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Capítulo 5 Surreal
Eden caminhou de volta para seu apartamento e destrancou a unidade do quarto andar que ela compartilhava com as amigas. Tirou os sapatos e entrou silenciosa, com cuidado para não bater a porta, caso ainda estivessem dormindo.

Mas quando ela se virou e encontrou três pares de olhos, brilhando de expectativa, seu plano de fazer uma entrada silenciosa virou fumaça.

"Oi, gente", Eden fez uma careta, seu rosto tão vermelho quanto a camiseta de Angry Birds que Sienna usava sobre a calça de pijama cinza.

"Tsc tsc", Sienna estalou a língua com desaprovação. "Tanto para se guardar para o casamento!"

"Nós revogamos sua santidade", Cassandra entrou na conversa enquanto pegava a caixa de muffin dela, carrancuda quando ela espiou dentro. Ela odiava qualquer guloseima comprada em loja porque sabia que poderia fazer um trabalho muito melhor. Mas hoje sua decepção, como ela disse em voz alta, não foi com os muffins.

"Sério, com todos os trilhões em suas contas bancárias, ele te mandou embora com apenas dez muffins? O que aconteceu com os diamantes sendo o melhor amigo de uma mulher? Quem é esse cara?", ela jogou as mãos para cima de modo dramático, empurrando a caixa nas mãos de Sienna e desaparecendo para além da entrada.

"Você, mocinha, tem algumas explicações a dar!", Lydia agarrou a mão de Eden e arrastou-a para a sala de estar, onde Cassandra estava sentada no sofá cinza em forma de L debruçada sobre um livro de receitas recém-publicado por uma estrela de reality show, com os joelhos apoiados no queixo.

Sienna permaneceu na cozinha e fez café para todas acompanharem os muffins. Ela era a mãe do grupo e agradava a todas. Cassandra assumiu o papel de pai e mantinha todo mundo na linha. Lydia, a criança rebelde, mantinha todas elas de cabelos em pé com suas travessuras. E a santidade de Eden, que ela havia perdido na noite anterior, a tornara a sábia do grupo. Todas desabafavam com ela, não importando que ela fosse a menos experiente e a mais ingênua das quatro.

"Você não tem permissão para começar sem mim!", Sienna gritou da cozinha, sua voz competindo com a chaleira assobiando no fogão a gás.

"Conte tudo!", Lydia estava praticamente pulando de sua posição no tapete estampado com respingos de tinta.

"Não há nada a dizer", Eden deu de ombros, jogando-se na poltrona azul-petróleo que elas carinhosamente chamavam de trono. Compraram-na por uma pechincha no mercado de pulgas quando se mudaram para lá, e brigavam por isso desde então. Não porque fosse tão confortável, mas por causa do sol que entrava furtivamente pelas janelas com cortinas de renda atrás da poltrona. O apartamento era bastante frio, então qualquer calor era um luxo. Depois da noite que tivera, Eden pensou que ela merecia sentar-se no trono o dia todo.

"Estou aqui, a história da virgem santa arrebatada por um príncipe malandro já pode começar!", Sienna gritou enquanto entrava correndo com uma bandeja de canecas amarelas fumegantes e um prato combinando, transbordando de muffins e pãezinhos quentes de dois dias.

"Não houve arrebatamento!", Eden disse irritada e pegou sua caneca.

"Claro, diz o fedor de sexo emanando de você", Lydia acenou com a cabeça.

Eden cheirou a si mesma, o que causou outra rodada de risos entre as amigas.

"Pare com isso, gente!", ela fez beicinho e bebeu seu café. Mesmo com todos os litros de leite, ainda estava amargo. Sienna não fazia um bom café e todos sabiam disso, mas ainda confiavam a ela esse trabalho sagrado.

"Só uma pergunta", Cassandra ofegou, lutando para respirar e rir ao mesmo tempo. "Os pelos deles são ruivos lá também?".

"Oh meu Deus, essa foi ótima!", Sienna rolou no sofá, as lágrimas escorrendo pelo rosto.

"Sem comentários!", Eden cerrou os dentes, os braços cruzados sobre o peito. Ela olhou para frente. Nunca diria isso às amigas, e percebeu que elas sabiam a resposta de qualquer maneira, mas sim, ele era ruivo lá também. Um tom muito mais escuro que os cabelos e, nossa, como ela adorou tocá-lo ali.

Um formigamento familiar lhe acometeu o meio das coxas quando se lembrou da sensação de ter Liam enterrado bem no fundo dela. Ela mordeu o lábio inferior, sufocando um gemido.

"Eden! Sai dessa, meu Deus, você está praticamente babando". Lydia gritou, "no que você estava pensando?".

"Nada", ela mentiu rápido, suas bochechas tão quentes quanto a umidade em suas coxas. Não entendia como podia estar tão molhada só de pensar em Liam.

"Então? Como foi sua primeira vez?", Sienna perguntou, toda a diversão desaparecendo de seus olhos. "Ele era tão bom quanto as fofocas dizem que é?"

Eden pensou por um momento; ela não tinha nenhuma experiência anterior para comparar. Mas, pela primeira vez, além da dor e ternura que sentia cada vez que se movia, ela não tinha queixas. Não se importaria de ter uma segunda vez, talvez uma terceira, décima ou centésima. Liam sabia como agradá-la, como tocá-la e como fazê-la gritar. Que sorte a dela.

"Então, como foi?", Cassandra insistiu, e Eden piscou, atordoada pela expectativa nos seis olhos grudados nela.

"Bem", ela empurrou os óculos e mordeu o lábio inferior timidamente. "Foi surreal."

"Ai, meu Deus!", suas amigas gritaram em uníssono, pulando e se mexendo por todo o lugar.

"Vocês vão sair de novo?", Sienna perguntou, os olhos esperançosos.

Eden balançou a cabeça e começou a chorar.

"Ai, querida, foi tão bom assim?", Cassandra perguntou enquanto todas a alcançavam e a abraçavam.

"Ele vai se casar, gente!", ela gritou, lágrimas e ranho escorrendo pelo rosto. "Ele vai se casar e eu o quero tanto! Quero que ele me faça sentir bem de novo!".

"O que você quer dizer com 'ele vai se casar’?", os olhos de Lydia estavam arregalados de choque. "Mas e a regra de três meses?".

"Ele encontrou alguém que o fez querer quebrar a regra de três meses", lamentou Eden mais um pouco, enquanto pegava uma caixa de lenços de papel de Sienna e assoava o nariz. Para alguém tão pequena, ela sempre surpreendia com os sons altos e não naturais que fazia ao assoar o nariz.

"Não pode ser", disse Cassandra. "Não há como o playboy bilionário número um de Castelo de Pedra se casar".

"Mas ele vai", Eden insistiu e passou a explicar como ela descobriu sobre seu casamento iminente.

"Então é por isso que eles estavam lá? Para comemorar sua despedida de solteiro?"

Eden concordou.

"E ele ainda te levou para casa com ele?", Sienna ficou furiosa. "Inacreditável! Que babaca!"

"Bem, eu meio que pedi a ele", admitiu Eden. Seria tão fácil deixá-lo levar toda a culpa, mas ela não tinha coragem de fazer isso. Tinha que assumir também sua parte.

"Por que você faria isso se sabia que ele ia se casar?", Cassandra perguntou em um tom paciente, assumindo seu papel de pai com certa facilidade.

"Eu queria ser um pouco imprudente!", Eden gritou, chocando a todas com sua raiva. "Fui uma boa garota por vinte e quatro anos, segui todas as regras, me guardei para o cara certo e o que diabos eu ganhei com isso? Um noivado terminado um mês antes do que deveria ser o dia mais feliz da minha vida."

"Eden, eu sinto muito", Cassandra disse com suavidade.

"Se todos jogassem limpo e seguissem as regras, eu estaria na Grécia agora, curtindo minha lua de mel com meu novo marido", disse Eden. "Eu sei que foi errado e que eu não deveria, e agora sou tão desprezível quanto Olive por dormir com o homem de outra pessoa. Mas eu cansei de jogar limpo e estava machucada. E sabe que, por pelo menos pelo menos sete horas, eu estava feliz nos braços de Liam? Deus, eu estava tão feliz, e agora tudo que sinto é o mesmo vazio que senti nas últimas seis semanas".

"Ai, Deus!", Sienna disse. "Você soa como se tivesse uma queda por esse cara".

Suas palavras explodiram a mente de Eden, e ela não conseguia entender como Sienna tinha chegado a essa conclusão.

"Não. Liam era um sexo casual. Ainda estou apaixonada por Simon."

"É por isso que você ainda está usando isso?", Lydia olhou para o anel de diamante de princesa deslumbrante em seu dedo.

"Você tem que tirar isso", Cassandra repetiu o que tinha dito nas últimas semanas.

E, como havia feito ultimamente, Eden recusou-se a ouvir seus conselhos bem-intencionados. Ela sabia que ficar com o anel era brega para caralho, e que deveria ter devolvido. Mas era a única coisa tangível que tinha para lembrá-la de que os últimos quatro anos haviam sido reais, que o amor deles era real, e que ela significara algo para Simon algum dia.

Se ele a tivesse deixado ficar com Snow, o poodle maltês que eles adotaram juntos do abrigo de animais, ela teria devolvido o anel a ele.

"Eu vou para a cama", disse ela, enquanto terminava o café e colocava a caneca na mesa de centro de bambu, um presente dos pais de Sienna.

"Você vai encontrar seus pais hoje, devemos te acordar mais tarde?", Lydia perguntou, e Eden encolheu os ombros. Seus pais, em poucas palavras, deixaram bem claro que o fim de seu noivado era exclusivamente culpa dela. Ela não estava com humor para outra sessão de acusação e crítica disfarçada de um almoço bem-intencionado.

Em seu quarto, fechou as cortinas e se enterrou sob o pesado edredom de cores vivas e os milhões de almofadas espalhadas em sua cama queen-size, e então chorou até dormir.

O último pensamento sensato que ela teve antes que os sonhos com Liam enchessem sua mente perturbada foi se ela algum dia sentiria os lençóis de mil fios mais uma vez.
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