Ouvi o barulho do tiro poucos segundos antes de sentir minha barriga queimar, e logo depois meu estômago. Então eu soube. Ele havia me acertado. No mesmo instante ele caiu inerte no chão. Morto. Dois mortos na verdade. Um ser humano incrível, que sacrificou sua vida por nós, e um monstro que sempre fez questão de não ser pai. Sempre fez questão de odiar, de manipular. Quase destruiu Breno, quase transformou meu irmão em um monstro igual a ele. Tudo estava acabado. Inclusive para mim. Sentia a vida se esvaindo do meu corpo junto com o sangue.
Malu correu até mim e se ajoelhou ao meu lado. Minha noiva. Eu a havia pedido em casamento, mas nós nunca iríamos nos casar. Doía saber que ia deixá-la. Que mais uma vez a faria sofrer. Eu a amava. Com todas as minhas forças. Precisava dizer isso a ela uma última vez.
- Gabo...
- Malu...eu...
- Não. Não se esforce. Fique calado.
Então minhas forças se foram e eu comecei a perder a consciê
Se passaram três dias e Gabo ainda não acordara. Minhas esperanças estavam se esvaindo. Eu o via cada vez mais pálido, apesar das transfusões de sangue. Meu amor estava morrendo. Estava desistindo.- Acorde amor, você precisa acordar. Precisa conhecer seu filho. - falei colocando a mão dele sobre a minha barriga.- Filho?Era a voz dele? Olhei de volta para o rosto do meu noivo, e meu Deus, ele estava com os olhos abertos. Ele estava acordado.- Você...você acordou?- Eu estive dormindo?- Você estava em coma. Todos achamos que ia morrer.- Então foi tudo um sonho?- O que?- Eu estava...com a minha mãe.- É provável.- Ela dizia coisas estranhas...mas espera...você disse filho?- Eu disse.- Você está...eu vou ser...ah meu Deus eu vou ser pai!- Fique quieto, você não pode se esforçar.- Malu, a vida toda eu achei que não pudesse ter filhos.- E eu sempre te disse que você era um homem completo.- Ah Malu, como eu
Os preparativos para o recital, corriam de vento em popa. O dia chegara e eu sequer tinha visto o tempo passar. Havia sido adiado por conta de toda a situação que vivemos, mas agora, dentro de uma grande bolha de paz, ele aconteceria. A garota que iria ser o Cisne, não se recuperou a tempo e eu realmente faria o papel, já que nenhuma das garotas quis se arriscar no salto do final. O par, apesar de em pânico, estava se saindo bem nos ensaios comigo. Estava sendo satisfatório e o meu profissionalismo encobria qualquer falha que houvesse. Ele era bom, só que se apoiou em apenas um par, então o pânico o fazia perder a destreza.Estava no camarim improvisado terminando de me arrumar, quando Gabo entrou. Ele estava lindo. Como anfitrião, ele usava uma roupa de balé também. Eram nas mesmas cores da minha e dos demais participantes. Branco e vermelho.- Você está tão linda. Parece um anjo.- Você também está. E eu sou um Cisne.- Meu Cisne Negro.- Essa fala era do Luig
Dançar com Malu foi incrível, ainda mais por ter me imaginado incapaz. A ideia foi de Luigi. Ele teve mais trabalho para me convencer do que para convencer os dois adolescentes que iam dançar no recital. A garota simulou um entorce logo no primeiro ensaio após a conversa que teve com ele. E o garoto fingia estar em pânico por não dançar com seu par.Eu ensaiei por semanas. Realmente achei que não conseguiria.- Desista Luigi, isso não vai dar certo. A merda do meu equilíbrio não ajuda!- Por que você tem que achar sempre que é incapaz de tudo? Porra Gabo, você trocou tiros com bandidos pelo amor de Deus!- Você é insuportável, sabia?- Não mais que você!- Vai Gabo, para de frescura e vem ensaiar. O tempo voa!Então sob a pressão dele eu ensaiei à exaustão. E apesar do pânico na hora de entrar no palco, valeu a pena.Cada passo, cada pliē, cada pirueta, era surreal ter Maria Luiza nos
Atenção esse capítulo contém cenas de abuso infantil................................................................................Eu não podia permitir que a minha irmã saísse daquele jeito. Era noite e ela estava transtornada, poderia fazer uma besteira.Ela entrou no carro e eu entrei atrás.- Camilla, o que foi?- Desce Malu.- Não vou descer.- Eu tô falando para descer - rosnou.- Mas eu não vou.- Você é quem sabe.Ela acelerou e saiu cantando pneu.- Não vai me contar?- Vou. Mas não agora.- Pare o carro e vamos conversar.Ela ficou em silêncio por alguns minutos e eu respeitei sua vontade. Conhecia Camilla. Ela estava ponderando. Os nós dos seus dedos estavam brancos, de tanta força que ela usava para segurar o volante.- Ele mentiu para mim.- Breno?- Sim.- Quem te disse?- Gael
Tudo o que consegui pensar quando ouvi Malu, foi que ela estava em perigo. Minha garota, grávida do meu filho estava em perigo.Eu havia ido atrás do meu irmão na hora em que Malu saiu atrás de Camilla e na hora que o telefone tocou estávamos juntos no quarto dele. Haviam se passado apenas meia hora desde que elas deixaram a casa, mas foi o suficiente para nos deixar preocupados. Então, quando ela falou do acidente, desliguei e corri para a garagem, com meu irmão no meu encalço. Não foi difícil para ele me alcançar.- Gabo! O que foi?- Elas sofreram um acidente.A cor sumiu do rosto dele, mas eu não tinha tempo de esperar ele se recompor. Entrei no carro e ele fez o mesmo.- A Camilla...ela...- Eu não sei...Liguei o carro e segui para a interestadual, no caminho meu irmão ligou para o resgate. Parei o carro quando vi do outro lado da estrada, o mato baixo, como se algo tivesse
Algumas semanas se passaram e enfim chegou o tão sonhado dia. Gabo e eu iríamos nos casar. Não que já não vivêssemos como casados há meses. Mas este era o dia da oficialização do nosso amor.Olhei mais uma vez no espelho, precisava conferir se estava tudo no lugar. Tudo ok.Meus cabelos estavam soltos, Gabo gostava, por isso escolhi assim, seguros apenas por grampos e um enfeite que Camilla havia me dado.Eu usava um vestido saia - cropped, modelo escolhido em concordância com o local do casamento:A Praia do Leme. O local foi escolhido porque passaríamos a noite em um hotel ali e na manhã seguinte iríamos pegar um barco. Nosso primeiro dia de lua de mel seriam num iate.- Você está linda Malu, pare de se olhar tanto no espelho.- Obrigada minha irmã. Vamos?- Vamos.Luigi, que estava encostado no carro, abriu a porta para que eu entrasse. Camilla me entregou o buquê de
Pegamos o vôo pouco depois do amanhecer, Gabo estava sentado de frente para mim, ele usava uma camisa social branca, dobrada até os cotovelos. Sua calça jeans, azul o deixava mais bonito do que de costume, descalço, como sempre ficava quando não era necessário um sapato. Comigo ele estava sempre assim. A vontade. Eu sabia o quanto era difícil para ele usar um par de tênis. Chinelos então, nunca usava. Mas ainda assim eu o amava. Ele era mais do que aquilo que podia usar. Ainda que usasse um saco de batatas, ainda seria o homem da minha vida.- Por que está me olhando?- Admirando a vista.- É uma bela vista?- Belíssima.O avião já havia levantado vôo há alguns minutos, desafivelei o cinto de segurança e me sentei na poltrona vaga ao seu lado. Peguei na sua mão, entrelaçando nossos dedos. Fechei os olhos e uma sensação tão boa me envolveu, que eu peguei no sono.€Um chacoalhão me fez acordar
Três anos depois...Abri os olhos e não pude respirar. Eu estava em algum lugar o qual eu não reconhecia. Me virei na cama e notei alguém se movimentando ao meu lado. Um sorriso involuntário surgiu nos meus lábios. Malu.A pessoa se virou, decepcionado eu vi que não era ela. Era mais velha, o tom de pele era igual, se bem que olhando agora podia notar que era mais escuro.- Você acordou!- Quem é você?- Eu me chamo Amélia. E antes que me pergunte, você está numa ilhazinha chamada Mirante.- Em que estado?- Na verdade não temos um estado específico. Estamos perto da Paraíba. Mas acho que nem estamos no mapa. - disse a mulher sorrindo.Me sentei na cama. O quarto era simples porém muito bonito e organizado.- Há quanto tempo estou aqui?A mulher ficou calada por um instante antes de suspirar e responder:- Três anos.- Três anos?<