Vicent
Às vezes, tenho a estranha sensação de estar sendo perseguido, isso não acontecia antes. Deve ser uma forma do universo me castigar por tantos crimes.
Eu preciso sentir algo melhor que raiva, medo e desconfiança.
Raiva pelo rei e por tudo o que ele fez, medo da minha vida e de todas as reviravoltas que ela sempre dá e desconfiança de que alguém me persegue.
- Irmão, saiba que eu ficaria muito feliz e agradecida se por acaso eu fosse a princesa Lívia. - Penélope está tentando arrancar confidências de mim.
Ela certamente me confunde com uma donzela.
- Tenho certeza que sim, irmã. Mas, tranquiliza-se, meus problemas não tem nada a ver com o meu casamento, na verdade, o meu casamento é a melhor coisa que está para acontecer comigo. - Assumo em um sorriso de canto.
Penélope tem uma áurea tão boa, ela consegue me trazer uma paz pura e uma serenidade que me faria confidenciar à ela todos os meus segredos.
- Melhor do que se reencontrar
LíviaFoi uma longa noite. Me remexi a noite inteira sob as cobertas tentando encontrar uma posição confortável para o meu descanso, mas realmente foi uma longa noite. Não dormi muito bem, visto que eu estava um tanto quanto impaciente para o meu passeio ao amanhecer. Quando finalmente o dia amanhece, vou apressada me preparar. Eis a questão: vou ao encontro de Vicent, ou aguardo instruções?Não quero nem imaginar o que o meu pai faria se soubesse que eu planejo fazer um passeio à sós com Vicent. Seja como for, não viverei oprimida pelo medo das reações de meu pai. É, devo ser uma moça má, cresci com as irmãs e em nada me comporto como elas. Enfim, decidi que devo ir até o estábulo e aguardar a chegada de Vicent.(...)Ao abrir a porta dos meus aposentos e até chegar até o estábulo, eu vim em passos cautelosamente calculados para que ninguém me perceba. Certamente eu sei que os servos devem ter me visto e estranharam o motivo de eu já estar
Lívia— O seu país é lindo, me sinto satisfeita com a minha primeira viagem pra fora de Kahabe. — Comento em um sorriso emocionado.Estou em pé em cima de uma rocha, de onde posso observar a imensidão da natureza à minha volta enquanto o vento forte balança o meu vestido e desalinha o meu cabelo. A melhor sensação.— Meu país. — Vicent afirma, como se estivesse tentando convencer à si mesmo disso.Ele está sentado na areia, frente à rocha em que estou. Ele está sentado com as mãos para trás, relaxado.Observo-o por alguns segundos enquanto ele está distraído olhando para o mar. Sinto-me compadecida dele, neste momento ele em nada se parece com aquele criminoso fugitivo e insensível que eu conheci em Kahabe; na verdade, ele aparenta estar passando por uma luta interna. Minha vontade é de passar a mão em sua cabeça e dizer que está tudo bem.Desço da rocha com cuidado para não me desequilibrar e, disfarçadamente eu me sento ao lado dele. Minha
TrentoEu pensei que finalmente eu ficaria em paz. E eu fiquei, por um tempo, mas tudo voltou.Estou tentando engolir o desejum que eu pensei que não fosse senti-lo tão amargo nunca mais.— Querido, não entendo! Encontrou o seu filho, realizou a missão da sua vida! O que lhe tormenta agora? — Diane lamenta passando as mãos em minhas costas.— Creio eu que eu já me acostumei com a dor, agora a dor não quer sair de mim. Maldição! — Levanto-me da cadeira completamente perturbado.— Entendo, sinto muito. — Vejo a pena estampada na face de Diane. A pena sempre esteve ali ou é só agora que eu consigo perceber? Eu estive tão ocupado na procura pelo meu filho esses anos todos que nunca parei pra pensar se eu gosto disso. Contudo, me fez bem.Eu sempre faço isso, sempre tento encontrar problemas em minha união com a Diane, e sempre chego à conclusão de que se não fosse por ela e pelo amor ou pena que ela sente por mim, tudo seria bem mais
Lívia— Francamente, Lívia! Como você pode ter tão pouca consideração por tudo o que o seu pai faz e já fez para proteger você? — Minha mãe está muito zangada.Quando Vicent e eu começamos adentrar na estrada que nos trouxe ao castelo, já começamos a observar o tumulto de soldados e pessoas agitadas à nossa procura. Eu sabia que haveria um certo alvoroço da parte de meu pai, contudo, nunca imaginei que se estenderia até a cidade toda.— Mãe, eu estava com o meu noivo. Não vejo motivos para essa tempestade toda. — Respondo retirando as minhas vestes com uma certa dificuldade.— Vocês ainda não estão noivos! Sabe o quanto o seu pai ficou nervoso? Você quase matou o seu pai, Lívia!— Por favor, mãe! Eu já vivi presa por muito tempo, eu apenas fui até a praia com o meu noivo. Não vejo nada demais nisso. Podemos parar de falar nesse assunto?Minha mãe faz gestos negativos com a cabeça, me encarando com olhos acusadores.
TrentoÉ claro que eu mudei de ideia. Não vou me suicidar, por enquanto. Porém, não terei coragem de enfrentar a sepultura da Hadassa depois do que eu farei hoje.— Algo o incomoda? — Willian está sentado de frente para mim, estamos ambos viajando na carruagem real rumo ao calabouço da ponte Trinphendom. Esteve desativado por séculos, e agora é moradia exclusiva da Daisi.— Tudo me incomoda... A minha respiração me incomoda. — Soei mais dramático do que eu gostaria, mas é a minha amarga realidade.Fico observando os olhos irônicos de Willian sob mim. Eu gostaria tanto de abraçá-lo, sentir o cheiro dele, sentir a pele do rosto dele tocar o meu rosto.Esse olhar irônico e debochado não está ali à toa... Ele também está sofrendo. Eu sei, eu conheço essas armaduras. Foi eu quem as inventei, na juventude. Eu me lembro muito bem de eu ter as atitudes ainda piores que as de Willian.— Eu sei como é, também me incomodo.— Minha respiração
VicentEstar aqui é mil vezes mais tenebroso do que eu imaginei. A vontade de sair correndo igual um garotinho é enorme.Todas as vezes que eu me senti diferente, me senti sozinho... Todas as vezes que eu chorei escondido quando criança, pois se meus pais me vissem chorar eu iria pro castigo. Eu engoli o mau trato, a falta de atenção e carinho que um menininho precisa pra crescer com o mínimo de conforto mental, engoli tudo e deixei escondido. Cresci frio e calculista, pensando apenas no meu benefício e em ser mais reconhecido pelos meus pais. Eu queria ser amado por eles e por isso eu lhes dava tudo o que eu roubava. Sir Filipe tem razão... Eu não roubei a riqueza das pessoas com a intenção de deixá-los pobres e sim com a intenção de deixá-los tristes, alegrando-me com o fato de que eu lhes fazia isso.— Me responda uma coisa, rei, só uma coisa. — Digo sentindo o peso desses sentimentos horríveis.— Sim? O que é?<
Trento— Diga logo as suas loucuras, Daisi. — Esfrego as mãos lentamente uma na outra, em expectativa do que ela irá dizer.Daisi me olha com um olhar sofredor, carregado de acusações.— Você sabe as condições em que eu vivi todos esses anos? — Pergunta.— Melhores do que eu planejei, visto como não mudou e nem se arrepende de nada. — Respondo ríspido.Eu achei que ela estivesse sofrendo e pagando pelos pecados, mas, pelo visto, não sofreu o suficiente.— Sabe o que me ajudou a aguentar e manter a minha sanidade?— A sua loucura, talvez?— Talvez você esteja certo, talvez eu realmente sou louca, mas, de qualquer forma, eu sempre tive uma carta na manga.— Do que você está falando? Fale de uma vez! O que você quis dizer quando disse que ela está viva?— Você parece bem interessado no que eu tenho à dizer... Eu deveria propor algumas exigências, não acha?— Daisi, eu
VicentNão passou de uma palhaçada.Não sei como o rei Trento tem coragem de se intitular rei com toda essa covardia em baixo da coroa. Eu não deveria ter vindo aqui. Já estou há mais de uma hora aguardando o que for que estiver acontecendo.Será que o Trento realmente sofre com tudo o que aconteceu? Será que ele não está aqui para matar a saudade da amante?- Alteza, o rei ordenou que eu lhe escoltasse de volta à Hasgueit. - Um guarda, reconheço-o, ele nos acompanhou em nossa viagem.- E onde está o rei? Ele não virá? - Pergunto encarando-o sem entender, procurando pelo rei com os olhos.- O rei seguirá outro rumo, alteza, apareceu um assunto de suma importância e que não poderia ser adiado. O rei teve que partir. Por favor, permita-me lhe acompanhar de volta à Hasgueit.- Onde está a prisioneira? Onde está a Daisi? - Encaro-o, sentindo-me muito confuso.- E-eu não s-sei, alteza. — Está estampado na face deste soldado que ele es