Aleksandra
— Uau, ela conseguiu uma motocicleta nova em uma única noite fora de casa — brinca Tasya ao rodear o veículo algumas vezes com um sorriso brilhante no rosto. — Mas a vaca não manda mais de uma mensagem para me dizer que está viva — rezinga e eu deveria saber que não tinha como ela apenas manter uma boa expressão no rosto. — Um dia vai me pagar por isso — avisa me apontando um dedo.
— Certo, posso pagar hoje?
— Hum, como você pagaria? — pergunta curiosa. Se tem uma coisa que pode mexer com ela é seu interesse por novidades. — Seja rápida.
— Não seja afoita — peço ao ver que um carro para na vaga do nosso lado e que Valentina acena sem parar para exibir que já está ali para atender ao meu convite. — Viu, tem que esperar apenas mais um pouco.
— Tem muit
Aleksandra— Nós ficamos muito felizes com a sua decisão de nos apoiar — fala a mulher usando as roupas em tons de branco e cinza com o grande crucifixo pendurado batendo contra sua caixa torácica enquanto anda.A pele enrugada anima-se com a possibilidade de um novo doador se apresentar.Afinal, se há uma coisa que se esgota com facilidades são recursos para se cuidar de uma criança, imagine quando há tantas delas, é claro que precisam continuamente de indivíduos que doem para mantê-las em condições aceitáveis.— Fico feliz em saber que o meu dinheiro pode ser bem empregado ao ajudar crianças como elas — profiro ao manter minhas mãos cruzadas atrás das costas notando cada barulho que possa soar estranho, mas o grito dos pequenos ao se divertirem poderiam fazer com que a maioria das coisas passassem desper
AleksandraDias bons devem correr de mim assim como dizem que o diabo foge ao ver uma cruz.Misturada em meio às pessoas notei que passou a existir um acúmulo delas ao redor da piscina de bolinhas que foi posta no espaço pequeno na parte de trás do orfanato, que apesar do barulho costumeiro feito por muitas crianças estarem juntas há algo mais ali.Pelo canto do olho vi Valentina ao sorrir amarrando a fita de um balão no pulso de uma criança que saltitou animada para longe dela para mostrar para os seus amigos que agora não tinha mais como perdê-lo. Me olhou discretamente para tentar compreender a minha situação, assim como a avaliei, pelo modo como se porta não encontrou a menina também.É difícil perguntar se sabe o que está acontecendo perto do brinquedo de tão longe, desse modo, despretensiosamente caminhei em d
AleksandraNão é fácil impedir a curiosidade, mas uma cena como essa continuamente atrairia a minha atenção, não importa onde esteja. Sinto o meu coração apertar somente ao pensar que alguém tem a coragem de pôr um filho no mundo somente para o fazer sofrer como se ele pudesse ter culpa de ser jogado em um lugar podre.Não teve escolha.Não decidiu que nasceria nas mãos de um monstro.Ainda assim, precisa enfrentar as consequências disso, como se a escolha fosse sua.Estranho que apesar de não haver uma porta não consigo ver os dois.Encaro a estrutura melhor imaginando como esconderiam uma porta se fosse preciso, notando que seria mais fácil se desse a volta pelo espaço pequeno onde somente uma pessoa de corpo esguio poderia passar sem ficar presa. São poucos centímetros que distanciam a
Aleksandra— Como alguém tem coragem de bater em alguém com um rostinho tão fofo? — pergunta-me Tasya ao limpar o rosto do menino com um lenço umedecido que consegui encontrar no porta luvas do carro.Do seu lado a menina se mantém agarrada a um bichinho feito com um dos balões com muita força, se ele não estoura é por ser muito forte.— Você vai acabar o assustando — fala Valentina vendo que o menino a olha, a observa continuamente, talvez por ter ficado impressionado por ver como ela mantinha uma arma em punhos sem nem mesmo olhar para os lados ao se preocupar.— Você que vai, não fui eu que saquei uma arma na frente dele — diz terminando o serviço que não fica perfeito considerando que o que tem em mãos deveria ser usado apenas para limpar o traseiro dos meus bebês. — Por que não
AleksandraSe eu me tornei muito mais maleável é por terem fodido meu coração com seu afeto até que ele não pudesse suportar mais. Sem elas ainda estaria no mesmo ponto ao ficar feliz com o que está sendo dado, sem me preocupar com o que receberei, já que quando não se espera nada tudo que recebe se torna lucro.— Ela queria achar o meu pai — diz, não parece saber muito mais sobre o assunto, não pode explicar com certeza os motivos para sua mãe ter sido morta, o porquê de achar o seu pai ser importante quando estavam a caçando. — Disse que ele poderia nos ajudar, que nos protegeria.— Sabe do que poderia estar protegendo você? Já tinha visto aqueles homens antes? — qualquer informação, me diga uma coisa que possa ser útil e que me dê alguma lógica em meio a esse caos. &mdash
NikolaiOlho para o menino que não parece nenhum pouco disposto a sair de perto de Aleksandra. Para onde ela vai a segue de perto esperando que esteja sempre pronta para passar uma mão em sua cabeça dando-lhe a indicação de que continua atenta a onde está.É como se temesse que a distância o levasse direto a boca de um dragão que vai o devorar inteiro. Considerando o que Aleksandra me disse entendo o seu medo. Não deve ter sido fácil ficar trancado em um lugar esperando por uma mãe que sabia que não viria. Ser perseguido na rua por pessoas que nunca viu e acabar sendo salvo por uma estranha.Ela deve ser a única coisa boa em que ele pode se apegar agora sem ter medo.— Como nós acabamos nessa situação ursinhos? — pergunto aos bebês que agora podem apreciar a mistura que fiz para sua alimentaç&atild
Aleksandra— Bom dia — fala Sofiya ao se aproximar agarrando a alça da jarra cheia de suco colocando-o em um copo para beber enquanto mantém um sorriso no rosto, ainda que eu ache difícil fazer o mesmo pela manhã.Deve ser do tipo de pessoa que acorda facilmente, ainda que ninguém peça por sua colaboração nas tarefas matinais. Talvez possa colocar a culpa na minha profissão pelos meus hábitos noturnos, já que é muito mais fácil não ser notada quando faz uma caçada a noite.Gatos fazem a festa atrás dos ratos nas vielas escuras.E é o que basicamente tenho feito para viver nos últimos anos.— Bom dia — respondo imaginando que será estranho para ela se não falar nada quando sou a pessoa invadindo a sua casa, ainda que a contragosto. Se Nikolai não tivesse uma lista
Aleksandra— Bom ver que você parece um pouco melhor — digo ao me sentar na cadeira que puxo para sua frente. — Está é minha amiga, ela me ajudou a fazer com que a sua filha seja mantida em um local seguro — explico e Jackson a observa de cima abaixo.Demora em sua avaliação ao ponderar sobre o que Valentina poderia fazer com o seu corpo pequeno e franzino antes de me encarar mais uma vez e tudo que posso lhe mostrar é certo conforto através de um sorriso.— Disse que me traria provas — murmura com a voz rouca. Sua saúde não é das melhores, mas considerando a situação a qual foi submetido podia já estar bem morto a essa altura do campeonato.Valentina se adianta sacando o seu telefone colocando um vídeo para ser reproduzido com a menina cantando uma música infantil um pouco mais animada do que antes,