Olhei para ela com um olhar confuso e comecei a comer o meu salgado.
— Sei que não tem sentido, mas é assim o mundo da moda, Mikaella, e eu gosto — explicou ela e tomando um gole do meu suco. — Oh meu Deus que divino!
— Nossa, não existe água lá não, menina? — perguntei assustada.
— Água não é suco — retrucou, mostrando a língua.
— Tem razão — concordei rindo.
— Perfeito! Flor, tenho que ir nessa. Depois a gente poderia se encontrar na praia, os meninos terão um jogo de vôlei e o Gabe nos convidou, que tal? — perguntou, já limpando a boca e se levantando.
— Estou sabendo, no fim da tarde, não é?
— Isso, nos vemos depois então — anunciou, me dando um beijo na bochecha — Te amo, se cuida — e foi correndo de volta para o trabal
Ficamos treinando no quintal de casa por quase uma hora e meia. Nosso quintal era muito espaçoso, parecendo mais com um jardim do que um quintal familiar. Quando éramos crianças tínhamos um balanço de pneu na grande árvore de ameixa amarela, com aquelas casinhas que tinham escorregadores do lado, havia também duas grades de gol para o meu irmão. Com o passar dos anos que fomos crescendo, meus pais tiraram os brinquedos. Agora a grama estava bem mais cuidada, com uma trilha de azulejos de mármore do chão da casa indo em direção ao quintal, as grades de futebol foram trocadas pela rede de vôlei para o meu irmão.No canteiro da casa, minha mãe plantara diversas flores, principalmente sua flor favorita, tulipa. Um pouco mais afastado da casa, quase perto do muro de pedra coberto por arbustos, meu pai fez para ele uma horta, na qual ela já era ligeiramente grande, o cheir
Balancei a cabeça tentando digerir tudo aquilo. Pareceu que ele estava se despedindo de mim, indo embora. Como isso aconteceu? Não estava certo, eu tinha acabado de ter ele de volta, ele era meu melhor amigo e tinha sido o amor da minha vida, havia a possibilidade de ficarmos juntos de novo e ele estava aqui dizendo essas palavras como se nunca fossemos nos ver novamente.— E o que eu fiz por você? — perguntei confusa, chorando baixinho, sentindo as lágrimas rolando pelo meu rosto.— Você viveu — respondeu por fim.— Eu quero viver com você — sussurrei.— Eu também, Ella — concordou. — Eu te amo Ella, mas... você não é mais minha.— Mas você ainda é meu. Meu melhor amigo, eu não sou mais sua melhor amiga?— Claro que sim, para sempre — respondeu abrindo um sorriso fraco nos lábio
— Terra chamando Vossa Alteza — declarou, sacudindo a mão na frente do meu rosto.— Hã, oi? — perguntei, focando minha atenção para ela e desviando os olhos de Gabe.— Eu estava falando do meu trabalho, de como as coisas estão um inferno. Preciso descobrir um tema bombástico para uma festa para o meu chefe, senão eu nunca serei efetivada e famosa sem precisar cursar a faculdade por completo — reclamou fazendo uma cara de cansaço. — Você precisa me ajudar.— Entendi, ok... como?— Ah, sei lá. Faz um treco aí com as mãos e inventa algo que possa salvar o traseiro da sua melhor amiga — pediu com os olhos brilhando.— Por que você e o Lucca acham que meus poderes são tipo os do gênio da lâmpada? Que eu simplesmente estalo os dedos e tudo fica a mil maravilhas?— Por qu
Vanessa era uma adolescente lindíssima, animada e com certeza sabia como conquistar rapazes com a sua beleza e charme. Vanessa era a causa de eu querer arrancar aquele sorriso completamente brancos e alinhados da sua cara e da sua voz aguda que ficava cada vez mais aguda quando gritava pelo nome do Gabe. Era ela que fazia meus olhos quase explodirem de ansiedade e irritação, as minhas entranhas se revirarem em minha barriga, meu coração bater acelerado, fazia eu morder meus lábios com força e revirar os olhos todas as vezes que ela dava aquele gritinho animado de “Vamos lá, Biel!” batendo palmas e incentivando, ele por sua vez sempre lhe respondia com um sorriso rápido, mesmo que depois desviava a atenção para Natasha e eu e o sorriso ficava maior.Aquela garota estava me causando um sentimento que não sabia o que era, apenas não conseguia mais suportar nada do que ela fizes
Me sentei ao seu lado, deixando um espaço pequeno, mas seguro entre nós. O dia estava muito esquisito para piorar mais ainda. Gabe percebeu a distância, mas agiu como se não fosse nada demais e voltou a sorrir previamente.— Você realmente não sabia disso, então?— Que ela poderia estar apaixonada por mim? Na verdade, sim sabia — confessou encolhendo os ombros e rindo de leve.— Você apenas se faz de bobo não é mesmo?— Um pouco. Fica mais fácil para contornar a situação quando eu tiver que terminar tudo por causa disso.Por alguma razão aquilo me fez feliz e triste ao mesmo tempo. Eles não namoram, ele não estava apaixonado por ela, porém ela estava por ele e ele sabia disso.— Por que? Não acha que poderia estar apaixonado por ela também? — a pergunta fez Gabe revirar os
Eu sabia que a uma semana estava rolando alguma coisa bem por debaixo dos panos entre Gabe e eu, no dia de hoje às coisas estavam bem loucas e rápidas. Era como se o Universo estivesse decidido que estava na hora de eu ter todas as situações difíceis de uma só vez, em um único dia. Eu tinha começado tão bem o dia na casa do professor, conseguindo ler o livro, aprendendo mais sobre Nagalärie e os mundos que existem lá, então do momento em que entrei na casa da Nat e vi o Gabriel pelado às coisas apenas tem sido uma montanha russa de emoções, momentos bons com meu pai e meu irmão são esmagados pela conversa com o Troy, que então são misturadas com a minha atração aumentada e repentina pelo Gabe, na qual são abaixados pela descoberta de que eu estava com ciúme da Vanessa com ele, ganho então pontos de alegrias em saber que
— Mesmo quando você começou a namorar, isso não quebrou meu coração, machucou é claro, porém você estava feliz e vocês dois pareciam tão felizes juntos que eu simplesmente fiquei feliz também. Naquela época eu havia aprendido a primeira lição sobre o amor: você não pode dizer a pessoa que ama que ela deveria te amar de volta, mesmo sabendo que ela iria amar estar amando você. Você simplesmente deseja que esse amor que deveria ser para você, seja completamente aproveitado por quem ela esteja dando e os dois pareciam estar realmente aproveitando aquele amor. Então eu simplesmente fui vendo a sua felicidade de longe e amando você cada vez mais — Gabe me contava sobre o seu amor por mim com tristeza agora, misturada com contentamento. Eu podia ver que mesmo dizendo isso tudo, ainda tinha sido difícil me ver com o Troy por dois anos
No dia seguinte, fui para a casa do professor Pietro, determinada a não me distrair repetindo a cena do beijo em minha cabeça milhares de vezes, igual fiz em casa até pegar no sono na noite anterior.— Mikaella, muito bom vê-la novamente. Entre por favor, já irei chamar o professor — avisou Zuzanna, me recebendo na porta. Eu tinha que perguntar para o Pietro se ela era do nosso mundo também ou era apenas uma pessoa comum.— Obrigada.Me dirigi a sala de estudos, peguei o livro que estava no mesmo lugar que eu havia deixado ontem. Abri ele e retomei a leitura.“Ki’lan yirfear glontüa celvius phãune bëult ovlar thuvel xoälje. Vilhker dveagls frië’dil gafidel yohio baláreu. Tryvell thael vagahries.”“As trevas surgiram na calada da noite, na escuridão dos cegos e no silêncio dos mudos. Ergueu-se com toda a ir