Anna NarrandoEu cheguei à porta do quarto dele e suspirei. Eu tinha que fazer isso. Abri a porta devagar, entrei e me virei para fechá-la, sem nem olhar se havia alguém lá dentro. Quando me virei, me assustei ao ver Nathaly sentada ao lado dele.Senti meu sangue ferver ao vê-la ali, mas preferi ignorar. Se eu fizesse algo contra ela agora, poderia acabar saindo daqui presa.— O que você está fazendo aqui? — perguntei, cerrando os dentes.— Eu já disse que somos irmãs… — respondeu ela, como se fosse óbvio. — Claro que eu ia cuidar do nosso pai.— Não diga que é filha dele sem fazer um teste de DNA — falei, irritada. — Não confio na sua palavra.— O que eu te fiz para merecer tanta raiva? — perguntou ela, me encarando.— Você só é apaixonada pelo meu marido… — revirei os olhos.— Não, isso é passado. Não tenho mais esse interesse — ela explicou. — Vamos focar no que importa. Tem alguém aqui que é muito mais importante que um idiota como o Viktor.— Me deixa sozinha com ele — pedi, irri
Viktor narrando.Assim que entramos na sala de espera, senti um arrepio percorrer meu corpo. Minhas mãos estavam suadas, meu corpo pesado, e a sensação era de que o mundo estava prestes a desmoronar, me levando junto. Eu não estava pronto para me despedir do meu pai, mas sabia que ele já havia lutado muito. Por mais difícil que fosse, às vezes é melhor deixar ir, descansar, do que ser egoísta e querer mantê-lo apenas para alimentar nossa alma.Eu permanecia em silêncio, evitando até mesmo falar com Raul. Não queria me aborrecer com o que aconteceu no galpão. Minha mente estava focada no meu pai. Quanto ao galpão, agora só poderiam retirar os corpos dos agentes, dar a eles um enterro digno e cuidar de suas famílias, afinal, eles tinham esposas e filhos que dependiam deles, mesmo que o dinheiro não substitua a vida de ninguém.Carmen me chamou para conversar. Eu sabia o que ela queria falar, mas não podia tomar nenhuma decisão naquele momento. Precisava respirar fundo e manter a mente c
Anna narrando.Eu e Nathaly fomos fazer o teste de DNA, e Tânia nos acompanhou. Colhemos sangue e ficamos esperando o resultado do exame. Era evidente o quanto as duas não se davam bem. Nathaly olhava para Tânia como se quisesse matá-la, e Tânia, às vezes, retribuía o olhar, outras vezes a ignorava. Eu estava no meio de um conflito, sem saber o que acontecia entre as duas.— Fica difícil ficar entre vocês. — Cruzei os braços. — Uma é minha melhor amiga, a outra, supostamente, é minha irmã. É complicado.— Essa louca cismou comigo do nada… — Tânia falou, revirando os olhos.— Agora não é o momento, mas um dia vou dizer umas verdades. — Nathaly respondeu irritada.— Chega, vocês duas… Aqui não é o lugar nem a hora de lavar roupa suja. — Levantei-me. — Nem sabia que vocês se conheciam, muito menos que havia esse clima entre as duas, então se controlem. O foco aqui é o meu pai e o meu sogro.— Concordo. — Nathaly disse, levantando-se. — Vou buscar um café, alguém mais quer?Pedi para que
Viktor narrando.Estávamos todos sentados na sala da casa do meu pai, aguardando a ligação da funerária para podermos ir até o velório. Anna estava muito cansada, então resolvi subir com ela para o nosso antigo quarto e tentar descansar um pouco. Nos disseram que levaria algumas horas até que liberassem a sala onde aconteceria o velório e a preparação do corpo.Aproveitei que Anna conseguiu dormir e fui até o quarto onde a russa estava trancada. Abri a porta e vi Julieta no colo da mulher. Quando me viu, Julieta pulou de seu colo e veio correndo cambaleante até mim, com os bracinhos abertos.— Papai… — Ela falou, rindo e me abraçando.— Oi, filha. Papai estava com saudades. — Respondi, abraçando-a de volta.A mulher continuava sentada na cama, claramente apreensiva, preocupada com o que eu poderia fazer. Sentei-me em uma cadeira em frente à cama, com Julieta no colo, ajeitando-a com cuidado. Olhei para a mulher.— Faz quase três meses que você está aqui e eu sequer sei o seu nome. Mor
Anna narrando.Acordei com Viktor entrando no quarto. Ele se movia devagar, tentando não fazer barulho, mas, mesmo assim, eu despertei. Ele se sentou ao meu lado e começou a acariciar meu rosto e meu cabelo.— Já está na hora… — ele sussurrou. — Quer tomar um banho antes?— Quero sim, preciso recuperar minha dignidade — respondi, com um sorriso fraco. — Foram muitos acontecimentos.— Nem me fale — disse ele, levantando-se e começando a desabotoar a camisa.Fiquei olhando para aquele corpo bem definido, os braços fortes quase estourando a costura da camisa branca. Eu estava hipnotizada pela beleza dele. Mesmo depois de um dia tão exaustivo, ele continuava lindo.Levantei da cama e fui até o closet. Ainda tinha algumas roupas minhas ali. Peguei um vestido preto de manga comprida e gola alta, um coturno preto e um óculos de sol. Deixei as roupas sobre a cama e entrei no banheiro, onde Viktor já estava debaixo do chuveiro, tomando seu banho.Tirei a roupa e abri o box. Viktor, de olhos fe
Viktor Narrando.As pessoas que chegavam para ver o caixão se aproximavam de mim e da minha família, prestando condolências pela nossa perda. Alguns chefes de máfias próximos estavam presentes, outros aliados também, e, por mais incrível que pareça, até alguns russos estavam no local.Ficamos atentos o tempo todo, com medo de um massacre, já que a maioria dos grandes líderes estava presente. Mas nenhum deles era idiota o suficiente para vir desarmado ou sem colete.A dor de ver o meu pai dentro daquele caixão era imensurável. Eu estava destruído e já não tinha mais lágrimas para derramar. Estávamos completamente devastados, e o pior de tudo era que não teríamos tempo de nos recuperar; precisaríamos ir atrás dos traidores e de Stela imediatamente.O padre se aproximou do caixão e fez sinal para que todos se sentassem nas cadeiras dispostas no jardim, para que ele pudesse começar a oração e pronunciar algumas palavras de descanso eterno.— Boa tarde a todos. Que o Espírito Santo de Deus
Anna narrando.Passaram sete meses e meio e até hoje não tivemos uma notícia sequer daquela maldita que matou minha avó. Às vezes, achamos que alguém está escondendo ela aqui na Espanha; outras, que ela saiu do país e talvez tenha voltado para a Rússia. Mas, se isso aconteceu, não vamos poder fazer nada, porque enfrentar os russos no território deles é suicídio.Hoje é finalmente o dia em que vamos conseguir assinar os papéis da adoção da pequena Julieta. Exatamente no mesmo dia do seu aniversário de dois anos, e pensa, a festa está garantida.Meu pai finalmente recebeu alta do hospital. Ele ainda está com dificuldade para falar, mas vem melhorando muito desde que veio para casa. Nathaly está morando na mesma casa que a Carmen, Nathan e Tânia estão finalmente namorando, embora eu ache que eles são o casal mais improvável e esquisito do mundo…Ela é minha amiga, sempre foi, mas ultimamente anda bastante distante de mim, e, bom, acho que Nathan tem muito mais a ver com minha irmã do que
Viktor narrando. Eu estava em casa com a Anna, e tudo o que eu mais queria naquele momento era paz, tentando ao máximo não pensar na Stela ou em qualquer outro problema da máfia. Minha mulher estava prestes a dar à luz e precisava de mim ao lado dela, além dos cuidados da Rosa, nossa babá. Olhei para o lado, e Anna dormia como um anjo. A claridade da janela já invadia completamente o quarto, mas o que me fez levantar da cama e ir para a sacada foi uma ligação estranha no meu celular. Olhei a tela e era um número restrito. Na ponta dos pés, para não acordar a Anna, andei até a sacada, fechei a porta devagar para que ela não ouvisse e atendi o telefone com uma voz suave. Início da ligação. Viktor: Alô? Xxx: É um grande prazer ouvir a voz do chefe da máfia espanhola… — Falou uma voz masculina e completamente desconhecida. Viktor: Poupe-me de seus prazeres e vá direto ao ponto. Diga seu nome e o que quer. — Falei, sentindo a raiva crescer dentro de mim. Pelo sotaque, com certeza n