Apesar de sempre morar no Rio de Janeiro, eu nunca tinha ido a Niterói.Damon insistiu em me acompanhar e agora dirigia o carro do pai: um jipe antigo e bem conservado. Ele estava quieto desde a noite anterior e eu sabia que era por causa da notícia que ele tinha recebido.O comandante tinha ligado avisando que ele seria transferido justamente para Niterói. Era uma boa promoção. Ele seria chefe, ganharia mais, porém aquele era o último lugar que ele queria ir. A Juliete estava morando lá com o marido.Ele dirigia calado e eu aproveite para observar a vista de cima da ponte Rio-Niterói.Era um lugar bonito, mas minha mente estava dividida e só pensava em duas coisas: Na Sulamita sozinha em casa e em como encontrar meu irmão.Respirei fundo e perscrutei o rosto do meu amigo.— E agora? Se você a encontrar o que vai fazer?Ele riu nervoso.— Se eu a encontrar não. Eu vou encontrá-la.Não gostei do tom dele.— Como assim? O que vai fazer?Ele me olhou sério.— Vou atrás da minha mulher, R
E agora? E se ele não voltasse mais?Eu sabia que não deveria ter confiado nele. Era sempre assim. Todos me abandonavam. Primeiro minha mãe, depois meu pai fingia que eu não existia e meu avô me agredia de todas as maneiras sempre que tinha oportunidade. O Léo tentava me fazer feliz, mas foi com o Rafael que eu encontrei um pouco de paz e agora ele também se foi.Fazia uma semana que ele tinha ido ao Brasil e ainda não tinha voltado.Fazia uma semana que eu não saia daquele quarto.Eu não queria viver sem o Rafael. Só ele me entendia e me protegia.Naquela noite eu estava apreensiva. O Léo não estava em casa e a Zaila tinha ido ajudar uma amiga que estava doente. Eu estava sozinha.Hoje eu não abriria aquela porta. Eu não suportaria aquela violência de novo. Não agora que eu estava apaixonada. Eu não deixaria aquele velho nojento tocar meu corpo de novo. Eu me guardaria para o meu Rafael.Olhei o relógio da mesinha de cabeceira: 23:00h. Meu celular apitou.“Oi, minha princesa, como es
Não sei em que momento decidimos que não iriamos mais lutar contra aquele sentimento, eu só sei que agora éramos um do outro. Os próximos meses foram de certa forma cruciais. Porque não fácil esconder do Leonardo que eu e a Sula estávamos namorando. Namorando no sentido meio que figurado da palavra, porque ela não me permitia chegar muito perto. Estava sempre na defensiva e aquilo me preocupava. Em um dia ela estava bem, feliz e retribuía os carinhos que eu fazia, no outro, ela se fechava naquela concha escura e eu não conseguia penetrar em seu coração. Aquilo me deixava doente. Eu me sentia fraco por não conseguir fazer com que ela fosse uma menina normal e nem mesmo as constantes visitas ao psicólogo conseguiam ajudá-la. O que tinha acontecido para deixá-la daquele jeito? Por que ela insistia em se manter calada? Decidi esperar e fazer o que estava ao meu alcance. Eu a protegeria e a amaria com toda a força do meu ser. Um dia ela confiaria em mim o suficiente para se abrir comigo.O
Não era muito da minha natureza desistir das coisas, mas aquela busca pelo meu irmão parecia que não teria êxito. Eu teria de conviver com aquele fracasso.Era mais um ano de busca sem sucesso e eu finalmente encarei aquela realidade.— Chega Damon, eu não quero mais procurar nada.— Rafa...— Não cara, eu não quero mais me iludir.Damon me olhava pensativo.Aquela era última viagem que eu fazia ao Brasil com aquela intenção. Na verdade aquele não foi o único motivo. Estava ali com o Leonardo para efetuar mais uma operação ilegal para a o merda do Hilal. Aquilo estava me deixando muito mal. Eu precisava cair fora daquela sujeira toda.Damon fingia não entender o que eu fazia na Turquia, mas ele me recriminava com o olhar e estava certo. Mas aquilo estava chegando ao fim. Minha menina faria 18 anos em breve e eu a tiraria daquele país para sempre.Aproveitaria aquela viagem para concluir a compra do apartamento que o Damon acertou pra mim. Precisava preparar um lugar para viver com a S
Só Leonardo mesmo para me meter em uma roubada daquela. Onde ele estava com a cabeça para medir forças com a polícia? E ainda mais com um tipo de brincadeira sem graça como aquela?— Cara, não quero mais fazer essas merdas.Ele andava de uma lado para outro na sala do apartamento.— Calma, falta pouco. Não podemos desistir agora.— E se a polícia nos pegar?— Não vai pegar. Eu planejei tudo nos mínimos detalhes.Os mínimos detalhes que ele se referia, era repassar o dinheiro para um traficante do Rio para enviar algumas armas para a Turquia.Ele tinha armado um encontro falso comigo em um restaurante, para despistar a polícia, enquanto o encontro verdadeiro seria realizado bem longe dali.— Meu avô não pode desconfiar de você agora. Ele tem que aceitar que você case com a Sula. Essa operação tem que dar certo.Eu casaria com a Sula de um jeito ou de outro.— É a última loucura que eu faço, estou avisando.Ele apontou a mala rindo.— Uma última missão bem inusitada.Olhei divertido os
Pisar em solo turco daquela vez foi um pouco diferente.Algo tinha mudado dentro de mim nessa última viagem ao Brasil. Cada dia eu sentia mais vontade de voltar para minha terra. Aquele país estava me sufocando e eu não aguentaria muito tempo ali.Agora que eu tinha comprado um apartamento e juntado uma boa reserva em dinheiro, era chegada a hora de tomar uma decisão. Eu me recusava a pensar que meu dinheiro não era fruto de serviço honesto, mas foi o que a vida me ofereceu. Talvez eu ainda tivesse salvação. Pelo menos aquilo tudo teve um propósito. Eu só não pensei que minha vingança esbarraria em um sentimento muito maior e agora eu estava a um passo de desisti dela, para salvar minha menina. Eu não me arrependia. Eu faria tudo de novo.Fomos direto do aeroporto para a mansão. Eu tentava não mostrar para Leonardo o quanto eu estava ansioso por ver a Sula.A encontramos no quarto e eu tive que me segurar para não puxá-la para meus braços assim que a vi. Ela estava triste. Eu podia ve
— Por favor Leonardo, me diga que você está de brincadeira comigo?— Não. Não estou.— Pra que diabo você vai casar com essa delegada homem?— Pra evitar que ela morra, já te falei.Receber aquela ligação do Léo foi uma tremenda surpresa. O cara saiu para matar a tal delegada e agora estava voltando com ela para casar. Ele realmente era louco.— Acho que você enlouqueceu, mas tudo bem, eu vou pegar vocês no aeroporto.Peguei as chaves do carro e tentei não pensar no que a Sula ia pensar sobre aquilo. Era algo muito inesperado.Só Leonardo mesmo para aprontar uma maluquice daquela.Meia hora depois eu o esperava na sala de desembarque do aeroporto e só acreditei no que ele disse, quando vi a delegada andando atrás dele, no aeroporto. Não sei quem era mais louco dos dois.Me aproximei deles e olhei para ela, relembrando o inusitado encontro no Brasil.— Olá delegada, desculpe pela brincadeira daquele dia.Ela não sorriu e me olhou impaciente.— Imagino que você seja da mesma quadrilha q
O dia do casamento de Leonardo com aquela delegada não terminou bem para nenhum de nós dois. Ele tinha me ligado contando do atentado que eles sofreram ao chegar em casa. Mesmo aquilo terminando com os dois numa lua de mel ao pé da letra, ele estava preocupado com o andamento das coisas. Aquele ataque demonstrou que aquele casamento tinha sido em vão e que agora não só a Alina corria perigo, mas ele também poderia acabar pagando pelo escolha de não tê-la matado no Brasil.Quando eles saíram da mansão após o casamento eu fui até o quarto que sempre ocupava quando precisava dormi ali. De certa forma, eu já me sentia meio familiarizado com aquele quarto e o fato de saber que a Sula estava ali perto me tranquilizava.Naquela noite porém, algo me inquietava.Já era tarde e a casa estava em silêncio.Levantei devagar e andei pelo corredor no escuro mesmo.Na porta do quarto da Sula parei e ouvi ruídos lá dentro. Eu deveria entrar?Talvez ela não estivesse se sentindo bem. Mas por que não m