3. Uma Noiva Sortuda

As palavras saem de mim como uma rendição, como a sentença de algo que jamais escolheria.

Ettore se vira lentamente, e, apesar de seu rosto parecer calmo, seus olhos o entregam. Ele está saboreando cada segundo disso.

— Excelente escolha, Srta. Montesi — ele diz, com a voz controlada, quase indiferente.

Enquanto ele se aproxima, meu pai solta um suspiro aliviado ao meu lado. Satisfeito por finalmente me quebrar para satisfazer seu desejo.

— Ótimo, podemos voltar à sala e finalizar…

— Na verdade, Sr. Montesi — Ettore o interrompe —, acho que agora é uma questão entre minha filha e eu. Meu advogado nos espera para finalizar o contrato.

— Entendo, mas como presidente da Montesi, eu deveria…

— Os documentos referentes à empresa serão enviados ao seu departamento jurídico ainda hoje — Ettore interrompe novamente, com um tom que não permite argumentos. — Porém, o acordo matrimonial é uma questão privada.

— Claro — meu pai finalmente aceita, claramente insatisfeito. — Liz, não me decepcione.

Ele praticamente me empurra na direção de Ettore, me tratando como uma criança, não como uma mulher de 24 anos.

Ettore estende o braço, em um gesto cavalheiresco que contrasta com a frieza de seu olhar.

— Acho que é um ótimo momento para o primeiro teste.

— Teste?

— Precisamos parecer um casal apaixonado — ele diz, como se fosse a coisa mais óbvia do mundo. — Quero ver se ainda sabe fingir.

Respiro fundo, tentando ignorar as palavras que ele usa apenas para me ferir.

Hesito por um segundo antes de colocar minha mão trêmula no braço dele. A eletricidade do toque, misturada ao seu perfume, me transporta para lembranças que tentei enterrar.

Lembranças de uma tarde em Florença, quando ele me puxou pela cintura e sussurrou que eu era a única capaz de fazê-lo enxergar algo bom em meio a tanta falsidade que o cercava.

— Já se esqueceu como se finge? — Ettore pergunta, irônico, me puxando de volta à realidade. — Pare de tremer como se estivesse indo para a forca.

As palavras dele me fazem balançar a cabeça discretamente, tentando afastar esses pensamentos.

Diante dessa nova versão de Ettore Bianchi, sei que o passado agora será apenas isso: lembranças.

Enquanto caminhamos pelos corredores, sinto os olhares pesados que nos seguem. Os funcionários antigos sabem quem ele é.

O filho do maior concorrente do meu pai. Apaixonado pela filha do inimigo. Agora, ele retorna como o salvador da empresa.

Como meu futuro marido.

— Sorria — ele sussurra, quando saímos do elevador. Sua respiração contra o meu ouvido me provoca um arrepio involuntário. — Você parece mais uma alma penada do que uma noiva sortuda.

Sortuda. A ironia quase me faz soltar uma risada amarga, mas me contenho.

Quando finalmente chegamos à garagem, Ettore me solta como se o contato o queimasse, deixando claro que, na verdade, ele quer distância de mim.

— Para onde estamos indo? — pergunto, enquanto entramos no carro.

— Você saberá quando chegarmos lá — responde, encerrando o assunto que mal começou.

Ettore dirige em silêncio, os dedos apertando o volante como se estivesse tentando controlar algo mais do que o carro.

O silêncio é pesado e desconfortável, e eu, inevitavelmente, me vejo perdida nos próprios pensamentos.

Quando paramos no semáforo, ele vira o rosto para me olhar.

— Você se vendeu por pouco, sabia? — comenta, cruel, saboreando cada palavra. — Apenas vinte milhões.

— Não estou fazendo isso por dinheiro — respondo, mas a humilhação que sinto faz meu rosto esquentar.

— Ah, claro — ele diz, com um sorriso cínico. — Foi por amor ao seu querido pai, talvez? O homem que te vendeu sem pensar duas vezes?

Mordo o lábio, me recusando a dar a ele a satisfação de uma resposta.

Ele sabe exatamente por que estou fazendo isso. Explicar só tornaria tudo ainda mais humilhante.

Ettore finalmente ri sem humor, balança a cabeça e volta a dirigir.

O silêncio é pesado até chegarmos ao imponente edifício do Grupo Bianchi.

Durante todo o trajeto pelos corredores, os olhares são inevitáveis.

Alguns funcionários param de andar quando nos veem, seus olhares são os mesmos de anos atrás, quando estive aqui pela última vez.

Curiosos. Julgadores. Assustados.

Logo, entramos em um escritório amplo e iluminado, com um homem alto de olhos verdes e cabelos loiros e curtos nos esperando.

— Max — Ettore o cumprimenta com um aperto de mão rápido.

— Ettore — ele responde, antes de me olhar com um sorriso que parece mais uma máscara. — E você deve ser a Srta. Montesi.

— Prazer, Sr. Whitmore — respondo educadamente, estendendo a mão.

— O prazer é meu, acredite. Ouvi muito sobre você.

Pelo tom dele, sei que nada do que ouviu sobre mim é positivo.

— Por favor, sentem-se — Max indica a mesa onde vários documentos estão organizados. — Ettore, preparei tudo exatamente como você pediu.

— Ótimo.

Puxo a cadeira e me sento lentamente, sentindo minhas mãos tremerem.

Ettore se acomoda ao meu lado, perto o suficiente para que eu sinta seu perfume, longe o bastante para manter o abismo emocional entre nós.

— Primeiro — começa Max, abrindo uma pasta —, os termos financeiros. O Grupo Bianchi fará o investimento necessário na Montesi & Co., em troca de 30% das ações da empresa.

Arqueio as sobrancelhas, surpresa. Esperava que Ettore exigisse o controle total.

— E, claro — continua Max, adotando um tom mais formal —, vocês manterão um casamento legalmente reconhecido por no mínimo um ano. Durante esse período, o divórcio não é uma opção, a menos que alguma cláusula seja violada.

Ele me entrega uma pilha de documentos. Folheio rápido, olhando os pontos principais.

Aparições públicas como casal. Residência compartilhada. Cláusulas de confidencialidade e…

— Fidelidade? — pergunto, erguendo os olhos para ele.

Ettore não pisca. Mas sorri. Aquele maldito sorriso que incomoda mais do que qualquer cláusula.

— Dado o seu histórico, achei prudente — diz, num tom leve, quase divertido. — Talvez assim você consiga, enfim, cumprir o papel de uma mulher decente.

O calor sobe pelo meu pescoço até meu rosto, queimando. Mas me recuso a demonstrar fraqueza para ele.

— Entendo — murmuro, controlando a voz. — E você também vai seguir essa cláusula?

— Não preciso de papel para me lembrar dos meus deveres, Srta. Montesi — rebate, com um sorriso tão gelado quanto sua alma. — Sempre cumpro minha palavra.

Max pigarreia, visivelmente desconfortável com o campo minado que virou essa sala.

— Quanto ao seu trabalho, Srta. Montesi, poderá continuar como designer na empresa da sua família.

— E minha mãe? — pergunto, sem rodeios. O verdadeiro motivo de tudo isso. — Quero garantias por escrito sobre o tratamento dela.

— Sua mãe não está incluída neste contrato — Ettore responde, entrelaçando os dedos sobre a mesa como se estivesse discutindo o preço de uma ação, não a vida de uma pessoa.

— Então não tem contrato — digo, já me levantando. Ele me segura pelo braço.

— Se desejar, podemos incluí-la — diz, num tom mais calmo. — Mas o valor será descontado da compensação que você receberá ao fim do acordo.

— Não quero compensação nenhuma — respondo sem pensar duas vezes. — O tratamento da minha mãe é tudo o que importa.

Ettore arqueia uma sobrancelha, visivelmente surpreso com a minha resposta rápida e sem rodeios.

— Muito bem — diz, voltando à sua postura indiferente de sempre. — Max, adicione uma cláusula garantindo o melhor tratamento médico possível para a Sra. Montesi, pelo período de dois anos, independente da duração do casamento.

Max anota a alteração no contrato sem levantar a cabeça.

— Você se mudará hoje — Ettore anuncia.

— Mas… e as minhas coisas? Preciso organizar a mudança, resolver…

— Já cuidei disso — ele me corta, seco. — Enviei uma equipe ao seu apartamento.

— Você não tinha esse direito — rebato, a voz embargando de raiva.

— Na verdade, seu pai me entregou as chaves — responde, como se estivesse dizendo que comprou pão na esquina. — Antes mesmo de você aparecer na empresa.

Sinto meus olhos arderem, as lágrimas querendo explodir. Respiro fundo e engulo o choro que ameaça me descer.

— Alguma pergunta, Srta. Montesi? — Max pergunta, estendendo a caneta.

Olho para a caneta como se fosse uma arma apontada para mim. Por um segundo, penso em levantar e sair da sala. Mas seria inútil.

Muita coisa depende disso. Especialmente minha mãe.

Com a mão trêmula, pego a caneta. Uma lágrima teimosa escapa e cai sobre o papel, borrando a assinatura da mulher que eu costumava ser.

Cada traço no contrato parece arrancar um pedaço de mim.

Quando termino, levanto os olhos para Ettore. O sorriso dele não é de comemoração, é de satisfação.

Ele venceu.

Ele me comprou.

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