lançou um olhar cheio de sarcasmo em minha direção, em seguida sumiu da minha vista.Nojo! Essa era a palavra que descrevia tudo que eu estava sentindo. Mesmo sabendo de tudo que ele me fez, no fundo eu tinha esperança de que tudo aquilo era um pesadelo. Que maior que o ódio e a raiva, ele pudesse ter algum sentimento por bom mim.Ouvir aquelas palavras fez toda uma retrospectiva passar a minha frente e nem mesmo as surras que levei de Omar, doeu tanto quanto os puxões de cabelo e o tapa que Enzzo me deu, provocando algo muito forte dentro de mim. A sensação que eu tinha era como se ele tivesse cravado uma estaca em meu peito e essa tivesse entrado e saído me destruindo em prestações.
Dias antes...ISABELLAQUASE UM MÊS SE PASSOU DESDE QUE A RAZÃO DA MINHA VIDA, aquela a quem eu achei que estava protegendo, tirando-a das garras do capeta, para que não tivesse uma vida ainda mais dolorosa ao lado daquele outro infeliz, deixou esta casa. Os dias se tornaram um verdadeiro tormento e como se não bastasse toda a dor que estava sentindo, não só pela saudade e essa incerteza do que aconteceu com ela, tive que me manter forte para não sucumbir as agressões, onde desta vez, não só marcaram o meu corpo como a minha alma. Saber que o desgraçado com quem me casei seria capaz de matar a própria filha, fez com que uma onda de tremores percorresse todo o meu corpo. E, durante o interrogatório dos conselheiros, ver nos olhos de Malaquias, que apesar de pertencer a essa organização sanguinária, ele sempre tentou manter vivo o legado dos Demisovski, onde mulheres e crianças deveriam ser protegidas e não se tornarem alvos da crueldade desses homens, que mais parecem uma erva daninh
Uma semana depois...HELENAAS CONSEQUÊNCIAS EM TER ENCOSTADO a minha pele naquela lama, foi que acabei tendo uma reação alérgica e no dia anterior, quando acordei e fui me olhar no espelho, o meu rosto estava inchado e em volta da minha boca tinha algumas bolhas. Graças à dona Yolanda, que se compadeceu da minha situação, que além dos cuidados para que eu ficasse boa, passou a esconder no porão alguns mantimentos e desta forma comecei a me alimentar melhor, no entanto, além de sempre estar com uma sensação de cansaço e colocar boa parte do que comia para fora, eu comecei a sentir como se algo estivesse fervilhando em minha barriga. Era como se tivesse fogo líquido em vez de sangue e sempre sentia um forte desconforto.Depois daquele episódio no chiqueiro, o tio de Enzzo, sempre que passava por mim, ao contrário das outras vezes, era como se eu não estivesse ali. Seu olhar sempre estava voltado na direção contrária. Deixei as lamentações de lado e comecei a pensar em como me livrar da
HULKSONOLENTO, ME LEVANTEI, como sempre, nada melhor para tirar todo o estresse, como vir neste lugar. Olhei para mulher esparramada em cima da cama, que dormia feito uma pedra, segundos depois, fiquei de pé e fui catando no chão as minhas roupas. Arrumado, peguei a encomenda que tinha solicitado para madame Rosalina, e deixei o cômodo indo em direção à garagem. Em frente ao veículo, abri a porta traseira do carro para guardar as garrafas do uísque importado, já que ela sempre compra em alta quantidade e o valor acabar se tornando bem inferior se comparado com o que os ladrões vendem nos supermercados. Assim que fui colocar a caixa dentro do veículo, meus olhos foram de encontro ao objeto que certamente tinha caído de um dos bancos. Depois de colocar a caixa e me certificar que nenhuma garrafa ia se quebrar, pequei a mochila, em seguida fechei a porta do automóvel. Sendo o objeto totalmente desconhecido por mim e sabendo que não tinha nada haver com Enzzo, tudo indicava ser daque
ENZZOMINHA ATENÇÃO FICOU DIRECIONADA para a mochila nas mãos do meu tio e as lembranças de quando a tirei daquele barranco vieram em minha mente, porém, foram afastadas assim que ele lançou o objeto em minha direção. Com a bolsa sob minha posse, dei alguns passos para trás, até alcançar a poltrona. Ele, que até então estava com sua atenção, segundos atrás, voltada para mim, se voltou em direção a mulher que estava deitada sobre a minha cama e ao me sentar, comecei a deslizar o zipe tentando abri-la. Todavia, ele, sem desviar seu olhar de Helena disse: — Yolanda me contou tudo que aconteceu. Enquanto ele parecia perdido nos próprios pensamentos, eu comecei a retirar tudo que estava dentro da bolsa. Um desafio silencioso preencheu todo espaço e assim que puxei a ultima peça de roupa, uma pequena caixa, que estava no fundo da bolsa chamou a minha atenção. Assim que peguei o objeto luxuoso, joguei a mochila no chão e o silencio que tinha predominado no ambiente deu lugar ao som da voz