De frente para o computador, Enrico mantinha os seus olhos concentrados na tela brilhante. Chocado, ele leu e releu o e-mail diversas vezes. Tinha investigado tudo sobre o passado da médica antes de propor um casamento por contrato.Enterrando os dedos nos fios curtos, jogou os cabelos para trás enquanto movia a cabeça negativamente.— Não, a Lívia não seria capaz. — recusou-se a acreditar. — Meu detetive não falou nada sobre o envolvimento de Lívia com alguma gangue.No fundo, Enrico não queria acreditar que Lívia o trairia.Pondo-se de pé, perambulou pelo quarto. Era como se estivesse preso dentro de uma jaula, completamente perdido em seus pensamentos. Para ele, a traição era vista como um ato condenável e que mancha a reputação de uma pessoa para o resto de sua vida.As palavras do tio e do consigliere se repetiam, deixando Enrico ainda mais confuso.— Ela não faria isso comigo! — Pegou a pistola e colocou na cintura. — Lívia nunca me trairia.Os seus planos estavam fixos na vida
Quando o carro de Enrico parou em frente a clínica, um de seus homens notou a movimentação estranha lá dentro.— Tem algo errado, chefe!— Fiquem aqui e me deem cobertura. — deu a ordem aos dois seguranças.Ao descer do carro, Enrico correu direto para a porta de vidro quando ouviu as vozes alteradas que vinham lá de dentro.Chegando na entrada, percebeu o tumulto, todas as pessoas, funcionários e pacientes, olhavam aflitos para uma mesma direção, Enrico olhou na mesma direção e viu a mulher acuada aguardando o seu fim. O homem transtornado estava a um passo de atingi-la quando o som da arma disparando fez com que as pessoas em volta se abaixassem buscando proteção. O homem caiu sentindo o sangue quente escorrer pelo ferimento aberto em sua perna, sentiu o impacto do crânio se chocando contra o chão quando o homem alto apareceu desferindo golpes contra sua cabeça. Os gritos ecoaram no local, Enrico forçou a sola do sapato sobre a cabeça do homem mantendo-o no chão com o peso de seu
Enrico não conseguia entender como pôde baixar a guarda daquela maneira, deveria ter mirado no coração daquele homem no primeiro disparo, ao invés disso, deixou que Lívia o distraísse com palavras duras que traziam de volta a lembrança da perda. Seu erro poderia custar à vida da mulher que amava, a sensação da perda havia deixado de ser apenas uma lembrança e estava agora diante dos seus olhos com a possibilidade real de perder Lívia para sempre. Dominado pelo pânico, Enrico empunhou o cano da pistola na direção da equipe médica da clínica.— Ajudem! — Ele ameaçou os dois médicos e a enfermeira que ainda estavam escondidos atrás das cadeiras junto aos outros pacientes. — Se não fizerem nada, matarei todos vocês! Aquela onda de sentimentos deixou Enrico mais agressivo. O seu estado emocional era de extrema tensão, já não se importava com mais nada, só queria sua amada de volta.— Cazzo! Façam o que mandei! — Enrico estava mergulhado num estado de extremo desespero.Mattia ainda est
Graças a transfusão de sangue, Lívia estava agora fora de perigo. Seria mantida em observação, para garantir que cumpriria os dias de repouso e que se recuperasse por completo. Enrico não costumava acreditar em destino, mas dois sangues dourados no mesmo lugar, na hora exata, era, de fato, uma coincidência grande demais. Ele permaneceu ao lado da amada, dia após dia, sentindo-se grato por, de alguma forma, sua prece ter sido atendida.O passar dos dias trouxe outra boa notícia, Lívia se recuperava bem mais rápido do que o esperado pela equipe médica, se continuasse nesse ritmo, em breve receberia alta. Duas semanas após a cirurgia, Lívia se remexeu no colchão hospitalar estreito, arrastou as pernas para a lateral até ficarem para fora do colchão, chegou um pouco mais para frente, tentava alcançar o chão. Ao ouvir o som dos lençóis sendo arrastados, num rápido movimento, Enrico se levantou da poltrona, despertando de seu cochilo. — O que está fazendo?— Quero sair dessa cama. — Com g
Havia um leve rubor no rosto com traços marcantes. Ele estava envergonhado, olhando para a mulher vulnerável à sua frente. — Você parece com a minha mãe… — confessou.— Quê? — Arqueou as sobrancelhas, não era esse tipo de resposta que esperava. — A minha mãe era mal-humorada, mas tinha um coração mole, repleto de princípios. Assim como você. ela nunca teve medo de enfrentar pessoas poderosas; no entanto, ela tinha o mesmo defeito, — suspirou antes de continuar: — a minha mãe era tão tola quanto você! — Colocou-se de pé e se aprumou diante de Lívia.Jogando a cabeça para trás, Lívia gargalhava da queixa de Enrico. Nunca ouviu alguém falar sobre o jeito dela com tanta sinceridade.Enrico ficou atordoado com a risada, para a sua surpresa, Lívia encarou a crítica com bom-humor. Enfiando os dedos nos cabelos de sua nuca, ergueu o seu rosto, contemplando o seu sorriso. Não podia mais resistir aos lábios convidativos. Ele capturou os lábios entreabertos, aproveitando um momento de dist
Já no quarto, o casal saboreava a refeição e entre uma garfada e outra, Lívia e Enrico planejavam quais lugares gostariam de visitar juntos e compartilhavam ideias de decoração para a casa. Lívia estava empolgada com a ideia de, finalmente, ter uma família. Esperava por isso há muitos anos. A TV da parede estava ligada transmitindo mais um capítulo da novela da tarde. Enrico não conseguia entender como as mulheres podiam gostar tanto daqueles personagens cercados por tantos dramas, era tedioso, mas ainda assim, a maioria das novelas da tarde eram um sucesso entre o público feminino. Porém, Lívia não parecia se interessar, estava mais empolgada em fazer planos com Enrico. De repente, antes que o segredo da protagonista fosse revelado, a programação foi interrompida pelo alerta do Plantão de Notícias, o que atraiu os olhos de Lívia para a TV, e mais do que isso, a notícia a seguir roubou sua atenção por completo. Enrico até tentou continuar o assunto sobre os melhores pontos turíst
O repórter continuava se desculpando pelo erro, mas, no fundo, estava com medo do que Enrico poderia fazer com aquele alicate. Já tinha assistido filmes e ouvido falar de como essas gangues costumavam usar torturas para punir seu algoz. O homem assustado observou a sua volta, para ver se não havia nenhuma furadeira ou faca.— Adoraria tirar cada uma delas só para medir a sua tolerância a dor. — Estreitou o olhar para as unhas bem feitas. — Eu só não vou arrancar as suas unhas porque, antes, eu quero que você se retrate e conte a verdade sobre essa turma de vigaristas, capiche? — Enrico olhou para um dos membros da gangue que colocou o computador portátil sobre a mesa. — Fique de olho e preste atenção em tudo o que ele vai escrever.— Sim, chefe!Enrico deixou que os seus subordinados vigiassem o repórter até ele postar uma nota de esclarecimento e, ao mesmo tempo, ele saiu para investigar o e-mail suspeito que Lívia recebeu. Precisava descobrir quem era o remetente que enviou o e-mai
Uma semana depois, Lívia se recuperava bem. Estava um pouco mais animada e ansiosa para receber a autorização para se cuidar em casa. Ela tomava o café da manhã e admirava a paisagem através da janela quando o homem atraente, vestido elegantemente, entrou no quarto. Lívia colocou a mesinha de lado e pulou nos braços de Enrico.— Senti sua falta, amore mio!A ocitocina corria livremente por suas veias, O coração batia mais rápido com o jeito como ele a chamava de amor. Lívia se sentia mais segura pela sensação de conforto dentro dos braços fortes. Era bom ter alguém para protegê-la e dar algum sentido a sua vida.— Vamos para casa! — Ele mostrou o documento de liberação.— Davvero? — indagou.— Sim, bella mia! — Pressionou os lábios contra os dela. — Arrume as suas coisas, eu também estou ansioso para te levar para casa.Lívia finalmente recebeu sua alta do hospital. Podia se recuperar em casa.Com a ajuda de Enrico, ela calçou os sapatos. Logo que prendeu os cabelos no alto da cabeça