Onde o Damon estava com a cabeça?Observei ele andando pela areia da praia em direção à nossa barraca e quase não acreditei ao ver quem caminhava ao lado dele.Merda!A mulher loira, muito alta e magra, metida num fio dental vermelho quase invisível se aproximou sorridente.— Rafael! E se jogou nos meus braços.Cautelosamente impedi que ela passasse os braços em volta do meu pescoço e cumprimentei-a com um beijo de cada lado do rosto.— Oi Viviane.Ela olhou para o Damon rindo.— Olha como ele fala comigo Dam? Oi Viviane! Fale direito gatinho. Me chame de Vivi.Pelo canto do olho observei a Sula parada ao meu lado, provavelmente esperando o desfecho daquela conversa.Eu ia matar o Damon. Por que diabos ele tinha que trazer aquela mulher ali?— A Viviane está hospedada aqui também, ela perguntou por você e eu disse que você estava aqui.Fuzilei-o com o olhar.— Que bom!A Sula segurou no meu braço e se aproximou. Abracei-a e a puxei para perto de mim, olhando para a Viviane.— Então V
Tinha algo muito errado.Não tinha porque a Alina e o Leonardo virem me buscar na faculdade. O Rafael sempre fazia aquilo, ou então eu voltava de ônibus. Mesmo tendo concluído as aulas de direção, eu ainda estava um pouco receosa de sair sozinha de carro. Preferia treinar um pouco mais.Sai da aula, andando rapidamente pelo corredor da faculdade. O Léo nem tinha perguntado se a aula tinha terminado. Apenas disse que estava me esperando no portão. Será que tinha acontecido alguma coisa com minha mãe?Com as pernas já tremendo, me aproximei do portão e avistei a viatura da Alina parada na frente e o Léo me aguardando ao lado dela.Olhei de um para o outro nervosa.— O que está acontecendo? Que cara é essa de vocês?Eles se olharam apreensivos.— Então...Meu Deus! Então tinha acontecido alguma coisa realmente.— Então o que? Fala logo Léo!— Temos que ir ao hospital.Meu coração acelerou.— Porquê? Foi nossa mãe? Ela tentou se matar de novo?Alina se aproximou e pegou minha mão.— Se a
O Rafael saiu do coma três dias depois.Foi uma espera angustiante, pois não nos deixaram ficar esses dias no hospital e também não me permitiram entrar na UTI, pois nas duas vezes que fiz isso, a pressão dele aumentava muito.Naquela dia o hospital me avisou que ele tinha acordado pela manhã, mas que eu só poderia vê-lo no final da tarde depois que ele passasse por uma bateria de exames e constatasse que estava realmente bem.Eu entendia todo aquele protocolo, mas minha vontade era ver logo o Rafael acordado e poder falar com ele.A ida dele para o quarto estava programada para as 17:00, mas duas horas antes eu já estava no corredor do quarto esperando. Dentro da minha bolsa estava o celular dele, a corrente de prata que ele nunca tirava, e a aliança que tinham passado para mim no dia do acidente.A Gabi tinha me ligado e disse que daria um tempo para ele chegar no quarto e que mais tarde viria com o Lucas.Tentei não pensar no resultado do teste de DNA que tínhamos ido buscar esc
Finalmente eu ia sair daquele hospital. Quantos dias tinha se passado? Uma semana? O certo é que eu queria voltar para casa.Nem podia dizer que queria voltar ao trabalho. Aquilo ia demorar um pouco mais. O médico foi categórico em dizer que era melhor aguardar pelo menos um mês antes de volta à ativa.Eu me sentia bem. O ombro não doía mais, mas eu sabia que se fizesse um movimento mais forte poderia incomodar.Por incrível que pareça, era a primeira vez que eu fui ferido com um tiro. Demorou muito, se pensar a vida cheia de adrenalina que me acompanhava desde muito cedo.O que me preocupava era a Sula. Ela estava apavorada com tudo aquilo.Eu queria poder oferecer outra vida a ela, mas aquela era minha profissão e infelizmente ela era incerta e perigosa.Ela aprenderia a conviver com aquilo. Minha menina era forte e já vinha me provando que poderia enfrentar muita coisa na vida. Aquilo não seria empecilho para nossa felicidade.Olhei para o relógio. Faltava 20 minutos para as 17:0
Um mês depois daquela noite reveladora, o Rafael continuava sorrindo a qualquer momento do dia ou da noite.Ele estava completamente recuperado do acidente e planejava voltar ao trabalho na semana seguinte.Cabeça dura como era, não queria voltar ao médico para fazer a revisão.— Claro que você vai! E se tiver alguma coisa errada?Ele arqueou uma sobrancelha me olhando divertido.— Você fez o teste drive ontem à noite. Tinha alguma coisa errada?Meu rosto ficou vermelho com a lembrança da noite mais louca da nossa vida. Ele resolveu tirar o atraso daqueles dias sem transar e praticamente passamos a noite inteira namorando.Meu corpo estava dolorido e cheio de marcas onde ele tinha mordido e chupado e de nada adiantou meu protestos para que ele não fizesse tanto esforço. No final quem estava praticamente sem forças era eu mesma.— Mesmo assim, acho que você deveria ir ao médico.— Ta bom Dra. Sulamita Ramazan Valença, eu irei ao médico.Sentei no colo dele no sofá.— E Então? O Lucas
Os meses seguintes foram os mais importantes da nossa vida. Parecia um sonho que eu estava vivendo uma vida de paz. Às vezes eu acordava durante a noite e me perguntava se tudo realmente tinha acabado ou se na verdade estava era começando.A Sula estava cada dia melhor e mais forte. Ela tinha terminado as seções de análise com a psicóloga e estava experimentando viver sem remédios. Logico que uma pessoa com o passado da Sula e com todos os problemas que ela já tinha passado não acordava boa de uma dia para outro. Ela teve crises de ansiedade, teve vontade de deixar a faculdade, achou que eu não a amava mais. Tudo isso nós enfrentamos juntos.Nossa vida entrou em uma rotina fácil de conduzir.De manhã eu saia para o trabalho e ela ia para a faculdade. Quase nunca dava para almoçarmos juntos e geralmente ela comia na faculdade mesmo e eu em algum lugar perto da delegacia. Pela tarde, ela tinha seções com a psicóloga e as vezes ficava no apartamento da mãe, ou as duas saiam juntas para f
Uma semana depois eu sai do banheiro com o tubinho do teste de gravidez na mão e o entreguei para o Rafael. Eu não entendia como olhar aquele resultado e ele estava lendo o manual.— E ai? Deu positivo?Ele demorou um pouco olhando as duas tirinhas rosas marcando o papel.— Aqui diz que se ficar duas linhas, é positivo.As mãos dele tremiam um pouco. Eu tremia inteira.— Então eu acho que estou grávida.Ele colocou o teste em cima da cama e se aproximou de mim.— Eu sabia que esse negócio de parar os remédios e fazer essa tal tabelinha ai não ia dar certo.Eu olhei para ele preocupada.— Você não tá feliz? Não gostou por que eu estou grávida?Ele se apressou em responder.— Não, meu amor, não é isso. Estou preocupado com você. Você só tem 19 anos Sula, não era a hora de ter um filho ainda. — E você tem 31, já está na hora de ter um filho.Ele finalmente deixou escapar um sorriso leve.— Meu Deus! Isso é real mesmo? Vamos fazer um teste de laboratório, é mais confiável.Ele chegou mai
O Gabriel nasceu em uma manhã de sábado no mês de Dezembro.Eu estava sentada no chão decorando a árvore de Natal quando eu senti uma pequena dor no pé da barriga.O Rafael brigou comigo porque eu insisti em decorar a árvore. Pelo gosto dele, eu nem sequer vestia uma roupa sozinha. Ele, às vezes, até me dava banho e penteava meu cabelo. Bom. Pentear meu cabelo não contava, porque aquilo era o que ele mais gostava de fazer.Se me perguntassem como foi minha gravidez eu responderia que foram os melhores meses da minha vida.Fui mimada de todas as maneiras, por todos que estavam ao meu redor.Minha mãe me surpreendeu, pois passou a cuidar de mim como se eu fosse um bebê. Acho que ela queria se redimir um pouco da culpa de não ter me criado.Ela fazia comida e ia levar para mim e o Rafael e dizia que não era pra me cansar indo para a cozinha. Ela limpava minha casa, lavava as nossas roupas e foi preciso o Rafael ser enfático com ela e contratar um diarista para tomar conta da nossa casa.