Capítulo 3

Como não percebi que Caio colocou junto com o dinheiro um bilhete, onde ele me convidava para sair no sábado? Eu devo ter o dobro da idade dele, nunca imaginei que isso poderia acontecer! Na verdade, nunca estive com outro homem que não fosse o Samuel. Entretanto, as coisas tinham mudado e eu estava sozinha e não faço ideia do que fazer. Mas sair com um rapaz não era exatamente o que eu queria. Acho que no momento não quero sair com ninguém.

 — Acho que alguém se interessou por você, Diana! Pois ninguém aqui recebe uma gorjeta de cinquenta reais — falou Enzo, em tom de zombaria e olhando para mim.

 — Divide com eles, já que sou dona do Café não preciso de gorjeta.

— É justo — Falou olhando para mim, enquanto eu guardava o avental e Enzo continuou — Sandrinha e Vitor, deem um chego aqui – falou fazendo sinal para eles, que juntos terminavam de colocar as cadeiras em cima das mesas.

                       — Pois não Chefe — falou o rapaz.

          — Quero apresentar a vocês a nova dona do Coffee Lovers. Diana, essa morena bonita é nossa Sandrinha e esse é o Vitor, são nossos ajudantes.

          — Prazer Sandrinha, prazer Vitor – falei, cumprimentado cada um com um aperto de mão — Não precisa me chamar de chefe, pelo amor de Deus, apenas de Diana, Ok.

 — Ok — responderam os dois. — Vou estar sempre por aqui, pretendo fazer o que todos vocês fazem e se precisarem de qualquer coisa, é só me dizer ok?

— Ok — responderam os dois novamente.

— Bom Sandrinha e Vitor suas gorjetas e agora vocês estão dispensados, cheguem no mesmo horário amanhã. Tenham um boa noite –—falou Enzo, entregando a gorjeta que receberam para eles.

— Obrigada e boa noite — responderam os dois ao mesmo tempo, guardando seus aventais antes de irem embora.

— Bom Diana, vamos desocupar sua casa — sugeriu Enzo, guardando o dinheiro num cofre que tinha embaixo da caixa registradora.

— Mas antes, preciso de um café e comer alguma coisa, já que eu saí de casa sem jantar.

                       — É para já, cafezinho saindo, com creme ou chantilly? — perguntou.

— Quero puro.

— Saindo um cafezinho puro e um pedaço de torta folhada de frango — falou colocando o café e o prato com a torta em cima do balcão. E eu me deliciei com aquele café.

— Enzo quem é que fez essa torta? Que delícia – falei comendo o último pedaço.

— Temos nosso cozinheiro, Seu Vicente, ele trabalha há muitos anos aqui. Mas hoje ele teve que sair cedo, foi com a esposa ao médico. Quando isso acontece, eu costumo cozinhar. Essa torta fui eu que fiz.

— Nossa que delícia, você está de parabéns. Bom, amanhã quando eu conseguir me organizar na casa, eu gostaria de ver o cardápio, tô querendo acrescentar algo e até mesmo dar uma pintura por fora, pois a tinta tá bem apagada.

— Que bom que gostou da torta. Quanto ao cardápio e a pintura de fora, já faz um tempinho que quero fazer isso, porém o Samuel nunca me deu permissão. Vamos deixar essas coisas aí, amanhã venho cedo para cá e termino de ajeitar. Precisamos tirar aquelas coisas da casa — ele falou apagando a luz do Café e juntos subimos.

— Enzo, tem muita coisa, onde vamos colocar isso?

— Tá vendo aquela porta do lado da escada? — ele falou saindo da sala e me mostrando onde ficava a porta.

Eu não tinha percebido ao subir a escada, que do lado direito tinha uma porta, bem perto da entrada da casa.

— Estou vendo e nem tinha notado uma porta neste lugar.

— Essa porta é do deposito do Café, tem espaço para guardar essas coisas. Depois quando você puder, vê direitinho o que dá para aproveitar e o que não der joga fora. Não entendo porque Samuel guardava essas coisas! É tudo coisa velha e do antigo dono.

— Não quero guardar nada disso, quanta porcaria tem aqui! Letreiro antigo, caixas de papelão vazias, enfeites de Natal sujos e velhos, cadeiras quebradas. Nossa quanto lixo, joga tudo fora. Eu tenho enfeites lindos de Natal e vou pegar amanhã.

 — Então vamos colocar tudo no quintal e amanhã peço para Sandrinha e Vitor nos ajudar a pôr na caçamba que tem quase em frente ao Café. É do vizinho, mas ele não vai se importar.

Foi exatamente o que fizemos. Tiramos todo o lixo da casa e Enzo ainda me ajudou a limpar. Enquanto um passava o pano no chão o outro tirava pó dos moveis e do sofá. Depois fui lavar o banheiro, enquanto Enzo limpava a cozinha.

Graças a Deus que a casa não era muito grande. Tinha uma cozinha americana pequena, que só servia mesmo para cozinhar, com um balcão preto com quatro lugares separando a cozinha da sala. A sala não era muito grande, mas bastante confortável, com dois sofás, um de três e um de dois lugares, na cor palha. Tinha um quarto enorme na casa, que se levantasse uma parede dava dois quartos, só que um seria suíte. Entretanto não preciso de dois quartos, já que vou morar sozinha. O banheiro social e pequeno, mas muito moderno e bonito. A casa toda por dentro é de um amarelo bem clarinho, com detalhes bem sutis em preto.

— Diana, terminamos — comunicou sentando no sofá.

— To morta e com muito sono — falei, me sentando do lado dele.

— MEU DEUS Diana, são três horas da manhã, nem vi a hora passar — ele falou dando um pulo do sofá e eu no mesmo instante me levantei.

Ficamos um de frente para o outro, quando percebi um certo clima estranho no ar. Corri até minha mala deixando ele ali feito estátua.

— Enzo, dorme no sofá, eu só tenho um travesseiro, no entanto o sofá é confortável e novo, já que fui eu que comprei, sei que é confortável. Pega essa coberta, é fina, mas hoje não está tão frio — falei entregando para ele, quebrando aquele clima estranho que tinha se formado.

— Eu aceito, só preciso passar uma água no corpo, para relaxar — ele comunicou, pegando a coberta.

— Tenho sabonete, shampoo e uma toalha de banho sobrando — falei procurando na mala.

Assim que achei, entreguei para ele que agradeceu e me deu boa noite, pois eu disse a ele que já iria me deitar.

Enquanto Enzo foi tomar seu banho, eu fui para o meu quarto, coloquei roupa limpa na cama, me troquei e fui me deitar.

O sono custou a chegar, já que sempre dormi com a TV ligada e o único barulho que eu estava escutando, era do Enzo saindo do banheiro. Apesar do barulho de carro que passava na rua, visto que o Café ficava quase no centro, a casa era silenciosa e por esse motivo demorei um pouco para pegar no sono.

Acordei com barulho na cozinha, me levantei sonolenta de uma noite mal dormida, coloquei meu roupão por cima da camisola e sentindo um cheiro de café delicioso, fui para o banheiro fazer minha higiene, logo depois fui verificar de onde vinha o cheiro.

 — O que está fazendo? — perguntei abrindo a boca de sono.

— Estou fazendo seu café — falou Enzo me olhando. — Pela cara de sono, você não dormiu bem!

— Não dormi mesmo, até eu me acostumar com esse lugar, vai ser difícil eu dormir bem. Mas me diz uma coisa, como conseguiu minha torradeira, sanduicheira e minha cafeteira expresso? — perguntei me sentando no banquinho do balcão da cozinha.

— Fui eu que trouxe amiga. Lembra, te liguei antes de ir à aula e você me disse que estava indo para ficar na casa do Café? Então imaginei que iria precisar das coisas que mais ama, por isso estão aqui — disse minha amiga Isis, entrando na cozinha com pão quentinho e um pedaço grande de torta, que pelo cheiro que vinha de baixo, o cozinheiro já estava preparando o cardápio do dia.

— Isis que alegria te encontrar aqui — falei abraçando minha amiga.

— Acordei o Enzo cedo. Bom eu não imaginava encontrá-lo aqui — falou Isis colocando as coisas no balcão.

— Ele só ficou, porque me ajudou a desocupar a casa essa noite — expliquei a ela ao me sentar novamente.

— Enzo, já me contou tudo, até limparam a casa, por isso está tudo tão cheiroso e arrumado.

— Sim, ele foi um anjo, sou muito grata por sua ajuda Enzo.

— Que isso, não precisa agradecer, você precisava da casa, nada mais justo. Agora vamos tomar café, que ainda vou ter que ir para meu apartamento trocar de roupa, antes de começar a trabalhar.

E ficamos ali nos deliciando com tudo, em ótimas companhias e num papo bem descontraído. Estava tudo tão diferente para mim. A única coisa que não mudava, era a tristeza que estava em meu coração.

Depois do delicioso café, Enzo foi para seu apartamento dizendo que não era para eu me preocupar com o Café. No entanto disse a ele, que só estaria no Café depois de trazer tudo que estava encaixotado na casa do meu ex. Enzo apenas disse que depois do expediente me ajudaria no que eu precisasse.

Isis ficou um pouco mais, lavou a louça do café, enquanto eu me trocava no quarto. Depois sentamos no sofá, e conversamos bastante sobre esse lugar, que para mim era encantador e mágico. Contei a ela sobre o rapaz e Isis só faltou implorar para que eu fosse a esse encontro, mostrei a ela até o livro que ele me emprestou. Depois de muito conversar, ela achou melhor ir embora, já que ela queria chegar em casa antes que o marido e os filhos acordassem.

Isis tinha dois meninos lindos, gêmeos de sete anos de idade, eles estudam na parte tarde, por isso dormem quase toda a manhã. Seu marido é dono de um buffet e trabalha mais aos fins de semanas, então está sempre em casa.

  Enfim sozinha novamente, eu peguei um saco de lixo que tinha no armário da lavanderia e fui até o quintal. Tudo que era pequeno e coube no saco, eu joguei fora. Dei um nó na boca do saco, peguei a chave do carro que estava no quarto e desci.

— Bom dia Sandrinha, bom dia Vitor — falei ao descer.

— Bom dia!! — responderam os dois, enquanto desciam as cadeiras das mesas.

— Onde vai com esse lixo? — perguntou Enzo, enquanto limpava o balcão.

— Vou colocar na caçamba. Peguei a miudeza do lixo do quintal e coloquei tudo para jogar fora. É o que vou fazer.

— Entendi, depois jogamos o resto na caçamba.

— Obrigada Enzo — agradeci indo em direção à saída.

— Diana...

— Oi Vitor — respondi me virando para ele, que pegava algo no balcão.

— Quando eu estava chegando para trabalhar, um entregador me parou na porta do Café perguntando por você. Quando eu confirmei que você era a dona e morava em cima, ele me entregou isso, e me fez assinar um papel de recebimento — explicou me entregando uma caixinha bem pequena, do tamanho de uma caixa de lenço.

Estava embrulhada em um papel dourado com uma fita vermelha, que além de deixar o embrulho lindo, amarrava um cartão.

— Obrigada Vitor por receber por mim — agradeci e com o presente na mão fui direto para o carro.

No carro fiquei ali olhando para a caixinha e antes de partir resolvi abrir. Desamarrei o laço e coloquei o cartão em meu colo, desembrulhando a caixa. Fiquei surpresa com o que vi: era uma barra de chocolate personalizado com meu rosto. Era perfeito e muito lindo. Fechei a caixa e resolvi ler o que dizia no cartão. “Que seu dia seja tão doce, quanto esse chocolate, e a sua noite seja tão bela quanto seu lindo rosto. Com amor D.”

 — MEU DEUS, quem é D? — pensei em voz alta, olhando para o cartão sem entender nada. O que significa isso? Nunca recebi nada tão lindo assim.


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