Lívia
Eu vim ao mundo praticamente para esse motivo: me casar em pró do nosso amado Reino, foi para isso que eu me preparei a vida toda, e agora navegando em águas calmas e debaixo de um céu escuro e estrelado, me pergunto se isso faz sentido.
Faz sentido eu nascer sem o meu consentimento, crescer presa em um mosteiro sem o meu consentimento e me casar com um homem que eu nunca vi sem o meu consentimento? Eu nunca concordei com nada disso! Nunca concordei! Eu fui obrigada a aceitar! E tem mais, agora olhando esse céu imenso, será que existe mais mundos por esse universo? Será que eu já existi em outro corpo antes de nascer? Por que eu não posso simplesmente sair conhecer o mundo igual ao meu irmão?
– Com licença, minha princesa, o rei vos
Lívia— Sir Vicent? Pode por favor me responder? Minhas pernas estão doendo muito! Não é admissível que uma princesa passe por tamanha provação!— Cale-se! Ou terei de beijar essa sua boca teimosa!Abro os olhos sentindo-me quente. Não sei se é pela luz do sol que está batendo em meu rosto, ou se pela ameaça interessante que Vicent me fez.Por que eu sonho com ele? Por que eu não esqueço ele?— Você está morto Vicent! Permaneça assim! Não saia do além pra vim me tirar a paz!– Princesa? Que bom que acordou! Seu banho já está preparado, a senhorita precisa estar pronta dentro de uma hora!Ah... Eu... Quase me esqueci.Hoje eu conheço o meu noivo.– Certo. — Dou um sorriso desanimado para a serva e me levanto.Que seja então.Ela deve me achar uma tonta por me ver falando sozinha ao acordar<
LíviaÉ um país lindíssimo. Em muito se parece com as descrições que eu li sobre Marlenout. Não sei o que estamos fazendo aqui, meu noivo não é desse reino, mas não vou reclamar, está sendo um prazer imenso contemplar as belas paisagens que a janela da carruagem me proporciona, abre a minha imaginação para sonhos irreais, como por exemplo: eu correndo ao vento, sorrindo, e, de repente ele está lá, com aquele olhar sério e ao mesmo tempo tão doce. Ele nunca me assustou. Tudo o que eu vi nele foi beleza.E agora ele se foi.– Filha? Não me ouviu? – Minha mãe sacode o meu ombro.– Mãe, disse alguma coisa? Perdoe-me, eu estava distraída.– Perguntei se está animada para conhecer o seu futuro esposo. – Diz com um olhar de desaprovação.Respiro fundo.– Não tanto quanto eu achei que estaria. – Confesso desanimada.– Ela não precisa se preocupar com
VicentPisquei pra ela e esperei um sorriso ao me reconhecer, mas, tudo o que ela fez foi ficar apavorada e correr.Será que ela me achava mais atraente como eu me vestia antes?– Peedoem por favor a falta de modos da princesa Lívia, ela não está muito bem hoje, mas lhes asseguro de que ela irá se casar com o príncipe Willian. – O rei Garth diz se levantando da cadeira para ir atrás da filha.– Permita-me que eu vou atrás dela, aí aproveitamos e nos conhecemos... – Digo dando um meio sorrio.– Creio que vocês já se conhecem o suficiente, deve ser esse motivo de ela ter se assustado. – O rei Garth responde sorrindo.– Querido, vai atrás dela! – A rainha se dirigiu ao esposo.Não devo me meter.– Provavelmente ela não deseja se casar comigo, e se for esse o caso...– Esse não é o caso. – O rei Trento me interrompe.
LíviaNão me surpreende em nada essa atitude de Vicent. Eu também não ajudei muito. Ele deve me odiar por eu não ter tentado proteger ele da prisão.Preciso procurar por ele. Quero falar que eu sofri a morte dele.– Princesa? A senhorita me ouviu?– Ah, perdão, não entendi direito o que me disse.– A senhorita deseja se banhar antes de descansar? Preciso preparar uma água descente para a senhorita, não encontrei nenhuma erva perfumada no armário, terei de comunicar ao governante...– Sim, resolva isso, mas, sem pressa. – Digo me encaminhando para a saída sem ouvir o que ela diz em seguida.Vicent– Penélope? Está tudo bem com você? – Questiono ao encontrar com a pequena figura chorando no jardim.– Não, não estou bem. – Lamenta.– O que ouve? – Não faz tanto tempo que a conheço, mas, sinto como se a conhecesse
VicentPensei que fosse algo importante, do tipo novas instruções sobre como eu deverei agir em determinada situação, contudo, tudo o que o rei deseja é conversar sobre amenidades.Estamos em pé, frente à janela que alegra o gabinete do rei —se não fosse essa janela que exibe uma vista incrível de árvores, mar e céu, o gabinete poderia ser confundido com uma sala de tortura, visto a forma como eu estou me sentindo.— E então, Willian? — O rei está olhando para a bela paisagem como se quisesse fazer parte dela.— E então o quê? — Questiono sem ter a mínima ideia sobre o que ele vai falar dessa vez, já conversamos sobre o tempo, sobre a minha comida preferida e sobre o que eu sonhava em ser quando criança.— O que acha sobre isso? — Agora ele trouxe o seu olhar sobre mim, porém eu continuo olhando para a paisagem ensolarada fora da janela.— Sobre isso o quê? — Pergunto mordendo os lábios inferiores. Estou me sentindo t
LíviaQuando criança, sempre eu me pegava encenando a minha entrada triunfal pelas portas da catedral rumo ao altar: eu me imaginava graciosa, vestindo o mais belo e deslumbrante vestido de noiva. Eu realmente sonhava com isso. — Não sei. — Filha, você é a mais agraciada entre as jovens, e, mesmo assim não está animada para imaginar o seu vestido de noiva? — Mãe, você sabia? — Não, no entanto, não me importo. Tudo o que o seu pai faz, é, sem dúvida, a melhor decisão. — Nossa, mãe. — O que está havendo com você? Você não questionava tanto as coisas... — Isso é porque a senhora não me visitava o suficiente para me conhecer de verdade. — Lívia, pare de má criação. Não é algo digno de uma boa e bem criada princesa. Deixo a minha mãe chocada com a minha audácia em lhe responder, e, me retiro. Eu estou sim, animada em me casar com o homem mais lindo que eu já vi em toda a minha vida, apesar disso, eu estou
VicentÀs vezes, tenho a estranha sensação de estar sendo perseguido, isso não acontecia antes. Deve ser uma forma do universo me castigar por tantos crimes.Eu preciso sentir algo melhor que raiva, medo e desconfiança.Raiva pelo rei e por tudo o que ele fez, medo da minha vida e de todas as reviravoltas que ela sempre dá e desconfiança de que alguém me persegue.- Irmão, saiba que eu ficaria muito feliz e agradecida se por acaso eu fosse a princesa Lívia. - Penélope está tentando arrancar confidências de mim.Ela certamente me confunde com uma donzela.- Tenho certeza que sim, irmã. Mas, tranquiliza-se, meus problemas não tem nada a ver com o meu casamento, na verdade, o meu casamento é a melhor coisa que está para acontecer comigo. - Assumo em um sorriso de canto.Penélope tem uma áurea tão boa, ela consegue me trazer uma paz pura e uma serenidade que me faria confidenciar à ela todos os meus segredos.- Melhor do que se reencontrar
LíviaFoi uma longa noite. Me remexi a noite inteira sob as cobertas tentando encontrar uma posição confortável para o meu descanso, mas realmente foi uma longa noite. Não dormi muito bem, visto que eu estava um tanto quanto impaciente para o meu passeio ao amanhecer. Quando finalmente o dia amanhece, vou apressada me preparar. Eis a questão: vou ao encontro de Vicent, ou aguardo instruções?Não quero nem imaginar o que o meu pai faria se soubesse que eu planejo fazer um passeio à sós com Vicent. Seja como for, não viverei oprimida pelo medo das reações de meu pai. É, devo ser uma moça má, cresci com as irmãs e em nada me comporto como elas. Enfim, decidi que devo ir até o estábulo e aguardar a chegada de Vicent.(...)Ao abrir a porta dos meus aposentos e até chegar até o estábulo, eu vim em passos cautelosamente calculados para que ninguém me perceba. Certamente eu sei que os servos devem ter me visto e estranharam o motivo de eu já estar