Olhei para Leonardo pensando como eu abordaria aquele assunto.— Eu... preciso ir ao Brasil. Tenho um assunto para resolver lá.Ele me olhou meio sem entender por que eu estava dando explicações.— Então vá, você está me pedindo permissão é?Troquei de um pé para outro desconfortável.-Não... mas é que eu tenho que acompanhar a Sula e... eu não sei se você vai poder estar sempre com ela.Ele franziu a testa.— Calma ai cara, você é só o segurança dela. Tem sua vida particular pra viver também.Como dizer a ele que eu não confiava em ninguém pra cuidar dela e que minha vida particular era a vida dela também?— Eu sei, mas ela está triste de novo esses dias, você não acha?Já tinha se passado cerca de um mês desde o aniversário de dezesseis anos dela e de repente, ela mergulhou de novo em uma depressão profunda e quase não saia do quarto.Leonardo respirou fundo.— Eu já não sei mais o que fazer Rafa, ela parece cada dia mais reclusa e os médicos não descobrem nada.— Não acho que aquil
De longe avistei o Damon me esperando na fila do desembarque.Que saudades daquele safado!Empurrei o portão e joguei a mochila no chão, abraçando meu amigo que eu não via fazia um ano.— Porra cara, por que demorou tanto?Olhei bem para ele. Estava mais velho, mas era o mesmo Damon de sempre.— Estou aqui meu amigo e quero saber de tudo.Ele estava sem farda.— Tá de folga?Ele sorriu pegando minha mochila.— Pedi dispensa, pra vim buscar um amigo ingrato no aeroporto.Passei o braço pelo ombro dele e fomos andando em direção ao estacionamento.— Não diga isso, eu estou em uma missão muito especial.— Não matou aquele homem ainda?A pergunta dele me pegou de surpresa, por que a missão que eu tinha me referido agora era outra.— Vamos, depois eu te conto em detalhes.Ele se aproximou de uma moto preta, bem a cara dele.— Uau! Que máquina!Ele passou a mão pelo guidão da moto.— Não é linda?— Perfeita!— Então sobe ai, vai ficar onde?— Tem mulher na sua casa?Ele torceu os lábios.—
Apesar de sempre morar no Rio de Janeiro, eu nunca tinha ido a Niterói.Damon insistiu em me acompanhar e agora dirigia o carro do pai: um jipe antigo e bem conservado. Ele estava quieto desde a noite anterior e eu sabia que era por causa da notícia que ele tinha recebido.O comandante tinha ligado avisando que ele seria transferido justamente para Niterói. Era uma boa promoção. Ele seria chefe, ganharia mais, porém aquele era o último lugar que ele queria ir. A Juliete estava morando lá com o marido.Ele dirigia calado e eu aproveite para observar a vista de cima da ponte Rio-Niterói.Era um lugar bonito, mas minha mente estava dividida e só pensava em duas coisas: Na Sulamita sozinha em casa e em como encontrar meu irmão.Respirei fundo e perscrutei o rosto do meu amigo.— E agora? Se você a encontrar o que vai fazer?Ele riu nervoso.— Se eu a encontrar não. Eu vou encontrá-la.Não gostei do tom dele.— Como assim? O que vai fazer?Ele me olhou sério.— Vou atrás da minha mulher, R
E agora? E se ele não voltasse mais?Eu sabia que não deveria ter confiado nele. Era sempre assim. Todos me abandonavam. Primeiro minha mãe, depois meu pai fingia que eu não existia e meu avô me agredia de todas as maneiras sempre que tinha oportunidade. O Léo tentava me fazer feliz, mas foi com o Rafael que eu encontrei um pouco de paz e agora ele também se foi.Fazia uma semana que ele tinha ido ao Brasil e ainda não tinha voltado.Fazia uma semana que eu não saia daquele quarto.Eu não queria viver sem o Rafael. Só ele me entendia e me protegia.Naquela noite eu estava apreensiva. O Léo não estava em casa e a Zaila tinha ido ajudar uma amiga que estava doente. Eu estava sozinha.Hoje eu não abriria aquela porta. Eu não suportaria aquela violência de novo. Não agora que eu estava apaixonada. Eu não deixaria aquele velho nojento tocar meu corpo de novo. Eu me guardaria para o meu Rafael.Olhei o relógio da mesinha de cabeceira: 23:00h. Meu celular apitou.“Oi, minha princesa, como es
Não sei em que momento decidimos que não iriamos mais lutar contra aquele sentimento, eu só sei que agora éramos um do outro. Os próximos meses foram de certa forma cruciais. Porque não fácil esconder do Leonardo que eu e a Sula estávamos namorando. Namorando no sentido meio que figurado da palavra, porque ela não me permitia chegar muito perto. Estava sempre na defensiva e aquilo me preocupava. Em um dia ela estava bem, feliz e retribuía os carinhos que eu fazia, no outro, ela se fechava naquela concha escura e eu não conseguia penetrar em seu coração. Aquilo me deixava doente. Eu me sentia fraco por não conseguir fazer com que ela fosse uma menina normal e nem mesmo as constantes visitas ao psicólogo conseguiam ajudá-la. O que tinha acontecido para deixá-la daquele jeito? Por que ela insistia em se manter calada? Decidi esperar e fazer o que estava ao meu alcance. Eu a protegeria e a amaria com toda a força do meu ser. Um dia ela confiaria em mim o suficiente para se abrir comigo.O
Não era muito da minha natureza desistir das coisas, mas aquela busca pelo meu irmão parecia que não teria êxito. Eu teria de conviver com aquele fracasso.Era mais um ano de busca sem sucesso e eu finalmente encarei aquela realidade.— Chega Damon, eu não quero mais procurar nada.— Rafa...— Não cara, eu não quero mais me iludir.Damon me olhava pensativo.Aquela era última viagem que eu fazia ao Brasil com aquela intenção. Na verdade aquele não foi o único motivo. Estava ali com o Leonardo para efetuar mais uma operação ilegal para a o merda do Hilal. Aquilo estava me deixando muito mal. Eu precisava cair fora daquela sujeira toda.Damon fingia não entender o que eu fazia na Turquia, mas ele me recriminava com o olhar e estava certo. Mas aquilo estava chegando ao fim. Minha menina faria 18 anos em breve e eu a tiraria daquele país para sempre.Aproveitaria aquela viagem para concluir a compra do apartamento que o Damon acertou pra mim. Precisava preparar um lugar para viver com a S
Só Leonardo mesmo para me meter em uma roubada daquela. Onde ele estava com a cabeça para medir forças com a polícia? E ainda mais com um tipo de brincadeira sem graça como aquela?— Cara, não quero mais fazer essas merdas.Ele andava de uma lado para outro na sala do apartamento.— Calma, falta pouco. Não podemos desistir agora.— E se a polícia nos pegar?— Não vai pegar. Eu planejei tudo nos mínimos detalhes.Os mínimos detalhes que ele se referia, era repassar o dinheiro para um traficante do Rio para enviar algumas armas para a Turquia.Ele tinha armado um encontro falso comigo em um restaurante, para despistar a polícia, enquanto o encontro verdadeiro seria realizado bem longe dali.— Meu avô não pode desconfiar de você agora. Ele tem que aceitar que você case com a Sula. Essa operação tem que dar certo.Eu casaria com a Sula de um jeito ou de outro.— É a última loucura que eu faço, estou avisando.Ele apontou a mala rindo.— Uma última missão bem inusitada.Olhei divertido os
Pisar em solo turco daquela vez foi um pouco diferente.Algo tinha mudado dentro de mim nessa última viagem ao Brasil. Cada dia eu sentia mais vontade de voltar para minha terra. Aquele país estava me sufocando e eu não aguentaria muito tempo ali.Agora que eu tinha comprado um apartamento e juntado uma boa reserva em dinheiro, era chegada a hora de tomar uma decisão. Eu me recusava a pensar que meu dinheiro não era fruto de serviço honesto, mas foi o que a vida me ofereceu. Talvez eu ainda tivesse salvação. Pelo menos aquilo tudo teve um propósito. Eu só não pensei que minha vingança esbarraria em um sentimento muito maior e agora eu estava a um passo de desisti dela, para salvar minha menina. Eu não me arrependia. Eu faria tudo de novo.Fomos direto do aeroporto para a mansão. Eu tentava não mostrar para Leonardo o quanto eu estava ansioso por ver a Sula.A encontramos no quarto e eu tive que me segurar para não puxá-la para meus braços assim que a vi. Ela estava triste. Eu podia ve