Vicent
- Provavelmente você será escravizado, é raro, mas acontece. - Um dos soldados do rei de Marlenout me respondeu assim que fui enfiado dentro de um navio sofisticado.
Sinto um nó se fazer dentro de minha garganta.
Todos os caminhos que eu trilhei, cada decisão que eu tomei, todas elas me trouxeram aqui. E se for esse o meu fim, aceitarei.
Vou procurar aproveitar a viagem, já que estou sendo muito bem tratado.
Estou em um quarto pequeno, mas muito bem organizado e limpo, eu diria que é digno da nobreza, claro se fosse maior.
Acabaram de me servir um banquete muito apetitoso. Se eu soubesse que ser pego seria tão bom assim, eu não teria corrido tanto.
Depois de satisfazer a minha fome eu me encaminho até a porta e tento abrir.
Está aberta. Estico minha cabeça para fora e surpreendente não vejo nenhum soldado.
VicentEstou olhando curioso pela janela da magnífica carruagem que me leva ao lado do rei, ainda não entendo o que eu estou fazendo aqui. Uma bela cidade. Campos verdes e extensos, as construções são luxuosas, até as mais simples possuem um certo luxo.- Gosta do que vê? - O rei pergunta visivelmente tentando puxar assunto.Vejo que terei problemas, esse olhar dele é muito constrangedor.- Uma bela cidade. - Confesso sem encará-lo.- Espero muito que você goste daqui, assim como eu gosto. - Diz com uma voz melancólica.É, terei sérios problemas.O rei é um homem bonito, se eu fosse uma mulher certamente eu o acharia interessante, pois tem uma aparência digna de um deus, tem muito ouro e, nossa, ele é rei. Mas, não! Ele está me estranhando muito.Eu sei que eu sou exageradamente belo, minha sensualidad
Vicent Saber da minha história nunca esteve nos meus planos. No fundo eu acho que gostaria de conhecer os caminhos que me trouxeram nessa vida, mas não cheguei a acreditar nem por um momento que isso seria possível. – Você compreende, meu filho? – O rei pergunta quando termina de me contar a possível história do meu nascimento. Não consigo acreditar nisso. Olho para os olhos do rei e tento encontrar um pai nele, só vejo um desconhecido, apesar de agora eu perceber que ele é incrivelmente parecido comigo . – Sim. – Afirmo só para não prolongar a conversa. – E medalhão, você o tem?
LíviaEu vim ao mundo praticamente para esse motivo: me casar em pró do nosso amado Reino, foi para isso que eu me preparei a vida toda, e agora navegando em águas calmas e debaixo de um céu escuro e estrelado, me pergunto se isso faz sentido.Faz sentido eu nascer sem o meu consentimento, crescer presa em um mosteiro sem o meu consentimento e me casar com um homem que eu nunca vi sem o meu consentimento? Eu nunca concordei com nada disso! Nunca concordei! Eu fui obrigada a aceitar! E tem mais, agora olhando esse céu imenso, será que existe mais mundos por esse universo? Será que eu já existi em outro corpo antes de nascer? Por que eu não posso simplesmente sair conhecer o mundo igual ao meu irmão?– Com licença, minha princesa, o rei vos
Lívia— Sir Vicent? Pode por favor me responder? Minhas pernas estão doendo muito! Não é admissível que uma princesa passe por tamanha provação!— Cale-se! Ou terei de beijar essa sua boca teimosa!Abro os olhos sentindo-me quente. Não sei se é pela luz do sol que está batendo em meu rosto, ou se pela ameaça interessante que Vicent me fez.Por que eu sonho com ele? Por que eu não esqueço ele?— Você está morto Vicent! Permaneça assim! Não saia do além pra vim me tirar a paz!– Princesa? Que bom que acordou! Seu banho já está preparado, a senhorita precisa estar pronta dentro de uma hora!Ah... Eu... Quase me esqueci.Hoje eu conheço o meu noivo.– Certo. — Dou um sorriso desanimado para a serva e me levanto.Que seja então.Ela deve me achar uma tonta por me ver falando sozinha ao acordar<
LíviaÉ um país lindíssimo. Em muito se parece com as descrições que eu li sobre Marlenout. Não sei o que estamos fazendo aqui, meu noivo não é desse reino, mas não vou reclamar, está sendo um prazer imenso contemplar as belas paisagens que a janela da carruagem me proporciona, abre a minha imaginação para sonhos irreais, como por exemplo: eu correndo ao vento, sorrindo, e, de repente ele está lá, com aquele olhar sério e ao mesmo tempo tão doce. Ele nunca me assustou. Tudo o que eu vi nele foi beleza.E agora ele se foi.– Filha? Não me ouviu? – Minha mãe sacode o meu ombro.– Mãe, disse alguma coisa? Perdoe-me, eu estava distraída.– Perguntei se está animada para conhecer o seu futuro esposo. – Diz com um olhar de desaprovação.Respiro fundo.– Não tanto quanto eu achei que estaria. – Confesso desanimada.– Ela não precisa se preocupar com
VicentPisquei pra ela e esperei um sorriso ao me reconhecer, mas, tudo o que ela fez foi ficar apavorada e correr.Será que ela me achava mais atraente como eu me vestia antes?– Peedoem por favor a falta de modos da princesa Lívia, ela não está muito bem hoje, mas lhes asseguro de que ela irá se casar com o príncipe Willian. – O rei Garth diz se levantando da cadeira para ir atrás da filha.– Permita-me que eu vou atrás dela, aí aproveitamos e nos conhecemos... – Digo dando um meio sorrio.– Creio que vocês já se conhecem o suficiente, deve ser esse motivo de ela ter se assustado. – O rei Garth responde sorrindo.– Querido, vai atrás dela! – A rainha se dirigiu ao esposo.Não devo me meter.– Provavelmente ela não deseja se casar comigo, e se for esse o caso...– Esse não é o caso. – O rei Trento me interrompe.
LíviaNão me surpreende em nada essa atitude de Vicent. Eu também não ajudei muito. Ele deve me odiar por eu não ter tentado proteger ele da prisão.Preciso procurar por ele. Quero falar que eu sofri a morte dele.– Princesa? A senhorita me ouviu?– Ah, perdão, não entendi direito o que me disse.– A senhorita deseja se banhar antes de descansar? Preciso preparar uma água descente para a senhorita, não encontrei nenhuma erva perfumada no armário, terei de comunicar ao governante...– Sim, resolva isso, mas, sem pressa. – Digo me encaminhando para a saída sem ouvir o que ela diz em seguida.Vicent– Penélope? Está tudo bem com você? – Questiono ao encontrar com a pequena figura chorando no jardim.– Não, não estou bem. – Lamenta.– O que ouve? – Não faz tanto tempo que a conheço, mas, sinto como se a conhecesse
VicentPensei que fosse algo importante, do tipo novas instruções sobre como eu deverei agir em determinada situação, contudo, tudo o que o rei deseja é conversar sobre amenidades.Estamos em pé, frente à janela que alegra o gabinete do rei —se não fosse essa janela que exibe uma vista incrível de árvores, mar e céu, o gabinete poderia ser confundido com uma sala de tortura, visto a forma como eu estou me sentindo.— E então, Willian? — O rei está olhando para a bela paisagem como se quisesse fazer parte dela.— E então o quê? — Questiono sem ter a mínima ideia sobre o que ele vai falar dessa vez, já conversamos sobre o tempo, sobre a minha comida preferida e sobre o que eu sonhava em ser quando criança.— O que acha sobre isso? — Agora ele trouxe o seu olhar sobre mim, porém eu continuo olhando para a paisagem ensolarada fora da janela.— Sobre isso o quê? — Pergunto mordendo os lábios inferiores. Estou me sentindo t